quinta-feira, agosto 27, 2009

quarta-feira, agosto 26, 2009

três vidas, dois nós, uma mão

ele estava lá, parado, aguardando seu ônibus. elas vieram. a mais velha, de máscara, aparência frágil, convalescente, puxava um carrinho de feira. mas ela não tinha ido às compras. no lugar de legumes, frutas e verduras... latas amassadas. muitas latas. algumas caíram. as companias, mais novas, suas filhas (?), muito parecidas, talvez gêmeas, cabelos desfeitos, roupas sujas, ar cansado. tarefa difícil para crianças. teriam ido à escola naquele dia? teriam brincado? teriam sido crianças? não tinham 10 anos, por certo, talvez 7, um pouco mais, um pouco menos. a mulher precisava da ajuda, daquelas quatro pequeninas mãos. era uma tarefa para cinco mãos. isso. a mulher tinha apenas um braço. uma cena difícil. ele refletiu sobre o que considerava dificuldades de vida. as quatro pequeninas mãos recolheram as latas tão amassadas quanto suas vidas, quanto a vida de tantos. as latas deveriam ficar num saco dentro do carrinho. a mãe pediu que elas dessem um nó e, em vista da dificuldade, juntou sua única mão a tarefa. ele observava. resolveu ajudar naquela tarefa. de repente viu que podia fazer algo, simples. fácil. um covarde? não, um impulso, um reflexo, tão natural! mais duas mãos. um nó. mais um, ele perguntou. sim, a mãe respondeu. naqueles segundos a mãe informou que algumas tarefas eram difíceis para um único braço, que as latas seriam vendidas para comprar comida para a dupla de lindas meninas. em nenhum momento pediu. e mesmo expondo suas dificuldades não expressou rancor com a vida. o que era aquilo?! quem era aquela mulher?! o que era aquela mulher?! ele olhou para as meninas. as três seguiram seus caminhos. ele olhou e em instantes não as via. angústia. o que era aquilo. o ônibus. ele entrou, pagou, sentou. olhou pela janela em busca de três seres humanos, em busca de cinco braços, em busca de duas meninas, uma mãe, dois nós. nó na garganta, soco no estômago. o ônibus segue, a vida segue, as lágrimas se manifestam. reflexão. que força! que mundo! que merda!

segunda-feira, agosto 24, 2009

GSI x 8.159

A questão política da coisa: uma ex-Secretária da Receita Federal informa que teve um encontro com a Ministra-Chefe da Casa Civil, no qual a ministra lhe pediu para "agilizar" as investigações sobre as empresas do clã Sarney. Tal encontro teria ocorrido em certa data e a ministra nega o encontro. Duas versões antagônicas.

A questão arquivística da coisa: busca-se a prova documental do encontro. Considerando-se documento como a "unidade de registro de informações, qualquer que seja o suporte ou formato" (Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística). As imagens no circuito interno de segurança do Palácio do Planalto são documentos.

E a arquivística não pode ser dissociada da política... Logo...

Gabinete de Segurança Institucional - GSI - da Presidência da República informa em nota que:

"Quando o setor de armazenamento no HD está cheio, novas imagens substituem as antigas"(...)

Peraí! Essas imagens não seriam arquivos públicos? O que diria a Lei n° 8.159/1991?

Art. 2º Consideram-se arquivos, para os fins desta lei, os conjuntos de documentos produzidos e recebidos por órgãos públicos, instituições de caráter público e entidades privadas, em decorrência do exercício de atividades específicas, bem como por pessoa física, qualquer que seja o suporte da informação ou a natureza dos documentos.

Art. 7º Os arquivos públicos são os conjuntos de documentos produzidos e recebidos, no exercício de suas atividades, por órgãos públicos de âmbito federal, estadual, do Distrito Federal e municipal em decorrência de suas funções administrativas, legislativas e judiciárias.

Interessante, não?! Será que tais arquivos públicos podem ser deletados dessa forma, tão convenientemente, automática? O que diz a mesma lei?

Art. 9º A eliminação de documentos produzidos por instituições públicas e de caráter público será realizada mediante autorização da instituição arquivística pública, na sua específica esfera de competência.

A instituição arquística pública citada no artigo 9° é o Arquivo Nacional, órgão de assistência direta e imediata ao Ministro de Estado... da Casa Civil.

Tem algo muito errado nessa história toda!

sábado, agosto 22, 2009

A velha questão

Costumo fazer compras num supermercado frequentado pela classe média alta do bairro onde moro. Na grande maioria das vezes, ao olhar para os lados, os únicos negros naquele estabelecimento somos eu e alguns funcionários. Mesmo comprando, muitas vezes o que se vê são empregadas domésticas a serviço de seus patrões. Opa! Não estaria eu tendo um olhar preconceituoso ao taxar de empregada doméstica uma negra comprando naquele estabelecimento? Não. Até porque nesses casos parece haver uma caracterização (implícita ou explícita), seja por uniforme, seja pela visível posição de acompanhante da “patroa”, empregadora que faz questão de deixar clara tal hierarquização.

Não preciso dizer que, sendo minoria naquele lugar, minha presença não é, digamos, esperada. Quando não, é estranha ao recinto. E tal estranheza, por alguém quase exótico (por vezes essa é a impressão), acaba por causar reações naqueles para os quais o fato extraordinário é... bem, não quero ser mais redundante. As reações as quais me refiro variam desde a “confusão” básica quando me tomam por funcionário do local, independente do que eu esteja trajando (os funcionários usam uniformes bem característicos), olhares de espanto, sobressalto, susto e até mesmo... pasmem... admiração! Admiração, uma forma de preconceito? Deixa pra lá!

Ah, não posso deixar de citar, enquadrando como sobressalto, as atenções que frequentemente desperto nos seguranças. Sempre tão próximos e preparados para oferecer seus prestimosos serviços. Será que sou tão atraente assim? Não sei se já comentei aqui no TUIST, mas deixei de frequentar alguns lugares por conta disso. É isso mesmo, o negão aqui confessa: não tenho muita maturidade, sangue-frio, serenidade, presença de espirito ou seja lá o que for para lidar com essas situações. Sucumbo, entristeço, congelo emocional e fisicamente. Espero que esse exemplo negativo seja usado de forma positiva, por alguém.

Perceberam? Cá estou novamente abordando a velha questão. E por que seria? Simples: vivo isso no meu cotidiano e preciso desabafar! Porém a razão para isso traz um componente, ou notícia, mais atual, veiculada na grande mídia essa semana. Trata-se do caso de Januário Alves de Santana, vigia da Universidade de São Paulo que foi agredido, hostilizado, humilhado por conta da velha questão.



Eu não sei dirigir. E, em minha condição financeira atual, ficaria complicado (não impossível, considerando benefícios com os convênios pela empresa, parcelamentos, financiamentos...) adquirir um veículo de aproximadamente R$ 30 mil. Contudo, fico imaginando quais seriam as situação pelas quais passaria se eu tivesse um, digamos, Ford EcoSport. E não me refiro a situações de risco, tais como acidentes, extorsões de oficiais e oficiosos, roubos, trânsito... Me refiro àquela velha questão.

Para algumas pessoas, o fato de uma parcela da população conseguir certas coisas é estranho, inesperado, suspeito, anormal, e até mesmo admirável. Talvez confundam ou associem conseguir com concessão, e não conquista. Talvez o fato de Januário ter conseguido (alcançado, obtido sucesso, conquistado) condições de comprar um carro daqueles não tenha sido considerado pelos policiais e seguranças do supermercado; para esses e outros, a Januário – por suas características físicas, por seu fenótipo, por sua etnia, pela cor de sua pele – não foi concedido o “direito”, a capacidade, as condições de possuir um bem daquele.

É a velha questão.

quinta-feira, agosto 06, 2009

Rádios e genocídio

Indico o texto de Marianela Castés, no Tal Cual, sobre o uso da palavra e sua força, para o bem ou para o mal. Ela lembra o genocídio em Ruanda, em 1994, onde uma rádio foi usada para instigar o ódio de uma parcela da população contra outra. A Radio Televisión Libre de Milles Collines, funcionava com apoio do governo da época.

Faz então um paralelo com a política chavista de calar os meios de comunicação oposicionistas e controlar outros, que usa para fazer sua propaganda bolivariana.

Clique aqui para ler o texto (em espanhol)
Seguindo as regras do jogo

O dicionário Aurélio define ética como sendo o "conjunto de normas e princípios que norteiam a boa conduta do ser humano".

O que é bom para mim, muitas vezes não é bom para você (um dos meus dois leitores). O que considero como sendo uma boa conduta em meu trabalho, muitas vezes não é o que alguns esperam. Neste caso, o que considero "bom" pode ser considerado "péssimo" para tais pessoas. Um exemplo: para a empresa talvez não seja uma boa coisa ter um funcionário que lance olhar crítico sobre suas tarefas; para mim, não é apenas uma boa coisa, é natural e esperado. Sobre isso, os convido a lerem um dos posts inaugurais do TUIST. Clique aqui.

Talvez seja essa palavrinha (boa) que dê margem para a deturpação daquilo que esperamos (eu espero) que seja a ética.

Da mesma forma que relativizei o que é bom para mim, com interesse pessoal, alguns políticos (ou melhor, chamemos de politiqueiros), relativizam o que seria ético/bom, para seu próprio interesse.

Talvez seja essa a finalidade do Conselho de Ética do Senado. Um grupo de pessoas com interesses próprios e que, por isso, deturpam quaisquer princípios a seu bel-prazer.

Caso não tenha ficado claro até aqui, esta postagem tem haver com a mais recente vergonha nacional. Sim, considero vergonhoso, revoltante, aviltante, deprimente, nojento, uma podridão que deveria ser extirpada. Falo de um ex-presidente bigodudo, uma espécie de marajá, quase dono, do Maranhão. E, é claro, sua corja.

Presidindo o tal Conselho, temos Paulo Duque, que pronunciou palavras muito interessantes ao comentar a decisão de arquivar as denúncias contra o bigodudo: "vou seguir as regras... do jogo". Parece que tudo se resume a isso. Um jogo. E bastante sujo pelo que posso ver. Ocupar um posto no Congresso, eleito ou não pelo povo (Duque é suplente de algum outro cretino), pressupõe aceitar e seguir certas regras.

A resolução n°20 de 1993, que institui o Código de Ética e Decoro Parlamentar, diz, em seu artigo segundo, quais SERIAM os deveres fundamentais do Senador:

I - promover a defesa dos interesses populares e nacionais;

II - zelar pelo aprimoramento da ordem constitucional e legal do País, particularmente das instituições democráticas e representativas, e pelas prerrogativas do Poder Legislativo;

III - exercer o mandato com dignidade e respeito à coisa pública e à vontade popular;

IV - apresentar-se ao Senado durante as sessões legislativas ordinárias e extraordinária e participar das sessões do plenário e das reuniões de Comissão de que seja membro, além das sessões conjuntas do Congresso Nacional.

Será que algum deles tem conhecimento e se importa com esses que seriam seus DEVERES? Sarney e sua turma, incluindo este tal de Paulo Hermínio Duque Costa, pelo visto não se importam nem um pouco. "Tô tranquilo", disse o presidente do Conselho de Ética.

Como disse hoje o Alexandre Garcia, em seu quadro no Bom Dia Brasil, "ao defenderem Sarney, eles também se defendem".







quarta-feira, agosto 05, 2009

Por que William mudou de idéia?

Gostaria de indicar o artigo do professor William Douglas que relata como mudou de idéia em relação ao sistema de cotas para negros. O que William relata - sua experiência como voluntário no EDUCAFRO e uma situação mais particular, em sua casa - e que o fizeram refletir para além dos textos e teses, são questões que vejo no cotidiano, mas que também demorei um pouco para perceber. Apenas quando saí de um casulo onde tudo era tido como normal, apenas quando pude ter como comparar, sentir, escutar, vivenciar, tive parâmetros e condições de refletir... só então pude me dar conta, pude "cair na real". Para ler o artigo em questão, clique no link abaixo.

As cotas para negros: por que mudei de opinião

sábado, agosto 01, 2009

Não reeleja ninguém

Essa é uma "campanha" que está circulando na Internet, uma espécie de protesto em prol da moralização do Congresso. Estou nessa! O voto é um momento onde podemos formalizar nossa indignação com o que vemos. É simbólico, mas é válido.

A menina no mercado

Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...