terça-feira, novembro 13, 2007

Educação: um risco

No dia 6 de novembro, publiquei um texto no Jornal de Debates, numa proposta de discussão sobre educação. A proposta era “Por que a educação não tem prioridade no Brasil?”. Intitulei meu artigo com outra pergunta: “A quem interessa?”. Basicamente falo de dominação a partir da [falta de] educação. Poucos dias depois, 11, assisti no Fantástico uma reportagem que, embora, infelizmente nada tenha de novidade, me deixa triste e indignado.

Escolas caindo aos pedaços” foi o nome da matéria. Apresentou escolas do Maranhão (me lembrei de um imortal), Minas Gerais (onde tem um que quer ser e um que já foi), Alagoas (me lembrei muito do Renan) e Mato Grosso (riqueza, agronegócios, etc.). Estados onde oligarquias parecem resistir ao tempo.
Eram escolas municipais e estaduais. Públicas. Ensino fundamental. Na definição, fundamental é o que serve de fundamento, básico, base, alicerce... para o futuro. Futuro sem janelas, paredes ou teto. Futuro aos pés de uma mangueira. Ao sol, ao vento e ao relento. Fiquei pensando na falta de papel higiênico, estrutura, vazamentos, e outras características de universidades públicas. Uma evolução. Pelo menos as aulas ocorrem numa sala, com paredes e tudo o mais. Que sorte! Será que é uma gradação do sistema educacional vigente?

Recentemente também li algo sobre o Laptop, que pelo visto não sairá mais a 100 dólares, e que o governo pretende adquirir aos milhares. Isso, pelo visto, no âmbito do PDE (Plano de Desenvolvimento da Educação). É tanto plano. Alguns podem ser definidos como “fazendo algo que já deveríamos ter feito, pois consta na legislação”. Ainda têm esse negócio de um computador por aluno, todas as escolas conectadas à Internet. Que maravilha.

Realmente estão planejando o nosso futuro. Ah, e com certeza o plano contempla questões como profissionais habilitados para o ensino com essa “nova” ferramenta, assim como a manutenção desses equipamentos. Ambiente adequado já existe: à sombra de uma mangueira. É um risco.


Explicando o título desta postagem
Risco tem um duplo sentido. O primeiro como sendo algo arriscado. Se relaciona ao risco que para alguns representa a democratização do ensino, da educação, do cultivo do pensamento, do desenvolvimento da crítica. É arriscado uma vez que pessoas "educadas" tendem a contestar o que lhes está sendo imposto. No mesmo sentido é o risco que aquelas crianças e seus professores-heróis correm - primeiro ao ficarem tão expostos à precariedade daquelas estruturas, com quadros sendo derrubados pelo vento, que também derruba mangas nas cabeças dos alunos; depois por ficarem expostos a um futuro sem perspectiva, uma vez que o status quo está sendo mantido.
O segundo sentido seria no mesmo contexto de riscando do mapa. Eliminando, apagando, enfraquecendo. Seria, na verdade, uma espécie de ação (revestida de políticas públicas falhas) do primeiro sentido. Para não correrem o risco... riscam a educação do mapa.

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