domingo, julho 15, 2012

Paulo Moura

Ao PM, que hoje completaria 80 anos. E que continua nos brindando com seu eterno talento.

Ingá, ninguém mais pega.


Há algum tempo estava conversando sobre antigos hábitos alimentares. Boas lembranças de décadas atrás, da infância e adolescência em Mesquita. Falava sobre verduras hoje difíceis de vermos a mesa. Tais como a bertalha, a serralha e a taioba. Outras muito menos conhecidas até pelos mais antigos que sempre viveram na “cidade”, mas que faziam parte de minha alimentação quando criança. Como o caruru-do-mato, por exemplo, refogado ou feito com fubá.

Na conversa lembrei também da “ponta de abóbora”, como chamávamos a ponta da planta. Não o fruto, mas a extremidade, o broto, que minha tia-avó fazia refogada e até hoje o cheiro e o gosto e a textura me causam boas recordações. Utilizava-se também o mamão verde, no lugar do chuchu, deixando os ensopados de peixe e camarão muito mais gostosos. Neste caso, era minha avó e autora dos deliciosos pratos.

E por falar em frutas, algo que sempre questiono é o sumiço da goiaba branca. Para usar uma palavra que virou moda na construção de expressões de impacto, parece haver uma ditadura da goiaba vermelha. Sem falar da cana-caiana, do araçá, dos diversos tipos de manga que tínhamos ao alcance.

Apesar de termos hoje mais recursos, vejo que empobrecemos. E ficamos monótonos também. Repetitivos mesmo. A mesmice à mesa parece imperar.

Ao contrário do que apregoa o dito popular, parece que a riqueza não pôs a mesa. Pelo menos não uma variada, em gostos, formatos, texturas, cheiros, temperos...

Há mais ou menos uma semana estava eu em Mesquita, caminhando para um ponto de ônibus com a intenção de visitar minha tia em Nilópolis. Atravessei próximo a um grande ingazeiro que fica no canteiro da Avenida Getúlio de Moura, na esquina com a Rua Regina. Aliás, existiam ou existem (espero eu) vários ingazeiros ao longo dessa avenida. Não deixei de verificar se existia algum ao alcance das mãos, pois ao contrário do que fazia quando criança, eu não achei conveniente (lê-se: vergonha) jogar pedras e balançar galhos para forçar a queda e satisfazer minha vontade.

Olhei então para o chão e vi um verdadeiro tapete de ingás, já pisados, secos, ao tempo. Percebi, com certa tristeza, que as crianças de Mesquita nem sabem que aquela fruta é comestível, não conhecem a doçura e nem a aventura da “colheita”.

Mas em Mesquita ainda tem ingá. E ninguém mais pega.

segunda-feira, julho 09, 2012

"Se o parlamentar mentir, é um problema..."

"Se o parlamentar mentir, é um problema..."

A frase bem que poderia estar completa e deveria ser uma afirmação. Estaria correta. Se um político eleito democraticamente (por uma maioria) mente, é um problema, ponto. E não apenas para a maioria; é um problema para todos. Um problema, digamos, democrático. Mas parece que o nível da podridão na política assumiu níveis assustadores.

A seguir a frase completa.

"Se o parlamentar mentir, é um problema dele com sua consciência e sua audiência, não com o decoro. Aliás, nada do que o parlamentar diz da tribuna pode ser quebra de decoro".


domingo, julho 08, 2012

O uso da lei

Recentemente, no dia 16 de Maio de 2012, através do Decreto 7.724, entrou em vigor a Lei 12.527, de 18 de Novembro de 2011, que regula o acesso a informações previsto na Constituição Federal, esta de 5 de Outubro de 1988. Temos a Lei de Acesso à Informação.

A importância da Lei é evidente, embora, talvez por ser tão recente, essa novidade ainda não tenha gerado o impacto que tem potencial para causar. 

Mas não deixo de sentir certo receio com o andar da carruagem. Basta ficar atento ao noticiário. É lamentável que o uso da lei (pelo menos a mídia assim o faz parecer, pelo destaque dado) esteja sendo resumido a questão salarial dos servidores públicos. Algumas pessoas que lutaram contra o decreto devem estar comemorando. A lei também permite essa discussão, porém, não é APENAS isso. De qualquer forma, abaixo teço alguns comentários sobre a divulgação dos salários.

Já que falamos das possibilidade de uso de uma lei, começo recorrendo a... uma lei. 

Lei 8.112, de 11 de Dezembro de 1990, que "dispõe sobre o regime jurídico dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações públicas federais." Lá temos, logo nas disposições preliminares, no parágrafo único do artigo terceiro... 

"Os cargos públicos, acessíveis a todos os brasileiros, são criados por lei, com denominação própria e vencimento pago pelos cofres públicos, para provimento em caráter efetivo ou em comissão."

Deixo para cada um a interpretação do texto em destaque, relacionando-o com a atual questão do acesso à informação e, mais especificamente, sobre o conhecimento do salário dos servidores públicos.

Mas outra questão talvez seja relevante. Boa parte das vagas no serviço público é provida através de concurso público. Tais concursos, como é de praxe, se iniciam com a publicação de um edital e prevê, dentre outras coisas, o salário. Tais editais são divulgados amplamente, assim como o resultado final do concurso, publicado em diário oficial (público). Resultado esse que apresenta lista nominal dos aprovados. Logo, o salário do servidor público, quando nomeado, já é conhecido. A partir daí, com os planos de cargos e salários (quando existentes) e eventuais formas de ascensão, gratificações, adicionais, etc... a coisa fica obscura. O que permanece evidente, claro, óbvio... e relevante, é que o cargo ou a função, continuam sendo pagos pelos cofres públicos.

Fato: eu pago, você paga, nós pagamos!
Pergunta: quanto pagamos?

A aplicação desse direito não deve ser encarada (e nem utilizada) como uma questão pessoal. As pessoas estão confundindo o público com o privado. Basta ouvir as declarações dos que bradam contra a publicação do salário. Para esses, digo: eu não quero saber o quanto você ganha, quero saber o quanto nós pagamos.

E os servidores que, ao longo dos anos, tiveram seus salários estagnados, têm a oportunidade de expor para a sociedade esse problema. 

Voltando a questão do uso da Lei de Acesso à Informação, ratifico, repito, reitero minha opinião de que não devemos resumi-la, subutilizá-la, restringi-la a apenas uma questão (por mais relevante que seja). 


A menina no mercado

Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...