Na van
Estava eu indo à Mesquita (a cidade, não o templo) e, como quase sempre, fazendo uso do transporte alternativo. Não que eu seja afeito a Vans, mas o transporte oficial que liga Mesquita ao Centro do Rio, mais especificamente à Praça Mauá (dando nome aos bois: linha 005 e 131; empresa: Transmil), não atende a população. Ônibus precários, longas esperas e alto custo da passagem, contribuem para que o oficial perca para o oficioso. Sinceramente, ambos deixam a desejar.
Pois bem, conversas em transporte público, alternativo ou não, muitas vezes são interessantes. É bem verdade que, na maioria, são caóticas, deprimentes, incômodas. Mas a que me refiro, que poderia muito bem ser tema de um estudo, tem haver com ética, corrupção, conceitos e outras coisas mais que se possa extrair daquilo tudo.
Van cheia, sem cabeça para ler um livro (espécie de salva vidas, sempre próximo) as conversas, ou melhor, a conversa, preencheu o tempo. Não participei. Apenas ouvi e me impressionei. Falavam sobre energia elétrica. Mais especificamente sobre o furto desta, o famoso “gato”. “Em minha casa existe um leão”, dizia um, o mesmo que dava as dicas para um “gato” bem feito. “Você não pode sair de uma média de 40, 45 reais e reduzir logo pra 20. Eles desconfiam”. Tudo isso numa naturalidade…
Também criticaram a nova tecnologia de medidores da Light, que os instala em postes e agrupados, e não internamente. Isso faz com que o acompanhamento (sic) pelo consumidor fique comprometido, uma vez que a checagem das informações do relógio fica dificultada pela distância. Da mesma forma, tal mudança gerou um aumento nas contas, fazendo com que muitos consumidores revoltados destruíssem, literalmente, os medidores. Isso eu vi. Ateavam fogo. Como se o medidor representasse o responsável na Light. Era a vingança da população, que não vê resultados nos meios disponíveis para reclamações.
Mas voltemos ao bate-papo no transporte alternativo. Outra maneira de furtar energia foi comentada. Essa me impressionou ainda mais. Tratava-se, grosso modo, de interromper o movimento do relógio, por travamento do disco. Da mesma forma, as técnicas eram apresentadas e discutidas com extrema naturalidade. Um apresentando ao outro, maneiras de sobrevivência. O jeitinho.
Quero deixar claro que sou contra o “gato”. Já fui vítima, durante mais de um ano, quando foi desfeito (não foi descoberto, mas desfeito) e a conta teve redução de 40%. Assim, de uma hora para outra. O caso foi apresentado à Light, mas ficou provado o desprezo. O furto era indireto.
Quando comentamos sobre corrupção, normalmente o alvo é Brasília. Onde algumas centenas de funcionários públicos, pagos para representar a maioria da população, atuam em benefício próprio. Puro reducionismo de algo bem mais amplo. Uma de minhas primeiras postagens aqui no blog dizia respeito binômio ética-moral. Foi um texto onde comentei o aumento de salários que os parlamentares estavam se dando. Aumento esse que, por sinal, voltou à pauta da Câmara, nesses tempos de barganha pela CPMF.
Mas a cada conversa que presencio, a cada declaração que ouço, não de parlamentares, mas dos que os elegeram, me faz acreditar que se alguns eleitores tivessem a oportunidade de seguir carreira pública, se comportariam da mesmíssima maneira que os ladrões tão criticados. Corrupção de baixo para cima, de cima para baixo, de um lado para o outro.
O “gato”, pelos que fazem, não é considerado como furto de energia, como crime, assim como o desvio de verba pública é tido como normal por alguns. Pensam eles que, se a concessionária de energia elétrica presta um serviço aquém do que se espera, têm o ‘direito’ de roubá-la. O fato de prejudicar o vizinho, quando o gato é feito indiretamente, ou mesmo de comprometer todo o sistema (segurança, preços, etc.), quando o roubo se dá na alta tensão, no poste, não causa nenhum constrangimento a tais pessoas. O respeito com o próximo inexiste. A consciência do coletivo é uma piada. Essas são as mesmas pessoas que, ao lerem os jornais, quando o fazem, xingam seus iguais, em Brasília.
E para dar outro exemplo dessa mentalidade, sem sair da Van, basta que nos lembremos das saídas de ar-condicionado (quanto existe) na primeira fileira de bancos logo atrás do motorista. Quando a temperatura está alta e esse conforto é mais apreciado, quem senta ali, direciona as saídas para si, sem pensar (ou mesmo de forma consciente, pois o mal existe) naqueles que se encontram nos últimos bancos.
A Van está cheira. E eu também.
Estava eu indo à Mesquita (a cidade, não o templo) e, como quase sempre, fazendo uso do transporte alternativo. Não que eu seja afeito a Vans, mas o transporte oficial que liga Mesquita ao Centro do Rio, mais especificamente à Praça Mauá (dando nome aos bois: linha 005 e 131; empresa: Transmil), não atende a população. Ônibus precários, longas esperas e alto custo da passagem, contribuem para que o oficial perca para o oficioso. Sinceramente, ambos deixam a desejar.
Pois bem, conversas em transporte público, alternativo ou não, muitas vezes são interessantes. É bem verdade que, na maioria, são caóticas, deprimentes, incômodas. Mas a que me refiro, que poderia muito bem ser tema de um estudo, tem haver com ética, corrupção, conceitos e outras coisas mais que se possa extrair daquilo tudo.
Van cheia, sem cabeça para ler um livro (espécie de salva vidas, sempre próximo) as conversas, ou melhor, a conversa, preencheu o tempo. Não participei. Apenas ouvi e me impressionei. Falavam sobre energia elétrica. Mais especificamente sobre o furto desta, o famoso “gato”. “Em minha casa existe um leão”, dizia um, o mesmo que dava as dicas para um “gato” bem feito. “Você não pode sair de uma média de 40, 45 reais e reduzir logo pra 20. Eles desconfiam”. Tudo isso numa naturalidade…
Também criticaram a nova tecnologia de medidores da Light, que os instala em postes e agrupados, e não internamente. Isso faz com que o acompanhamento (sic) pelo consumidor fique comprometido, uma vez que a checagem das informações do relógio fica dificultada pela distância. Da mesma forma, tal mudança gerou um aumento nas contas, fazendo com que muitos consumidores revoltados destruíssem, literalmente, os medidores. Isso eu vi. Ateavam fogo. Como se o medidor representasse o responsável na Light. Era a vingança da população, que não vê resultados nos meios disponíveis para reclamações.
Mas voltemos ao bate-papo no transporte alternativo. Outra maneira de furtar energia foi comentada. Essa me impressionou ainda mais. Tratava-se, grosso modo, de interromper o movimento do relógio, por travamento do disco. Da mesma forma, as técnicas eram apresentadas e discutidas com extrema naturalidade. Um apresentando ao outro, maneiras de sobrevivência. O jeitinho.
Quero deixar claro que sou contra o “gato”. Já fui vítima, durante mais de um ano, quando foi desfeito (não foi descoberto, mas desfeito) e a conta teve redução de 40%. Assim, de uma hora para outra. O caso foi apresentado à Light, mas ficou provado o desprezo. O furto era indireto.
Quando comentamos sobre corrupção, normalmente o alvo é Brasília. Onde algumas centenas de funcionários públicos, pagos para representar a maioria da população, atuam em benefício próprio. Puro reducionismo de algo bem mais amplo. Uma de minhas primeiras postagens aqui no blog dizia respeito binômio ética-moral. Foi um texto onde comentei o aumento de salários que os parlamentares estavam se dando. Aumento esse que, por sinal, voltou à pauta da Câmara, nesses tempos de barganha pela CPMF.
Mas a cada conversa que presencio, a cada declaração que ouço, não de parlamentares, mas dos que os elegeram, me faz acreditar que se alguns eleitores tivessem a oportunidade de seguir carreira pública, se comportariam da mesmíssima maneira que os ladrões tão criticados. Corrupção de baixo para cima, de cima para baixo, de um lado para o outro.
O “gato”, pelos que fazem, não é considerado como furto de energia, como crime, assim como o desvio de verba pública é tido como normal por alguns. Pensam eles que, se a concessionária de energia elétrica presta um serviço aquém do que se espera, têm o ‘direito’ de roubá-la. O fato de prejudicar o vizinho, quando o gato é feito indiretamente, ou mesmo de comprometer todo o sistema (segurança, preços, etc.), quando o roubo se dá na alta tensão, no poste, não causa nenhum constrangimento a tais pessoas. O respeito com o próximo inexiste. A consciência do coletivo é uma piada. Essas são as mesmas pessoas que, ao lerem os jornais, quando o fazem, xingam seus iguais, em Brasília.
E para dar outro exemplo dessa mentalidade, sem sair da Van, basta que nos lembremos das saídas de ar-condicionado (quanto existe) na primeira fileira de bancos logo atrás do motorista. Quando a temperatura está alta e esse conforto é mais apreciado, quem senta ali, direciona as saídas para si, sem pensar (ou mesmo de forma consciente, pois o mal existe) naqueles que se encontram nos últimos bancos.
A Van está cheira. E eu também.
2 comentários:
E eu também estou cheia e cansada de sempre falar a mesma coisa. A oportunidade faz o ladrão!
É verdade. Infelizmente parte da população é tão corrupta quanto nossos governantes. Como você, ouço com freqüência comentários deste tipo, o que me entristece... Mas continuo fazendo minha parte, vejo que você faz a sua e muitos mais também. Temos que passar estes valores para a nossa descendência! Pena que os corruptos também transmitem este péssimo exemplo aos seus.
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