Retrato de um playboy
“Eu sou playboy filhinho de papai / Me afundo nessa bosta / Até não poder mais /Sou playboy filhinho de papai / Sou um débil mental / Somos todos iguais”
“Eu sou playboy filhinho de papai / Me afundo nessa bosta / Até não poder mais /Sou playboy filhinho de papai / Sou um débil mental / Somos todos iguais”
Esse é o refrão da música Retrato de um Playboy, de Gabriel O Pensador, lançada a mais de 10 anos. Me recordo que muitos criticaram o teor da letra. Basicamente falando de uma categoria que teve de tudo (em termos financeiros e estruturais) e, mesmo assim, procura externar na sociedade uma certa revolta não justificada. Naquela época algo já acontecia… e continuou a acontecer.
“…E por falar em pão que eu como todo dia / Eu me lembrei da empregada que se chama Maria / Ela me dá comida me dá roupa lavada / Mas quando eu tô presente ela é sempre humilhada / Você precisa ver como eu trato a coitada / Eu a rebaixo a esculacho e fico dando risada…”; é mais um parte da música. Para letra completa, clique aqui.
Os criminosos que espancaram e roubaram a empregada doméstica Sirlei estão numa categoria um pouco diferente. Além de algumas características do playboy retratado na letra do Pensador, esses estariam de certa forma mais integrados à sociedade. Estudam e alguns trabalham, pelo que li. Talvez pare por aí as diferenças. O desprezo demonstrado é o mesmo daquele playboy.
O caso então seria mais complexo. Talvez até mais grave. As matérias recentes sobre o caso traçam um perfil violento, inconseqüente e marginal. O desprezo que demonstram com empregados do condomínio, com pessoas na rua, seria algo constante, comum em suas vidas.
“Se eu pudesse, pegava o meu filho e dava uma surra. Isso destruiu a minha vida e de toda a família. Eles fizeram uma bobagem e terão que pagar por isso. Queria dizer à sociedade que nós, pais, não temos culpa. Mas não é justo manter presas crianças que estão na faculdade, estão estudando, trabalham. Não concordo com a prisão na Polinter, ao lado de bandidos. Vão acabar com a vida deles. Peço ao juiz que dê uma chance aos nossos filhos". Esta foi uma declaração do pai de um dos agressores. Li no jornal A Tribuna Online. Os grifos são meus. Com certeza o crime deve tê-lo abalado, mas a declaração merece uma análise e comentários.
Primeiro: “Se eu pudesse, pegava o meu filho e dava uma surra” – O negócio então é bater. Isso resolve tudo. Assim como as “crianças” resolveram bater em Sirlei.
Segundo: “Isso destruiu a minha vida e de toda a família” – É. Também quase destruiu a vida de Sirlei. Mas, é só uma empregada né? E a família de Sirlei? Qual a importância?
Terceiro: “Eles fizeram uma bobagem” – Bobagem, segundo o Aurélio, seria: 1) Gracejo de bobo; 2) Ação ou dito de bobo; asneira; 3) Fato ou palavra inconveniente, 4) Besteira. Não, não foi bobagem o que eles fizeram. Isso é diminuir e muito. Eles cometeram um crime. E de forma covarde e cruel.
Quarto: “Queria dizer à sociedade que nós, pais, não temos culpa” – Será que se os filhos tivessem participado de ato nobre, benéfico e exemplar para a sociedade, os pais se iriam isentar de “culpa” ou responsabilidade? Acho que não. Então seria interessante o “pai” rever qual sua posição, sua parte, na criação e formação dos rapazes.
Quinto: “Mas não é justo manter presas crianças que estão na faculdade, estão estudando, trabalham” – O que é justo então? E crianças na faculdade? São crianças superdotadas ou o quê? E trabalham… então estamos diante de um caso de exploração do trabalho infantil! Não meu caro “pai”. Nada é justo. E não estamos falando de crianças. Falamos de adultos, maiores de idade, que tiveram oportunidade de estar cursando uma faculdade, num país onde a maioria não tem tal privilégio. E se eles têm emprego e é formal, são mais privilegiados ainda. Nada é justo.
Sexto: “Não concordo com a prisão na Polinter, ao lado de bandidos”. Ora, prisão é lugar de bandido, meu caro. Ou pelo menos deveria ser. Consultando novamente o Aurélio vejo que bandido significa malfeitor, pessoas de maus sentimentos. Não podemos chamar os garotos de benfeitores após o ato (ou atos) e muito menos dizer que o fizeram com bons sentimentos.
Sétimo: “Vão acabar com a vida deles” – Essa é forte! Talvez fosse melhor deixá-los continuar com a prática de espancar mulheres para que pudessem dar continuidade a suas vidas.
Oitavo: “Peço ao juiz que dê uma chance aos nossos filhos” – Penso que seus filhos tiveram e têm mais chances do que a grande maioria. É muita chance desperdiçada!
É, nada é justo!
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