segunda-feira, junho 29, 2009

Nossa Justiça Superior

Depois de ler e reler a notícia. Depois de consultar a Lei nº 8.069 de 13/07/1990 (o famoso ECA) e seu complemento, a Lei n° 9.975 de 23/06/2000. Depois de pensar e refletir e analisar novamente as notícias, em diferentes jornais online (por exemplo: aqui, aqui e aqui e na UNICEF) para me certificar que não era sacanagem... Chego a seguinte conclusão: é, sim, uma sacanagem!

O texto básico da notícia: segundo o STJ (Superior Tribunal de Justiça) não é crime pagar por sexo com menores. Isso mesmo. Seguindo o que foi decidido no Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul, os Superiores absolveram os réus, que ainda se aproveitaram para tirar fotos das menores, infringindo mais um artigo do ECA.

Segundo o Juiz estadual "as prostitutas esperam o cliente na rua e já não são mais pessoas que gozam de uma boa imagem perante a sociedade". Eu diria que, após tão infeliz declaração, na qual ignorou o agravante de serem menores, nem o distinto cavalheiro gozará de "boa imagem" seja lá o que isso significo para o meritíssimo.

No STJ, essa absurda decisão do TJ MS, foi mantida pela Quinta Turma (*), cujo relator é o ministro Arnaldo Esteves Lima. Os ministros entenderam "que cliente ou usuário de serviço oferecido por prostituta não se enquadra no crime previsto no artigo 244-A do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)."

(*) Dando nome aos bois: Napoleão Maia Filho, Felix Fischer, Laurita Vaz, Arnaldo Esteves Lima e Jorge Mussi

O que já se comenta, após essa decisão Superior, é que se cria um precedente para esse tipo de abuso, que não é tratado como crime. É um aval do Superior Tribunal de Justiça para o turismo sexual infantil, por exemplo.

A decisão do STJ e do TJMS considera como "clientes", "consumidores", os que buscaram os "serviços" das "prostitutas", pois eles não estariam "submetendo" as menores à prostituição, uma situação na qual elas já se encontravam. Nesse sentido, dizem que a questão não estaria prevista no Estatudo da Criança e do Adolescente. Eles dão outro sentido a cegueira da justiça.

Isso é um passo para a legalização e até regulamentação da prostituição infantil. É isso mesmo. Pensem bem. Se analisarmos o que está acontecendo, veremos que as menores que foram prostituídas estão sendo postas no mesmo nível de um entorpecente: a maconha, por exemplo. A droga existe, os consumidores existem. Como o Estado não está tendo competência para cuidar do assunto, e não quer encarar o problema de frente, prefere ser tolerante com o consumidor e, com isso, não precisa cuidar do problema.

A decisão dos Tribunais mostra que a leniência com o "consumidor/cliente" já é uma realidade. A situação das menores também nos mostra que não estão cuidando do "problema".

domingo, junho 28, 2009

Clipping: Bolsa Ditadura

"Se alguém quisesse produzir um veneno capaz de desmoralizar a esquerda sexagenária brasileira, dificilmente chegaria a algo parecido com o Bolsa Ditadura" (...). Elio Gaspari - O Globo 28/06/2009. Clique na imagem.

sábado, junho 27, 2009

Não circular? Como assim?

As maracutaias no Senado Federal são muito instrutivas. Primeiro, porque podemos ver o que estão fazendo, ou deixando de fazer, aqueles que por nós eleitos (obs.: nunca votei no Sarney!). Depois, mas não por último, nos brinda com material para uma discussão mais ampla sobre alguns assuntos. Um deles é a questão do acesso às informações públicas.

Quando se fala em ato secreto, estamos diante de uma informação que foi classificada de modo a não chegar ao conhecimento público. Processos formalizados, documentados, registrados de alguma forma, porém não publicizados.

"É assegurado o direito de acesso pleno aos documentos públicos." Artigo 22° da Lei Federal n° 8.159, de 8 de Janeiro de 1991.

Até aí tudo bem. A legislação prevê que certas informações poderão mesmo ser classificadas e, com isso, seu acesso será restrito.

"todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado" - inciso XXXIII do artigo 5° da Constituição Federal.

Mas será que um senador ou secretário seja lá de quê, tem poder legal para tanto? Pelo que sei, não é uma pessoa ou outra dentro do governo que pode decidir se um documento público [produzido ou recebido por um órgão público] é secreto ou não.

"Fica instituída, no âmbito da Casa Civil da Presidência da República, a Comissão de Averiguação e Análise de Informações Sigilosas, com a finalidade de decidir pela aplicação da ressalva prevista na parte final do inciso XXXIII" citado anteriormente - Artigo 4°do Decreto n° 5.301 de 9 de Dezembro de 2004.

Essa comissão é composta pelos seguintes membros: Ministro de Estado Chefe da Casa Civil da Presidência da República, que a coordenará; Ministro de Estado Chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República; Ministro de Estado da Justiça; Ministro de Estado da Defesa; Ministro de Estado das Relações Exteriores; Advogado-Geral da União e Secretário Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República.

Bem, depois disso tudo, concluo que alguém descumpriu a lei.

Outro aspecto interessante, e que me veio à mente hoje, quanto à aplicação desse aparato legal que rege os documentos produzidos e recebidos por órgãos públicos, se refere aos documentos eletrônicos. Neste caso, mais especificamente, os e-mails.

A idéia de que documento é papel, faz com que relaxemos quanto aos e-mails que circulam em órgão públicos. Em notícia recente, publicada no Estadão, sobre as maracutaias secretas do Senado, o e-mail é apresentado como prova. "E-mails mostram que ordem para atos secretos partia de Agaciel".

"O Ministério Público Federal obteve a primeira prova material de que a produção em série dos atos secretos no Senado era intencional e operacionalizada pelo ex-diretor Agaciel Maia. São e-mails remetidos pela Diretoria-Geral, com determinação de sigilo, à Secretaria de Recursos Humanos, então chefiada por João Carlos Zoghbi."

Não sei de quantos e-mails estamos falando ou de como foi o acesso a tais informações. Porém, fica a pergunta, temos hoje condições de práticas de acesso a todas as informações públicas, inclusive os e-mails?
O paradoxo de Chaves

Há alguns dias li um texto de Carlos Machado Allison no venezuelano El Universal sobre a política alimentar de Chaves. Traçava o paradoxo que existe entre as ações do governo venezuelano no que se refere a uma política de soberania alimentar. O subtítulo do texto ("Por encima del socialismo del siglo XXI, se encuentra el pragmatismo del siglo XX") ilustra bem o que está acontecendo na Venezuela.

Segundo o autor, o governo venezuelano busca o que chama de uma soberania alimentar pela via mais simples, com importações (a troco de abundantes petrodólares - PDVSA), e não pelo caminho mais longo (e complexo) que seria com a produção nacional. Com o governo subsidiando a alimentação, aumenta-se o número de consumidores (e eleitores) sem proporcional crescimento de produtores. Allison ilustra o pragmatismo com o fato de o governo venezuelano ter dado mais poder ao Ministério da Alimentação do que ao Ministério da Agricultura e Terras.

A política insustentável a médio e longo prazo, exposta no texto publicado no El Universal, vai ao encontro de uma matéria publicada anteontem no Estadão: "Crise e escassez levam Chávez a subir preços tabelados em até 147%".

Causa e efeito. Pura e simplesmente.
Reeditem História Geral da África!

Há pouco mais de duas décadas, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) lançou a coleção História Geral da África (General History of Africa). São oito volumes, tendo a direção do primeiro sido coordenada pelo grande professor Joseph Ki-Zerbo. Com certeza, em seu conjunto, a obra é uma das mais importantes já publicadas sobre o continente africano.

No Brasil, a UNESCO se associou à Editora Ática, hoje pertencente ao grupo Abril, para lançamento da coleção em nosso idioma. Isso muito antes de termos uma Lei federal (10.639) que seria mais do que incentivo para publicação de tal obra.

Tomei conhecimento da coleção numa de minhas pesquisas sobre o continente africano. Adquiri os volumes I e II num sebo do Centro do Rio, ambos em inglês. Pouco depois é que tive conhecimento da edição em parceria com a Ática. Na busca no site da editora, somente um volume é encontrado, e está indisponível. Na busca pelos sebos (Estante Virtual), me listam sempre as edições I e II, porém, com preços variando de R$ 85 a R$ 400. Isso mostra como a tiragem foi pequena. São raros.

Não será um ato de bondade ou incentivo à educação que levará uma editora desse porte a editar um livro. Ela tem de lucrar, em primeiro lugar. Mas o fato é que o incentivo comercial está posto, é evidente. Existe carência de publicações e, com a Lei despertando interesses diversos (acadêmicos ou não), é incompreensível que ainda não reeditaram a coleção.

Já escrevi para a Editora através do “fale conosco” do site, mas ainda não recebi resposta. O e-mail da editora é editora@atica.com.br. Essa informação (o e-mail) não é secreta, uma vez que consta do site da Abrelivros (Associação Brasileira de Editores de Livros), da qual a Ática é associada, para quem quiser ver.

Não sou o primeiro a relatar esse que considero um absurdo. O jornal online Irohin, em 2007, já trazia uma matéria sobre a publicação, onde considerava como desastre o fato de ainda não terem reeditado a coleção.

Por isso, gostaria de conclamar a todos os que têm interesse numa reedição da obra para que escrevam a Editora Ática fazendo esse pedido: Por favor, reeditem História Geral da África! Talvez eles acordem.

terça-feira, junho 23, 2009

Divagações novelístico-sociológicas

Confesso: sou um noveleiro! Apesar da promessa básica ("usarei esse tempo para estudar") ao fim de toda novela das oito, continuo acompanhando a próxima. A bola da vez é Caminho das Índias, novela brasileira, que se passa no circuito Índia, Dubai, Barra, Lapa, com atores brasileiros, trilha sonora, em parte, de língua inglesa, assistida numa televisão de marca japonesa, comprada nas lojas Americanas e que já está precisando de um controle novo, daqueles genéricos, feitos na China. É a globalização.

Mas, voltando ao rumo... Novela também é cultura, ou tema para análises sociológicas. Hoje, por exemplo, numa das cenas do núcleo indiano, Camila (Ísis Valverde), a esposa brasileira do jovem indiano Ravi (Caio Blat), é interrompida pelo marido ao questionar o passado de Laksmi (Laura Cardoso) e Shankar (Lima Duarte). Ravi, pedindo que ela não toque no assunto dentro de casa, diz: "aquilo que não se diz e não se pensa, não existe".

Como sempre, e por falta do que fazer (embora tenha muito que estudar... concursos), minha mente divagou e fiz mais uma de minhas analogias. A frase de Ravi, vejam só, me fez pensar no discurso "arracial" (e que, muitas vezes, esconde o desejo de manutenção do status quo, da desigualdade) que diz a mesma coisa: se não falarmos em racismo, se não pensarmos em racismo, ele não existe.

Eu até tento seguir esse mantra. Abstraio, respiro fundo e não penso no "assunto". Mas, infelizmente, sempre tem alguém (de quaisquer castas) para estragar minha meditação, minha fantasia, minha "tentativa". E fazem isso me arremessando em nossa (da sociedade, da comunidade) realidade. Seguido por seguranças e funcionários no mercado, na livraria; evitado nas calçadas (mesmo à luz do dia); desacreditado ao me apresentar como responsável por alguma atividade (olhares assustados, decepcionados, desolados, interrogadores, perdidos ao se deparar com algo... inusitado); isso sem falar nos bancos, nos restaurantes, nas portarias, nos elevadores...

Desse modo meu mantra é quebrado. Meu momento de felicidade transcendental é atirado no poço da complexidade das relações sociais definidas pela cor da pele. Mesmo sem falar, mesmo sem pensar, eu sofro. E não posso entender e combater e eliminar algo sobre o qual não reflito, algo sobre o qual não me pronuncio. Então, mudo e mentalmente bloqueado, sofro. Mas como pode algo que não se fala e não se pensa, causar sofrimento. Já sei. É simples. Isso existe!

Baguan Kelie!!
Axé, Besouro Mangangá!

Assisti agora a pouco, no site do G1, o trailer de um filme que promete. Efeitos de ficções hollywoodianas com tempero brasileiro. Trata-se de Besouro, de João Daniel Tikhomiroff, que define o filme como um espetáculo de aventura, onde a paixão, o misticismo e a emoção têm papel central.

Uma história de aventura, misturando registros históricos e ficção, que se passa no Recôncavo Baiano dos anos 20 e tem um capoeirista como personagem central.

domingo, junho 21, 2009

Suprema Prosperidade Federal

Assumir a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) fez bem aos negócios de Gilmar Mendes. Desde que passou a ocupar o posto, sua escola, o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP) expandiu o número de contratos com órgãos públicos. Todos sem licitação.

Leia na íntegra.
Fonte: Carta Capital (site)
Sim. Ontem.

No vídeo abaixo, Lucrécia Paco, atriz moçambicana, levanta a questão pertinente de que não basta enviar dinheiro para os países em desenvolvimento. É preciso, antes de mais, verificar como esse dinheiro está a ser utilizado e se de facto chega às mãos daqueles que mais precisam. Só assim se poderá começar a construir um novo futuro.



O vídeo é apenas para que conheçam alguém que eu também não conhecia até ler uma matéria hoje no G1. É essa reportagem, de Eliane Brum, que gostaria de divulgar. Tudo começa com uma pergunta: “Você já sofreu discriminação por ser negra?”. Clique aqui para ler o texto.

sexta-feira, junho 19, 2009

Petro Blog

Quando recebi a mensagem informando da estréia da Petrobras no mundo dos blogs, fiquei curioso. Logo na primeira semana, com a repercussão de reportagens - expostas no blog de maneira mais ampla do que normalmente tornam-se disponíveis, isto é, a matéria "bruta" e a "lapidada" pelo jornalistas - eu, sinceramente, fiquei com um pé atrás sobre o que esse novo canal de comunicação da empresa traria. Continuo, claro, com um pé atrás, desconfio. Um grupo tão poderoso social, política e economicamente, a nível transnacional, pois tem o petróleo como carro-chefe, mantem seus segredos, tem suas táticas. Eles não dão ponto sem nó, não são inocentes ou bobos. E espero que não me considerem como tal a ponto de acreditar que é tudo pela "transperência". Mas é um passo para a transparência, e um passo importante.

O artigo abaixo, de Ladislau Dowbor, publicado recentemente no Jornal do Brasil, permite que reflitamos sobre essa questão do blog, sem o calor quase imposto pela grande mídia.



Uma coisa é certa, devemos ficar atentos (ou ignorar tudo, por completo... tem seu lado bom) para não cair na armadilha dos que amam a Petrobras, nem na arapuca dos que a odeiam. Fundamentalismos ideológicos, generalizações e um toque de etnocentrismo disciplinar (ou o jornalismo como se conhece ou a liberdade de uma empresa fazer o que quer com a informação que produz ou co-produz) constitui, recorrendo a Bachelard, obstáculo epistemológico.

quinta-feira, junho 18, 2009

Pessoas comuns

Tenho lido poucas notícias e assistido pouco os telejornais. Rádio? Raramente. Na maioria das vezes para tomar conhecimento, muito superficialmente, de notícias locais. A cobertura do acidente aéreo com o avião da Air France foi desgastante. As maracutaias parlamentares continuam me enojando. Estão ficando repetitivas as discussões sobre as questões raciais (oops, raça não existe; e nem adianta argumentar em termos sociológicos)... questões, então, digamos... hum... de cor da pele?, de origem?, de afro-descendência?, bem, essas questões surgidas (?) quando se fala de cotas em universidades (pode ser impressão ou implicância minha, mas O Globo tem deixado bem evidente sua sintonia com o diretor-executivo de jornalismo da Rede Globo). Já estou cansado também (mudo de canal, desligo o rádio, etc.) de ver um tal Luiz da Silva dizer o que bem entende e ser aclamado como um baluarte da palavra. Trinta e um anos e já estou de saco cheio de tanta coisa! Preciso espairecer. Isso é certo.

Parte desse meu distanciamento das notícias se deve, também, ao ritmo de trabalho. E o cansaço com tanto blablablá em jornais, rádio e televisão, é ampliado pelo desgaste físico, emocional e psicológico do trabalho. Sou uma pessoa comum, com um emprego comum e fraquezas comuns. Um ser humano autêntico, como alguns diriam.

Sendo uma pessoa comum, eu estou sujeito aos mesmos acontecimentos, ações e consequências que toda pessoa comum. Tenho direito e deveres. Erro e acerto. Critico e sou criticado. Falo e escuto. Como uma pessoa comum, e reconhecendo que muitas pessoas comuns não têm o mesmo privilégio, eu, como disse anteriormente, tendo um emprego comum. E, como deveria ser comum, para continuar nesse emprego, mantenho um acordo formal e tácito com meu empregador: eu exerço uma atividade laboral e sou remunerado por isso. E, nesse acordo, está igualmente formalizado e implícito, além de ser exigido, com ou sem vigilância direta, que eu seja honesto, que zele pelo patrimônio da empresa, que respeite aqueles para quem trabalho, façam eles parte de minha atividade-meio (chefe, gerente e demais superiores hierárquicos, colegas de igual nível hierárquico de mesmo setor ou não, funcionários e colaboradores nas atividades de suporte, limpeza, e outros) ou da atividade-fim da empresa (público alvo, consumidor, sociedade...). Como pessoa comum que sou, também posso ser alvo de sanções no nível empresarial, ou mesmo da sociedade, caso, em benefício próprio ou de outrem, cometa ações que desrespeitem o acordo com a empresa e ou extrapole meus direitos e/ou deveres enquanto pessoa comum.

Sendo uma pessoa comum eu também sinto fome, sede, calor, frio, durmo, tenho insonia, envelheço... E sou mortal. Pelo menos espero que seja, pois a finitude e a mortalidade (ou, pelo menos, a consciência de tal) é, digamos, tranquilizante.

Mas existem pessoas bem diferentes. Parecem estar acima do bem e do mal. Pessoas para as quais erros e acertos são conceitos filosóficos não aplicáveis a si. Pessoas para as quais direitos e deveres são moldados a seu bel prazer, e de maneira a garantir que a primeira opção seja a única aplicada e aplicável a si e aos seus. Pessoas que falam unilateralmente. Pessoas envolvidas numa redoma que deve ser respeitada e nunca maculada com críticas. Essas pessoas também conseguem empregos, porém, o acordo com o empregador esmaece na entrevista para o posto, desaparecendo pouco depois da investidura. Ocupam tal posto como que fazendo um favor ao empregador. O respeito é demonstrado - em forma de complacência, conivência, negociatas, acordões e maracutaias mil – com parte daqueles integrantes e congêneres das atividades-meio. Já os formadores, o público que deveria ser beneficiado pela atividade-fim, é tido como mero empecilho. Honestidade, para essas pessoas, é algo que destoa totalmente daquilo que se espera de uma pessoa comum. Além disso, essas pessoas parecem ser imortais, pois parecem renascer das cinzas quando pensamos, ou até esperamos, que já tenham desaparecido. Essas, meus caros, são as pessoas fora do comum.

Uma dessas pessoas, como bem apontou Luiz da Silva em-quem-não-votei, atualmente ocupa a presidência do Senado Federal. Trata-se de José do Maranhão (na verdade o Maranhão parece ser desse José... e dos seus), aquele que não sabe e que não viu (assim como Luiz da Silva) e, mesmo sabendo e vendo, nada tem com isso. É imune e segundo Luiz da Silva, “tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum”. Com isso, seria uma injustiça e um desrespeito se eu, uma pessoa comum, criticasse ou apontasse ou denunciasse os erros, crimes, desvios, dessa pessoa fora do comum que é José do Maranhão.

Eu continuo aqui, sendo uma pessoa comum, agora irei tomar um banho como uma pessoa comum, e assistir a novela, como algumas pessoas comuns (ou não). E, já de saco cheio de tudo, como disse anteriormente, mantenho a esperança, fico na expectativa, como uma pessoa comum, de que essas tais pessoas fora do comum se tornem... mais comuns. Finitos. E bem depressa!

terça-feira, junho 16, 2009

Ruanda: Lembrar para evitar



Exibido em 20/05/2009 no programa Arquivo N da GloboNews. Sinopse: Há 15 anos, em 1994, um genocídio vitimou mais de 800 mil pessoas em Ruanda, na África. Duas etnias se enfrentaram durante 100 dias. Uma das maiores tragédias do século XX.

quinta-feira, junho 11, 2009

Arquivo Técnico e Administrativo

Nesta postagem eu gostaria de refletir um pouco sobre a importância ou foco que as empresas dão a um ou outros dos seus diferentes tipos de arquivos, ignorando o tratamento ou abordagem, digamos, global, da informação. Na empresa em que trabalho existem vários arquivos setoriais ditos técnicos. Arquivo Técnico, segundo definição do Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística, é o arquivo com predominância de documentos decorrentes do exercício das atividades-fim de uma instituição ou unidade administrativa.

Realmente, na empresa, estes arquivos tem sua atuação voltada para as informações técnicas da empresa (plantas, projetos, etc.), e pelo que vejo atuam mais como áreas de armazenamento e reprografia.

Para se ter uma ideia do quanto a balança pende para o lado do arquivo técnico, basta notar que esta mesma empresa conta com um órgão central que, já no nome, entende-se como atue mais globalmente, focando a informação, porém o que vemos é uma atuação mais voltada para a informação técnica. Trata-se do CID – Centro de Informação e Documentação.

Ora, nenhuma empresa ou instituição vive de informações técnicas, por mais tecnicista que seja sua área de atuação. Não se pode olhar apenas a atividade-fim de quaisquer negócios sem cuidar daquelas que servem de suporte, as atividades-meio. Por isso, faz-se necessário olhar, também, para os arquivos administrativos que, no mesmo dicionário citado anteriormente são definidos como aqueles com predominância de documentos decorrentes do exercício das atividades-meio.

Uma gestão documental que se prende mais num tipo de documentação, deixando de lado outro(s) é falha. Prejudica o uso da informação tanto para as atividades-fim como para as atividades-meio, emperrando diversas áreas da empresa que deveriam estar integradas.
O funk abatido

Ontem fui ao Canecão, para o Baile dos Namorados da Orquestra Imperial, a convite de um integrante da Banda, o Trombonista Bidu Cordeiro. Um show muito animado, como todas as apresentações do grupo e que, como sempre, no intervalo, conta com a participação do DJ Malboro (ou Marlboro; como queiram). O DJ, hoje envolvido num escândalo de pedofilia, há muito tempo é conhecido por sua atuação no “mundo funk”. Mas não é sobre ele, ou sobre a acusação que sofre, o assunto desta postagem.

As músicas que ele tocou ontem no baile, muitas delas são velhas conhecidas. Algumas com mais de 10 anos! Então, o que quero é falar do funk. E falando do funk, eu quero comentar sobre como o preconceito, como sempre, foi prejudicial para toda a sociedade.

Nascido e criado em Mesquita, hoje cidade (pois foi emancipado) da Baixada Fluminense, região vitimada pelo preconceito da sociedade e pelo descaso do Estado há muitas décadas, tive o funk como trilha sonora de várias festas, como música acessível, falando sobre nossas coisas, nosso cotidiano, nosso modo de ser e em “nossa” língua. Uma manifestação cultural que, embora tenha se originado fora das fronteiras de nosso país, foi moldada e transformada para renascer nas favelas, nos subúrbios, na Baixada Fluminense.

Sendo a sociedade dominada por uma minoria que define o que é bom ou não, o funk foi então taxado de ruim. Não era uma cultura ou manifestação cultural autêntica ou admissível, era promíscuo e violento. O funk então não prestava, era feio, muito preto, muito pobre e muito favelado.

Não cheguei a frequentar um baile funk propriamente dito, como o do Mesquitão (como chamavam o baile do Mesquita Futebol Clube). Eu era muito novo e, verdade seja dita, muito paradão (mudei alguma coisa?). Mas, quando comecei a trabalhar, eu ia na Must, uma discoteca em Nova Iguaçu que, a partir de certa hora, se transformava num baile funk. Lá pude assistir, inclusive, duplas que se tornariam conhecidas país a fora, como o Claudinho e Buchecha.

Eu via alegria, descontração. E, desde muito antes dessa experiência, dessa ambientação, eu ouvia letras cheias de humor, letras que contavam situações reais naquele momento e, principalmente (e agora chego ao ponto que quero) letras carregadas de crítica à pobreza, à violência, ao descaso dos governantes, à cegueira consciente e hipócrita das elites, letras que clamavam por paz, por dignidade, por dias melhores.

Os Raps (como eram conhecidas as músicas que tocavam nos bailes), ou simplesmente os funks, valorizavam cada favela ou localidade pobre, onde o movimento tinha seu valor, ganhava força, onde os bailes ocorriam, onde os funkeiros estavam, de onde os MCs (os cantores/compositores dos Raps) vinham.

Aquela espécie de trigo que nascia e crescia à margem da sociedade mandante era visto como algo ruim, negativo. Então passaram a valorizar o joio. Se brigas ocorriam num baile, todos os bailes foram taxados como campo de barbárie. Se letras faziam apologia ao crime, como realmente ocorreu e ocorre (graças ao fortalecimento do bandido pela ausência do Estado), todas as letras de funk eram criminosas.

Focalizando o lado ruim, não valorizaram o que nascia de bom. Não valorizaram o que valorizava o pobre, o preto e favelado. Fico pensando: será que foi medo? Talvez um medo inconsciente. Se coloquem no lugar deles (a elite da época, governos ou não) ouvindo aquelas letras que criticavam a pobreza, que pediam a união das favelas. Eram letras de quem estava pensando, compreendendo o que acontecia a sua volta e querendo mudança. Era, de fato, uma ameaça ao que estava estabelecido.

Com o passar do tempo, o que era negativo foi absorvido pela sociedade, foi sendo aceito a trancos e barrancos. Sem a ameaça das letras que faziam pensar, refletir, o povo continuou sendo marcado, e ficando feliz. Numa mansidão conveniente para muitos.

E ontem lá estava eu. Da Must para o Canecão. Lado a lado com outros de minha idade, alguns mais novos, alguns mais velhos. Estavam lá, chegados de taxi ou com seus carros, consumindo Skol a R$ 5,50 a latinha, alguns fumando maconha na segurança de seu ambiente elitizado, próximos a suas casas na Zona Sul. A maioria, com certeza, ignora o que aconteceu com o funk até ali. Como algo antes criticado, atacado, negligenciado, e até temido, pôde se tornar adorado ali naquele baile e aceitável na sociedade.

Enquanto isso, o que ocorreu naqueles ambientes que valorizaram o funk no passado, quando o funk era discriminado? Eu posso lhes contar sobre Mesquita, pelo menos o que vejo: o que foi valorizado pelos de dentro e criticado pelos de fora, perdeu força. Ganhou espaço justamente o que era criticado nas letras de então.

É como uma criança que faz coisas boas e ruins. Se os pais valorizarem sempre as coisas ruins e negligenciarem as boas, algum dia o que foi valorizado prevalece.

A menina no mercado

Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...