domingo, dezembro 30, 2007

Pra fechar

2007 está quase terminando. 2008 bate à porta. Lembro da "pegadinha" que minha mãe costumava aplicar. Algo como: "Olha, veja lá na esquina aquele velho indo enquanto o menino vem". O velho e o novo, se olham e seguem seus destinos. Futuro e passado num momento único, o presente. O velho vai, carregado de emoções. Foram dias intensos que deixaram marcas no menino, o novo. Veremos como este último se sai. A esperança.

Este foi um ano cheio de surpresas, tristesas, alegrias, reflexões, aceitações, superações... Inesquecível, inesgotável. Daqueles que rezo para acabar, mesmo sabendo que as chagas que deixará o tornam algo permanente.

Chorei muito. Me irritei, me desesperei, aceitei. Ri. Alegrei e me senti alegre, brinquei. Confortei e fui confortado. Me apeguei a coisas simples, como ler e escrever (para o blog, principalmente) para superar certos momentos de "cegueira", nos quais nenhum destino era um rumo aceitável. E também a família que, no meu caso, apesar de tudo, ainda é um porto seguro.

Foi um ano de extremos. Vida e morte. Começo e fim. Alegria e tristeza. Acontecimentos registrados aqui no blog.

Obrigado por todas as visitas, mesmo aquelas "sem querer". Saibam que o blog mais que um exercício de escrita, leitura, análise, é uma forma que tenho de desabafar, de chorar as mágoas, de externar pensamentos, preocupações, opiniões. Tentarei continuar durante 2008.

Um grande abraço a todos. Desejo-lhes PAZ e SAÚDE, hoje, em 2008, e sempre.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

"Então é Natal ...

... e o que você fez?". Esse verso se tornou, para mim, o marco inicial das festas de fim de ano. É uma música cantada pela Simone, que comento em tom de brincadeira, e costumo dizer que os preparativos para o Natal só começam quando ela toca nas rádios. Este ano não a ouvi, mas deve ter tocado. É tradição. É simbólico como a data, contestada por estudiosos, em que se convencionou comemorar o nascimento de Jesus Cristo. Mas tradição é tradição. É como brindar antes da cerveja. Mantemos isso e seguir em frente.

E cá estou eu tentando escrever uma mensagem de Natal ou coisa parecida para um Blog que completou 1 ano e duas centenas de postagens acessadas aproximadamente 2000 vezes de diferentes pontos do mundo, de acordo com um contador iniciado em Janeiro de 2007, pouco mais de um mês após a inauguração do "Trocando Uma Idéia Sobre Tudo". Vamos lá.

Natal. Natividade. Nascimento. Esperança. A expectativa de salvação da humanidade com o nascimento de Alguém que veio para fazer o bem. Logo, comemora-se o início dessa esperança, seu nascimento. Difícil encontrar relação com as longas filas dos centros de compras, da euforia nos preparativos que incluem, no caso dos mais afortunados financeiramente, uma ceia grandiosa, regada à muita bebida (com e sem Álcool). Mas tudo bem. Isso parece ter se enraizado e a única esperança que se tem é que a ceia agrade aos convidados, a cerveja esteja gelada e não falte, os presentes e a festa não sejam criticados. Mais humano impossível. Ho, Ho, Ho...

Mas proponho resgatar a idéia fundamental: Nascimento, esperança. E, apesar de não ser dos assuntos mais agradáveis à maioria, principalmente em época de festas, direciono e relaciono mais uma vez o cerne desta postagem à África. Onde, aos nascidos, escasseia a tal esperança. E, mais uma vez, uso matéria de publicação internacional como fonte.

O The Independent traz hoje como matéria de capa o nascimento de Salamatu Sankoh, filha de Bintu Koroma, menina nascida numa favela em Kroo Bay, Serra Leoa, país da África Ocidental e, segundo a ONU, o que possui o pior IDH e o mais alto índice de mortalidade infantil do mundo. Logo, um povo que carece de esperança, num país que carece de bons governantes, e ajuda.

A descrição do nascimento de Salamatu lembra um evento bíblico. Uma criança vindo ao mundo num lugar inóspito onde as condições de nascimento não se diferenciam muito às de 2 milênios atrás. E, se pensarmos no grau de "desenvolvimento" científico e tecnológico da atualidade, não nos parecerá um acontecimento recente. Mas é. E foi logo ali. Do outro lado do Atlântico, mas poderia ter sido aqui, em terras tupiniquins onde cenas parecidas também ocorrem, naquele Brasil onde o Brasil não chega, para onde o Brasil não olha.

A matéria do jornal britânico é publicada numa sessão especial, o Independent Appeal, e é posta de forma a divulgar ações da Save the Children, organização apoiada pelo The Independent. Está direcionada aos britânicos como um apelo para que ajudem. Mas serve para todos. Para isso, além da contar sobre Salamatu Sankoh, faz comparações entre as condições de "vida" em ambos os países. Uma dessas comparações diz respeito a taxa de mortalidade de mães ao dar à luz: uma em cada seis no país africano e uma em cada 3,800 no Reino Unido.

O título da matéria é "The unluckiest baby in the world". Salamatu precisa mesmo de sorte. Sorte para chegar aos cinco anos, algo que só acontece a uma em cada quatro crianças. Sorte para que o governo de seu país direcione os recursos de forma a erradicar a miséria, acabando com a corrupção, sorte para que outros não apenas olhem o que ocorre, mas contribuam de fato para mudar aquela situação.

Bem, é basicamente isso. Nascimento, uma criança e esperança. Sem efeitos especiais ou estrelas, sem presentes, sem reis ou magos, em Kroo Bay, Serra Leoa, pior IDH, alta mortalidade infantil, África, Terra.

Mas não deixa de ser um nascimento onde a Esperança se renova, ou melhor, se afirma como muito necessária, assim como a sorte. Como na frase de Bukowski em Hollywood. "Três coisas que o homem precisa: fé, prática e sorte". Então é Natal.

Feliz Natal Salamatu Sankoh. Feliz Natal e Boa Sorte à todos!


Simone - Entao É Natal

Então é natal, e o que você fez?
O ano termina, e nasce outra vez.
Então é natal, a festa Cristã.
Do velho e do novo, do amor como um todo.
Então bom natal, e um ano novo também.
Que seja feliz quem, souber o que é o bem.
Então é natal, pro enfermo e pro são.
Pro rico e pro pobre, num só coração.
Então bom natal, pro branco e pro negro.
Amarelo e vermelho, pra paz afinal.
Então bom natal, e um ano novo também.
Que seja feliz quem, souber o que é o bem.
Então é natal, e o que a gente fez?
O ano termina, e começa outra vez.
E entao é natal, a festa Cristã.
Do velho e do novo, o amor como um todo.
Então bom natal, e um ano novo também.
Que seja feliz quem, souber o que é o bem.
Harehama, Há quem ama.
Harehama, ha...
Então é natal, e o que você fez?
O ano termina, e nasce outra vez.
Hiroshima, Nagasaki, Mururoa ...

... e SERRA LEOA, e o BRASIL, e o MUNDO

domingo, dezembro 23, 2007

500 Years Later

Until Lions tells their tale, the story of the hunt
will always glorify the hunter- African proverb

Até que os leões contem suas histórias, os contos de
caça glorificarão sempre, o caçado - Provérbio Africa

"Is foolish to let your oppressor tell you that you should
forget about the oppression that they inflicted on you"
É tolo deixar o opressor lhe dizer que você
deve esquecer a opressão que ele lhe infligiu.
M.K. Asante, Jr.

Crime, poor education, poverty, self-hatred, prison system, broken homes plague people of African descent globally – Why?

Filmed in over twenty countries and on five continents, 500 Years Later is a compelling journey, infused with the spirit and music of liberation, that chronicles the struggle of a people from enslavement who continue to fight for the most essential human right - freedom.

500 Years Later, is an epic multi-award winning documentary directed by Owen 'Alik Shahadah.

Eis um filme que quero assistir.


sexta-feira, dezembro 21, 2007

Pequena África

Pequena África apresenta a Praça XI, a Central do Brasil, Gamboa, Saúde e bairro de Santo Cristo de hoje, e que eram conhecidos nos idos de 1850 até 1920 como "Pequena África", por terem sido locais habitados por escravos alforriados no período imperial e depois deste.
Roteiro e Direção: Zózimo Bulbul

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Vamos combinar o seguinte...

Semana passada comentei a repercussão de uma matéria do NY Times sobre a tortura e o estupro de uma menor, presa com 20 homens, numa cadeia do Pará. A matéria falava sobre a impunidade, sobre a institucionalização dessa prática de tortura, que tem ramificação histórica no período da escravidão e na recente ditadura militar.

Essa semana fiquei horrorizado com o caso de outro menor, Carlos Rodrigues Júnior, 15 anos, morto em SP. Acusado de roubar uma moto, o adolescente teve sua casa invadida, sua mãe e sua irmã mantidas na sala por um policial, enquanto outros cinco o levaram para o quarto, onde foi submetido à tortura. O laudo do IML confirmou choques e espancamento.

Lembrei imediatamente da matéria do NY Times e pensei, especificamente, no período de ditadura militar. Lembrei do Chile, com as condenações. Pinochet. Lembrei da Anistia. Das indenizações concedidas pelo governo federal e pensei no "jeitinho".

Confesso aqui que não pesquisei a fundo sobre o critério das indenizações concedidas aos torturados, nem sobre a Lei da Anistia de 79. Mas uma coisa me deixa "grilado". Tendo havido torturas e mortes no período da ditadura, por que não prendem os culpados? Tenho certeza que muitos estão na ativa, recebendo dinheiro público. É claro, cumpriram os seus deveres! Ordens. Mas será que vale mesmo simplesmente relevar? Será que o Estado junto com alguns particulares que se beneficiam não estão contribuindo para manter essa "institucionalização da tortura" ao propor um "Vamos combinar o seguinte...".
A brutalidade, a covardia, do mais recente episódio de tortura (que sai nos jornais) é reflexo dessa política, não só de Estado, de manutenção de uma prática cruel, irracional, bárbara, que beneficia alguns cretinos. É o jeito. É o jeitinho. E vamos combinar o seguinte... é uma merda!

Leia aqui, , , acolá, ali
Preservação e os Quadros

Parece realmente que o item preservação não é levado à sério pelos "responsáveis" por museus, galerias, etc. Enquanto preservar continuar sendo considerado ato de proteger a integridade física de obras, com controle de temperatura, luminosidade, vibração, humidade, etc, roubos como o que ocorreu no MASP, e já haviam ocorrido na Chácara do Céu e em outros, continuarão ocorrendo. O roubo dos quadros de Picasso (O retrato de Suzanne Bloch - 1904) e de Portinari (O lavrador de café - 1939) mostra como é frágil a política de preservação em instituições culturais. O interessante é que, por vezes, essas mesmas instituições, com o nobre propósito de aplicar procedimentos de preservação, criam um "clima" que beira à hostilidade com o público, o usuário. Esse sim, visto sempre como ameaça.

Política de preservação deve contemplar TODOS os aspectos relacionados ao objeto a ser preservado, como a Instituição (não apenas o espaço físico) e as pessoas que estão, direta ou indiretamente, envolvidas com a instituição e o dito objeto.

terça-feira, dezembro 18, 2007

MotherLand

A história de um continente e seu povo. Começou a ser rodado em 2004 e está previsto para 2009. Pelo pouco que li e pelo vídeo, promete ser um filme muito interessante, tendo o continente Africano como tema central. História e cultura do berço da humanidade. Mãe África. Espero que fique disponível aqui no Brasil.

Fonte: Motherland - The Official Film Site

Ignorância: uma política de Estado... mais uma vez

O prefeito Cesar Maia editou ontem um decreto que, contrariando decisão da Câmara dos Vereadores do Rio, recria algo parecido com a aprovação automática. Tenho certeza que o prefeito desta linda cidade teve oportunidade de ter educação nos moldes que ele hoje combate à canetada. Estudou em boas escolas onde se cobrava empenho do aluno, com instrumentos didáticos tradicionais e eficazes que o permitiram galgar passos na educação formal, cursando universidades, por exemplo. O tipo de educação que, caso o aluno não consiga atingir uma meta, é reprovado para seu bem. E sendo reprovado, o aluno não acumulando desconhecimento.

O que vemos com essas medidas, que só compreendo se imaginá-las como um plano sinistro de controle e dominação, o que se perpetua é a ignorância, a acomodação intelectual.

O prefeito deveria usar seu cargo, sua linda canetinha, para lutar por melhorias no sistema educacional, com salários dignos aos professores, segurança na escola, oportunidade de acesso e permanência, instrumentos pedagógicos que permitissem o aprendizado, o conhecimento, o desenvolvimento intelectual dos estudantes... Em todas as escolas sob sua responsabilidade, não apenas as que ficam visíveis como se fossem instrumentos publicitários ou as que ficam em bairros 'nobres' servindo à classe média.

A avaliação negativa que teve recentemente foi pouco considerando tudo isso. Deveria ser ZERO, Reprovado.

OBS.: Me baseio em informações de jornais e agências de notícias on-line, com matérias recentes e antigas. Em pesquisa nos sites da Prefeitura e da Câmara não localizei o texto do decreto. Aliás, ambos os sites são péssimos, principalmente o da Câmara. Cadê o acesso? São informações que deveriam estar facilmente acessíveis!

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Overcoming, Inspiring, Transforming

When talking about Africa, the main issue is, generally, poverty; or corruption, spread conflicts, malnutrition, hungry, and death. Some people often use the word "Africa" as a synonymy of a miserable place/situation. It makes me feel sad. In fact our knowledge on African continent is scarce. The actual condition of the continent - here you may say the Black Africa or sub-Saharan - could not be explained without considering the events in the past. And there are no magic tricks for fixing the current problems. Inventions from outside, even with good intentions, could be tragic when the cultural diversity has not being considered. But this is something everybody knows. So, the solution, the answer, the path should came from inside. The aids, of course, are very important. But the reaction must start IN Africa.

And I am really happy when, while reading an on-line version of an UK newspaper, The Independent, I see in the main page an article about an African man who overcame. With its on efforts and the important help from NGOs and a British University he receives his Masters degree this week, after a life of poverty and drug. His name is Sammy Gitau, a Kenyan, from a slum in Nairobi to Manchester University and back, to keeping on making a difference. Congratulations Mr. Sammy Gitau. Please, inspire. Please, transform.

Click here and read the article by Emily Dugan.


quinta-feira, dezembro 13, 2007

O Samba dá seu recado

A cada dia a humanidade se mostra mais desumana. Apresentam como desculpa, por vezes, as diferenças raciais, étnicas, culturais, sociais. Algumas vezes a desculpa é a religião. Em outras é a economia. O Petróleo. A Política externa. Algumas vezes até a PAZ surge como pretexto para a Guerra. Incoerência total. Uma das mais recentes demonstrações de tudo isso aconteceu na Argélia, com mais um atentado atribuído à Al-Qaeda. Também reforçado com a invasão e ocupação do Iraque pelos EUA, com seu Bush fazendo sua política externa de m. Temos as FARC mantendo reféns há anos. Dizem lutar por uma causa. Qual a causa que justifica o seqüestro de pessoas, algumas crianças. Qual a causa que justifica subjugar um povo, implodir prédios, residências, assassinando seres humanos aos milhares, jogando bombas para todos os lados. Onde está a nobreza nisso tudo? Isso é Humano?

A verdade é que todos fazemos parte do mesmo barco, embora poucos se deêm conta desse fato. Alguns insistem em tentar afundar o barco a qualquer custo. E, por falar em custo, o dinheiro está sempre envolvido. Uma infelicidade.

Mas... estava eu ouvindo um CD do Zeca e uma das músicas me lembrou disso tudo. Mais uma vez o Samba dá a lição. Cliquem no play abaixo e ouçam a música Pra Gente Se Amar.



Pra Gente Se Amar
Zeca Pagodinho

Composição: Cruz/Marques/Maurição

Olha aquela estrela no céu
Olha aquela estrela no céu
Olha aquela onda no mar
Olha aquela onda no mar
Foi Deus que criou
Foi Deus que criou
Pra gente se amar
Pra gente se amar... olha aquela estrela

A mesma paz que eu peço pra Deus e a Oxalá
É a paz que está escrita no velho Alcorão de Alá
A liberdade é sagrada e é desejada até pelos ateus
Mas quando a fé se renova
É a prova da própria existência de Deus

Chega de teleguiados cruzando o céu azul
Que o amor oriente o mundo de norte a sul
Tratem direito os humanos
Sejam africanos, cristãos ou judeus
Pois nunca foi a violência
A prova da própria existência de Deus
Dizem por aí...

- Ô Zé, tu tá sabendo da CPMF?
- Tô sim, Tonho.
- Estão dizendo que o bicho-vai-pegar. Fiquei preocupado!
- Eu tô trânquilo!
- Ah?!
- É isso mesmo. Tenho certeza que o governo vai inventar outra Coisa Pra Me Ferrar!

quarta-feira, dezembro 12, 2007

We are the World

NY Times, impunidade, maioridade e jeitinho

Tem coisas que tomam maior dimensão quando nos são ditas por pessoas fora de nosso ciclo de relacionamento. Da mesma forma, algumas notícias ganham força quando sua veiculação se dá de forma mais ampla, com maior alcance. Se aparece em outro idioma, em publicações de certo prestígio de outros países, a coisa toma proporções bem maiores. Alguns reclamam, insistindo que o texto por vezes carrega opinião pré-concebida; como por exemplo, um texto sobre o continente Africano ou Sul-Americano redigido por um Europeu ou norte-americano. Mas, deixando de lado o preconceito, cuja existência não podemos negar, devemos lembrar que a “visão de fora” nos permite analisar uma situação de outra forma, ou, como é neste caso, não esquecer e dar mais importância.

A edição on-line do The New York Times de hoje traz uma reportagem sobre o absurdo que ocorreu numa cadeia do Pará, onde uma menor foi mantida durante semanas numa cela com 20 homens, sendo estuprada e torturada. A matéria fala em 34 homens. Exagero? Verdade? O que li em jornais brasileiros fala em 20, mas a diferença não diminui a crueldade. O texto, de Alexei Barrionuevo, traz ainda um aspecto pouco comentado sobre o caso: tantas pessoas tiveram a oportunidade de ajudar a menor e nada fizeram. Realmente, o número de culpados e omissos é grande. Ministério Público, Juíza, policiais, carcereiros e tantos outros que tinham conhecimento do caso.

Barrionuevo faz uma relação com o clima de impunidade que existe no país. A tortura é institucionalizada, sem punição para os torturadores. Coisa que vem desde o período da ditadura, somada aos 300 anos de escravidão no Brasil. É bem interessante a associação. Parece normal torturar. Parece, tristemente, natural não punir os torturadores.

Tenho certeza que a matéria despertará certa raiva em muitas pessoas. É claro, se é um equipamento de alta tecnologia ou um enlatado que vem da terra de Tio Sam, abraçamos com gosto, mas se é crítica contra o jeitinho como as coisas são “levadas” por aqui, aí é arrogância daqueles ianques safados. Bem, a matéria deveria sim despertar a já escassa vergonha na cara daqueles que deveriam fazer seu trabalho para coibir práticas abusivas e desumanas, que deveriam gerenciar o dinheiro público (cobrado e pago regularmente, senão a justiça se faz presente) para prevenir situações repugnantes e tristes, dando educação em primeiro lugar e, na outra ponta, garantindo que presídios não se tornem depósitos de animais.

No Pará cometeu-se pelo menos dois crimes graves: encarceramento de menor em cadeia para maior e o uso de celas compartilhadas para homens e mulheres. Enquanto isso, estamos vendo mais uma vez a tentativa de uso de uma fórmula mágica para diminuir a violência: a redução da maioridade penal. Está em votação na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que poderá convocar plebiscito para decidir. 14, 15, 16 anos. É mais fácil adaptar a situação existente do que corrigir a falha. Se não conseguem impedir injustiças como “jogar” uma menor de 15 anos numa cela com 20 (ou 34) homens, transforma-se a menor em maior e, de quebra, reduz-se o número de crimes (cometidos pelo Estado) pela metade.
CPMF

Deve ser votada hoje a proposta de prorrogação da “contribuição” que nasceu provisória e está cada vez mais permanente. O governo diz que quem reclama é sonegador. Ora, se o sujeito sonega, ele não paga, logo não tem do que reclamar. Também diz que é imposto para quem tem dinheiro e por isso vem incomodando. Ainda emenda que, se fosse para o pobre, ninguém reclamaria. Ora, se o patrão (segundo o Luiz da Silva) é quem está sendo onerado, quem vocês acham que sofre no fim? Diz que o governo não pode ficar sem tanto dinheiro de uma ora para outra. Esquece que essa “contribuição” tem data prevista para acabar: o fim de 2007. Está na lei. O governo não está sendo apanhado de surpresa. Teve tempo suficiente para planejar. Diz também que quem irá sofrer é o povo, o país, o crescimento, o PAC. Alguém acaba pagando o pato. É assim desde o início dos tempos.

As frases são de impacto, e talvez até funcionem, uma vez que, pelo que vemos, a população não associa o presidente ao governo. Parece uma coisa à parte. Agora (li hoje) propõe que toda o imposto seja aplicado na Saúde. Caramba! Do jeito que se coloca, parece que está fazendo algo extraordinário e não o que é devido. Pelo que sei, é para a Saúde que a “contribuição” (sempre entre aspas) foi criada.

O governo chora de um lado, conclamando aos deputados, senadores, governadores, partidos, que sejam responsáveis. Coisa, aliás, que o governo não foi durante esses anos. O uso da CPMF não teve nada de responsável. Pelo contrário. Vemos o caos na Saúde a cada reportagem sobre o tema. Por outro lado, parece que o Trem da Alegria parlamentar anda cada vez mais alegre. E, nesse ponto, a CPMF ainda ajuda, pois o governo tem liberado emendas milionárias, verbas a torto e a direito (mais a torto) para “convencer” a oposição e os aliados rebeldes a votarem a favor da prorrogação.

E a campanha para isso, como disse antes, usa como um dos artifícios a tentativa de convencimento de que, quem for contra a prorrogação, é contra o crescimento do país, contra as políticas sociais do governo, contra os mais pobres. Discurso forte, apelativo, que toca fundo para encobrir o que é claro na superfície: a incompetência do governo em administrar o dinheiro com o qual… contribuímos.

terça-feira, dezembro 04, 2007

Uma confissão e uma expectativa

Acabei de assistir na TV Senado o pronunciamento de defesa de Renan Calheiros que precedeu a votação que definiria se teria o mandato cassado ou não. Não acompanhei o pronunciamento inteiro, mas consegui assistir boa parte. Fiquei intrigado. Ele pontuou cada item da acusação de quebra de decoro, citando constituição e código de ética do Senado. Rebateu tudo de maneira bem segura e por um momento pensei (tenho que confessar) que ele não seria culpado daquelas acusações. O interessante é que, pelo que havia lido, ouvido e assistido até então, ele não teria condições de ocupar o cargo. Isso somado a atitude inicial de usar a cadeira de presidente para se defender... e acusar.

O resultado da votação, talvez já previsto, foi favorável... ao Renan. 29 a favor da cassação, 4 abstenções ... e 48 contra a cassação. Ele poderá, com isso, usufruir das beneces do cargo público por mais tempo. Renan largou o osso da presidência do senado, mas poderá ficar na área.

Fica a expectativa de saber como o relator, os deputados e Senadores que apresentaram posição favorável à cassação e, claro, a Revista Veja, irão se posicionar. Afinal, ele é culpado de tudo e atuou bem hoje ou é, de certa forma, inocente? O fato é que ele se safou mais uma vez.


Rapidinhas

Largando o osso

Hoje, 4 de dezembro de 2007, Renan largou o osso ao renunciar à presidência do Senado. Com certeza será um ano inesquecível para ele. Espero, sinceramente, que aprenda. Pagar? Duvido! Até porque as acusações contra ele têm uma interpretação toda especial de seus “iguais”. A justiça ali é relativa. Talvez fique no ostracismo durante algum tempo e depois volte. Lembrem-se de que já tivemos um presidente que, após “sofrer” (muitos usam isso, subjetivamente transformando-o em vítima) impeachment, voltou tirando onda.


Medo, pavor, pânico

O G1 estampou a matéria: “Aluna de escola pública gabarita Enem”. É sobre uma estudante mineira que cursou o ensino médio no Cefet de Minas (Colégio Federal, assim como Pedro II) e acertou 100% da prova do Enem. Poderia comentar esse fato, mas me limito parabenizar a aluna, que teve seu mérito. Mas, voltando à matéria. Como se tornou padrão na internet, sempre indicam textos com assuntos relacionados. Um deles foi sobre a questão das cotas (essa era esperada). O título: Escolas entram na Justiça contra cotas. “O Sindicato dos Estabelecimentos Privados de Ensino de Santa Catarina (Sinepe/SC) entrou com uma ação coletiva na Justiça Federal para tentar reverter as cotas buscar destinadas para alunos de escolas públicas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)”. Tem alguém com medo. O presidente do sindicato diz ainda que objetivo da ação é “garantir o direito de igualdade”. Faça me o favor! Depois diz que os alunos de escolas privadas vão concorrer em desvantagem. É de rolar de rir. Igualdade? Desvantagem? A matéria cita ainda o caso de um aluno que foi ao vestibular com um mandado de segurança de modo a concorrer ao total das vagas, incluindo as reservadas aos cotistas. A UFSC pode recorrer. Mas me impressiona. A elite se vê ameaçada e recorre a justiça por “seu direito em manter o status quo”.

Nananina…NO

O “No” venceu. O povo disse à Chaves que não atura, dentre outras coisas, o governo de um só. Deve haver alternância no poder. Apesar de alguns (daqui mesmo) afirmarem o contrário, essa é uma característica de um regime democrático. Chaves diz que continuará com seu propósito de implantar o socialismo na Venezuela. Fala em amadurecer a idéia. Bem, não sou sociólogo e, com toda minha ignorância, sempre tento recorrer aos conceitos. Socialismo seria um sistema político onde os meios de produção seriam públicos, de todos, sem propriedade privada, sem desigualdades, e, sendo uma espécie de transição para o Comunismo, o Estado desapareceria gradativamente. Ter uma sociedade onde não há desigualdade deveria ser o ideal de todos, principalmente aqueles que ocupam cargos públicos. Mas eu fico pensando… Sem Estado não há necessidade de presidente. Será que Chaves estaria preparado para uma sociedade onde ele não “mandasse”? Onde não houvesse um palanque reservado para ele “soltar o verbo”, como parece gostar? Sei não. Ok, já sei o que vocês querem me falar: ¿Por qué no te callas?
Os escrotinhos covardes

Parece que na Alemanha uma turminha não se desapega da escrotidão comandada pelo bigodinho. Essa patotinha, minoria, mas cheia de idéias grandiosamente idiotas, têm atacado de forma covarde comunidades judaicas, além de imigrantes de diversas origens, como indianos e iraquianos. Ah, também não esquecem os africanos de diversos países.

Em Agosto, um grupo de 50 integrantes da turminha escrota atacou oito indianos. E a covardia não termina. Recentemente uma mulher iraquiana foi hospitalizada após ser agredida num ônibus. Isso só já é triste e revoltante. Acrescente o fato de a mulher estar grávida.

Os escrotinhos de extrema direita gritam palavras “de ordem” contra os imigrantes. Fazem sempre ataques estando em maioria e, para manter a postura covarde, fogem da polícia. Isso quando, estando em grande maioria, não resolvem agredir seus conterrâneos.

Interessante que aqui no Brasil também existem escrotinhos como esses. Vez por outra um de seus atos merece destaque na mídia, o que não quer dizer que aconteçam mais vezes. Tão covardes quanto os seus similares europeus.

Lá, alguns dizem que a justiça está sendo leniente com os criminosos. Até agora, pelo que li, apenas um escrotinho foi condenado. A pena foi de 600 euros a serem doados para uma instituição de caridade.

Como esses idiotas muitas vezes têm grana e costas quentes, isso fica fácil. E o caminho está livre para que saiam às ruas cometendo mais covardias.
Errou, apaga

A horrenda história da menor que ficou detida numa cela com 20 homens, como não poderia deixar de ser, ganhou bastante atenção de todos. Não sei qual foi o crime desta menina, mas o que o Estado cometeu eu considero hediondo. Foi uma séria de falhas terríveis, por parte de juízes, policiais e delegados (será que algum deles têm filha?). Mentira e desrespeito a vida, a pessoa, ao ser humano. Ainda tentaram justificar, culpando a vítima de “possível debilidade mental”. Houve pronunciamento tardio da ministra Nilcea Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres – SPM e também do presidente Luiz da Silva. Mas falaram. Talvez devessem ficar mais atentos. Li, por exemplo, que em algumas cadeias do Rio, quem revista as mulheres são policiais homens. Talvez isso aconteça em outras partes do país. O fato de mulheres e homens dividirem cela parece ser corriqueiro. Longe da “ficção” como o presidente disse parecer. É real e cruel.

Ouvi ou li que iriam derrubar a delegacia onde a barbaridade ocorreu. Uma boa forma de apagar um erro. Destruindo um dos lugares onde o erro ocorreu. Isso mesmo, um dos, pois o erro (crime, barbárie) não foi apenas na delegacia. Ocorreu, também, nos órgão da Justiça (sic) por onde tramitou o caso, que viria a tona por denuncia de um dos presos.

Parece que derrubar virou moda para apagar certas mancadas. Algo parecido ocorre na Bahia, após a tragédia que vitimou sete pessoas. Tragédia anunciada. Havia laudo apontando problemas estruturais. Crianças do colégio que funciona ali reportaram queda de reboco. Mas quem freqüenta camarote não liga para arquibancada. Agora basta demolir, construir um estádio lindo que servirá para a Copa de 2014 (além de enriquecer algum empreiteiro e seu apadrinhado político) e esquecer, não só a tragédia, mas também os erros, a negligência, o desrespeito o desserviço público.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Dando nome aos... ursos?

Há pouco mais de duas semanas uma professora britânica foi condenada à 15 dias de prisão. Isso inicialmente, pois, segundo as leis do país onde ocorreu o “crime”, a sentença poderia ter chegado a um ano de cadeia, quarenta chibatadas ou, como alguns exigiram nas ruas, a morte.

Recentemente, soube que um conhecido, brasileiro do nordeste, teve certas dificuldades durante uma viagem à trabalho aos EUA. Causa “aparente” (com duplo sentido): por suas características, físicas e faciais, foi tido como originário do Oriente Médio.

A primeira história esteve nos jornais do mundo, quase se tornando um incidente diplomático entre dois países. A segunda, poucos souberam. Mas ambas têm algo em comum: a relação entre duas culturas. Mesmo que, no segundo caso, por engano.

O produto do ódio é sempre mais ódio. Não posso afirmar o ponto em que tudo começou, o evento que originou tudo isso, mas atitudes que, infelizmente, se tornam comum de uma cultura para com a outra, alimentam tudo isso. No meio disso tudo, como marionetes de um espetáculo cruel e com fim sempre trágico, estão pessoas comuns.

O caso da professora, Gillian Gibbons, envolve muito mais que simples interpretação de um ato. Ela foi acusada de insultar o Islã ao permitir que seus alunos, de uma escola sudanesa, atribuíssem o nome do profeta Maomé a um ursinho de pelúcia. O que, a propósito, membros daquele colégio dizem que não foi idéia da professora. Mas nas ruas da capital sudanesa, centenas de manifestantes pediram a pena máxima para a professora. Era incerto o resultado. A tendência, porém, e a professora cumpriu alguns dias de prisão. Recebeu o perdão presidencial e deverá ser deportada.

O governo do Sudão, país onde ocorre uma das mais graves crises humanitárias da atualidade (em Darfur), subiu ao poder apoiado por Islamitas. Algum tempo depois impôs a Charia, lei Islâmica, a todo o país, desconsiderando a boa parcela de Cristão ao Sul do país. O resultado se pode imaginar.

Mas voltando a relação entre culturas. Após o ataque às Torres Gêmeas, a religião Islâmica passou a ser tida como religião dos terroristas ou, o que é mais comum, como a apoiadora e grande incentivadora de atos terroristas e do ódio ao Ocidente.

A segurança nos aeroportos se intensifica, tendo como alvo principal todo aquele que se aparenta com um muçulmano pelas características faciais, o que acho de extrema crueldade, mas tudo nessa história é cruel e irracional. E também dão mais “atenção” aos passageiros originários de países islâmicos ou onde o islamismo é religião predominante.

Essa visão e atitude para com muçulmanos têm uma conseqüência. Aquele que se sente oprimido e humilhado, em algum momento passa a se posicionar contra essa situação. O caso da professora inglesa pode ser considerado como uma postura ou resposta defensiva a mais um ato (tenha ou não feito) praticado pelo Ocidente contra a cultura islâmica. Notem que, segundo matéria da Al Jazeera, “nenhum dos pais fez objeção quando ela [a professora] os enviou circular sobre o projeto de leitura que incluía o urso, introduzido nas aulas em Setembro, como um participante ficcional”. E tomou essa proporção toda. Fica a pergunta: até quando?

Indico artigo "Attitude of West fuels hardliners"
de Steve Bloomfield para o jornal Independent.

quarta-feira, novembro 28, 2007

Through kids' eyes



"Before you talk about education, please feed us.
We need to survive. We are hungry."
Mumina Yusuf, 15

"I would like to tell the rest of the world that we want peace."
Kalson Hussein, 13

terça-feira, novembro 27, 2007

Televisão, Cultura, Preconceito e Ignorância

Há algumas semanas eu ouvi ou li um comentário sobre manifestações racistas no programa do Jô. Pensei: tanta coisa acontecendo nesses dias que precedem o feriado de Zumbi e Semana/Dia da Consciência Negra… Essa é mais uma, talvez invenção ou paranóia. Não procurei me inteirar e ignorei o assunto.

Hoje pela manhã, ao ler a Folha Online, me deparo com a seguinte matéria: Ministério Público Federal investiga programa de Jô Soares. Bastou para relembrar o ‘boato’ e ter a curiosidade aguçada. Com isso, fui eu pesquisar, começando pela leitura da matéria que comenta sobre a suposta manifestação de preconceito no programa exibido em 18 de junho deste ano (quanto tempo!) que traz uma entrevista com um tal de Ruy Moraes e Castro. A matéria traz um link para o vídeo da entrevista, disponível no YouTube (viva a democratização!).

Confesso que assisti ao vídeo estando um tanto tenso com as acusações que estão sendo investigadas pelo MPF. Mas tentei perceber o que se passava. Primeiramente lembrando que o Jô Soares é um comediante e, mesmo em entrevistas com teor, digamos, sério, ele sempre irá adicionar uma pitada de humor. Isso é natural e esperado. E, é claro, a reação da platéia está em sintonia com as palavras e “atuação” do apresentador. Mas natural ainda.

Mas, mesmo tendo isso em mente, não fiquei contente com o que vi. Esse Ruy Castro, que até tem livros publicados, embora tenha descoberto agora, apresenta aspectos culturais de determinadas tribos africanas de forma jocosa e algumas vezes desrespeitosa. Discorre sobre questões de extrema seriedade, como a mutilação genital feminina – MGF –, tão combatida e criticada internacionalmente. Esse aspecto assustador da cultura de algumas tribos da áfrica eu tomei conhecimento através de uma entrevista com a modelo Waris Dirie, que li há muitos anos (Revista Reader’s Digest, acho que de 1999, quando era assinante). Fiquei bastante chocado, da mesma forma quando soube, recentemente, que em certas tribos brasileiras, crianças que nascem com deformações ou mesmo gêmeos, são sacrificadas. Cultura que, quando comparada com a dominante, se torna o que há de mais cruel. Eu considero atrocidades ambas as manifestações, pois meu referencial não é o mesmo. Assim como vejo barbárie nas ações de guerra, nos conflitos diversos onde mulheres são estupradas sistematicamente, pessoas mortas a esmo, crianças usadas como soldados, as bombas atômicas, as políticas que perpetuam a fome de muitos em prol do enriquecimento de alguns, índios e moradores de rua sendo queimados (a propósito, ocorreu novamente).

Mas continuando. Ruy Castro também aborda a sexualidade das mulheres daquelas tribos, fazendo uma associação a meu ver sem embasamento algum (quem sabe alguém me apresenta pesquisa sobre o assunto), entre o penteado e o órgão e comportamento sexual daquelas mulheres. Muitos risos, muitas opiniões controvertidas com imagens sendo exibidas. Algumas daquelas fotos eu já tinha visto, num blog de um angolano que criou uma sessão “Medusas de Angola” como forma de demonstrar, através dos penteados, a diversidade cultural daquela região. Espero conseguir a opinião daquele e de outros blogueiros africanos sobre o caso.

E se não bastasse a forma como a entrevista foi conduzida (como disse, já esperada) e a maneira Ruy Castro expõe seu “trabalho”, o entrevistado, abordando algumas tribos ao Sul Angola, indica uma região que teria fronteira com a África do Sul. Com isso, além da falta de respeito ao tratar de culturas exóticas aos “civilizados de cultura desenvolvida”, ele demonstra sua ignorância geográfica.

Li alguns comentários em sites que exibem manifestações contra o programa, algumas até com petições, repudiando o conteúdo do programa e exigindo retratação - inclusive um site de notícias Português comenta que houve manifestação da embaixada de Angola no Brasil. Mas os comentários, muitos, ilustram o pensamento de que, os que condenam declarações e atitudes racistas ou de cunho preconceituoso com determinada cultura, são “hipócritas neuróticos de baixa estima” com “complexo de inferioridade latente”, como li num site.

As pessoas que usam essas expressões, que pensam assim, ao tentar defender uma posição e amenizar algo que foi tido por outros como insultante ao ser exibido em cadeia nacional, expressam seu próprio preconceito, sua própria intolerância quando o assunto não é de seu interesse direto. Também externam certo grau de medo. Afinal, alguém não está aprovando algo que o fazia rir.

E a essência disso tudo, me referindo ao assunto do programa, é uma: Cultura. As mulheres daquelas comunidades usam um penteado que, a nossos olhos, é mais que exótico, da mesma forma como devem considerar ao ver os “penteados da moda” a que nos acostumamos. Cultura. Mesmo a questão da mutilação genital, a meu ver, assunto que suscita um embate cultural maior e mais importante que o penteado tão comentado no programa, é uma questão cultural, de crença. Repito, não defendo a MGF, assim como abomino o sacrifício de recém-nascidos. Intolerância minha? Não creio. Simplesmente não é, e nunca foi, meu referencial.

Com relação ao programa do Jô, continuo considerando um bom programa, com aspectos positivos e negativos. Não afirmo que houve ou não manifestação racista. O que eu vi foi: desrespeito, preconceito, desperdício de tempo e, certamente, ignorância [expressa e sendo propagada]. Quatro coisas infelizmente comuns na televisão e que não deveriam se repetir. Até porque, embora seja aberta, alguém pagou para que aquilo fosse veiculado. E não se enganem, não foi a Globo nem seus anunciantes.


Dica de leitura:
“Cultura: Um Conceito Antropológico”
de Roque de Barros Laraia.
Jorge Zahar Editor.

domingo, novembro 25, 2007

É fantástico

Comentário breve sobre reportagem exibida a pouco no Fantástico. Título no site, Símbolo do Desmatamento. A matéria é sobre um projeto do Greenpeace que retira um tronco de uma árvore derrubada na Amazônia para que seja exibida no Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília (onde os grandes madeireiros fazem seu lobby). A primeira tentativa, na cidade de Castelo dos Sonhos, Pará, em 16 de outubro de 2007, a equipe passou por situação complicada com pressão de madeireiros. Intimidação sem retoques.

Mas o que me impressionou, apesar de pouco explorado na matéria, foi a falta de autoridade do Estado brasileiro, ali representado pelo Ibama, Exército e Polícia Civil. A equipe do Greenpeace estava autorizada a fazer a remoção da tora naquela cidade e foi impedida por bandidos que não se deixaram dobrar nem pelo Exército Brasileiro. E depois alguns criticam quando reportagens internacionais taxam o Brasil de incompetente em se tratando de preservação da Amazônia.

Conseguiram, enfim, um tauari de 12 metros, em Lábrea, Amazonas, 13 de novembro de 2007. Está em Copacabana, para a campanha Desmatamento Zero. Se depender dessas instituições a contagem até Zero não chega tão cedo. Mas fiquemos de olho!

terça-feira, novembro 20, 2007

Viva Zumbi dos Palmares

Cá estou me recuperando de uma virose que há três dias tenta me derrubar. Com isso, provavelmente não poderei estar presente nos eventos que ocorrem nesta data. 20 de Novembro, ponto alto na Semana da Consciência Negra. Data em que, no ano de 1695, morria Zumbi dos Palmares. Dia da Consciência Negra.

Algo de interessante acontece nesses dias. São muitos eventos para discutir a situação do afro-descendente na sociedade brasileira, trazer e renovar estudos sobre a escravidão, festejar a cultura e a herança cultural africana no Brasil e, mais importante, elevar a auto-estima de boa parcela da população. Ao mesmo tempo, outros escolhem a data e os dias que a precedem para tecer críticas ao elevado número de feriados, ao perigo do "neo-racismo" (essa eu li hoje no site de conceituada revista) e também comentam, alguns de forma calorosa, outros riscos envolvidos quando se trata de integrar, de fato, afro-descentes e outras categorias numa sociedade tão democrática e justa. É mesmo arriscado.

Toda vez que ouço esse segundo argumento, lembro de um filme de ficção que assisti há muitos anos. Tipo Sessão da Tarde. Não lembro do nome. Mas aqui o que importa é o que ficou. Na trama, o herói, protetor da floresta, tinha o poder de se comunicar com os animais, dentre outras coisas. Numa parte do filme, para impedir que um caçador matasse um dos animais, já acoado e assustado, o herói faz com que o caçador sinta tudo aquilo que o animal estaria sentindo no momento. O caçador chora, cai aos prantos, implora para que aquilo acabe. Parece uma comparação idiota, talvez até seja (sou mestre nisso), mas penso que seria muito interessante se aqueles que fazem críticas como o fato de uma parcela da sociedade brasileira reclamar igualdade, estivessem do outro lado. Imaginem só.

Muitos apresentam pesquisas acadêmicas, dados do IBGE (que cada um interpreta como quer) e até relados, para comprovar que tudo caminha para um paraíso de igualdade e que o problema estaria nas políticas de ação afirmativa, no feriado, nas passeatas, nas cotas, que racismo é achar que racismo existe, que tudo isso é esquerdismo de baixo nível... Por que será? Isso sem falar nos comentários postados em artigos sobre a Semana da Consciência Negra, no O Globo On-line, por exemplo. Sempre digo que os comentários expressam muito do que muitos sentem.

Mas isso não apaga a importância da data, deste tão criticado feriado. É simbólico, sim, como tantos outros, mas mantem sua importância. Reflexão, conscientização, estudo, respeito, orgulho, auto-estima, inclusão, igualdade de fato (já que de direito está assegurada no Artigo 5° de nossa Constituição), reconhecimento.

E que venham as críticas.


sábado, novembro 17, 2007

Estejam mais avisados ainda

No embalo da Semana Nacional da Consciência Negra e comemorações do dia de Zumbi dos Palmares, gostaria de divulgar mais dois eventos. Além do já comentado II Festival Afro, acontece:

Na UFRJ
A Faculdade de Letras da UFRJ, numa realização em parceria com a UFF e a Fundação Biblioteca Nacional, realiza o III Encontro de Literaturas Africanas - Pensando África: crítica, pesquisa e ensino. O evento acontece de 21 a 23 de Novembro. Para maiores informações clique aqui.

Na ABL
A Academia Brasileira de Letras vai reunir em sua sede especialistas de várias partes do mundo, de 22 a 24 de Novembro, para debater as diversas formas históricas de escravidões na Conferência “Confrontando as Escravidões” – Um diálogo visando ao entendimento cultural. Para maiores informações e programação completa, clique aqui.

Alguns dizem que tais eventos acadêmicos têm um propósito mercadológico, tendo em vista a Lei 10.639 e atribuem isso, também, como motivo para o grande número de publicações sobre África e afro-brasilidades. Prefiro pensar que o que ocorre é um engajamento, cada vez maior, para mudar um quadro de invisibilidade e ignorância de cultura afro-brasileira e africana. Bem, de qualquer forma algo de bom acontece. Estão, finalmente, tocando no assunto.

quarta-feira, novembro 14, 2007

Atenção nunca é demais

Em 2003, a revista Super Interessante trouxe como matéria de capa a reportagem “Como Hitler pôde acontecer?” Um cara baixinho, com um bigode exótico, cuja aparência, em seu conjunto, fugia daquilo que pregava ser característica de raça superior. Fazia aquele penteado esquisitão, comportava-se de maneira mais esquisita ainda e, como ninguém é perfeito, ainda tinha algumas idéias bem escrotas. Mas ele “aconteceu” e deixa seu rastro podre até hoje.

A reportagem fazia um histórico do surgimento à decadência dessa figura. E a primeira conclusão, talvez óbvia, é que esse tipo de gente não surge do nada. São eventos, atitudes, palavras, acontecimento que se sucedem e… lá está ele. Será que foi tão discreto ao galgar os degraus que o levaram até o poder? Não. Não houve discrição. Ele vai mostrando a que veio para aqueles que querem ver. Alguns, descrentes, o ignoram. Outros ficam mais atentos. Mas o fato é que o bigode chegou onde queria.

Mas de quem seria a responsabilidade em perceber que algo acontece? A quem interessa? E será que haverá, digamos, sensibilidade para sacar que alguma coisa está para acontecer? Será que os acontecimentos serão analisados de forma objetiva, com isenção e abrangência suficientes, além de critério que permita prever algum evento?

Parece que esse tipo de análise só é levado em consideração décadas depois dos ditos eventos. Revirando os arquivos, sacudindo a poeira dos papéis, tendo acesso e meios para uso e análise de certas informações, acontecimentos do passado (que ainda ardem no presente) são revistos.

Hoje, a edição eletrônica do Guardian Unlimited traz um texto de Sir Ian Kershaw, professor de história moderna Alemã, da Universidade de Sheffield, intitulado Blind optimism, em que comenta o livro A mirror of Nazism: British opinion and the emergence of Hitler, 1929-1933, de Brigitte Granzow. No artigo, o professor que publicou uma biografia de Hitler (em dois volumes: Hitler, 1889-1936 Hubris e Hitler, 1936-1945 Nemesis), obra monumental – somam mais de 2000 páginas - que lhe rendeu varias premiações, analisa a “cobertura” que os jornais The Guardian e Observer deram a Adolf Hitler de 1930 a 1933. Alguns links levam a reproduções digitais desses jornais, onde podem ser lidas as matérias originais.

Reportagens que traziam distorções e interpretações equivocadas acabaram por minimizar a ascensão do líder nazista. Diziam que era apenas uma figura "dramática", um carinha cheio de "verborragias revolucionárias" e "sem verdadeiramente ser um líder revolucionário". Um "charlatão" de "postura moderada" que, talvez viesse a ser tornar um homem de Estado. E era "definitivamente cristão em seus ideais", que iam "de encontro aos da Igreja Católica Alemã". Essas são algumas das percepções que foram veiculadas à época em jornais importantes da Inglaterra.

Parece que menosprezaram as verborragias de um pseudo-revolucionário charlatão. Deu no que deu. Mas fica a lição.

terça-feira, novembro 13, 2007

Educação: um risco

No dia 6 de novembro, publiquei um texto no Jornal de Debates, numa proposta de discussão sobre educação. A proposta era “Por que a educação não tem prioridade no Brasil?”. Intitulei meu artigo com outra pergunta: “A quem interessa?”. Basicamente falo de dominação a partir da [falta de] educação. Poucos dias depois, 11, assisti no Fantástico uma reportagem que, embora, infelizmente nada tenha de novidade, me deixa triste e indignado.

Escolas caindo aos pedaços” foi o nome da matéria. Apresentou escolas do Maranhão (me lembrei de um imortal), Minas Gerais (onde tem um que quer ser e um que já foi), Alagoas (me lembrei muito do Renan) e Mato Grosso (riqueza, agronegócios, etc.). Estados onde oligarquias parecem resistir ao tempo.
Eram escolas municipais e estaduais. Públicas. Ensino fundamental. Na definição, fundamental é o que serve de fundamento, básico, base, alicerce... para o futuro. Futuro sem janelas, paredes ou teto. Futuro aos pés de uma mangueira. Ao sol, ao vento e ao relento. Fiquei pensando na falta de papel higiênico, estrutura, vazamentos, e outras características de universidades públicas. Uma evolução. Pelo menos as aulas ocorrem numa sala, com paredes e tudo o mais. Que sorte! Será que é uma gradação do sistema educacional vigente?

Recentemente também li algo sobre o Laptop, que pelo visto não sairá mais a 100 dólares, e que o governo pretende adquirir aos milhares. Isso, pelo visto, no âmbito do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação). É tanto plano. Alguns podem ser definidos como “fazendo algo que já deveríamos ter feito, pois consta na legislação”. Ainda têm esse negócio de um computador por aluno, todas as escolas conectadas à Internet. Que maravilha.

Realmente estão planejando o nosso futuro. Ah, e com certeza o plano contempla questões como profissionais habilitados para o ensino com essa “nova” ferramenta, assim como a manutenção desses equipamentos. Ambiente adequado já existe: à sombra de uma mangueira. É um risco.


Explicando o título desta postagem
Risco tem um duplo sentido. O primeiro como sendo algo arriscado. Se relaciona ao risco que para alguns representa a democratização do ensino, da educação, do cultivo do pensamento, do desenvolvimento da crítica. É arriscado uma vez que pessoas "educadas" tendem a contestar o que lhes está sendo imposto. No mesmo sentido é o risco que aquelas crianças e seus professores-heróis correm - primeiro ao ficarem tão expostos à precariedade daquelas estruturas, com quadros sendo derrubados pelo vento, que também derruba mangas nas cabeças dos alunos; depois por ficarem expostos a um futuro sem perspectiva, uma vez que o status quo está sendo mantido.
O segundo sentido seria no mesmo contexto de riscando do mapa. Eliminando, apagando, enfraquecendo. Seria, na verdade, uma espécie de ação (revestida de políticas públicas falhas) do primeiro sentido. Para não correrem o risco... riscam a educação do mapa.
Ajudar funciona (?)

Muito se discute sobre o real impacto que a ajuda (financeira) internacional tem no continente Africano e noutros países dos demais continentes. Sobre África, o que vejo de comentários se resume basicamente a corrupção de alguns chefes de Estado que acabam por desviar o dinheiro doado, ou aplicando de forma errônea, logo, sem impacto no desenvolvimento local e na redução da pobreza. Isso sem falar nas “pesquisas” que dão um tom racista na visão que alguns países desenvolvidos têm do continente Africano, relacionando a cor da pele com pobreza, desmerecendo todo um universo cultural de extrema riqueza, e desconsiderando a História. Com isso, concluem secamente que ajudar não adianta.

O mais correto, a meu ver, seria dizer que a forma atual de ajuda, aonde cada dólar chega impregnado de interesses comerciais, políticos, estratégicos, realmente não adianta. É bom esclarecer que a ajuda a que me refiro é aquela conhecida como ODA (Official Development Assistance) que, na definição de sua entidade criadora, o Comitê de Assistência ao Desenvolvimento (DAC) da Organização para Co-operação Econômica e o Desenvolvimento (OECD) seria um fluxo de financiamento oficial a ser aplicado com vistas ao desenvolvimento econômico daqueles países e o bem estar de sua população. Mas, como nada é perfeito, os interesses aos quais me referi, tanto dos doadores como também nos países que recebem a doação, acabam por enfraquecer o objetivo da ODA. Quem sofre, é claro, é quem mais precisa.

É uma situação complicada e pouco discutida de forma aberta. Mas, vamos à indicação de leitura. Um relatório recente do IPC, em sua publicação Povert in Focus, e intitulado “Does Aid Works? – for the MDGs” trás alguns artigos que examinam esse sistema internacional de ajuda, apresentando propostas de ajuste que possibilitariam aplicação mais eficaz.

A publicação pode ser obtida clicando aqui.

sexta-feira, novembro 09, 2007

Na van

Estava eu indo à Mesquita (a cidade, não o templo) e, como quase sempre, fazendo uso do transporte alternativo. Não que eu seja afeito a Vans, mas o transporte oficial que liga Mesquita ao Centro do Rio, mais especificamente à Praça Mauá (dando nome aos bois: linha 005 e 131; empresa: Transmil), não atende a população. Ônibus precários, longas esperas e alto custo da passagem, contribuem para que o oficial perca para o oficioso. Sinceramente, ambos deixam a desejar.

Pois bem, conversas em transporte público, alternativo ou não, muitas vezes são interessantes. É bem verdade que, na maioria, são caóticas, deprimentes, incômodas. Mas a que me refiro, que poderia muito bem ser tema de um estudo, tem haver com ética, corrupção, conceitos e outras coisas mais que se possa extrair daquilo tudo.

Van cheia, sem cabeça para ler um livro (espécie de salva vidas, sempre próximo) as conversas, ou melhor, a conversa, preencheu o tempo. Não participei. Apenas ouvi e me impressionei. Falavam sobre energia elétrica. Mais especificamente sobre o furto desta, o famoso “gato”. “Em minha casa existe um leão”, dizia um, o mesmo que dava as dicas para um “gatobem feito. “Você não pode sair de uma média de 40, 45 reais e reduzir logo pra 20. Eles desconfiam”. Tudo isso numa naturalidade…

Também criticaram a nova tecnologia de medidores da Light, que os instala em postes e agrupados, e não internamente. Isso faz com que o acompanhamento (sic) pelo consumidor fique comprometido, uma vez que a checagem das informações do relógio fica dificultada pela distância. Da mesma forma, tal mudança gerou um aumento nas contas, fazendo com que muitos consumidores revoltados destruíssem, literalmente, os medidores. Isso eu vi. Ateavam fogo. Como se o medidor representasse o responsável na Light. Era a vingança da população, que não vê resultados nos meios disponíveis para reclamações.

Mas voltemos ao bate-papo no transporte alternativo. Outra maneira de furtar energia foi comentada. Essa me impressionou ainda mais. Tratava-se, grosso modo, de interromper o movimento do relógio, por travamento do disco. Da mesma forma, as técnicas eram apresentadas e discutidas com extrema naturalidade. Um apresentando ao outro, maneiras de sobrevivência. O jeitinho.

Quero deixar claro que sou contra o “gato”. Já fui vítima, durante mais de um ano, quando foi desfeito (não foi descoberto, mas desfeito) e a conta teve redução de 40%. Assim, de uma hora para outra. O caso foi apresentado à Light, mas ficou provado o desprezo. O furto era indireto.

Quando comentamos sobre corrupção, normalmente o alvo é Brasília. Onde algumas centenas de funcionários públicos, pagos para representar a maioria da população, atuam em benefício próprio. Puro reducionismo de algo bem mais amplo. Uma de minhas primeiras postagens aqui no blog dizia respeito binômio ética-moral. Foi um texto onde comentei o aumento de salários que os parlamentares estavam se dando. Aumento esse que, por sinal, voltou à pauta da Câmara, nesses tempos de barganha pela CPMF.

Mas a cada conversa que presencio, a cada declaração que ouço, não de parlamentares, mas dos que os elegeram, me faz acreditar que se alguns eleitores tivessem a oportunidade de seguir carreira pública, se comportariam da mesmíssima maneira que os ladrões tão criticados. Corrupção de baixo para cima, de cima para baixo, de um lado para o outro.

O “gato”, pelos que fazem, não é considerado como furto de energia, como crime, assim como o desvio de verba pública é tido como normal por alguns. Pensam eles que, se a concessionária de energia elétrica presta um serviço aquém do que se espera, têm o ‘direito’ de roubá-la. O fato de prejudicar o vizinho, quando o gato é feito indiretamente, ou mesmo de comprometer todo o sistema (segurança, preços, etc.), quando o roubo se dá na alta tensão, no poste, não causa nenhum constrangimento a tais pessoas. O respeito com o próximo inexiste. A consciência do coletivo é uma piada. Essas são as mesmas pessoas que, ao lerem os jornais, quando o fazem, xingam seus iguais, em Brasília.

E para dar outro exemplo dessa mentalidade, sem sair da Van, basta que nos lembremos das saídas de ar-condicionado (quanto existe) na primeira fileira de bancos logo atrás do motorista. Quando a temperatura está alta e esse conforto é mais apreciado, quem senta ali, direciona as saídas para si, sem pensar (ou mesmo de forma consciente, pois o mal existe) naqueles que se encontram nos últimos bancos.

A Van está cheira. E eu também.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Haja coração!

Eis um ano inesquecível: 2007. Um ano, como qualquer outro, onde tristezas e alegrias se sucedem, com emoções novas a cada dia, risos e lágrimas, de alegria ou não. A vida é formada de perdas e ganhos. E neste ano essas palavras ganharam mais significado, como se o coração fosse marcado a ferro em brasa para defini-las, de uma vez por todas. Espero, sinceramente, que acontecimentos tão intensos cessem daqui para o fim do ano. Chega, por enquanto.

No espaço de dezenove dias, a morte e a vida se materializaram em minha frente, desafiadoras, exigindo ação, atitude, força… e também permitiram reflexão. Refleti sobre a vida e a morte, força e fraqueza, sobre esperança e desilusão, sobre violência e paz, sobre família, sobre passado, presente e futuro.

Em 07 de Novembro de 2007, nasceu minha sobrinha. Presenciei a vida chegando com força, num presente de 3.315gr distribuídos em 50cm de esperança num futuro de paz.
Seja bem-vinda, Júlia!

terça-feira, novembro 06, 2007

Estejam avisados...

De 21 a 25 de Novembro acontecerá no SESC Tijuca o II Festival Afro, como parte das comemorações da Semana da Consciência Negra e homenagens a Zumbi dos Palmares. E o patrocínio da Petrobras (órgão do Ministério da Cultura) garante a entrada gratuita.

"O Projeto II Festival de Música, Dança e Cultura Afro-brasileiras consiste na realização, na cidade do Rio de Janeiro, de espetáculos de música e dança, oficinas culturais, um seminário e uma exposição de artes plásticas e uma exposição fotográfica que darão ao público carioca uma mostra da rica herança cultural que o povo de origem africana legou ao nosso país. Seu objetivo é contribuir para a promoção e divulgação da cultura de raiz afro-brasileira, abrindo espaço também para a discussão e o debate sobre a cultura negra no Brasil de ontem e hoje." Para maiores informações clique na imagem abaixo.


Formas de tratamento

Há poucos meses foi uma empregada doméstica. Alguns dos criminosos alegaram que pensavam se tratar de uma prostituta. Postei sobre isso aqui . Agora parece que acertaram, pois desta vez o alvo foi realmente uma prostituta. O cenário, mais uma vez, a Barra, mas poderia ter sido em qualquer lugar. Os "protagonistas" mais uma vez jovens de classe média alta, que vivem no conforto e relativa segurança dos condomínios da Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.

Já ia esquecendo o motivo: o desprezo pela vida, pelo próximo; e, é claro, a sensação de impunidade. Uma matéria do O Globo Online fala sobre a falta de valores, a infantização, e isolamento social desses jovens. São realmente fatores que contribuem para a formação desses que, tendo estudado em boas escolas, com oportunidades para se profissionalizarem e com todos os recursos de que dispõe, são os mais cotados para ocuparem postos de comando num futuro próximo.

Uma coisa que acho bem interessante ao fazer uma busca sobre as notícias relacionadas a esse, digamos, incidente. É como esses criminosos desumanos, de 21, 19 e 17 anos, são chamados. Jovens, estudantes, garotos, rapazes. Pode parecer paranóia, mania de perseguição, cisma… Mas gostaria que fizessem uma comparação com notícias similares (isto é, homens, de 17 a 21 anos, que cometem crimes) em áreas não tão nobres quanto a Barra da Tijuca e, mais importante, oriundos de camadas mais pobres da população. Baixada Fluminense, morros e favelas (as comunidades) da cidade do Rio, isso para ficar somente neste Estado. Os adjetivos e formas de tratamento não serão tão amenos, disso tenho certeza. Notem que aqui eu nem estou considerando a tez dos indivíduos.

É. A desigualdade passa também pelo tratamento.
Sem querer causar intriga

Cá estou, em horário de almoço (isso, na verdade, não existe) no escritório. Sala de fundos, de cara para o que ficou conhecido como o "Triângulo das Bermudas" - local onde fica a sede da Petrobrás, o BNDES e o prédio do antigo BNH - pois é onde o dinheiro do Brasil desaparecia, dizem.

Pois bem, os protestos, como tenho percebido, são constantes. Algumas vezes fica difícil me concentrar no "trabalho". No princípio eu ficava curioso, mas agora parece que é normal, não é mais uma novidade.

Hoje, por exemplo, resolvi observar um pouco a manifestação de um dos sindicatos. A primeira coisa que reparo é o baixíssimo quórum de funcionários em frente ao famoso Edise, como é conhecido o Edifício Sede da Petrobrás. Alienação? "Sou terceirizado, não tenho nada com isso"? Falta de engajamento? Acomodação? Um direito (já que a associação é livre)? Sei lá! Mas centenas de funcionários saem para o almoço ou outras tarefas. A maioria pela lateral, isso fica claro; alguns pela portaria principal. Uns poucos param, depois seguem. A polícia, é claro, está presente.

Cada um que pede a palavra, pelo que ouço, é alertado sobre o limite de 3 minutos. Alguns usam poucos segundos para tentar gritar palavras de ordem (muitos sem sucesso), outros falam um pouco mais. É uma expressão democrática. A representatividade do trabalhador deve existir, tem sua importância. Aqui vejo uma manifestação constante, que faz uso de simbolismos como urna funerária, pessoas baixando as calças, e apitos, muitos apitos, simultâneamente às declarações dos que pedem a palavra. Uma cacofonia, uma miríade de sons que, no conjunto, se mostram, por vezes, inexpressívos, apenas incômodos. Mas são válidos. As reinvidicações fazem parte dos direitos dos trabalhadores. Devemos reinvindicar, brigar por nossos direitos, lutar por transparência e respeito nas relações trabalhistas.

Infelizmente a questão sindical parece ter tropeçado no corporativismo. O que, se por um lado fortaleceu a empresa sindicato, enfraqueceu o objetivo maior, que é a união dos trabalhares em prol do bem comum da categoria. A política, ou melhor, a politicagem, também contribui negativamente. Tenho lido sobre os projetos que envolvem a instituição Sindicato, como no caso da contribuição sindical. Muitos bradam contra o governo Lula, parecendo, assim como o próprio Luiz da Silva, padecerem de esquecimento agudo. Talvez, na euforia em eleger um "real representante do povo, do trabalhador", não consideraram o dia depois da eleição. Mas tudo bem, errar é humano.

Continuamos, então, bradando, gritando palavras de ordem, pedindo a palavra por 3 minutos... e, sempre que possível, arriando as calças.

segunda-feira, outubro 29, 2007

Mesquita, os bueiros e algo mais

Recentemente minha cidade natal esteve presente nos noticiários. O motivo não me deixa feliz, mas serviu para que o município de Mesquita seja lembrado. Emancipado recentemente (setembro de 1999), Mesquita é o mais novo município do Estado do Rio de Janeiro. Herdou problemas sérios das administrações passadas (era distrito de Nova Iguaçu) e convive com novos. O mais recente teve haver com o resultado das chuvas da última semana. Vários pontos de alagamento, desabrigados, mortos.

Uma criança foi sugada pelas forças das águas e caiu num bueiro. Há algum minha mãe comentou que as tampas dos bueiros estavam sendo roubadas. Passeando por Mesquita é fácil se deparar com buracos abertos, bueiros sem a tampa. Embora nunca tenha levantado, a tampa de um bueiro daqueles, não parece ser algo fácil de carregar. E se a intenção é vender, é bem possível que não tenham ido muito longe. Sugestão à polícia, à prefeitura, aos agentes do Estado pagos para fiscalizar tais coisas e, é claro, aos moradores que porventura tenham acesso: verifiquem nos muitos ferros-velhos e “bagulhões” que existem no município.

À população fica o apelo: assim como aconteceu com a criança, um menino de 9 anos, todos correm o risco. Então, façamos nossa parte, fiscalizando, denunciando, cobrando. Mas nunca esqueçamos de que não devemos ser apenas objetos de ações do Estado. Sejamos sujeitos, participando, agindo e interagindo.

À prefeitura: a segurança da população deve vir antes de questões de embelezamento estrutural, com perfil eleitoreiro. O reflorestamento dos morros que circundam Mesquita favoreceria uma maior retenção d’água, além de contribuir para o clima e paisagem natural do município. E o asfalto deve vir sempre acompanhado de infra-estrutura de drenagem adequada, considerando todos não só a geografia local, uma vez que Mesquita não está isolado. Caso contrário, as pessoas deixam de pisar na lama para se afogarem no asfalto.

Aborto e paz (?)

Numa postagem recente eu comentei a declaração do governador Sérgio Cabral sobre a questão do aborto ser a solução para a diminuição da criminalidade. Sérgio se baseava no livro “Freakonomics - o lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta” do economista Steven Levitt. A declaração foi feita ao G1, há uma semana. Hoje o G1 traz uma entrevista com o autor do livro, feita por e-mail, na qual ele faz uma comparação entre Brasil e EUA, defende suas idéias de maneira não tanto radical quanto a declaração do governador. Leia aqui.

O Globo de sexta-feira trouxe outra declaração do governador, com uma mudança de tom, dentro de uma matéria de Ruben Berta intitulada “Governador, agora, diz que é contra o aborto”. Algo que me chamou atenção ao ler foi um quadro posto no meio da matéria. O título: Opinião. Não sei se do grupo do jornal ou somente do autor da matéria. Lê-se: “Fato Objetivo – Pode-se concordar ou discordar da defesa feita da legalização do aborto pelo governador Sérgio Cabral. Mas é irrefutável que, por falta de um programa sério de planejamento familiar, as camadas pobres da população converteram-se numa fábrica de reposição de mão-de-obra para o exército da criminalidade”.

É. Pelo que vejo a opinião de que pobre é sinônimo de marginal não é exclusiva de Cabral. Eu sou contra essa visão estreita, esse conceito turvo. Sou a favor de planejamento familiar por qualidade de vida, à família, às crianças. Infelizmente (ou felizmente, diriam alguns) essa “fábrica”, essa camada da população, não tem recursos para comprar a publicação que traz a matéria. Dois reais. E tendo acesso talvez nem criticasse, uma vez que a ignorância, a inexistência de visão crítica, faz parte da política daquele mesmo Estado, emperrado, do senhor Cabral, que parece ter descoberto a fórmula da paz.

quinta-feira, outubro 25, 2007

Blogs d'Italia

Li no espanhol El País que os blogs italianos podem ser afetados por uma lei que pretente regular o conteúdo publicado. Trata-se de um mecanismo de supervisão e controle do governo de Romano Prodi que obrigaria blogueiros a dependerem de um "editor responsável". O controle seria feito pela Autoridade de Comunicações daquele país.

Está aberta a polêmica. É notório que a difusão dos blogs como instrumentos de denúncia e informação, por vezes, incomoda muita gente. E, muitas vezes, os incomodados ocupam posições de destaque num governo, numa companhia. Como sabemos que democracia se tornou algo relativo, mesmo em governos ditos democráticos e ditos populares, já era de se esperar que algo do tipo surgisse.

Segundo o blog de Beppe Grillo, o texto da nova lei diz que o blogueiro, após o registro e devidamente certificado, teria ainda de pagar impostos, mesmo que a informação disponibilizada pelo blog não tenha fins lucrativos. Pegaram pesado!

Se considerarmos a lei como um tipo de censura, com certeza seria algo extremamente negativo para todos. Por outro lado, a lei talvez demonstre que o Estado (não só o Italiano, pois isso se espalha) e a sociedade, reconhecem a importância dessa ferramenta como meio de comunicação. Viva ao Blog! Viva aos Blogueiros! Mas fiquemos atentos.

quarta-feira, outubro 24, 2007

As desumanidades começam nas palavras

Agora pouco estava lendo uma matéria sobre a infeliz (mais uma) declaração de um de nossos governantes. Agora foi a vez de Sérgio Cabral, governador do Rio (do Estado, mas parece da cidade). Colando do G1… "Você pega o número de filhos por mãe na Lagoa Rodrigo de Freitas, Tijuca, Méier e Copacabana, é padrão sueco. Agora, pega na Rocinha. É padrão Zâmbia, Gabão. Isso é uma fábrica de produzir marginal" declarou Cabral. A entrevista completa pode ser lida aqui.

Então o governador relaciona a taxa de natalidade com o índice de violência. A declaração poderia até passar, se não fosse feita de forma tão grosseira. Além disso, essa não é a realidade. Isso é jogar toda a responsabilidade do crescimento da violência, nas costas, ou melhor, nos úteros, da população pobre. É, de certa forma, confortável para os governantes, não apenas para Cabral, uma vez que não mais importam as políticas públicas cretinas, inconseqüentes, eleitoreiras e até desumanas, feitas ao longo das últimas péssimas gestões. Elas [essas políticas públicas a que me refiro] não levaram em conta o ser humano, o meio ambiente natural e social, e o desenvolvimento de fato.

Assim, o governador se soma a lista dos que usam a África como instrumento de comparação ao resultado de suas fracassadas ações. Além disso, ele marginaliza os recém-nascidos de áreas onde o Estado fez questão de se fazer ausente por tanto tempo. O marginal de hoje, mais especificamente os de áreas que ele compara ao Gabão e Zâmbia, na maioria das vezes foram crianças sem perspectiva, sem bons exemplos, sem oportunidades. Não estou defendendo bandido. Até porque sei que existe muita gente que não presta, independente se sua origem ou residência ou mesmo história de vida.

Cabral cita o livro Freakonomics (Steven Levitt e Stephen J. Dubner) como justificativa academicista para sua posição. Diz que é cristão e católico. Mas o que no fundo vejo, na declaração comparativa do governador, não posso dizer que seja preconceito. É mais grave, pois não tem o “pre”. É, na verdade, um conceito, puro e simples, já enraizado em muitos: pobre é bandido.

segunda-feira, outubro 22, 2007

O que desejo pra você

Primeiramente te desejo PAZ. E PAZ no sentido mais amplo que essa linda palavra, hoje tão pouco praticada, pode assumir.

Pra você desejo um bom emprego. Desejo que tenhas atividades que te façam progredir. Não necessariamente de forma financeira. Desejo que tu tenhas horas de ofício e ócio, pois ambas são importantes.

Pra você desejo uma roda de samba. E que seja animada. E que dure o tempo que quiser. E que esse tempo não seja mais nem menos do que o necessário.

Pra você desejo amigos, nas horas certas e principalmente nas incertas. E se não forem muitos, que seja pelo menos um, mas seja amigo. E que você saiba disso e ele também, e que ambos respeitem essa coisa sublime que é a amizade.

Desejo que tu tenhas consciência do que faz, a ti e aos outros. E que essa consciência não te tire a boa espontaneidade. Desejo também que tenhas uma família, e que seja unida e feliz. Em não sendo unida, que sejam felizes, mas sejam felizes.

Desejo que tu tenhas momentos de reflexão, momentos de silêncio. E que nesses momentos tu possas consertar aquelas pequenas coisas interiores que estejam te atrapalhando, impedindo que tu sigas a trilha da felicidade.

Desejo que tu tenhas força, e que essa força seja suficiente para que tu possas encarar a vida e tudo que ele tem a lhe proporcionar.

Desejo que tenhas esperança; e que tenha fé; e que tenha serenidade; e que tenha certezas e incertezas.

Desejo que teus olhos brilhem e que esse brilho nunca desapareça. E que faça outros olhos brilharem. E que esse brilho seja contagiante, assim como teu sorriso deve ser.

E por falar em olhos e outros… desejo que olhe os outros sempre nos olhos.
E por falar em sempre… desejo que viva para sempre… a cada dia que viver.
E por falar viver… desejo que viva com saúde, que respeite seu corpo e cuide dele.
E por falar em respeito, que é bom e gostamos… desejo que respeite a si, a natureza, os outros, a vida.

Desejo que fale. E falando, que te escutem. Desejo também que ouça aos que falarem a ti e a teu coração, que também “fala” e deve ser “ouvido”.

Desejo que ganhe o que for para ser conquistado. E desejo também que, perdendo, saiba suportar. E ganhando, que tenha humildade. E sendo humilde, que não baixe a cabeça. E mantendo a cabeça erguida, tenha consciência de que existe algo acima, que te acolhe quando ganha, quando perde… sempre.

Desejo que aquela roda de samba, os amigos, a família, a saúde, a PAZ, a alegria, a força acolhedora, e todos os bons momentos e as boas coisas da vida estejam sempre com você.

Que Deus (da maneira como você o concebe) te abençoe!

Alex Amaral

Dedicado a Michael Leandro (1987-2007)


Escrevi o texto acima há mais de 3 anos. Postei agora com algumas alterações, mas a essência é a mesma. Esses têm sido dias difíceis para mim e minha família. A violência que assistimos na TV e lemos nos jornais se materializou, tirando-nos uma pessoa que amamos muito. E sempre amaremos. Foi real, avassalador, assustador, e muito triste. Por isso dedico o texto a meu primo. Mas é o que desejo a todos: PAZ!

A menina no mercado

Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...