terça-feira, março 04, 2008

Desculpa esfarrapada

Os EUA resistem em ações que ajudariam a diminuir as emissões de CO2. Dizem que arruinaria a economia, dizem que não há provas científicas do mal causado pelo aquecimento, dizem que é um complô contra seu país, dizem, dizem e dizem. Assim como diziam (e não é algo exclusivo dos EUA) muitas coisas no passado, como desculpa para protelar o fim da escravidão. Até mesmo o argumento que os negros escravizados estariam em pior situação na África. Deveriam continuar ali sob o chicote dos sulistas estadunidenses, sendo escravos.

É este o ponto de partida de um artigo publicado recentemente por Marc D. Davidson, do departamento de Filosofia da faculdade de ciências humanas da Universidade de Amsterdam, na Holanda. Com o título “Parallels in reactionary argumentation in the US congressional debates on the abolition of slavery and the Kyoto Protocol”, Davidson traça as semelhanças entre na retórica usada pelo congresso americano no passado (para não abolir a escravidão) e no presente (para não aderir ao protocolo de Kioto).

O artigo pode ser ligo na íntegra aqui. Em inglês. Para artigo relacionado e em português, clique.

Abstract: Today, the United States is as dependent on fossil fuels for its patterns of consumption and production as its South was on slavery in the mid-nineteenth century. That US congressmen tend to rationalise fossil fuel use despite climate risks to future generations just as Southern congressmen rationalised slavery despite ideals of equality is perhaps unsurprising, then. This article explores similarities between the rationalisation of slavery in the abolition debates and the rationalisation of ongoing emissions of greenhouse gases in the US congressional debates on the Kyoto Protocol. (full text - in pdf)

Resumo: Hoje em dia, os Estados Unidos são tão dependentes de combustíveis fósseis para manter seus padrões de consumo e produção como sua região Sul era em relação à escravatura em meados do século XIX. O fato de congressistas estadunidenses tenderem a justificar a utilização de combustíveis fósseis, apesar riscos climáticos para as gerações futuras, assim como no passado os congressistas sulistas justificavam a escravatura, apesar dos ideais de igualdade, talvez não surpreenda. Este artigo explora semelhanças entre as justificativas em torno da abolição da escravatura e das justificativas para as emissões de gases com efeito de estufa nos atuais debates no Congresso estadunidense sobre o Protocolo de Quioto.

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