domingo, dezembro 30, 2007

Pra fechar

2007 está quase terminando. 2008 bate à porta. Lembro da "pegadinha" que minha mãe costumava aplicar. Algo como: "Olha, veja lá na esquina aquele velho indo enquanto o menino vem". O velho e o novo, se olham e seguem seus destinos. Futuro e passado num momento único, o presente. O velho vai, carregado de emoções. Foram dias intensos que deixaram marcas no menino, o novo. Veremos como este último se sai. A esperança.

Este foi um ano cheio de surpresas, tristesas, alegrias, reflexões, aceitações, superações... Inesquecível, inesgotável. Daqueles que rezo para acabar, mesmo sabendo que as chagas que deixará o tornam algo permanente.

Chorei muito. Me irritei, me desesperei, aceitei. Ri. Alegrei e me senti alegre, brinquei. Confortei e fui confortado. Me apeguei a coisas simples, como ler e escrever (para o blog, principalmente) para superar certos momentos de "cegueira", nos quais nenhum destino era um rumo aceitável. E também a família que, no meu caso, apesar de tudo, ainda é um porto seguro.

Foi um ano de extremos. Vida e morte. Começo e fim. Alegria e tristeza. Acontecimentos registrados aqui no blog.

Obrigado por todas as visitas, mesmo aquelas "sem querer". Saibam que o blog mais que um exercício de escrita, leitura, análise, é uma forma que tenho de desabafar, de chorar as mágoas, de externar pensamentos, preocupações, opiniões. Tentarei continuar durante 2008.

Um grande abraço a todos. Desejo-lhes PAZ e SAÚDE, hoje, em 2008, e sempre.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

"Então é Natal ...

... e o que você fez?". Esse verso se tornou, para mim, o marco inicial das festas de fim de ano. É uma música cantada pela Simone, que comento em tom de brincadeira, e costumo dizer que os preparativos para o Natal só começam quando ela toca nas rádios. Este ano não a ouvi, mas deve ter tocado. É tradição. É simbólico como a data, contestada por estudiosos, em que se convencionou comemorar o nascimento de Jesus Cristo. Mas tradição é tradição. É como brindar antes da cerveja. Mantemos isso e seguir em frente.

E cá estou eu tentando escrever uma mensagem de Natal ou coisa parecida para um Blog que completou 1 ano e duas centenas de postagens acessadas aproximadamente 2000 vezes de diferentes pontos do mundo, de acordo com um contador iniciado em Janeiro de 2007, pouco mais de um mês após a inauguração do "Trocando Uma Idéia Sobre Tudo". Vamos lá.

Natal. Natividade. Nascimento. Esperança. A expectativa de salvação da humanidade com o nascimento de Alguém que veio para fazer o bem. Logo, comemora-se o início dessa esperança, seu nascimento. Difícil encontrar relação com as longas filas dos centros de compras, da euforia nos preparativos que incluem, no caso dos mais afortunados financeiramente, uma ceia grandiosa, regada à muita bebida (com e sem Álcool). Mas tudo bem. Isso parece ter se enraizado e a única esperança que se tem é que a ceia agrade aos convidados, a cerveja esteja gelada e não falte, os presentes e a festa não sejam criticados. Mais humano impossível. Ho, Ho, Ho...

Mas proponho resgatar a idéia fundamental: Nascimento, esperança. E, apesar de não ser dos assuntos mais agradáveis à maioria, principalmente em época de festas, direciono e relaciono mais uma vez o cerne desta postagem à África. Onde, aos nascidos, escasseia a tal esperança. E, mais uma vez, uso matéria de publicação internacional como fonte.

O The Independent traz hoje como matéria de capa o nascimento de Salamatu Sankoh, filha de Bintu Koroma, menina nascida numa favela em Kroo Bay, Serra Leoa, país da África Ocidental e, segundo a ONU, o que possui o pior IDH e o mais alto índice de mortalidade infantil do mundo. Logo, um povo que carece de esperança, num país que carece de bons governantes, e ajuda.

A descrição do nascimento de Salamatu lembra um evento bíblico. Uma criança vindo ao mundo num lugar inóspito onde as condições de nascimento não se diferenciam muito às de 2 milênios atrás. E, se pensarmos no grau de "desenvolvimento" científico e tecnológico da atualidade, não nos parecerá um acontecimento recente. Mas é. E foi logo ali. Do outro lado do Atlântico, mas poderia ter sido aqui, em terras tupiniquins onde cenas parecidas também ocorrem, naquele Brasil onde o Brasil não chega, para onde o Brasil não olha.

A matéria do jornal britânico é publicada numa sessão especial, o Independent Appeal, e é posta de forma a divulgar ações da Save the Children, organização apoiada pelo The Independent. Está direcionada aos britânicos como um apelo para que ajudem. Mas serve para todos. Para isso, além da contar sobre Salamatu Sankoh, faz comparações entre as condições de "vida" em ambos os países. Uma dessas comparações diz respeito a taxa de mortalidade de mães ao dar à luz: uma em cada seis no país africano e uma em cada 3,800 no Reino Unido.

O título da matéria é "The unluckiest baby in the world". Salamatu precisa mesmo de sorte. Sorte para chegar aos cinco anos, algo que só acontece a uma em cada quatro crianças. Sorte para que o governo de seu país direcione os recursos de forma a erradicar a miséria, acabando com a corrupção, sorte para que outros não apenas olhem o que ocorre, mas contribuam de fato para mudar aquela situação.

Bem, é basicamente isso. Nascimento, uma criança e esperança. Sem efeitos especiais ou estrelas, sem presentes, sem reis ou magos, em Kroo Bay, Serra Leoa, pior IDH, alta mortalidade infantil, África, Terra.

Mas não deixa de ser um nascimento onde a Esperança se renova, ou melhor, se afirma como muito necessária, assim como a sorte. Como na frase de Bukowski em Hollywood. "Três coisas que o homem precisa: fé, prática e sorte". Então é Natal.

Feliz Natal Salamatu Sankoh. Feliz Natal e Boa Sorte à todos!


Simone - Entao É Natal

Então é natal, e o que você fez?
O ano termina, e nasce outra vez.
Então é natal, a festa Cristã.
Do velho e do novo, do amor como um todo.
Então bom natal, e um ano novo também.
Que seja feliz quem, souber o que é o bem.
Então é natal, pro enfermo e pro são.
Pro rico e pro pobre, num só coração.
Então bom natal, pro branco e pro negro.
Amarelo e vermelho, pra paz afinal.
Então bom natal, e um ano novo também.
Que seja feliz quem, souber o que é o bem.
Então é natal, e o que a gente fez?
O ano termina, e começa outra vez.
E entao é natal, a festa Cristã.
Do velho e do novo, o amor como um todo.
Então bom natal, e um ano novo também.
Que seja feliz quem, souber o que é o bem.
Harehama, Há quem ama.
Harehama, ha...
Então é natal, e o que você fez?
O ano termina, e nasce outra vez.
Hiroshima, Nagasaki, Mururoa ...

... e SERRA LEOA, e o BRASIL, e o MUNDO

domingo, dezembro 23, 2007

500 Years Later

Until Lions tells their tale, the story of the hunt
will always glorify the hunter- African proverb

Até que os leões contem suas histórias, os contos de
caça glorificarão sempre, o caçado - Provérbio Africa

"Is foolish to let your oppressor tell you that you should
forget about the oppression that they inflicted on you"
É tolo deixar o opressor lhe dizer que você
deve esquecer a opressão que ele lhe infligiu.
M.K. Asante, Jr.

Crime, poor education, poverty, self-hatred, prison system, broken homes plague people of African descent globally – Why?

Filmed in over twenty countries and on five continents, 500 Years Later is a compelling journey, infused with the spirit and music of liberation, that chronicles the struggle of a people from enslavement who continue to fight for the most essential human right - freedom.

500 Years Later, is an epic multi-award winning documentary directed by Owen 'Alik Shahadah.

Eis um filme que quero assistir.


sexta-feira, dezembro 21, 2007

Pequena África

Pequena África apresenta a Praça XI, a Central do Brasil, Gamboa, Saúde e bairro de Santo Cristo de hoje, e que eram conhecidos nos idos de 1850 até 1920 como "Pequena África", por terem sido locais habitados por escravos alforriados no período imperial e depois deste.
Roteiro e Direção: Zózimo Bulbul

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Vamos combinar o seguinte...

Semana passada comentei a repercussão de uma matéria do NY Times sobre a tortura e o estupro de uma menor, presa com 20 homens, numa cadeia do Pará. A matéria falava sobre a impunidade, sobre a institucionalização dessa prática de tortura, que tem ramificação histórica no período da escravidão e na recente ditadura militar.

Essa semana fiquei horrorizado com o caso de outro menor, Carlos Rodrigues Júnior, 15 anos, morto em SP. Acusado de roubar uma moto, o adolescente teve sua casa invadida, sua mãe e sua irmã mantidas na sala por um policial, enquanto outros cinco o levaram para o quarto, onde foi submetido à tortura. O laudo do IML confirmou choques e espancamento.

Lembrei imediatamente da matéria do NY Times e pensei, especificamente, no período de ditadura militar. Lembrei do Chile, com as condenações. Pinochet. Lembrei da Anistia. Das indenizações concedidas pelo governo federal e pensei no "jeitinho".

Confesso aqui que não pesquisei a fundo sobre o critério das indenizações concedidas aos torturados, nem sobre a Lei da Anistia de 79. Mas uma coisa me deixa "grilado". Tendo havido torturas e mortes no período da ditadura, por que não prendem os culpados? Tenho certeza que muitos estão na ativa, recebendo dinheiro público. É claro, cumpriram os seus deveres! Ordens. Mas será que vale mesmo simplesmente relevar? Será que o Estado junto com alguns particulares que se beneficiam não estão contribuindo para manter essa "institucionalização da tortura" ao propor um "Vamos combinar o seguinte...".
A brutalidade, a covardia, do mais recente episódio de tortura (que sai nos jornais) é reflexo dessa política, não só de Estado, de manutenção de uma prática cruel, irracional, bárbara, que beneficia alguns cretinos. É o jeito. É o jeitinho. E vamos combinar o seguinte... é uma merda!

Leia aqui, , , acolá, ali
Preservação e os Quadros

Parece realmente que o item preservação não é levado à sério pelos "responsáveis" por museus, galerias, etc. Enquanto preservar continuar sendo considerado ato de proteger a integridade física de obras, com controle de temperatura, luminosidade, vibração, humidade, etc, roubos como o que ocorreu no MASP, e já haviam ocorrido na Chácara do Céu e em outros, continuarão ocorrendo. O roubo dos quadros de Picasso (O retrato de Suzanne Bloch - 1904) e de Portinari (O lavrador de café - 1939) mostra como é frágil a política de preservação em instituições culturais. O interessante é que, por vezes, essas mesmas instituições, com o nobre propósito de aplicar procedimentos de preservação, criam um "clima" que beira à hostilidade com o público, o usuário. Esse sim, visto sempre como ameaça.

Política de preservação deve contemplar TODOS os aspectos relacionados ao objeto a ser preservado, como a Instituição (não apenas o espaço físico) e as pessoas que estão, direta ou indiretamente, envolvidas com a instituição e o dito objeto.

terça-feira, dezembro 18, 2007

MotherLand

A história de um continente e seu povo. Começou a ser rodado em 2004 e está previsto para 2009. Pelo pouco que li e pelo vídeo, promete ser um filme muito interessante, tendo o continente Africano como tema central. História e cultura do berço da humanidade. Mãe África. Espero que fique disponível aqui no Brasil.

Fonte: Motherland - The Official Film Site

Ignorância: uma política de Estado... mais uma vez

O prefeito Cesar Maia editou ontem um decreto que, contrariando decisão da Câmara dos Vereadores do Rio, recria algo parecido com a aprovação automática. Tenho certeza que o prefeito desta linda cidade teve oportunidade de ter educação nos moldes que ele hoje combate à canetada. Estudou em boas escolas onde se cobrava empenho do aluno, com instrumentos didáticos tradicionais e eficazes que o permitiram galgar passos na educação formal, cursando universidades, por exemplo. O tipo de educação que, caso o aluno não consiga atingir uma meta, é reprovado para seu bem. E sendo reprovado, o aluno não acumulando desconhecimento.

O que vemos com essas medidas, que só compreendo se imaginá-las como um plano sinistro de controle e dominação, o que se perpetua é a ignorância, a acomodação intelectual.

O prefeito deveria usar seu cargo, sua linda canetinha, para lutar por melhorias no sistema educacional, com salários dignos aos professores, segurança na escola, oportunidade de acesso e permanência, instrumentos pedagógicos que permitissem o aprendizado, o conhecimento, o desenvolvimento intelectual dos estudantes... Em todas as escolas sob sua responsabilidade, não apenas as que ficam visíveis como se fossem instrumentos publicitários ou as que ficam em bairros 'nobres' servindo à classe média.

A avaliação negativa que teve recentemente foi pouco considerando tudo isso. Deveria ser ZERO, Reprovado.

OBS.: Me baseio em informações de jornais e agências de notícias on-line, com matérias recentes e antigas. Em pesquisa nos sites da Prefeitura e da Câmara não localizei o texto do decreto. Aliás, ambos os sites são péssimos, principalmente o da Câmara. Cadê o acesso? São informações que deveriam estar facilmente acessíveis!

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Overcoming, Inspiring, Transforming

When talking about Africa, the main issue is, generally, poverty; or corruption, spread conflicts, malnutrition, hungry, and death. Some people often use the word "Africa" as a synonymy of a miserable place/situation. It makes me feel sad. In fact our knowledge on African continent is scarce. The actual condition of the continent - here you may say the Black Africa or sub-Saharan - could not be explained without considering the events in the past. And there are no magic tricks for fixing the current problems. Inventions from outside, even with good intentions, could be tragic when the cultural diversity has not being considered. But this is something everybody knows. So, the solution, the answer, the path should came from inside. The aids, of course, are very important. But the reaction must start IN Africa.

And I am really happy when, while reading an on-line version of an UK newspaper, The Independent, I see in the main page an article about an African man who overcame. With its on efforts and the important help from NGOs and a British University he receives his Masters degree this week, after a life of poverty and drug. His name is Sammy Gitau, a Kenyan, from a slum in Nairobi to Manchester University and back, to keeping on making a difference. Congratulations Mr. Sammy Gitau. Please, inspire. Please, transform.

Click here and read the article by Emily Dugan.


quinta-feira, dezembro 13, 2007

O Samba dá seu recado

A cada dia a humanidade se mostra mais desumana. Apresentam como desculpa, por vezes, as diferenças raciais, étnicas, culturais, sociais. Algumas vezes a desculpa é a religião. Em outras é a economia. O Petróleo. A Política externa. Algumas vezes até a PAZ surge como pretexto para a Guerra. Incoerência total. Uma das mais recentes demonstrações de tudo isso aconteceu na Argélia, com mais um atentado atribuído à Al-Qaeda. Também reforçado com a invasão e ocupação do Iraque pelos EUA, com seu Bush fazendo sua política externa de m. Temos as FARC mantendo reféns há anos. Dizem lutar por uma causa. Qual a causa que justifica o seqüestro de pessoas, algumas crianças. Qual a causa que justifica subjugar um povo, implodir prédios, residências, assassinando seres humanos aos milhares, jogando bombas para todos os lados. Onde está a nobreza nisso tudo? Isso é Humano?

A verdade é que todos fazemos parte do mesmo barco, embora poucos se deêm conta desse fato. Alguns insistem em tentar afundar o barco a qualquer custo. E, por falar em custo, o dinheiro está sempre envolvido. Uma infelicidade.

Mas... estava eu ouvindo um CD do Zeca e uma das músicas me lembrou disso tudo. Mais uma vez o Samba dá a lição. Cliquem no play abaixo e ouçam a música Pra Gente Se Amar.



Pra Gente Se Amar
Zeca Pagodinho

Composição: Cruz/Marques/Maurição

Olha aquela estrela no céu
Olha aquela estrela no céu
Olha aquela onda no mar
Olha aquela onda no mar
Foi Deus que criou
Foi Deus que criou
Pra gente se amar
Pra gente se amar... olha aquela estrela

A mesma paz que eu peço pra Deus e a Oxalá
É a paz que está escrita no velho Alcorão de Alá
A liberdade é sagrada e é desejada até pelos ateus
Mas quando a fé se renova
É a prova da própria existência de Deus

Chega de teleguiados cruzando o céu azul
Que o amor oriente o mundo de norte a sul
Tratem direito os humanos
Sejam africanos, cristãos ou judeus
Pois nunca foi a violência
A prova da própria existência de Deus
Dizem por aí...

- Ô Zé, tu tá sabendo da CPMF?
- Tô sim, Tonho.
- Estão dizendo que o bicho-vai-pegar. Fiquei preocupado!
- Eu tô trânquilo!
- Ah?!
- É isso mesmo. Tenho certeza que o governo vai inventar outra Coisa Pra Me Ferrar!

quarta-feira, dezembro 12, 2007

We are the World

NY Times, impunidade, maioridade e jeitinho

Tem coisas que tomam maior dimensão quando nos são ditas por pessoas fora de nosso ciclo de relacionamento. Da mesma forma, algumas notícias ganham força quando sua veiculação se dá de forma mais ampla, com maior alcance. Se aparece em outro idioma, em publicações de certo prestígio de outros países, a coisa toma proporções bem maiores. Alguns reclamam, insistindo que o texto por vezes carrega opinião pré-concebida; como por exemplo, um texto sobre o continente Africano ou Sul-Americano redigido por um Europeu ou norte-americano. Mas, deixando de lado o preconceito, cuja existência não podemos negar, devemos lembrar que a “visão de fora” nos permite analisar uma situação de outra forma, ou, como é neste caso, não esquecer e dar mais importância.

A edição on-line do The New York Times de hoje traz uma reportagem sobre o absurdo que ocorreu numa cadeia do Pará, onde uma menor foi mantida durante semanas numa cela com 20 homens, sendo estuprada e torturada. A matéria fala em 34 homens. Exagero? Verdade? O que li em jornais brasileiros fala em 20, mas a diferença não diminui a crueldade. O texto, de Alexei Barrionuevo, traz ainda um aspecto pouco comentado sobre o caso: tantas pessoas tiveram a oportunidade de ajudar a menor e nada fizeram. Realmente, o número de culpados e omissos é grande. Ministério Público, Juíza, policiais, carcereiros e tantos outros que tinham conhecimento do caso.

Barrionuevo faz uma relação com o clima de impunidade que existe no país. A tortura é institucionalizada, sem punição para os torturadores. Coisa que vem desde o período da ditadura, somada aos 300 anos de escravidão no Brasil. É bem interessante a associação. Parece normal torturar. Parece, tristemente, natural não punir os torturadores.

Tenho certeza que a matéria despertará certa raiva em muitas pessoas. É claro, se é um equipamento de alta tecnologia ou um enlatado que vem da terra de Tio Sam, abraçamos com gosto, mas se é crítica contra o jeitinho como as coisas são “levadas” por aqui, aí é arrogância daqueles ianques safados. Bem, a matéria deveria sim despertar a já escassa vergonha na cara daqueles que deveriam fazer seu trabalho para coibir práticas abusivas e desumanas, que deveriam gerenciar o dinheiro público (cobrado e pago regularmente, senão a justiça se faz presente) para prevenir situações repugnantes e tristes, dando educação em primeiro lugar e, na outra ponta, garantindo que presídios não se tornem depósitos de animais.

No Pará cometeu-se pelo menos dois crimes graves: encarceramento de menor em cadeia para maior e o uso de celas compartilhadas para homens e mulheres. Enquanto isso, estamos vendo mais uma vez a tentativa de uso de uma fórmula mágica para diminuir a violência: a redução da maioridade penal. Está em votação na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, que poderá convocar plebiscito para decidir. 14, 15, 16 anos. É mais fácil adaptar a situação existente do que corrigir a falha. Se não conseguem impedir injustiças como “jogar” uma menor de 15 anos numa cela com 20 (ou 34) homens, transforma-se a menor em maior e, de quebra, reduz-se o número de crimes (cometidos pelo Estado) pela metade.
CPMF

Deve ser votada hoje a proposta de prorrogação da “contribuição” que nasceu provisória e está cada vez mais permanente. O governo diz que quem reclama é sonegador. Ora, se o sujeito sonega, ele não paga, logo não tem do que reclamar. Também diz que é imposto para quem tem dinheiro e por isso vem incomodando. Ainda emenda que, se fosse para o pobre, ninguém reclamaria. Ora, se o patrão (segundo o Luiz da Silva) é quem está sendo onerado, quem vocês acham que sofre no fim? Diz que o governo não pode ficar sem tanto dinheiro de uma ora para outra. Esquece que essa “contribuição” tem data prevista para acabar: o fim de 2007. Está na lei. O governo não está sendo apanhado de surpresa. Teve tempo suficiente para planejar. Diz também que quem irá sofrer é o povo, o país, o crescimento, o PAC. Alguém acaba pagando o pato. É assim desde o início dos tempos.

As frases são de impacto, e talvez até funcionem, uma vez que, pelo que vemos, a população não associa o presidente ao governo. Parece uma coisa à parte. Agora (li hoje) propõe que toda o imposto seja aplicado na Saúde. Caramba! Do jeito que se coloca, parece que está fazendo algo extraordinário e não o que é devido. Pelo que sei, é para a Saúde que a “contribuição” (sempre entre aspas) foi criada.

O governo chora de um lado, conclamando aos deputados, senadores, governadores, partidos, que sejam responsáveis. Coisa, aliás, que o governo não foi durante esses anos. O uso da CPMF não teve nada de responsável. Pelo contrário. Vemos o caos na Saúde a cada reportagem sobre o tema. Por outro lado, parece que o Trem da Alegria parlamentar anda cada vez mais alegre. E, nesse ponto, a CPMF ainda ajuda, pois o governo tem liberado emendas milionárias, verbas a torto e a direito (mais a torto) para “convencer” a oposição e os aliados rebeldes a votarem a favor da prorrogação.

E a campanha para isso, como disse antes, usa como um dos artifícios a tentativa de convencimento de que, quem for contra a prorrogação, é contra o crescimento do país, contra as políticas sociais do governo, contra os mais pobres. Discurso forte, apelativo, que toca fundo para encobrir o que é claro na superfície: a incompetência do governo em administrar o dinheiro com o qual… contribuímos.

terça-feira, dezembro 04, 2007

Uma confissão e uma expectativa

Acabei de assistir na TV Senado o pronunciamento de defesa de Renan Calheiros que precedeu a votação que definiria se teria o mandato cassado ou não. Não acompanhei o pronunciamento inteiro, mas consegui assistir boa parte. Fiquei intrigado. Ele pontuou cada item da acusação de quebra de decoro, citando constituição e código de ética do Senado. Rebateu tudo de maneira bem segura e por um momento pensei (tenho que confessar) que ele não seria culpado daquelas acusações. O interessante é que, pelo que havia lido, ouvido e assistido até então, ele não teria condições de ocupar o cargo. Isso somado a atitude inicial de usar a cadeira de presidente para se defender... e acusar.

O resultado da votação, talvez já previsto, foi favorável... ao Renan. 29 a favor da cassação, 4 abstenções ... e 48 contra a cassação. Ele poderá, com isso, usufruir das beneces do cargo público por mais tempo. Renan largou o osso da presidência do senado, mas poderá ficar na área.

Fica a expectativa de saber como o relator, os deputados e Senadores que apresentaram posição favorável à cassação e, claro, a Revista Veja, irão se posicionar. Afinal, ele é culpado de tudo e atuou bem hoje ou é, de certa forma, inocente? O fato é que ele se safou mais uma vez.


Rapidinhas

Largando o osso

Hoje, 4 de dezembro de 2007, Renan largou o osso ao renunciar à presidência do Senado. Com certeza será um ano inesquecível para ele. Espero, sinceramente, que aprenda. Pagar? Duvido! Até porque as acusações contra ele têm uma interpretação toda especial de seus “iguais”. A justiça ali é relativa. Talvez fique no ostracismo durante algum tempo e depois volte. Lembrem-se de que já tivemos um presidente que, após “sofrer” (muitos usam isso, subjetivamente transformando-o em vítima) impeachment, voltou tirando onda.


Medo, pavor, pânico

O G1 estampou a matéria: “Aluna de escola pública gabarita Enem”. É sobre uma estudante mineira que cursou o ensino médio no Cefet de Minas (Colégio Federal, assim como Pedro II) e acertou 100% da prova do Enem. Poderia comentar esse fato, mas me limito parabenizar a aluna, que teve seu mérito. Mas, voltando à matéria. Como se tornou padrão na internet, sempre indicam textos com assuntos relacionados. Um deles foi sobre a questão das cotas (essa era esperada). O título: Escolas entram na Justiça contra cotas. “O Sindicato dos Estabelecimentos Privados de Ensino de Santa Catarina (Sinepe/SC) entrou com uma ação coletiva na Justiça Federal para tentar reverter as cotas buscar destinadas para alunos de escolas públicas na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)”. Tem alguém com medo. O presidente do sindicato diz ainda que objetivo da ação é “garantir o direito de igualdade”. Faça me o favor! Depois diz que os alunos de escolas privadas vão concorrer em desvantagem. É de rolar de rir. Igualdade? Desvantagem? A matéria cita ainda o caso de um aluno que foi ao vestibular com um mandado de segurança de modo a concorrer ao total das vagas, incluindo as reservadas aos cotistas. A UFSC pode recorrer. Mas me impressiona. A elite se vê ameaçada e recorre a justiça por “seu direito em manter o status quo”.

Nananina…NO

O “No” venceu. O povo disse à Chaves que não atura, dentre outras coisas, o governo de um só. Deve haver alternância no poder. Apesar de alguns (daqui mesmo) afirmarem o contrário, essa é uma característica de um regime democrático. Chaves diz que continuará com seu propósito de implantar o socialismo na Venezuela. Fala em amadurecer a idéia. Bem, não sou sociólogo e, com toda minha ignorância, sempre tento recorrer aos conceitos. Socialismo seria um sistema político onde os meios de produção seriam públicos, de todos, sem propriedade privada, sem desigualdades, e, sendo uma espécie de transição para o Comunismo, o Estado desapareceria gradativamente. Ter uma sociedade onde não há desigualdade deveria ser o ideal de todos, principalmente aqueles que ocupam cargos públicos. Mas eu fico pensando… Sem Estado não há necessidade de presidente. Será que Chaves estaria preparado para uma sociedade onde ele não “mandasse”? Onde não houvesse um palanque reservado para ele “soltar o verbo”, como parece gostar? Sei não. Ok, já sei o que vocês querem me falar: ¿Por qué no te callas?
Os escrotinhos covardes

Parece que na Alemanha uma turminha não se desapega da escrotidão comandada pelo bigodinho. Essa patotinha, minoria, mas cheia de idéias grandiosamente idiotas, têm atacado de forma covarde comunidades judaicas, além de imigrantes de diversas origens, como indianos e iraquianos. Ah, também não esquecem os africanos de diversos países.

Em Agosto, um grupo de 50 integrantes da turminha escrota atacou oito indianos. E a covardia não termina. Recentemente uma mulher iraquiana foi hospitalizada após ser agredida num ônibus. Isso só já é triste e revoltante. Acrescente o fato de a mulher estar grávida.

Os escrotinhos de extrema direita gritam palavras “de ordem” contra os imigrantes. Fazem sempre ataques estando em maioria e, para manter a postura covarde, fogem da polícia. Isso quando, estando em grande maioria, não resolvem agredir seus conterrâneos.

Interessante que aqui no Brasil também existem escrotinhos como esses. Vez por outra um de seus atos merece destaque na mídia, o que não quer dizer que aconteçam mais vezes. Tão covardes quanto os seus similares europeus.

Lá, alguns dizem que a justiça está sendo leniente com os criminosos. Até agora, pelo que li, apenas um escrotinho foi condenado. A pena foi de 600 euros a serem doados para uma instituição de caridade.

Como esses idiotas muitas vezes têm grana e costas quentes, isso fica fácil. E o caminho está livre para que saiam às ruas cometendo mais covardias.
Errou, apaga

A horrenda história da menor que ficou detida numa cela com 20 homens, como não poderia deixar de ser, ganhou bastante atenção de todos. Não sei qual foi o crime desta menina, mas o que o Estado cometeu eu considero hediondo. Foi uma séria de falhas terríveis, por parte de juízes, policiais e delegados (será que algum deles têm filha?). Mentira e desrespeito a vida, a pessoa, ao ser humano. Ainda tentaram justificar, culpando a vítima de “possível debilidade mental”. Houve pronunciamento tardio da ministra Nilcea Freire, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres – SPM e também do presidente Luiz da Silva. Mas falaram. Talvez devessem ficar mais atentos. Li, por exemplo, que em algumas cadeias do Rio, quem revista as mulheres são policiais homens. Talvez isso aconteça em outras partes do país. O fato de mulheres e homens dividirem cela parece ser corriqueiro. Longe da “ficção” como o presidente disse parecer. É real e cruel.

Ouvi ou li que iriam derrubar a delegacia onde a barbaridade ocorreu. Uma boa forma de apagar um erro. Destruindo um dos lugares onde o erro ocorreu. Isso mesmo, um dos, pois o erro (crime, barbárie) não foi apenas na delegacia. Ocorreu, também, nos órgão da Justiça (sic) por onde tramitou o caso, que viria a tona por denuncia de um dos presos.

Parece que derrubar virou moda para apagar certas mancadas. Algo parecido ocorre na Bahia, após a tragédia que vitimou sete pessoas. Tragédia anunciada. Havia laudo apontando problemas estruturais. Crianças do colégio que funciona ali reportaram queda de reboco. Mas quem freqüenta camarote não liga para arquibancada. Agora basta demolir, construir um estádio lindo que servirá para a Copa de 2014 (além de enriquecer algum empreiteiro e seu apadrinhado político) e esquecer, não só a tragédia, mas também os erros, a negligência, o desrespeito o desserviço público.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Dando nome aos... ursos?

Há pouco mais de duas semanas uma professora britânica foi condenada à 15 dias de prisão. Isso inicialmente, pois, segundo as leis do país onde ocorreu o “crime”, a sentença poderia ter chegado a um ano de cadeia, quarenta chibatadas ou, como alguns exigiram nas ruas, a morte.

Recentemente, soube que um conhecido, brasileiro do nordeste, teve certas dificuldades durante uma viagem à trabalho aos EUA. Causa “aparente” (com duplo sentido): por suas características, físicas e faciais, foi tido como originário do Oriente Médio.

A primeira história esteve nos jornais do mundo, quase se tornando um incidente diplomático entre dois países. A segunda, poucos souberam. Mas ambas têm algo em comum: a relação entre duas culturas. Mesmo que, no segundo caso, por engano.

O produto do ódio é sempre mais ódio. Não posso afirmar o ponto em que tudo começou, o evento que originou tudo isso, mas atitudes que, infelizmente, se tornam comum de uma cultura para com a outra, alimentam tudo isso. No meio disso tudo, como marionetes de um espetáculo cruel e com fim sempre trágico, estão pessoas comuns.

O caso da professora, Gillian Gibbons, envolve muito mais que simples interpretação de um ato. Ela foi acusada de insultar o Islã ao permitir que seus alunos, de uma escola sudanesa, atribuíssem o nome do profeta Maomé a um ursinho de pelúcia. O que, a propósito, membros daquele colégio dizem que não foi idéia da professora. Mas nas ruas da capital sudanesa, centenas de manifestantes pediram a pena máxima para a professora. Era incerto o resultado. A tendência, porém, e a professora cumpriu alguns dias de prisão. Recebeu o perdão presidencial e deverá ser deportada.

O governo do Sudão, país onde ocorre uma das mais graves crises humanitárias da atualidade (em Darfur), subiu ao poder apoiado por Islamitas. Algum tempo depois impôs a Charia, lei Islâmica, a todo o país, desconsiderando a boa parcela de Cristão ao Sul do país. O resultado se pode imaginar.

Mas voltando a relação entre culturas. Após o ataque às Torres Gêmeas, a religião Islâmica passou a ser tida como religião dos terroristas ou, o que é mais comum, como a apoiadora e grande incentivadora de atos terroristas e do ódio ao Ocidente.

A segurança nos aeroportos se intensifica, tendo como alvo principal todo aquele que se aparenta com um muçulmano pelas características faciais, o que acho de extrema crueldade, mas tudo nessa história é cruel e irracional. E também dão mais “atenção” aos passageiros originários de países islâmicos ou onde o islamismo é religião predominante.

Essa visão e atitude para com muçulmanos têm uma conseqüência. Aquele que se sente oprimido e humilhado, em algum momento passa a se posicionar contra essa situação. O caso da professora inglesa pode ser considerado como uma postura ou resposta defensiva a mais um ato (tenha ou não feito) praticado pelo Ocidente contra a cultura islâmica. Notem que, segundo matéria da Al Jazeera, “nenhum dos pais fez objeção quando ela [a professora] os enviou circular sobre o projeto de leitura que incluía o urso, introduzido nas aulas em Setembro, como um participante ficcional”. E tomou essa proporção toda. Fica a pergunta: até quando?

Indico artigo "Attitude of West fuels hardliners"
de Steve Bloomfield para o jornal Independent.

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Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...