segunda-feira, abril 28, 2008

Mangueira, 80 carnavais

Parabéns a agremiação mais tradicional do carnaval, uma espécie de Flamengo da Sapucaí. Sei que, em termos de torcida, os “verde-rosa” estão para o carnaval assim como os rubro-negros estão para o futebol. Apesar de não ser mangueirense (sou Beija-flor) e nem flamenguista (não torço por time/clube algum) admiro a escola de Samba mais conhecida, uma das mais antigas, sem a qual a história do carnaval não poderia ser contada com justiça. Berço de gênios como Cartola, Xangô, Carlos Cachaça, Nelson Sargento, o GRES Estação Primeira de Mangueira merece todas as homenagens. Mas também cabe aqui um pedido, ou melhor, alguns pedidos. Por isso eu peço, Mangueira: mais respeito à tua trajetória como escola de samba e berço de bambas; mais respeito a toda uma história construída ao longo de oito décadas; e mais respeito (muito mais respeito) a teu cenário, a teus criadores e criaturas, a tua bandeira, a tuas cores, a teu estilo, a teu bamba Jamelão que durante décadas levou o samba na avenida, conduzindo a escola com força; peço, também, mais respeito ao nome e ao legado de Cartola que tão poeticamente cantou o morro, os barracões de zinco, a Escola; e, para terminar os pedidos, peço mais comunidade, mais carnaval.

Mangueira teu cenário é uma beleza
Que a natureza criou
O morro com seus barracões de zinco
Quando amanhece que explendor

Todo mundo te conhece ao longe
Pelo som dos seus tamborins
E o rufar do seu tambor

Chegou ô, ô, ô, ô
A Mangueira chegou, ô, ô....


Parabéns Mangueira!!

domingo, abril 27, 2008

Biocombustível criminalizado (?)

Não estou falando da crise no preços de alimentos que se discute mundialmente. É algo local. Mas especificamente em Ericeira, cidade pesqueira de Portugal. Os administradores locais foram multados por fazerem uso, já a algum tempo, de biocombustível fabricado a partir de óleo [de cozinha] reciclado. Recolhiam o óleo em restaurantes, hotéis e escolas. O biocombustível era então fabricado e usado nas viaturas da cidade, com excedente doado aos bombeiros, organizações sociais e a cidadãos comuns que quisessem experimentar a novidade em seus carros. Outro produto resultado do processo é a glicerina, base para a fabricação de sabão e sabonete, uma próxima iniciativa da cidade, com o propósito beneficiar 144 famílias carentes.

O fato é que o Estado português se sentiu lesado pelo fato de uma cidade não usar… vejam só… combustível fóssil, que é taxado, optando pelo uso de um produto não regulamentado no que diz respeito à arrecadação.

É algo a se pensar. Com certeza inusitado, mas interessante e válido para reflexão. Já ouvi maravilhas a respeito do biocombustível. Uma delas seria a possibilidade de produção em pequenas propriedades. Imaginem isso: autonomia na produção e, por tabela, no consumo; e de maneira que o Estado não arrecade o tão querido imposto sobre tudo.

De qualquer forma foi uma ótima a iniciativa de Ericeira [que garante não ter intenção de pagar a multa].

Ah, leia a matéria aqui.
Say no to "Hippos". Be a Cheetah!

In the previous post I wrote about Africa and the its problems with dictators as Robert Mugabe. Kind of people "help" Africa impoverishment. As you can read in the news today, it was confirmed that he lost the election for parliament after recounting. Now let see what is going to happen in Zimbabwe.

Yesterday I watch the video of an speech made by Ghanaian economist George Ayittey, recorded in June 2007 in Arusha, Tanzania. Ayittey was appointed by Prospect Magazine as one of the 100 global public intellectuals in the world. In his speech, George Ayittey, [unleashes an almost breathtaking torrent of controlled anger toward corrupt leaders - the "Hippos" (lazy, slow, ornery, greedy) who have ruined postcolonial Africa, he says. Why, then, does he remain optimistic? Because of the young, agile "Cheetah Generation," a "new breed of Africans" taking their futures into their own hands.]

In this point of view, Mugabe is the kind of Hippo that must be combated by Cheetah Generation. Watch the professor George Ayittey TEDGlobal 2007 ("Africa: The Next Chapter").



Click here or here to download the transcription.

sábado, abril 26, 2008

© JONATHAN SHAPIRO. 25-4-2008
Zapiro (sempre uma ótima charge). Clique aqui para outras


Essa charge representa um governante que não quer largar o osso. Robert Mugabe, do Zimbábue, ocupa o mais alto posto daquele país há mais de duas décadas. Nas últimas eleições, cujos resultados não foram divulgados até agora, por pressão dele e dos seus comparsas, tudo indica que ele perdeu. Começou perdendo cadeiras no parlamento, isso já indicava a insatisfação de um povo martirizado por uma inflação que já é a maior do mundo.

Observando tudo isso, estão os chamados líderes mundias, coniventes com posturas ditatoriais que desreipeitam direitos humanos para manutenção do poder a qualquer custo. Representando essa turma, a charge mostra o presidente da África do Sul, observando tudo numa postura não-intervencionista como manda a boa "diplomacia" [transcrição da fala "Bob, old chap, I don´t mean to interrupt, but... um... when you do have a minute..."].

Esse enredo recentemente ganhou outro ingrediente, colocado à mesa pelo país sede dos jogos Olímpicos. Trata-se de uma encomenda feita por Mugabe, um navio lotado de armas e munições. Para quê num país onde boa parte do povo não consegue mais comprar o pão de cada dia? Ora, povo faminto é povo insatisfeito. Insatisfação gera protestos que, num país comandato por um ditador que parece não ter mais nada a perder aos seus oitenta e tantos anos, é tratato com violência.

Ah, quem está apanhando é a oposição mas, por tabela, o povo, que pede socorro.

quarta-feira, abril 23, 2008

Ausência

A morte da menina Isabela é algo que está superando, ou já superou, outra tragédia ocorrida há pouco tempo, que foi a morte do menino João, no Rio de Janeiro, após ser arrastado preso ao carro durante um assalto. Isso não é uma competição, mas faz sim lembrar o caso que, depois de algum tempo, esmaeceu no pensamento, nas rodas de conversa, na mídia. Manifestações acaloradas, família sufocada por uma cobertura maciça que durante algum tempo não permitiu, assim como faz agora, algo que hoje parece “morto”: o luto. O luto está, cada vez mais, ausente.

Um aspecto que me fez pensar em ambas as tragédias humanas e também diz respeito à ausência, foi uma passagem de um livro que estou lendo. Diz assim “… o Bem e o Mal não existem em si mesmos, cada um deles é somente a ausência do outro”. O livro é O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago. Apesar de todas as evidências, e mesmo considerando as contra-evidências, não me prendi muito, até o momento, ao fator “criminoso”, mas ao fato em si. A tragédia, em todos os sentidos, que é o assassinato de um ser humano, agravada por todas as características de violência e, mais ainda, mas não menos, pelo fato de ser uma criança a vítima. Ali, creio eu, houve a ausência do Bem, prevalecendo assim, o Mal.

Esse fator, a ausência do Bem, é o que podemos notar em muitos pontos de nosso dia-a-dia. Desde aquele agente público, não apenas os políticos, que desviam verba pública e, como conseqüência, “promovem” a miséria material e espiritual de tantos; ou na violência contra a mulher, seja na agressão em casa, nos casos de estupro (que parece incorporado às táticas militares nos combates em Darfur, por exemplo); nos maus tratos com as crianças; nas agressões a pessoas idosas… São muitos os exemplos de ausência do Bem. Essa semana, por exemplo, li nos jornais o caso de uma mulher, no subúrbio do Rio, que mantinha seus filhos adotivos em cárcere privado, agredindo-os e torturando-os, inclusive com a restrição de alimentos. Isso mesmo, além da tortura (agressões físicas, psicológicas, uso de correntes para mantê-los presos) ela os fazia passar fome como castigo por coisas banais. Leia aqui.

Ainda não vi cobertura para tal caso nos telejornais, que se ocupam quase que exclusivamente do caso Isabela. Ambos os casos têm, em minha humilde opinião, o mesmo determinante: a ausência do Bem. Mas acaba por nos remeter a outro tipo de ausência, desta vez da imprensa. E não estou aqui diminuindo a importância de um caso ou de outro. E também não quero dizer que deveriam, ao invés de disponibilizar 20 minutos num telejornal para um único caso-tragédia, dedicar 10 minutos para cada. Isso seria reducionismo estúpido. Quero apenas observar que, quando muito olhamos para um lado, nos esquecemos de outro. E a imprensa deveria manter seu papel jornalístico de forma abrangente. Gostaria, sim, que não deixassem de lado os vários acontecimentos da sociedade. A imprensa está se fazendo ausente, ao acampar em frente uma delegacia ou um prédio, palco de uma tragédia e sendo repetitiva, maçante.

Os que me conhecem sabem minha origem: Mesquita, Baixada Fluminense. Lugar e região que despertam medo, receio, preconceito. Sinônimo de pobreza, miséria, violência. E ausência, desta vez, do Estado. Mas o foco não é esse no momento. É apenas uma introdução para comentar algo que ouvi de um dos diversos “especialistas” que apareceram na televisão para analisar o caso Isabela. A este, que não lembro o nome nem a especialidade, foi pedido que opinasse sobre o furor que causa o crime, com pessoas se manifestando de diversas formas e intensidades. O “especialista” disse algo interessante sobre o fato de o caso, mais especificamente os envolvidos e suas vidas, terem características parecidas com a classe, digamos, “dominante” (não foi essa a expressão exata, mas a essência da declaração). Pessoas com renda boa, moradia legal, família, estrutura, formação. Ali não vemos pessoas carentes em áreas carentes onde o crime parece algo comum e, para os que assistem “do outro lado” é esperado notícias de violência ou desmazelo. Com certeza há pessoas que ainda esperam que o criminoso, com as características que se espera de um, apareça. Assim, se sentiriam aliviadas. Pois bem, pergunte a alguém em Mesquita (ou em qualquer outra área pobre, onde a violência não é uma simples reportagem num telejornal) sobre violência e tomarão conhecimento de casos horrendos, onde o ser humano perdeu a característica de ser humano, onde o Bem, assim com a imprensa, se ausentou.

A explicação do especialista pode ser exemplificada também quando jovens da classe média e/ou alta, presos por roubo, tráfico, agressão. Quando o estereótipo do criminoso e do local violento (pobre e/ou preto e morador de favela, da Baixada, do morro) é quebrado, isso assusta a muitos. É inesperado, singular, errado.

E voltando a falar na cobertura e na reação das pessoas, dá impressão que outro caso de ausência se faz presente. Seria a ausência do senso de realidade. Pessoal, Isabela, a menina, não é uma personagem de uma série ou novela que estará presente num outro papel (opa, não tô aqui contestando a reencarnação). Aquela tela rasgada na janela com não é parte de um cenário que será desmontado para uma próxima produção. O crime hediondo não é o mote, a trama principal. É tudo real. Uma criança sofreu um ato terrível de violência, foi estrangulada e jogada pela janela de um apartamento. Essa ausência do senso de realidade é bem percebida na reação das pessoas, no teor dos comentários, que parecem aguardar o próximo capítulo. Notem bem a expressão das pessoas que se aglomeram seja em frente à casa dos pais do casal, ou do prédio ou da delegacia. Alguns parecem até estar rindo, como que aguardando o aparecimento de um astro, que tem algum papel de protagonista ou antagonista, naquilo que parece ter se tornado a “última grande produção”. Mas, como disse, é tudo real. Triste, revoltante, violento, assombroso, incompreensível e inexplicável, mas real.
Salve Jorge!!


Ótima charge do Aroeira no jornal O Dia. Bem conectada com a data e acontecimentos atuais.

segunda-feira, abril 21, 2008

Verus Quæ Sera Tamen

Inconfidência: Falta de fidelidade para com alguém, particularmente para com o soberano ou o Estado.

Conjuração: Conspiração contra autoridade estabelecida.

Penso que "conjuração" seja a palavra mais adequada para o que houve.

Fonte: Dicionário Aurélio

sexta-feira, abril 18, 2008

Já são quase 12 anos

Não me lembro bem o dia. Se era um dia de sol ou chuvoso, se estava triste, sério, alegre, são aspectos que não marcaram. Mas uma coisa é certa, eu estava preocupado. Mudanças haviam ocorrido e um espectro de desnorteamento pairava sobre mim. Recebi a proposta, corri o risco, mudei. E cá estou, após quase 12 anos, comunicando que correrei outro risco, não por uma proposta, mas por uma possibilidade que se apresenta.

Era então 1997, tinha 18 anos, muitos medos, medos que ainda tenho. Mas com o passar dos anos você vê coisas, acumula a tal vivência, experiência talvez. E o medo cresce, juntando-se aos medos do passado que ainda persistam. Bom, esse foi meu caso.

Uma coisa eu descobri ao longo desse tempo. O ser humano é um ser social, coletivo, dentre outras razões, por necessidade. Digo isso, pois foram anos de solidão. Muitos argumentam que “deve ser bom” trabalhar sozinho. Balela. Viva isso e tire suas conclusões! Mas experimente um período razoável, digamos, de cinco anos. Lembre-se de que não será um autônomo. Haverá uma relação empregatícia, uma empresa, com patrões aos quais deverá responder e prestar contas além de funcionários que serão seus “colegas”. Porém, estará isolado, anos e anos.

Se já não o era, me tornei uma pessoa estranha. Fora do padrão, pelo menos do que vejo. Sociável, mas com certa insegurança social. Como um náufrago que ficou um longo período isolado, lutou para manter a sanidade e, em momentos, sucumbi aos efeitos da solidão. Só que minha ilha é minha estação de trabalho, um escritório, onde posso (devo, pois sou funcionário, com horários e obrigações) chegar, e sair.

O salário não é remédio que possa tratar os efeitos desses momentos. E ele é bom, acima da média. Mas ineficaz, percebi com o tempo. O bom caráter e índole, além do humanismo no tratamento, dos patrões, também não bastam para apaziguar a angustia dos muitos momentos de ócio e do sentimento de abandono. Oito horas diárias de um naufrágio pessoal, onde não se evolui; só se estagna e se entristece.

A frase “gostaria de ficar sozinho” sempre deveria ser sucedida por “por uns breves momentos”. Assim como “me deixe em paz” deveria sempre pedir um “mas não me deixe só”.

Com certeza esse não seria o único motivo, mas um bom motivo e, neste caso, o principal. Por isso, saio. Me retiro da ilha. Decido trilhar novos caminhos, um novo risco. Sempre preocupado com as responsabilidades que a “vida de adulto” nos impõe. Experimentarei, após muitos anos, as relações humanas, o dia-a-dia, as alegrias e tristezas, as facilidades e dificuldades, os riscos, novos riscos. Mas não estarei sozinho, se bem que algumas solidões ocorrem em meio à multidão. No entanto, este será, essencialmente, um caminho diferente. Para os que associam salário com ascensão, estarei fazendo uma regressão. Loucura? Não, loucura é o resultado do isolamento. E, afinal, por vezes a regressão se faz necessária para que passos adiante possam ser dados com segurança.

Por isso, eu saio. Mais incertezas, dúvidas, medos, riscos. Nada mais humano. É a vida!
Ser da raça certa

Fazendo minha habitual garimpagem nos sites de notícias, me deparei com uma crônica de Alex Castro no jornal Tribuna da Imprensa Online, intitulado “Quem sabe da ofensa é o ofendido”. A crônica discorre basicamente sobre a questão de apelidos e estereótipos-alcunha, que algumas vezes (talvez fosse melhor dizer muitas vezes) são usados de forma consciente (a minoria, tento crer) ou não, quando já bastante, e tristemente, arraigado. Expressam, mesmo que muitos não aceitem: preconceito, racismo, xenofobia, anti-semitismo, mas, essencialmente, expressam exclusão. Pois bem, é melhor que leiam a crônica. Guardarei cópia, pois não sei se o jornal arquiva tais textos. Se não conseguirem é só pedir. Ou, melhor, buscar no site do próprio Alex Castro e ler outros textos dele.

A partir da crônica, seguindo a indicação no fim desta, acessei o blog do autor. Ali, pude ler umas das melhores abordagens sobre a temática do racismo em particular e discriminação em geral que já vi. Uma série de quatro postagens (antecedidas por duas outras como que numa introdução ao que vinha, e que igualmente merecem ser lidas) sob o título “Ser da Raça Certa”, traz um texto não-apelativo e também não-panfletário que, embora respaldado em literatura sobre o tema, usa com inteligência a palavra, os argumentos, os exemplos e o jogo de cintura tão necessário para expor um tema tão delicado e invizibilizado em nossa sociedade.

Como disse no comentário que fiz no blog do Alex: mais que parabéns, [merece] meu obrigado. Por isso, indico:

Usos do Nego
Quem Sabe da Ofensa é o Ofendido
Ser da Raça Certa I: Você É da Raça Certa?
Ser da Raça Certa II: 100% Branco
Ser da Raça Certa III: De que Cor É o Personagem?
Ser da Raça Certa IV: O Critério Eliminatório


quinta-feira, abril 17, 2008

Falar aos jovens sem os trair

Gostaria de indicar o texto abaixo (que, descaradamente, reproduzo aqui no blog) de Domingos Zamagna, jornalista e professor de Filosofia (o currículo não para por aí), publicado hoje no caderno Opinião da versão on-line do Diário do Comércio. O texto vai de encontro a algo que percebi e que, embora não possa negar certo fascínio, uma vez que tudo ali era novo para mim naquele momento, aos poucos foi me incomodando, ou, no mínimo, me deixando intrigado quanto à razão do que se passava.

Sempre achei engraçado ver jovens (como eu, se me permitem) trajando camisas com estampa de Che Guevara ou outro símbolo revolucionário, esquerdista, engajado (sic) e, ao mesmo tempo, calçando tênis Nike ou outra marca da moda, de grife. Isso para ficar num só exemplo do que parece ser uma incoerência reinante. Mas o que o professor Zamagna observa em seu texto é facilmente perceptível em muitos momentos durante a graduação. Ensino isento parece ser algo utópico. Bem, leiam o texto.


Precocidade ideológica

Até há duas décadas, tudo começava mais tardiamente. Os estudantes chegavam à universidade com alguma bagagem cultural e reagiam quando começava a doutrinação típica do ensino superior, concebida para a difusão de ideologias esquerdistas, cujo denominador comum é o marxismo.

Houve um tempo em que Marx tinha de ser lido em traduções espanholas. Ultimamente ele é sorvido em português, muitas vezes até debulhado em apostilas, cartilhas, reproduções de capítulos xerocados, já com frases sublinhadas ou coloridas pelos mestres-facilitadores, para agilizar a assimilação.

É impressionante ver alunos extremamente jovens com a mochila cheia de merenda ideológica. E por que isso nos causa impressão?

Geralmente são alunos fragilizados, sem rigor metodológico, sem disciplina acadêmica, com um baixo repertório, alunos que nunca ouviram Mozart, não sabem distinguir Dante Alighieri de Dante de Oliveira, não leram Fernando Pessoa, Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Faoro ou Manuel Bandeira, pouco afiados na história das culturas, mas já com o Manifesto de 1848 debaixo do braço, como se a História tivesse começado no século 19.

É certo que não se deveria concluir uma graduação universitária sem um vasto conhecimento dos sistemas econômicos e filosóficos, e aí estão incluídos os diversos marxismos. Mas que este estudo seja feito de modo científico, o que exclui a simples louvação. Tais sistemas deveriam ser apresentados levando em conta que o brasileiro que chega à universidade atualmente é muitas vezes semi-letrado, faltam-lhe as condições mínimas para, em tão pouco tempo, comparar as teorias, verificar seu percurso histórico, informar-se realisticamente sobre os seus resultados. Questionar, então, nem se fala. Não existe o menor espaço para um diálogo construtivo; o que existe é um rolo compressor, tanto sobre alunos quanto sobre professores para a perpetuação de um magistério tendencioso.

Mas é preciso fazer uma distinção. Há casos em que esse magistério tendencioso é fruto de uma cultura ambiente, em que os professores se tornam transmissores da única coisa que sabem, eles próprios já tendo sido formados nessa monocultura de esquerda. É lamentável, porém, constatar casos em que esse procedimento é nitidamente covarde, pois inflige sobre alunos totalmente imaturos os conceitos de seus preconceitos, frustrações e desesperos existenciais. Esquecem-se de dizer aos alunos que a via do esquerdismo imposto não é a que conduz à paz e prosperidade; ao contrário, quase sempre é a que obriga a conviver com a pobreza, a intolerância e montanhas de mortos.

O clima dos conflitos atemoriza. Os professores deveriam se perguntar se o acirramento ideológico contribui para a restauração de um clima de diálogo e paz. Não me esquecerei de palavras que ouvi de Paulo Freire, um intelectual considerado de esquerda, mas com uma tradição humanística temperada de sabedoria: "Eu não quero mais saber se as pessoas são de direita ou de esquerda; quero saber se são seres humanos que cultuam a liberdade e os demais valores do espírito, os únicos que refreiam a violência que se avoluma cada vez mais entre as pessoas e os povos."

Precisamos nos resguardar da onda caudilhesca que contagia o Continente. Precisamos de uma escola que fale aos jovens sem os trair. É da lucidez sobre a opressão que provém a sede de independência; do conhecimento das causas da miséria material e intelectual provém a sede de justiça; do conhecimento das manhas e amarras dos desvãos ideológicos provém o compromisso com a liberdade.

quarta-feira, abril 16, 2008

Save Civilians – Ban Cluster Munitions by 2008
Salve os Civis – Não às Bombas de Fragmentação

Short film documenting the lethal effects of the use of cluster munitions worldwide, with commentary, new statistics and analysis from military experts at Human Rights Watch. Footage shows how cluster munitions have endangered civilian populations from the Vietnam era through current conflicts in Iraq and Lebanon.

Um pequeno filme documentando os efeitos letais do uso de munição de fragmentação ao redor do mundo, com comentários, estatísticas e análises de especialistas em assuntos militares da organização Human Rights Watch. O filme mostra como esse tipo de munição tem posto em perigo a vida de pessoas desde a Guerra do Vietnã até os conflitos recentes no Iraque e no Líbano.

Fonte: Human Rights Watch




www. Charges .com.br
A guerra e os atingidos

Foto de Domingos Peixoto que ilustrou uma reportagem do O Globo Online, mostrando um morador que protege sua filha dos dispardos na Vila Cruzeiro durante operação policial de ontem.

Reparem, além da triste cena, a inscrição no muro. "Atenção moradores / em dias de guerra evitem sair de suas casas... Grato: CV". A guerra é, assim, declarada e assumida.

Quem perde? Principalmente aquela criança, o futuro.

terça-feira, abril 15, 2008




Mostrando as coisas

Idéia legal. A WITNESS é uma organização americana, com sede em Nova Iorque, e atuando mundialmente que tem um propósito interessante: usar o vídeo e outras tecnologias online para “abrir os olhos” das pessoas do mundo inteiro sobre as violações de direitos humanos. Dentro dessa finalidade, criou o HUB, uma plataforma global dedicada à midiatização dos direitos humanos e, conseqüente, ação.

Tomei conhecimento dessa organização numa pesquisa que tenho feito na internet com intenção de conseguir vídeos sobre direitos humanos e divulgá-los aqui no Blog. Outras coisas virão.

O projeto da WITNESS é particularmente interessante, pois vai de encontro ao que penso: todos podem usar a tecnologia em prol dos direitos humanos. Seja um texto-denúncia sobre algum aspecto negativo de sua comunidade até um vídeo (hoje tão fáceis e acessíveis a partir do celular) sobre algum tipo de violação dos direitos humanos que venha a presenciar. Com a ajuda da internet e recursos como Youtube, Dailymotion, Google Vídeo, hosts de blogs e outros, a informação poderá chegar a um número grande de pessoas.

Veja o vídeo do projeto.

Até as 18 horas

Desde a semana passada testemunho os preparativos e manifestações que acompanham as eleições de Chapa do sindicato dos petroleiros, em frente à sede da Petrobras (o famoso EDISE). Chapa 1 e Chapa 2 num incessante bate-boca, sempre do meio-dia às duas horas da tarde, aproximadamente. Já escrevi uma vez sobre essas manifestações em frente à sede da maior empresa brasileira. Aproveitam o período de almoço de modo a conseguir a atenção dos trabalhadores. O que sempre vejo (o escritório tem vista para o prédio) são pessoas saindo e passando direto, indo para longe daquela gritaria, a maioria usando a saída lateral.

Não critico o sindicalismo. Têm seu mérito apesar de toda a bandalheira que é noticiada, com desvios, gastos sem controle, liberdade para receber dinheiro dos trabalhadores sem serem obrigados a prestar conta. Têm seu mérito, pois conseguiram conquistas importantes para os trabalhadores. Mas vejo que atualmente não há engajamento, os trabalhadores ficam focados em suas tarefas específicas dentro das empresas, não querem envolvimento em questões políticas. Desgosto? Medo? Segurança na situação atual, de certa forma leiga no que diz respeito à relação sindicato-trabalhador.

O caso da Petrobras espelha bem isso. Nem todos são sindicalizados e, pelo que ouço nos estridentes alto-falantes, até agora (hoje é o último dia de votação) a maioria dos sindicalizados não votou. Não são obrigados.

Talvez se o cidadão comum não fosse obrigado por lei a comparecer nas eleições bianuais (e em possíveis consultas públicas oficiais) também não iriam. Acho que o sentido de participação, de cidadania, acaba sendo espantado pela mediocridade das campanhas políticas. E também por uma educação que não prima pela união, pelo bem- estar coletivo, pela crítica, pela atuação de um em prol da coletividade e vice-versa. Ao contrário, parece visar a ignorância. Talvez por isso o voto seja ainda obrigatório. Contam com os votos daquele que foram “criados” para ignorar. Mas isso é outra história, ou não.

Bem, essa mediocridade que falei a pouco é o que vejo (e ouço, ah como ouço) nessas eleições a que aqui me refiro. Baixo nível total. As discussões chegam a questões pessoais. Ok, algumas propostas são apresentadas, analisam a atual situação, criticam, etc. Mas a maior parte do tempo, principalmente entre ontem e hoje, foi quase insuportável. Brigas verbas, verborragias ofensivas ao português (coloquial que seja), e sem esconder suas afinidades partidárias... Acho que deveriam rever a forma de relação com o trabalhador, pois o que é feito agora assusta, afasta, quando não, enoja. As possíveis benesses que tenham sido conquistadas pela instituição em prol dos trabalhadores ficam ofuscadas pela forma com que se expressam aqueles que, teoricamente, lutam (eis uma expressão largamente usada) pela “classe operária” (sic). Como em um palanque, lembram os crápulas que ocupam postos públicos em Brasília, nos estados, nas cidades.

É isso, passa de duas da tarde. O horário eleitoral gratuito e barulhento acabou. Silêncio. Só o som da chuva e do vento. Paz. Talvez, até as 18 horas, mais sindicalizados resolvam votar.

segunda-feira, abril 14, 2008

A palavra é genocídio

Tão horrendo quanto em 1994, em Ruanda, o massacre em Darfur, no Sudão, já dura alguns anos. Muita discussão, resoluções e nada efetivamente sendo realizado para acabar com mais essa tragédia. Assim como em Ruanda (onde aproximadamente 1 milhão de vidas foram sacrificadas), interesses (e/ou a falta de) e desumanidades travestidos de "diplomacia" ou "política externa ponderada" manda que não se defina a matança como genocídio até que se tenha certeza. Ora, que mais querem? Está mais que provado, relatado, documentado que africanos não-árabes da região de Darfur, no Sudão, estão sendo sistematicamente mortos por milícias árabes (e não-árabes que se juntaram às forças do governo) apoiados pelo mandatário daquele país, presidente Omar Hassan al-Beshir. Um massacre que, ao que tudo indica, é planejado com o intuído de diminuir a resistência e acabar com possíveis opositores de seu governo.

Os relatos mostram a crueldade como tudo é feito. Principalmente em atos contra mulheres e crianças, numa forma de mutilar ou matar o futuro de um país, deixando homens psicologicamente incapazes de lutar, que acabam também sendo mortos; milhares de vidas destroçadas, por gerações. Tudo isso sendo feito hoje, agora.

Como é possível? Os governos que se dizem defensores dos direitos humanos e da democracia fecham os olhos. Outros governos se omitem. A China, por exemplo, continua vendendo suas armas para o governo do Sudão, sendo, ao que consta, o maior fornecedor para esse país. Mas não o único, uma vez que a Rússia também assume acordos de venda. Mas Beijing seria o maior, com negócios que envolvem o petróleo fornecido pelo Sudão e que se torna necessário ao crescimento do país asiático. Apesar de negar ou mesmo dizer que o fornecimento é limitado e que não seria o principal vendedor (só de assumir já deveria ser vergonhoso). Tudo interesse. Nada de humanidade. Esses mesmos países (os que vendem e os que se omitem ou fecham os olhos) parecem torcer para que o genocídio seja conduzido com perfeição, isto é, sem deixar nenhuma testemunha, ninguém para contar as atrocidades que são cometidas.

Mas, por sorte, milagre ou destino, alguns sobreviveram e puderam contar o que viram, o que sentiram e o que sofreram. Um desses é Daoud Hari que, desalojado de sua comunidade, apartado dos seus, chegou a ser aprisionado junto com jornalista para quem serviu de guia (fala árabe e inglês), ao decidir voltar a Darfur e mostrar o que ocorre. Segundo o Democracy Now, Daoud é uma das três pessoas que nos últimos 4 anos foram reconhecidos como refugiados de Darfur nos EUA. Ele escreveu suas memórias no livro The Translator.

Logo, está provado que todos estão recebendo informações dos acontecimentos em Darfur. Todos estão cientes e conscientes do mal que ocorre e são cúmplices. Ficam as perguntas: Por que os governos (falo de pessoas que, com uma assinatura, podem fazer algo para o bem, ou para o mal) não atuam de forma definitiva, seja diplomaticamente com embargos e sanções, seja militarmente, como fizeram no Iraque (por motivos que sabemos não terem sido os melhores, mas que permitiram depor Sadan)?

Após Ruanda, a expressão "Never again" (Nunca mais) foi usada a tordo e a direito. Por que então deixar ocorrer novamente? Qual a desculpa desta vez? E qual será o jargão a ser cunhado quando as contas forem fechadas e os mortos (e refugiados e mutilados e estuprados e dilacerados física, espiritual e emocionalmente) forem contados?


"Near my village is a beautiful mountain we have always called the Village of God. Though the Muslim religion is practiced throughout our area both by indigenous Africans like me and by Arab nomads, it is also true that our people, especially our young people, have always gone up on this mountain to put offerings into the small holes of the rocks.

Perto da minha aldeia existe uma bela montanha que sempre chamamos de Aldeia de Deus. Embora a religião muçulmana seja praticada em toda a nossa região tanto por indígenas africanos como eu e pelos árabes nômades, também é verdade que nosso povo, especialmente os jovens, sempre vai a esta montanha colocar oferendas nos pequenos buracos das rochas.

Meat, millet, or wildflowers may be placed in these holes, along with letters to God, thanking Him or asking Him please for some favor. These gifts and notes have been left here long before the newer religions came to us.

Carnes, milho, ou flores selvagens podem ser colocadas nesses buracos, juntamente com cartas para Deus, agradecendo-O ou pedindo algum favor. Estas oferendas e as notas foram deixadas aqui muito antes de as novas religiões chegarem até nós.

For a young man or woman, a letter may ask that some other young person be chosen for his or her mate. It might be a letter asking that a grandfather's illness be cured, or that the rainy season be a good one, or that a wedding be beautiful and the marriage successful. Or it might simply ask that the year ahead be good for everyone in the village below.

Para um jovem homem ou mulher, uma carta pode pedir que alguma outra jovem pessoa seja escolhida para ser a sua esposa ou seu marido. Seria talvez uma carta pedindo que o avô seja curado de alguma doença, ou um bom período chuvoso, ou que um casamento seja belo e bem sucedido. Ou poderia simplesmente pedir que o próximo ano seja bom para todos na aldeia abaixo da montanha.

So here it is, God: I am up there now in my heart, and I put this book in Your mountain as an offering to You. And I praise You by all Your Names, and I praise our ancient Mother of the Earth, and all the Prophets and wise men and women and Spirits of heaven and earth who might help us now in our time of need."

Portanto, é isso, Deus: em meu coração estou lá agora, e coloquei este livro em Sua montanha como oferenda para Ti. E louvo a ti em todos os Seus nomes, e eu louvo a nossa antiga Mãe-Terra, e a todos os profetas e sábios e mulheres e Espíritos do céu e da terra, para que possam ajudar-nos agora quando tanto necessitamos."

Por Daoud Hari, fragmento da introdução do livro
The Translator: A Tribesman's Memoir of Darfur


Para saber mais
Daoud Hari: A Guide Through the Valley of Death
90% of the weapons for Darfur come from China
China's Involvement in Sudan: Arms and Oil
China's arms sales to Sudan are limited: Envoy
Charles Larson - No one to tell the truth

quarta-feira, abril 09, 2008

Veloz e ... minúsculo

Speeding. No one thinks big of you. Alta velocidade. Ninguém te vai achar grande. Vejam o vídeo de uma campanha australiana para combater o excesso de velocidade no trânsito. A sátira associa a rapidez imprudente do motorista ao tamanho de seu... Bem, assistam.


O gesto com o dedo mindinho vai pegar!
Beijing 2008

© JONATHAN SHAPIRO. 9-4-2008

Zapiro (always a great cartoon). Click here for more


terça-feira, abril 08, 2008

Simonal - Ninguém sabe o duro que dei



Como é que pode o Rei do Suingue ser condenado ao ostracismo por falta de jogo de cintura?! Pois é...esse é o paradoxo que marcou a vida de um dos maiores artistas da música brasileira: Wilson Simonal. "Alegria, Alegria" era o bordão desse cantor negro que orquestrava platéias gigantescas. O dom que ele tinha em dominar as massas, lhe faltou na hora de lidar com o sucesso. Simonal era subversivo e carismático ao mesmo tempo, sendo mal interpretado numa época em que tudo era analisado com radicalismo: ou você era da Direita Perversa ou da Esquerda Intolerante. No meio desse tiroteio de ideologias, Simonal foi vitima das duas correntes. O precursor da musica POP Brasileira, interprete da Pilantragem (estilo de musica debochado e malandro da época), perdeu o rebolado quando não teve habilidade em lidar com o suposto roubo de seu contador. O menino negro e pobre, filho de empregada domestica, que alcançou o sucesso graças ao seu talento, viu tudo desmoronar...julgado e renegado pelos seus colegas de trabalho e pela mídia, num boicote que durou mais de duas décadas. (texto extraído do Youtube)


Eis um filme-documentário que gostaria de assistir. Produzido pelo "Casseta" Cláudio Manoel, em parceria com Micael Langer e Calvito Leal, o filme estreou em Março deste ano no festival "É Tudo Verdade".

Só ouvi falar de Wilson Simonal um ou dois anos após de sua morte em 2000. Foi num show de seus filhos, Max de Castro e Wilson Simoninha, no Canecão. Um ótimo show! Depois eu ficava sempre pensando: se ninguém contesta o talento de Simonal, por que o ostracismo? Talvez o documentário, que não tem o objetivo de defender nem acusar, traga alguma luz. Condenação? Justa ou injusta? Racismo? Paranóia "ditatorial"? Inveja? Queda normal após glorioso sucesso? Sei lá.

Só espero que os produtores consigam o merecido patrocínio para que o filme seja distribuído. Possibilitando que mais pessoas conheçam um pouco da história. Enquanto isso, é possível conhecer um pouco do artista Wilson Simonal com os diversos vídeos postados no Youtube. Como este abaixo, de 1970, quando o astro dividiu o palco com uma estrela, Sarah Vaughan. O Cosmo!


Médicos daqui e de lá

É bom ver que podemos contar com profissionais de outros estados num momento tão crítico da epidemia que assola o Rio. Mas tudo isso merece reflexão.

Penso que estão fazendo de um problema de saúde pública uma maneira de aparecer em tempo de eleição. Todo o alarde com a chegada dos médicos não me parece algo sereno, realmente preocupado com a resolução ou amenização do problema.

Quando falam em diárias, passagens aéreas e hospedagem, montagem de hospitais de campanha, cursos, etc., não posso deixar de pensar nos médicos daqui. Nada contra a vinda de outros, é sempre boa a troca de experiência entre profissionais de uma mesma área e com realidades distintas, num mesmo país. Isso deveria ocorrer normalmente.

Mas não faz muito tempo que a grande mídia exibiu cenas dos protestos de profissionais de saúde (daqui) em hospitais públicos por condições mínimas de exercerem seu ofício. E lembram-se do "choque de gestão" na saúde, prometido pelo atual ocupante do governo estadual no início de seu mandato? Parece que muitos se esqueceram.

Quando as autoridades que não tiveram competência para gerir serviços essenciais aparecem na TV e nos jornais apresentando (com orgulho) a importação de profissionais, dá impressão que os daqui não são suficientes ou competentes o bastante. Ou mesmo quando aparecem inaugurando hospitais de campanha ou centros de hidratação, aqueles que ignoram certos fatos interpretarão como medida extrema, uma vez que os atuais hospitais não comportariam o alto número de casos. Mas tudo isso é muito relativo. Quando não, mentira.

Será que isso tudo seria necessário se:

- os profissionais de saúde (daqui) fossem realmente valorizados, não apenas com salários, mas principalmente com condições mínimas de trabalho?
- houvesse um maior controle no que diz respeito à carga horária e o trabalho desses profissionais, de maneira a ajudar tanto a população como também o profissional?
- fossem atendidas as reivindicações para maior número de profissionais no atendimento, com especialidades diversas e muitas vezes escassas?
- os hospitais e postos de saúde contassem com estrutura para atendimento, tratamento, diagnóstico?
- houvesse de fato uma política de saúde pública, séria e sem interesses eleitoreiros e politiqueiros (independente do que esses canalhas engravatados ou de jaqueta digam em frente às câmeras ou no palanque, com habituais caras-de-pau) e não políticas de doença como ocorre atualmente?
- houvesse um mínimo de harmonia entre os órgãos públicos reconhecendo têm por obrigação o bem da população, que é para isso que ali estão e são pagos?

Acredito que seria diferente sim. Mas parece uma novela onde o que é certo e direito, o que representa o bem, a paz, a tranqüilidade, não dá ibope. Não dá voto.

sexta-feira, abril 04, 2008

Há 40 anos...

... o sonho não acabou.

Aprendemos a voar como os pássaros, a nadar como os peixes; mas não aprendemos a simples arte de vivermos juntos como irmãos.”

Martin Luther King Junior
15/01/1929 - 04/04/1968

quinta-feira, abril 03, 2008

Estudar? Pra quê?

- Não pude fazer (faculdade) em um primeiro momento porque não tinha condições, em um segundo momento porque eu estava cansado, em um terceiro momento porque virei dirigente sindical, em um quarto momento porque virei presidente do PT, e em um quinto momento porque virei presidente da República. Quem sabe em um sexto momento, quando eu não for mais nada, eu possa concluir, através da Universidade Aberta, o meu diploma universitário.

Luiz da Silva a uma platéia de trabalhadores
rurais na inauguração do auditório da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Fonte: O Globo Online

Taí algo que não gostaria que minha irmãzinha lesse. Mas provavelmente conversarei com ela. Exemplos negativos também são... exemplos. Ainda mais quando a declaratice parte do presidente da República. Eu costumo dizer que ele é um cara persistente. Prestou concurso público e foi reprovado três vezes. Na quarta obteve pontuação que o permitiu ingressar no cargo. E que cargo! Renovou quatro anos depois. Agora diz que não teve tempo de concluir faculdade. Isso me lembra ter assistido pela TV alguns cidadãos com curso superior na fila para o concurso de gari no Rio.

É Luiz da Silva. A vida é difícil mesmo para quem cursa a universidade. Fez um bom negócio com o concurso público para um cargo tão legal, bem remunerado e com aposentadoria garantida em quatro (ou oito) anos e, saindo, ainda terá direito a funcionários pagos pelo Estado e outros benefícios. Sujeito malandro!

Mas peço: limite-se a ser presidente da República ao subir nos tantos palanques de suas tantas viagens. Clique aqui para ver algumas atribuições de seu cargo. Por favor, não louve sua falta de vontade, preguiça, ou mesmo sua falta de interesse em cursar uma universidade. Ou mesmo a desculpa de uma outra atuação (se isso vira regra ninguém estuda mais). Veja quantas pessoas, de várias idades, trabalham e estudam. Algumas em mais de um emprego, viajando longas distâncias, acordando de madrugada. Nada disso é desculpa para essas pessoas. Mas parece que é para Vossa Excelência.

Será que não vê a contradição entre seu discurso chulo e os projetos de reforma universitária? E ao mesmo tempo um certo desrespeito com aqueles que buscam (por percepção própria do significado ou por exigência direta da sociedade/mercado) um curso superior.

Não relaciono o fato de ter curso superior à competência para governar. Para isso basta se cercar de súditos interesseiros e lacaios comprometidos com seus bolsos e o poder. Mas deveria ser obrigação de todo mandatário do país incentivar o aprendizado progressivo, o desenvolvimento intelectual, o estudo, o pensamento crítico (Ops, esse último não deve ser de seu interesse).

Por mais que as universidades estejam sucateadas, ou as dificuldades que formados têm no mercado, devemos ser estimulados a estudar. O desinteresse por instituições de ensino começa assim. Do alto, e de baixo. E nasce circulo vicioso, em detrimento de um ciclo virtuoso que ajudaria mudar o que vemos atualmente. Uma merda!


quarta-feira, abril 02, 2008

A questão do imigrante nos EUA

Um texto curto no NY Times (How Immigrants Saved Social Security - Como os Imigrantes Salvaram a Seguridade Social) mostra como é complexa a questão da imigração, legal ou não, nos EUA quando relacionada ao sistema de Seguridade Social daquele país. Salvo devidas proporções, creio que a idéia se aplicaria a outros países.

Segundo o texto, que bem frisa não defender a ilegalidade, uma análise do Relatório Anual de Seguridade Social de 2008, divulgado semana passada, mostraria que a imigração ilegal é de certa forma melhor que a imigração legal.

A explicação é simples: o "legal" ao trabalhar recolheria impostos e teria direitos a usufruir (lê-se: custo para o governo); já o "ilegal", ao trabalhar, também seria taxado, porém não teria benefícios sociais posteriores (lê-se: menos despesas para o governo, lucro).

Além disso, o texto aponta o fator da idade e natalidade, uma vez que o imigrante ilegal normalmente entra no país mais novo, e tem mais filhos, que serão trabalhadores e pagarão impostos. Mais trabalhadores e menos aposentados.

American dream?!
Escrever para mudar
La rédaction, instrument de changement
Escribir para el cambio
Writing for change

A Fahamu Network for Social Justice tem em seu site uma ferramenta interessante para ajudar no desenvolvimento e aperfeiçoamento do ato de escrever. É o Writing for Change.

Com a idéia de que podemos usar a escrita na luta por um mundo melhor, a Fahamu (que significa "compreensão" ou "consciência" em Kiswahili - idioma Bantu) lançou essa ferramenta de treinamento. Que pode ser acessada on-line in English, Español et Français.

terça-feira, abril 01, 2008

Que bom!! [continuando]

Sai a segunda. Renata do Posto perde o... posto. Os motivos são os mesmos pelos quais sua coleguinha, Jane, foi cassada hoje à tarde: maracutaias, cambalachos, esqueminhas. E faltam outros. Ficarei aguardando.

Leia aqui, ali, e acolá.

Foto: Alexandre Vieira / Agência O Dia
Nós: seres humanos e sociáveis (?)

Quando gentileza e educação parecem sinônimos de agressão. Quando o ato de se comunicar, o contato verbal (e físico) é bloqueado como um mal a se evitar a qualquer custo. É quando começamos a caminhar no sentido contrário ao que se chama de “ser humano”.

Não bastasse os “bom dia/boa tarde/boa noite” dificilmente respondidos, ou replicados com um resmungo, um som gutural típico dos homens das cavernas estereotipados nos filmes e desenhos. Não bastasse o “por gentileza/muito obrigado/por favor” ser repelido como um xingamento ou sinal de arrogância. Não bastasse aquele banco vazio que é ocupado (quando é) constrangedoramente por estar ao lado de um ocupado (por alguém que muitas vezes quer que a situação – o vazio – continue inalterada). Não bastasse tantas outras atitudes de seres humanos desumanizados, mal-educados, grosseiros e preconceituosos (com seres iguais, humanos), eis o diálogo que ouvi hoje entre uma senhora e uma jovem, aparentemente mãe e filha, no elevador:

Vamos ficar aqui [próximo a porta]. Assim não precisamos ficar pedindo licença na hora de sair.

Perceberam que coisa horrível?
Que bom!

Menos uma. Faltam outros(as) tantos(as) e espero que não se safem. Essa, envolvida no esqueminha (quantos mais devem existir?) que desviava recursos (para seu próprio bolso) através de uma fraude na concessão de auxílio-educação a assessores-fantasmas.

Mesmo que estivesse tudo certo, com assessores (de carne e osso) trabalhando regularmente, não consideraria correto a ALERJ (Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) conceder auxílio-educação. Oras, e as escolas públicas? Deveriam ser os primeiros a promovê-las, em prol da qualidade e excelência no ensino.

Leia aqui, ali, e acolá.

Deveria ser algo normal: criminoso sendo preso ou afastado de órgãos públicos. Mas não é. A maioria se dá bem, ficando livre para continuar com suas maracutaias. Em pouco tempo voltam a "vida pública" para subtrair o recursos públicos. Por isso... Que bom! Ótimo! Um político corrupto sendo punido. Faltam muitos outros.
Bloqueou lá, indico aqui.

Censura! O governo chinês está sofisticando seus filtros de internet. Além de sites específicos, bloqueiam notícias em sites e acessos a determinado endereço a partir de um IP (grosso modo, o endereço de um micro na internet) específico.

É o que parece estar acontecendo com o Blog "No Oriente" de Gilberto Scofield que segundo notícias estaria bloqueado em Pequim. Clique aqui para ler a matéria. Usei uma ferramenta on-line de testes e, pelo menos em Shanghai, o meu blog está liberado (assim como o de Gilberto).

O Wikipedia tem um verbete onde lista alguns sites bloqueados pelo governo chinês. Clique aqui.


A menina no mercado

Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...