sábado, fevereiro 28, 2009

Darfur destruída: quebrando o silêncio

O documentário abaixo, criado pela Aegis Trust em parceria com outras organizações de direitos humanos, mostra não as vítimas, mas sim autores das atrocidades que ocorrem em Darfur há anos. Como desertores, eles contam (alguns pela primeira vez, publicamente) como o governo sudanês criou (e tenta 'des'-criar) a milícia Janjaweed, qual a atitude do governo quando as atrocidades ganharam repercussão mundial, como o governo arma e paga a Janjaweed. Falam também sobre as ações contra civis, os ataques aéres, os estupros...

O filme - Darfur Destroyed: Sudan’s Perpetrators Break Silence - tem duração de 20 minutos, aproximadamente, e tem legendas em inglês. Estou preparando uma transcrição em português que pode ser baixada clicando aqui, porém, como poderão ver, ainda não terminei (mas o link permanecerá o mesmo). A propósito, sobre essa questão dos links eu farei uma postagem em breve, com enfoque arquivístico.

quinta-feira, fevereiro 26, 2009

- Vai fazer hora-extra?
- Claro!

- Tá doido! Ou corre o risco de ficar. É o que revela uma pesquisa publicada no Americam Journal of Epidemiology (clique aqui para ler o artigo em inglês).

Eis algo fácil de perceber. É só prestar atenção nas pessoas para as quais o trabalho ou necessidade de trabalhar vai além da necessidade de pagar as contas, de se dignificar como ser humano ou simplesmente exercer atividade laboral. Parece ficar na simples "necessidade". Horas e mais horas-extras podem sim ter impacto negativo mesmo na produtividade. Para os que pensam ser esta afirmação paradoxal, pensem nos seguintes riscos à produção: estresse, doenças ocupacionais, falhas ou até acidentes causados pela fadiga, infelicidade.

Num trecho do livro Qual é a tua obra? Inquietações propositivas sobre gestão, liderança e étiva, o professor Mario Sergio Cortella lembra "Por que muitas vezes a idéia de trabalho é associada a castigo, fardo, provação? Do ponto de vista etimológico, a palavra "trabalho" (assim como em francês, espanhol e italiano) tem origem no vocábulo latino tripalium, que era um instrumento de tortura, ou seja, três paus entrecruzados para serem colocados no pescoço de alguém e nele produzir desconforto". Parece coisa de masoquista. Ou doido!

O Jornal do Brasil, a respeito deste assunto, traz uma matéria interessante intitulada Pesquisa comprova que trabalhar demais leva à demência.

Uma pesquisa liderada por cientistas finlandeses sugere que excesso de trabalho pode aumentar o risco de declínio mental e, possivelmente, de demência. Demência é um termo genérico que descreve a deterioração de funções como memória, linguagem, orientação e julgamento. Existem vários tipos de demência, mas o mal de Alzheimer, com dois terços dos casos, é a forma mais comum.

Leiam na íntegra e bom descanso!
Campanha da Fraternidade

A CNBB lançou esta semana a Campanha da Fraternidade 2009, que tem como tema Fraternidade e Segurança Pública e como lema A paz é fruto da justiça. Vejam abaixo a reportagem no Jornal Nacional, exibida ontem.

A primeira coisa que me veio a mente foi a situação em Mesquita. Ex distrito de Nova Iguaçu, emancipado há aproximadamente uma década, a cidade, a meu ver, sofre uma degradação em muitos sentidos. O principal é a questão da violência e do ambiente de insegurança que se instaurou. Não posso dizer que seja algo novo em Mesquita. Já nos meus tempos de criança eventos violentos aconteciam. A diferença é a aceitação, a acomodação, a indiferença que tais eventos dispertam. Parece não mais haver indignação, a não ser quando a violência bate a sua porta.

Lembrei de Mesquita pela quantidade de igrejas e templos religiosos que lá se instalaram. Sejam manifestações de fé de matriz Africana (Umbanda e Candomblé), Templo Espírita, Testemunhas de Jeová, paróquias (Igreja Católica) e inúmeras Igrejas Evangélicas (as chamadas neopentecostais)... E me parece que todas estão falhando num aspecto, o da conscientização e envolvimento, que propõe a campanha.

O que percebo é uma apatia quase que generalizada. As pessoas pregam sua crença até em gírias. Usam sua fé ou, na maioria das vezes, o fato de frequentarem uma Igreja (o que não é a mesma coisa) como algo que as coloca num pedestal, numa redoma que as redime de todos os pecados, que as isenta de todas as responsabilidades. Tudo o que acontece a sua volta parece não ter importância ou impacto em sua vida. Não se dão conta que vivemos numa sociedade. Como se suas vidas estivessem construídas em duas ilhas (sua casa e o tempo religioso que frequentam).

E quando não é apatia, indiferença, fala-se em silêncio e justificam-no com um sentimento, o medo. O medo não é mais desculpa para o silêncio. Essas mesmas pessoas hoje têm acesso outros meios de se expressar. Por isso penso ser importante a abordagem da campanha da CNBB que, no Texto-base resume, num dos objetivos, o que penso.

Desenvolver nas pessoas a capacidade de reconhecer a violência na sua realidade pessoal e social, a fim de que possam se sensibilizar e se mobilizar, assumindo sua responsabilidade pessoal no que diz respeito ao problema da violência e à promoção da cultura da paz.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

O ovo, a galinha e a massa

Durante o jantar, conversava com minha esposa sobre a questão da saúde ou sistema de saúde. O questionamento inicial, feito por mim e que deu margem para uma explanação - talvez até desabafo - de minha esposa, uma profissional da saúde, foi a seguinte: numa analogia com o paradoxo do ovo e da galinha, o que teria surgido primeiro, os hospitais sem condições de atendimento ou os profissionais de saúde fdp (palavrão devidamente verbalizado, externando meu descontentamento com tudo que já vivi, presenciei e sofri)?

Não sou um total ignorante, como por vezes pareço, e tinha já consciência de que meu questionamento, se é que posso assim chamar a analogia feita, era reducionista. Mas o calor do momento algumas vezes turva o pensamento. Além disso, não é segredo que as duas categorias (de hospitais e profissionais) deveras existem. Seria mais um sinal de ignorância - no sentido de ignorar algo - não reconhecer.

A resposta, o desabafo, discorreu sobre questões diversas, tais como o Sistema Único de Saúde (SUS); o histórico de seu surgimento (o antes e o depois); o desprezo pelo profissional de saúde por parte dos mandatários do Estado (e mais adiante, por uns e outros motivos, por parte da população); a politicagem infelizmente sempre presente na gestão do sistema de saúde; assim como a incompetência dos gestores - que me fez pensar na em outra instituição precária, a da Justiça, que permite um ambiente de impunidade onde se encaixam esses gestores, merecedores de algemas e grades - e, por fim, mas não por último, as questões educacionais e até culturais que impactam nesse mesmo sistema de saúde, e que acabam por criar um ciclo vicioso de difícil interrupção.

Lembrei de um comentário que ouvi uma vez sobre andar na superfície (ser superficial, minimalista, reducionista) ser mais rápido e melhor do que aprofundar (analisar criticamente, aplicar o pensamento complexo, considerar vários aspectos de uma situação, de um fenômeno). E pontuando o que minha esposa expôs à mesa, frente a um mudo e todo-ouvidos Alex, comprovo o quão complexa é a questão da saúde em nossa sociedade.

SUS - o Sistema Único de Saúde é, em suma, uma boa idéia mal aproveitada. Seria algo para despertar orgulho se o próprio sistema, criado pela Constituição de 1988, não se tornasse, também, uma vítima. Sua formação, que poderia ser pautada nas melhores práticas e melhores exemplos em termos de organismos de saúde (Hospitais como o dos Servidores, no Rio, atendiam presidentes da República!), mas infelizmente o nivelamento que se pretendia, unificando o atendimento à Saúde do cidadão, foi feito por baixo. Inclusive no quesito salários dos profissionais, que, somado a falta de treinamento (mesmo aquele de base – vejam as últimas reportagens sobre o que têm entrado e saído das universidades, e vejam as próprias universidades) e o contagiante sentimento de desprezo pela sociedade, ajuda a engrossar a massa que move o ciclo vicioso.

Vez por outra surgem figuras que dizem lutar por uma mudança radical no sistema de saúde. Geralmente isso ocorre de dois em dois anos. Mesma época em que somos obrigados por lei - poucos movidos pelo ideal de cidadania e participação - a nos dirigirmos a uma urna. A mesma lei que flexibiliza a vida dessas figuras a ponto de não serem obrigados de fato a cumprirem com suas obrigações. Acontecem então visitas a hospitais, ouvem-se os lamentos de perto, sente-se o cheiro do desprezo percorrendo os corredores de instituições de saúde onde se propaga a doença (física, social, emocional, moral...). Depois disso, todo esse "barulho" feito desde antes das urnas é sobreposto por outros sons, até ser esquecido. São os sons dos programas televisivos que parecem criar uma dimensão paralela para onde muitos fogem, se abrigando da realidade dura. São os sons do consumismo que cega os olhos, tapa os ouvidos, turva os sentidos, se apresentando, talvez, com mais um caminho para uma fuga fácil. São os sons dos grandes eventos que vão muito além do que chamam cultura. São os nossos próprios sons, emitidos em nossa caminhada solitária em meio à multidão, onde ajudamos a mover a roda que compõe o ciclo vicioso. Vida de gado, como na música de Zé Ramalho. Povo marcado, povo feliz! É nesse ponto que ocorre a mais triste das etapas do ciclo. É quando a principal vítima de tudo, o paciente, atua como carrasco de si mesmo. E talvez seja a parte mais complexa de toda a tragédia social, que defendo ter começado com um projeto de Estado – a ignorância.

O paradoxo do ovo ou a galinha serviu de mote, mas reduz, como minha esposa bem apontou, uma questão nada simples. De fato é muito complexo. Complexo demais para ser exposto num simples post deste modesto blog, que tem apenas a pretensão de causar um incomodo, trocando mais essa idéia sobre... Saúde, a todos os que fazem parte dessa massa!


PS.: Fica o convite, desta vez formal e de conhecimento público, para que minha esposa escreva para este blog. Expondo o que vê em seu cotidiano, no exercício de sua função e que, somado a sua experiência de vida e seu discernimento, poderá contribuir para que tenhamos uma visão do que é o sistema de saúde.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

Descaso com o futuro

Enquanto deputados, prefeitos, vereadores, senadores e tantos outros entes públicos, bem pagos para servir o público, usam de seus atributos legais (para eles) para aumentarem suas mordomias (auxílio-saúde, verba de gabinete, auxílio-paleto, veículos oficiais novos para realizarem seu nobre ofício) as pessoas comuns, que deveriam ser seu foco, sofrem com o descaso.

A foto, de Alexandre Vieira par ao Jornal O Dia, ilustra bem o descaso com o futuro. Crianças sendo conduzidas à escola num carrinho de mão, para que não atolem o pé na lama. A lamaceira tem uma causa e não é simplesmente chuva-na-terra. Se os eleitos para servirem cumprissem com a obrigação, com certeza esta rua estaria asfaltada e o acesso à escola seria facilitado. Com certeza haveria um sistema de saneamento adequado, iluminação, segurança. É cruel.




Papel Sintético

Embora a reportagem tenha dado um enfoque ecológico ao fruto da pesquisa realizada na Universidade Federal de São Carlos, foi inevitável considerar um aspecto arquivístico: a preservação. É certo que o papel sintético tem maior resistência à umidade se comparado ao celulósico, mas como resistiria ao tempo? E ao desgaste mecânico, à luz, ao calor, etc.? Por certo é superior se considerarmos a degradação biológica, que compromete muitos acervos.

Seria este um substituto, mesmo que temporário tendo em vista as tecnologias digitais, do papel que conhecemos?

Bem, pelo que li, esse tipo de tecnologia não é nova. A pesquisa da UFSCar inova na utilização de material reciclado, quando até o momento, o papel sintético era somente produzido com matéria-prima virgem.

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Odò ìyá

Houve um tempo em que meu interesse pelo Carnaval, além de assistir os desfiles pela televisão, me fazia gravar as letras da maioria dos sambas-enredos. Trazia na mente pelo menos o refrão, coisa hoje rara até mesmo em se tratando de sambas do carnaval de um ano atrás. Em 1992, um desses sambas, levado à avenida pela G.R.E.S. Tradição, então no grupo especial, trazia o seguinte refrão:

Odoyá, Yemanjá
Trago oferendas para lhe presentear
Abençoe o meu sonho mais sonhado
E minhas flores para o seu lindo reinado

Até hoje, praticamente 17 anos depois, o refrão não sai de minha cabeça. Pela beleza, simplicidade, fé e força em poucas palavras. É certo que a Tradição não foi bem sucedida naquele carnaval, mas isso não tira o brilho desses versos.

Hoje, 2 de fevereiro, é dia de Yemanjá. Com homenagens em diversas partes do país, talvez seja o orixá africano mais conhecido. Muito lembrada nas festas de fim de ano nas praias, onde pessoas de vários credos levam suas oferendas e fazem suas preces para um ano melhor, a Rainha do Mar, com também é conhecida, é sincretizada com duas santas católicas: Nossa Senhora dos Navegantes, que também tem seu dia em dois de Fevereiro, e Nossa Senhora da Conceição, festejada em 8 de Dezembro.

Há poucos anos eu participei de uma procissão em homenagem ao orixá mãe. Este episódio ficou marcado por uma gafe minha. Ao falar ao telefone, explicando onde me encontrava, saiu a seguinte pérola: “estou no bloco de Yemanjá”. A parte toda vergonha ao ser repreendido por uma amiga, aquele evento religioso serviu como aprendizado. A homenagem era cheia de alegria, brilho, cor. E fé. Mesmo percebendo que alguns ali estavam simplesmente pela festa, como acontece em festividades de outras crenças, o que conduzia aquelas pessoas era a religiosidade, a fé.

Uma expressão de fé que, por ser de matriz africana e praticada majoritariamente por negros, é alvo de preconceitos diversos. E, por se exprimir de maneira tão típica (um aglomerado de pessoas dançando, cantando, batucando…) acaba por despertar interpretações diversas, tais como a minha em chamar a procissão de bloco. Dessa minha expressão de ignorância, eu já me perdoei... depois de algum tempo.

Hoje continuo compreendendo pouco, mas esse pouco é mais que ontem. Tenho consciência da importância, do significado, do impacto dessa expressão cultural, religiosa. Consigo hoje ver como é bela essa manifestação de fé.

Odoyá, Yemanjá


domingo, fevereiro 01, 2009

Korowai Batu na Record e em outras

Agora pouco, fazendo a análise das opções na TV com o nessas-horas-útil controle remoto, me deparei e assisti boa parte de uma reportagem da Record sobre uma tribo de Papua Nova Guiné, na Oceania, conhecida com Korowai Batu. Uma das características dessa tribo é a construção de suas casas nas árvores.

O que me chamou atenção foi a informação do repórter sobre a tribo não ter tido contato, até então, com o "homem branco". Pelo menos a maioria dos integrantes. Estariam, pois, intocados. Foi o que pareceu.

Daí, primeiramente, veio a preocupação. Estaria acontecendo ali, em rede nacional, o mesmo erro que ocorreu na maioria dos "primeiros contatos" com os nativos brasileiros? Com a possibilidade de transmissão de doenças e agressão cultural? Seria aquela a melhor forma de expor a tribo "intocada"? Bem, essas duas perguntas ainda persistem.

Mas com uma diferença: a reportagem não foi pioneira. Bastou uma pesquisa simples no Google para descobrir que o pioneirismo ali foi relativo.

Aliás, com toda a crítica que faço, foi interessante conhecer um pouco dos costumes da tribo. Não foi a primeira reportagem da Record em regiões desconhecidas da maioria. Infelizmente - e aqui vai outra crítica para fechar - a emissora, que possui recursos (não entremos no mérito da origem), poderia seguir a tendência de democratizar sua produção. A exemplo da Globo, BBC, CNN, e outras tantas emissoras, a Record poderia (já dei essa sugestão via e-mail à emissora) investir em seu portal da Internet e disponibilizar tais vídeos.

A menina no mercado

Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...