segunda-feira, dezembro 03, 2007

Dando nome aos... ursos?

Há pouco mais de duas semanas uma professora britânica foi condenada à 15 dias de prisão. Isso inicialmente, pois, segundo as leis do país onde ocorreu o “crime”, a sentença poderia ter chegado a um ano de cadeia, quarenta chibatadas ou, como alguns exigiram nas ruas, a morte.

Recentemente, soube que um conhecido, brasileiro do nordeste, teve certas dificuldades durante uma viagem à trabalho aos EUA. Causa “aparente” (com duplo sentido): por suas características, físicas e faciais, foi tido como originário do Oriente Médio.

A primeira história esteve nos jornais do mundo, quase se tornando um incidente diplomático entre dois países. A segunda, poucos souberam. Mas ambas têm algo em comum: a relação entre duas culturas. Mesmo que, no segundo caso, por engano.

O produto do ódio é sempre mais ódio. Não posso afirmar o ponto em que tudo começou, o evento que originou tudo isso, mas atitudes que, infelizmente, se tornam comum de uma cultura para com a outra, alimentam tudo isso. No meio disso tudo, como marionetes de um espetáculo cruel e com fim sempre trágico, estão pessoas comuns.

O caso da professora, Gillian Gibbons, envolve muito mais que simples interpretação de um ato. Ela foi acusada de insultar o Islã ao permitir que seus alunos, de uma escola sudanesa, atribuíssem o nome do profeta Maomé a um ursinho de pelúcia. O que, a propósito, membros daquele colégio dizem que não foi idéia da professora. Mas nas ruas da capital sudanesa, centenas de manifestantes pediram a pena máxima para a professora. Era incerto o resultado. A tendência, porém, e a professora cumpriu alguns dias de prisão. Recebeu o perdão presidencial e deverá ser deportada.

O governo do Sudão, país onde ocorre uma das mais graves crises humanitárias da atualidade (em Darfur), subiu ao poder apoiado por Islamitas. Algum tempo depois impôs a Charia, lei Islâmica, a todo o país, desconsiderando a boa parcela de Cristão ao Sul do país. O resultado se pode imaginar.

Mas voltando a relação entre culturas. Após o ataque às Torres Gêmeas, a religião Islâmica passou a ser tida como religião dos terroristas ou, o que é mais comum, como a apoiadora e grande incentivadora de atos terroristas e do ódio ao Ocidente.

A segurança nos aeroportos se intensifica, tendo como alvo principal todo aquele que se aparenta com um muçulmano pelas características faciais, o que acho de extrema crueldade, mas tudo nessa história é cruel e irracional. E também dão mais “atenção” aos passageiros originários de países islâmicos ou onde o islamismo é religião predominante.

Essa visão e atitude para com muçulmanos têm uma conseqüência. Aquele que se sente oprimido e humilhado, em algum momento passa a se posicionar contra essa situação. O caso da professora inglesa pode ser considerado como uma postura ou resposta defensiva a mais um ato (tenha ou não feito) praticado pelo Ocidente contra a cultura islâmica. Notem que, segundo matéria da Al Jazeera, “nenhum dos pais fez objeção quando ela [a professora] os enviou circular sobre o projeto de leitura que incluía o urso, introduzido nas aulas em Setembro, como um participante ficcional”. E tomou essa proporção toda. Fica a pergunta: até quando?

Indico artigo "Attitude of West fuels hardliners"
de Steve Bloomfield para o jornal Independent.

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