terça-feira, abril 08, 2008

Médicos daqui e de lá

É bom ver que podemos contar com profissionais de outros estados num momento tão crítico da epidemia que assola o Rio. Mas tudo isso merece reflexão.

Penso que estão fazendo de um problema de saúde pública uma maneira de aparecer em tempo de eleição. Todo o alarde com a chegada dos médicos não me parece algo sereno, realmente preocupado com a resolução ou amenização do problema.

Quando falam em diárias, passagens aéreas e hospedagem, montagem de hospitais de campanha, cursos, etc., não posso deixar de pensar nos médicos daqui. Nada contra a vinda de outros, é sempre boa a troca de experiência entre profissionais de uma mesma área e com realidades distintas, num mesmo país. Isso deveria ocorrer normalmente.

Mas não faz muito tempo que a grande mídia exibiu cenas dos protestos de profissionais de saúde (daqui) em hospitais públicos por condições mínimas de exercerem seu ofício. E lembram-se do "choque de gestão" na saúde, prometido pelo atual ocupante do governo estadual no início de seu mandato? Parece que muitos se esqueceram.

Quando as autoridades que não tiveram competência para gerir serviços essenciais aparecem na TV e nos jornais apresentando (com orgulho) a importação de profissionais, dá impressão que os daqui não são suficientes ou competentes o bastante. Ou mesmo quando aparecem inaugurando hospitais de campanha ou centros de hidratação, aqueles que ignoram certos fatos interpretarão como medida extrema, uma vez que os atuais hospitais não comportariam o alto número de casos. Mas tudo isso é muito relativo. Quando não, mentira.

Será que isso tudo seria necessário se:

- os profissionais de saúde (daqui) fossem realmente valorizados, não apenas com salários, mas principalmente com condições mínimas de trabalho?
- houvesse um maior controle no que diz respeito à carga horária e o trabalho desses profissionais, de maneira a ajudar tanto a população como também o profissional?
- fossem atendidas as reivindicações para maior número de profissionais no atendimento, com especialidades diversas e muitas vezes escassas?
- os hospitais e postos de saúde contassem com estrutura para atendimento, tratamento, diagnóstico?
- houvesse de fato uma política de saúde pública, séria e sem interesses eleitoreiros e politiqueiros (independente do que esses canalhas engravatados ou de jaqueta digam em frente às câmeras ou no palanque, com habituais caras-de-pau) e não políticas de doença como ocorre atualmente?
- houvesse um mínimo de harmonia entre os órgãos públicos reconhecendo têm por obrigação o bem da população, que é para isso que ali estão e são pagos?

Acredito que seria diferente sim. Mas parece uma novela onde o que é certo e direito, o que representa o bem, a paz, a tranqüilidade, não dá ibope. Não dá voto.

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