Gostaria de indicar o texto abaixo (que, descaradamente, reproduzo aqui no blog) de Domingos Zamagna, jornalista e professor de Filosofia (o currículo não para por aí), publicado hoje no caderno Opinião da versão on-line do Diário do Comércio. O texto vai de encontro a algo que percebi e que, embora não possa negar certo fascínio, uma vez que tudo ali era novo para mim naquele momento, aos poucos foi me incomodando, ou, no mínimo, me deixando intrigado quanto à razão do que se passava.
Sempre achei engraçado ver jovens (como eu, se me permitem) trajando camisas com estampa de Che Guevara ou outro símbolo revolucionário, esquerdista, engajado (sic) e, ao mesmo tempo, calçando tênis Nike ou outra marca da moda, de grife. Isso para ficar num só exemplo do que parece ser uma incoerência reinante. Mas o que o professor Zamagna observa em seu texto é facilmente perceptível em muitos momentos durante a graduação. Ensino isento parece ser algo utópico. Bem, leiam o texto.
Precocidade ideológica
Até há duas décadas, tudo começava mais tardiamente. Os estudantes chegavam à universidade com alguma bagagem cultural e reagiam quando começava a doutrinação típica do ensino superior, concebida para a difusão de ideologias esquerdistas, cujo denominador comum é o marxismo.
Houve um tempo em que Marx tinha de ser lido em traduções espanholas. Ultimamente ele é sorvido em português, muitas vezes até debulhado em apostilas, cartilhas, reproduções de capítulos xerocados, já com frases sublinhadas ou coloridas pelos mestres-facilitadores, para agilizar a assimilação.
É impressionante ver alunos extremamente jovens com a mochila cheia de merenda ideológica. E por que isso nos causa impressão?
Geralmente são alunos fragilizados, sem rigor metodológico, sem disciplina acadêmica, com um baixo repertório, alunos que nunca ouviram Mozart, não sabem distinguir Dante Alighieri de Dante de Oliveira, não leram Fernando Pessoa, Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Faoro ou Manuel Bandeira, pouco afiados na história das culturas, mas já com o Manifesto de 1848 debaixo do braço, como se a História tivesse começado no século 19.
É certo que não se deveria concluir uma graduação universitária sem um vasto conhecimento dos sistemas econômicos e filosóficos, e aí estão incluídos os diversos marxismos. Mas que este estudo seja feito de modo científico, o que exclui a simples louvação. Tais sistemas deveriam ser apresentados levando em conta que o brasileiro que chega à universidade atualmente é muitas vezes semi-letrado, faltam-lhe as condições mínimas para, em tão pouco tempo, comparar as teorias, verificar seu percurso histórico, informar-se realisticamente sobre os seus resultados. Questionar, então, nem se fala. Não existe o menor espaço para um diálogo construtivo; o que existe é um rolo compressor, tanto sobre alunos quanto sobre professores para a perpetuação de um magistério tendencioso.
Mas é preciso fazer uma distinção. Há casos em que esse magistério tendencioso é fruto de uma cultura ambiente, em que os professores se tornam transmissores da única coisa que sabem, eles próprios já tendo sido formados nessa monocultura de esquerda. É lamentável, porém, constatar casos em que esse procedimento é nitidamente covarde, pois inflige sobre alunos totalmente imaturos os conceitos de seus preconceitos, frustrações e desesperos existenciais. Esquecem-se de dizer aos alunos que a via do esquerdismo imposto não é a que conduz à paz e prosperidade; ao contrário, quase sempre é a que obriga a conviver com a pobreza, a intolerância e montanhas de mortos.
O clima dos conflitos atemoriza. Os professores deveriam se perguntar se o acirramento ideológico contribui para a restauração de um clima de diálogo e paz. Não me esquecerei de palavras que ouvi de Paulo Freire, um intelectual considerado de esquerda, mas com uma tradição humanística temperada de sabedoria: "Eu não quero mais saber se as pessoas são de direita ou de esquerda; quero saber se são seres humanos que cultuam a liberdade e os demais valores do espírito, os únicos que refreiam a violência que se avoluma cada vez mais entre as pessoas e os povos."
Precisamos nos resguardar da onda caudilhesca que contagia o Continente. Precisamos de uma escola que fale aos jovens sem os trair. É da lucidez sobre a opressão que provém a sede de independência; do conhecimento das causas da miséria material e intelectual provém a sede de justiça; do conhecimento das manhas e amarras dos desvãos ideológicos provém o compromisso com a liberdade.
Houve um tempo em que Marx tinha de ser lido em traduções espanholas. Ultimamente ele é sorvido em português, muitas vezes até debulhado em apostilas, cartilhas, reproduções de capítulos xerocados, já com frases sublinhadas ou coloridas pelos mestres-facilitadores, para agilizar a assimilação.
É impressionante ver alunos extremamente jovens com a mochila cheia de merenda ideológica. E por que isso nos causa impressão?
Geralmente são alunos fragilizados, sem rigor metodológico, sem disciplina acadêmica, com um baixo repertório, alunos que nunca ouviram Mozart, não sabem distinguir Dante Alighieri de Dante de Oliveira, não leram Fernando Pessoa, Sérgio Buarque de Holanda, Raimundo Faoro ou Manuel Bandeira, pouco afiados na história das culturas, mas já com o Manifesto de 1848 debaixo do braço, como se a História tivesse começado no século 19.
É certo que não se deveria concluir uma graduação universitária sem um vasto conhecimento dos sistemas econômicos e filosóficos, e aí estão incluídos os diversos marxismos. Mas que este estudo seja feito de modo científico, o que exclui a simples louvação. Tais sistemas deveriam ser apresentados levando em conta que o brasileiro que chega à universidade atualmente é muitas vezes semi-letrado, faltam-lhe as condições mínimas para, em tão pouco tempo, comparar as teorias, verificar seu percurso histórico, informar-se realisticamente sobre os seus resultados. Questionar, então, nem se fala. Não existe o menor espaço para um diálogo construtivo; o que existe é um rolo compressor, tanto sobre alunos quanto sobre professores para a perpetuação de um magistério tendencioso.
Mas é preciso fazer uma distinção. Há casos em que esse magistério tendencioso é fruto de uma cultura ambiente, em que os professores se tornam transmissores da única coisa que sabem, eles próprios já tendo sido formados nessa monocultura de esquerda. É lamentável, porém, constatar casos em que esse procedimento é nitidamente covarde, pois inflige sobre alunos totalmente imaturos os conceitos de seus preconceitos, frustrações e desesperos existenciais. Esquecem-se de dizer aos alunos que a via do esquerdismo imposto não é a que conduz à paz e prosperidade; ao contrário, quase sempre é a que obriga a conviver com a pobreza, a intolerância e montanhas de mortos.
O clima dos conflitos atemoriza. Os professores deveriam se perguntar se o acirramento ideológico contribui para a restauração de um clima de diálogo e paz. Não me esquecerei de palavras que ouvi de Paulo Freire, um intelectual considerado de esquerda, mas com uma tradição humanística temperada de sabedoria: "Eu não quero mais saber se as pessoas são de direita ou de esquerda; quero saber se são seres humanos que cultuam a liberdade e os demais valores do espírito, os únicos que refreiam a violência que se avoluma cada vez mais entre as pessoas e os povos."
Precisamos nos resguardar da onda caudilhesca que contagia o Continente. Precisamos de uma escola que fale aos jovens sem os trair. É da lucidez sobre a opressão que provém a sede de independência; do conhecimento das causas da miséria material e intelectual provém a sede de justiça; do conhecimento das manhas e amarras dos desvãos ideológicos provém o compromisso com a liberdade.
Um comentário:
alex, valeu... eu infelizmente moro nos eua, nao tenho feriadao.. ;) mas bom feriadao pra vc!
Postar um comentário