sábado, dezembro 17, 2011

Gentileza não gera gentileza

Triste constatação. Bons dias, boas tardes e boas noites ficam solitários, sem respostas. Quando muito respondidos com um resmungo, sem um olhar, sem sinceridade. Com licença e por favor, parecem ter se licenciado. A falta de desculpas ou perdões denota certa ausência de arrependimento, pelo menos aquele sincero. O como tem passado, como estás, tudo bem com você também estão escasseando, o que mostra que as pessoas parecem não mais se importarem umas com as outras.

Por vezes eu pensei que tudo isso se devia ao desenvolvimento tecnológico, que afastava ou diminuía o contato das pessoas. Mas o problema não é a tecnologia, são as pessoas. E tudo isso parece um ciclo vicioso, algo contagiante em sua perniciosidade. Como disse, triste.

No ônibus, com a implantação do bilhete eletrônico, raramente as pessoas cumprimentam ou mesmo olham o cobrador (presente ali, uma vez que boa parte das passagens é pagas em dinheiro). E o cobrador, por sua vez, parece preferir o isolamento. O mesmo ocorre com o condutor. Aliás, este último parece não se dar conta da importância de seu cargo, da responsabilidade em conduzir seres humanos. Por outro lado, os seres estão perdendo a humanidade. 

Essa falta de humanidade, de civilidade, esse afastamento se vê em várias outras situações. Na relação com os atendentes nos mercados, nos caixas, no elevador, nas portarias... e até mesmo dentro de nossas casas. 

Tudo isso fica ainda mais triste, mais difícil, eu diria ainda mais perturbador, quando a postura humana, civilizada, é considerada e tratada com estranheza ou mesmo com certa animosidade.

O profeta ficaria triste.

Bom dia, boa tarde, boa noite a todos.

O futuro do livro: papel ou chip

No último dia 14 de Dezembro estive na Academia Brasileira de Letras onde ocorreu o encerramento do Seminário “Brasil, brasis” de 2011, apresentando o tema “O futuro do livro: papel ou chip”, com a presença de Carlos Eduardo Ernanny e Silvio Meira, mesa sob coordenação geral do Acadêmico e Presidente da ABL Marcos Vinicios Vilaça e coordenação do Acadêmico Arnaldo Niskier. Confesso que não conhecia tanto Carlos Ernanny e sua Gato Sabido (pioneira no mercado de e-Books no Brasil) como o professor e cientista Silvio Meira.

O tema do seminário já foi abordado aqui no TUIST, na postagem Livros abertos, livros ligados

No seminário eu senti falta do debate, nos questionamentos do público. Ficou só na palestras e intervenções dos acadêmicos à mesa. De qualquer forma, farei alguns comentários sobre as falas de ambos os convidados.
 
Começarei pelo dono da Gato Sabido. A impressão que tive foi de uma abordagem muito comercial, mercadológica. Embora com algumas críticas e referências mais globais ao tema em questão. Mas o que ficou foi a relação livro digital x mercado. Silvio Meira, por sua vez, explanou de forma brilhante e com um toque de humor inteligente seu ponto de vista, embora talvez tenha focado, em determinado momento, o caráter prático, cômodo e até fantástico das novas tecnologias e sua integração com os diversos aspectos do cotidiano. Foi algo taxativo ao prever o fim do livro impresso em 15 anos.

Silvio fez uma relação muito interessante da literatura com a música. A evolução dos suportes de áudio foi relativamente rápida e, podemos até afirmar, definitiva. Hoje praticamente só precisamos de um player. O vinil virou CD que por sua vez virou MP3 que podemos acessar numa rede remota através da Internet, sem necessidade de armazenarmos localmente. É por esse tipo de transformação que o livro impresso pode passar. 

Um tema a meu ver indissociável ficou de fora. A preservação. Hoje pode-se ler um livro impresso há 500 anos. Não se pode afirmar que o novo formato terá a mesma duração. Ou melhor, não se pode afirmar que a informação estará acessível daqui há 500 anos. 

A questão dos direitos autorais também não foi abordada a fundo, apesar de uma provocação dos acadêmicos.

Um mercado em expansão para uma maravilha tecnológica. Este pode ser um resumo das falas. Penso que ainda temos muito que discutir sobre o futuro do livro. Papel ou chip? Bem, romantismos e modismos a parte, que o conteúdo do livro seja perene.

quarta-feira, novembro 02, 2011

segunda-feira, outubro 24, 2011

Escrever é preciso, Viver não é preciso

Ultimamente – e mais uma vez – tenho sentido uma imensa dificuldade em me expressar de forma escrita, de “alimentar” esse espaço com meus pensamentos. Concatenar tudo que se passa nessa mente conturbada é complicado. E, se Bukowski disse que “essas palavras me protegem da mais completa loucura”, então esses hiatos, esses silêncios, essa minha incapacidade crônica em transfazer idéias em letras, contribuem para uma insanidade corrosiva. Isso porque essas tais palavras, mais do que compartilhadas, precisam ser expulsas daquele que escreve em busca [também] de certa normalidade psíquica, mental, emocional. Escrever é, pois, catarse.

Se a vida é matéria para a escrita, essa última tem insumo farto. Disso não há dúvida. Vivemos com relativa dificuldade ou relativa simplicidade. Vivemos muito, vivemos pouco. Vivemos de forma plena e intensa, vivemos de forma restrita e esmorecida. Vivemos com muito, vivemos com pouco. Vivemos buscando conhecer, vivemos buscando ignorar. Acertamos, erramos. Aprimoramos, consertamos. Aprendemos com os erros, insistimos nos erros. Mas vivemos. Morremos um dia, mas vivemos um dia. Morreremos um dia, mas viveremos até esse dia. Vivemos até morrermos absolutamente. Vivemos até morrermos relativamente. Vivemos absolutamente até morrermos. Vivemos relativamente até morrermos. Mas vivemos.

Portanto, é a vida que nutri a escrita. A minha escrita. E é nela, a vida, que busco inspiração.

A rotina, ou a falta dela, parece para mim tão simplória, sem densidade, sem novidade, desestimulante, às vezes até vazia. Casa, trabalho, descanso semanal, atividades e relações domésticas, passeios, almoços, jantares, família, a minha, a dela… E tudo isso tão cheio de certezas, dúvidas, aborrecimentos, prazeres, saudades, planos, lembranças, esquecimentos, agonias, alegrias, tristezas, lágrimas, risos, decepções, contentamentos, lamentações, esperanças, desejos e abnegações, mudanças e impermanências, verdades e mentiras, derrotas e vitória, proximidades e distâncias… 

Não é preciso escrever precisamente sobre isso. Mas é precisamente por isso que escrever é preciso.

Hoje o silêncio foi mais ensurdecedor que o maior e pior dos barulhos. A sala estava vazia. Não havia coragem, não havia força, não havia verdade, não havia sinceridade, não havia razão. Embora reunidos, havia separação. O que não foi dito é o relevante nesse mundo onde o silêncio é criticado e a crítica é silenciada

Hoje a lembrança e a vontade foram mais fortes. A saudade mais intimamente evidente. Hoje houve planos, de mudanças, de verdades, de proximidade. Hoje tive dúvidas, tive certezas. Hoje não verti lágrimas. A proximidade foi desejada e a distancia, abnegada. 

Hoje vivi minha vida imprecisa.
Hoje eu não precisei viver.
Hoje eu precisei escrever.

Escrever é preciso, viver não é preciso”… um plágio adaptado, confesso. O original – “navegar é preciso, viver não é preciso” – surgiu em minha vida numa enriquecedora experiência prestando serviços para o setor marítimo. Na frase original, assim como intento em minha… adaptação, o verbo precisar pode assumir (conforme o gosto) o significado de precisão/exatidão e/ou necessidade.

sábado, outubro 22, 2011

Royalties. Não vi, mas quero





Royalties
 
"Royalties são uma compensação financeira devida ao Estado pelas empresas concessionárias produtoras de petróleo e gás natural no território brasileiro e são distribuídos aos estados, municípios, ao Comando da Marinha, ao Ministério da Ciência e Tecnologia e ao Fundo Especial administrado pelo Ministério da Fazenda, que repassa aos estados e municípios de acordo com os critérios definidos em legislação específica." Fonte: ANP 

 Um dos temas mais comentados atualmente diz respeito a questão dos Royalties (PLS 448/11). O que mais ouço são críticas à distribuição dessa "compensação financeira" a municípios e estados não-produtores e que não são afetados pela produção. A crítica à mudança, acho eu, é válida. 

Mas igualmente válida, e que não tenho visto, seria uma discussão sobre o que se faz hoje com esse dinheiro. Eu, por exemplo, não sabia que minha cidade natal recebia essa compensação. Essa surpresa se transforma em certa revolta ao refletir sobre a situação da cidade. Falta saneamento, crescimento desordenado, sistema de saúde deplorável e até criminoso como já denunciei, criminalidade em alta, educação em baixa, pouca ou nenhuma perspectiva de crescimento industrial, informalidade no comércio, pouco ou nenhum controle urbano... E o município é quase uma cidade dormitório, com pouca ou nenhuma oportunidade de emprego minimamente remunerado. Falo de Mesquita, município da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.

Chego a uma conclusão: a prefeitura de Mesquita não utiliza os Royalties. Pelo menos não de maneira adequada. Cadê esse dinheiro?

Artur Messias da Silveira, prefeito de Mesquita, aliás, deveria estar preso. Mas a organização a que pertence, o Partido dos Trabalhadores, parece exercer grande influência por esse Brasil a fora. Esse ano, por exemplo, foi processado por uso irregular de verbas federais. Leia aqui.

Uma rápida análise nos dados do Portal Transparência já mostra que alguma coisa, ou melhor, muitas coisas, estão erradas na administração daquela cidade.

Mas voltemos aos royalties... Essa euforia, essa comoção, esse empenho de figuras públicas na "luta" para a manutenção da forma atual de distribuição, apesar de válido, como disse, é estranho. Quando se discute, quando de pede explicações de como os valores foram aplicados, por estados e municípios, só conseguimos o silêncio ou desculpas e explicações esfarrapadas. 

O governador do Rio, por exemplo, deu declarações dizendo que a diminuição no montante recebido de royalties comprometeria a Copa do Mundo (2014), as Olimpíadas (2016) e... o pagamento aos aposentados. A essência do que esse sujeito falou e vem falando a torto e a direito, é criminosa. E ninguém diz nada!

Mas alguma coisa mudou. Agora estamos falando em perda ou diminuição drástica de ganhos. Isso mexe com as pessoas. Eles não fazem nada ou fazem muito pouco com o que recebem, pelo menos no que diz respeito ao uso correto. Mas não querem deixar de receber essa mesada. A corrupção, o desvio de dinheiro público, a improbidade administrativa é mais do que clara. Então, que se investigue como os royalties estão sendo utilizados. E que esse uso seja, de fato, regulamentado. E que se utilizem os meios existentes para dar transparência a administração desse dinheiro.

Os royalties são como a CPMF. Como sabemos, o imposto que era destinado ao custeio da saúde pública, da previdência social e do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, passou longe disso. Mas só houve briga quando de seu fim. O mesmo ocorre com os royalties.

Essa discussão em torno da PLS 448 nos ajuda a desvendar os gestores públicos que deveriam estar na cadeia.

R$ 716.590,64. Esse é o valor da parcela dos royalties distribuído ao município de Mesquita em Setembro de 2011, conforme planilha da ANP. 

Foi aplicado? 
Em quê?



sábado, setembro 24, 2011

Impermanências, mentiras, corrupções e silêncios


O crime de arquivo

Os distintos cavalheiros que, eleitos por nós, hoje ocupam a Câmara e o Senado, parecem que não vêem limite para seus atos de corrupção. E de descaso, de abuso, de desleixo, de escárnio para conosco.

Hoje mais uma nota tímida em jornal online me chamou atenção. Falava sobre a aprovação de projetos em tempo recorde pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania da Câmara. Foram “118 projetos em três minutos com a presença de apenas um deputado, Luiz Couto (PT-PB), além do parlamentar que presidiu o trabalho, Cesar Colnago (PSDB-ES)” conforme matéria do O Globo.

Para os desavisados pode parecer uma prova da eficiência parlamentar. Mas de eficientes sabemos que eles nada têm. Ou melhor, o fato de chegarem lá talvez configure prova de eficiência em enrolar os eleitores. E o fato de lá permanecerem, fazendo o que fazem, talvez demonstre que são competentes em esconder suas maracutaias, quando não as fazendo parecer algo aceitável, parte do jogo político, intriga de opositores, et cetera e tal.

São bandidos em sua maioria. Criminosos da pior estirpe, uma vez que seus atos afetam, de forma direta ou indireta, quase 200 milhões de pessoas. Corrupção é, pois, crime dos mais hediondos que se pode imaginar.

Se já não bastasse o fato em si, eis que me deparo com outra constatação. Esta feita pelo jornalista Josias de Souza em seu blog.

Segundo o jornalista, a Ata da Câmara mente sobre a presença dos deputados na reunião da CCJ. Leia aqui.

E essa mentira está registrada e acessível. É um registro de uma ação, de um ato, do Poder Legislativo. É informação pública!

Ata é um documento “que registra resumidamente e com clareza as ocorrências, deliberações, resoluções e decisões de reuniões ou assembléias. Deve ser redigida de maneira que não seja possível qualquer modificação posterior.

Ata é também um documento de guarda permanente, segundo rege o Código de Classificação e Tabela de Temporalidade e Destinação de Documentos relativos às Atividades-Meio da Administração Pública, que consta da Resolução14 do CONARQ (Conselho Nacional de Arquivos).

É o poder público descumprindo seu dever. Ignorando o que manda o artigo 1° da Lei 8.159.

Se a opacidade informacional configura um empecilho no desenvolvimento de um país que se queira democrático, o silêncio [dos profissionais da informação] diante de crimes de arquivo como esse é, no mínimo, vergonhoso.

quarta-feira, setembro 14, 2011

Informação é preciso


Desvio-Roubo

Um dos destaques nos noticiários dessa noite é a “saída” de mais um ministro. Parece que a fila está andando.  Já é o quinto e, se mexer bem nesse antro, muitos outros bichos poderão sair.

Fico intrigado e até incomodado com tratamento dispensado a esses sujeitos.  O grande crime de que é suspeito (sic) é o desvio de verba pública. Suspeito?! Isso indica que não existe controle sobre a verba pública, sobre os gastos públicos. Se houvesse o mínimo de controle, essa suspeição se tornaria uma insuspeição, uma certeza. E é disso que precisamos. Precisamos saber, com certeza, sem margem para dúvidas, com exatidão, o que está sendo feito com o meu, o seu, o nosso dinheiro.

Outra coisa é com relação à acusação. Considerando que houve mesmo o “desvio”. Acho que devemos tratar tais criminosos como o que realmente são: bandidos! Para que fique claro para todos, para que percebamos o que realmente se passa e como isso nos afeta, é bom ser claro e direto e verdadeiro. Ele está sendo acusado de roubar dinheiro público para custear seus luxos (governanta, motorista para esposa e sabe-se lá quais outras “vantagens” ministeriais).

Se um marginal bate sua carteira ou rouba seu carro ou sua casa não dizemos que “fulano está desviando seu dinheiro para uso próprio” ou que “beltrano está desviando seus bens para uso próprio”. Então não vamos poupar os “Excelentíssimos”.

Ainda nesse caso… Não acho que esse e outros do tipo sejam casos para CPI. É caso de polícia! Se um bandido rouba o Banco Central a polícia cuida do caso. Por que atribuir aos Deputados e Senadores (muitos, sabemos, despreparados para o básico que seria nos representar, legislar) o papel de polícia?


A informação liberta… 

...E, aqueles que não nos querem libertos, lutam para que a informação seja algo restrita a poucos, lutam para que a verdade, a luz e a justiça que podem advir da informação continue vedada aos nossos olhos.

Tramita no senado a PLC – Projeto de Lei da Câmara – nº 41 de 2010, cujo apelido é “Lei Geral de Acesso à Informação”.  Há dois meses eu abordei o assunto aqui no TUIST, clique aqui para ler. 

Aos interessados (e o interesse é de todos, pois afeta a todos) vale acompanhar a tramitação, clicando aqui.

Assino o boletim e recebo as atualizações da tramitação. Hoje, por exemplo, li a proposta de emenda do Senador Blairo Maggi. Algumas das propostas do senador sinalizam para a manutenção do silêncio, para uma política de ignorância da maioria em prol dos interesses de alguns poucos.

Em uma das propostas, por exemplo, ele parece justifica que promover a divulgação de informações de interesse coletivo ou geral produzida por órgãos e entidades públicas independente de requerimentos (a tal TRANSPARÊNCIA) despenderia esforços de tempo, pessoal e dinheiro, sobrecarregando a máquina pública. Então, a Transparência não faz bem ao Estado?

Em outra proposta ele contesta os prazos máximos de restrição ao acesso à informação. Mais especificamente da informação classificada como ultrassecreta. Segundo o senador, a prorrogação dos documentos ultrassecretos deve se dar quantas vezes for necessário para garantir a segurança do Estado e da sociedade. Em outras palavras… o silêncio eterno. 

Ele também critica a supressão do nível “confidencial”, justificando que isso contraria a tradição brasileira nessa área. Eu cairia na gargalhada se essa posição do ilustre senador não fosse tão absurda.


domingo, setembro 11, 2011

Alguns versus muitos
Terrorismo, fanatismo, extremismo

Uma coisa leva a outra… uma coisa acaba em outra… é tudo a mesma coisa. É tudo burrice, idiotice, babaquice. É covardia. É estupidez. É falácia. É ignorância. É desumanidade. É crueldade.

Nada tem a ver com religião. E muito menos com a política que visa o bem comum. São interesses de alguns imbecis para alguns cretinos e que fazem milhares ou milhões de inocentes sofrerem. Fanatismo, terrorismo, extremismo… de alguns.

Os atentados que hoje completam 10 anos e vêm sendo memorados já há alguns dias não foram – como bradam as vozes da mídia e aceitam os ouvidos e mentes que teimam em ignorar– os maiores ou únicos da história.

Em Hiroshima e Nagasaki os mortos pelas bombas e, posteriormente, pela radiação, chegaram há aproximadamente 400.000. Soma-se a isso o trauma que permanece, assim como permaneceram os efeitos da radiação no organismo dos sobreviventes. O Projeto Manhattan não foi “desenhado” por 400.000 pessoas para matar 400.000! Foi uma estupidez de alguns covardes, lunáticos, extremistas que matou centenas de milhares de pessoas. Fanatismo, terrorismo, extremismo… de alguns.

Outro estúpido, um mostro que soube convencer e fazer valer sua monstruosidade, matou milhões de pessoas, entre Judeus, homossexuais, Testemunhas de Jeová, Ciganos, deficientes físicos e mentais, dissidentes políticos, negros… Milhões de seres humanos mortos por uma idéia na cabeça de alguns. Fanatismo, terrorismo, extremismo… de alguns.

Em 1994, em Ruanda, pode-se dizer que a máquina e o maquinário de matança aparecem novamente. Philip Gourevitch, autor do livro “Gostaríamos de informá-los de que amanhã seremos mortos com nossas famílias” faz uma comparação com o Holocausto dizendo que os “mortos em Ruanda se acumularam numa velocidade quase três vezes maior“.  Foram aproximadamente 800 mil mortos em 100 dias. Fanatismo, terrorismo, extremismo… de alguns.

Houve outros 11 de Setembro em outros tempos, em outros lugares, mas com os mesmos ingredientes malditos. Mas talvez o destaque que assume o que hoje completa 10 anos não se refira apenas ao fato de ter ocorrido “em solo americano”, na “maior economia do mundo”, no país que mais protagoniza (ou antagoniza) ações militares mundo a fora. Nova Iorque é uma das cidades mais multiculturais do mundo. Uma grande parte de sua população, de seus residentes, é formada por não-americanos. Dentre eles se encontram asiáticos, africanos, europeus, latino-americanos… Dentre eles se encontram ricos e pobres… Dentre eles se encontram judeus e árabes, católicos e protestantes, cristãos, muçulmanos, hindus, budistas… ateus, agnósticos… Toda essa gama de seres humanos foi atingida há 10 anos pelo fanatismo, pelo terrorismo, pelo extremismo… de alguns.

E esses alguns continuam agindo. Estejam eles no governo americano, e/ou nas grandes empresas que alimentam e se alimentam do poderio militar não apenas dos EUA. Sejam integrantes da Al Qaeda (ou de tantas outras organizações perniciosas) ou dos governos e organizações (igualmente perniciosos) que a apóiam de forma aberta ou não. Sejam os que deturpam o Islamismo, misturando convicções ideológicas com religião. Sejam aqueles que simplificam e caem na armadilha de confundir Islamismo com terrorismo. Sejam aqueles que se omitem e ignoram e insistem em ignorar. Ignorantes! Fanáticos! Extremistas! Terroristas com ou sem armas, com ou sem bombas! Terroristas ideológicos! Terroristas sociais! Extremistas da ignorância! Fanáticos da estupidez, do dinheiro, do poder! Estúpidos.

Os exemplos foram dados ao longo de décadas, séculos, milênios. Parece que aprendemos muito pouco.

Se os muitos se omitem e ignoram, os “alguns” ganham força e impões sua vontade. Se os muitos se enfraquecem ou se acomodam intelectualmente, os “alguns” se tornam convincentes e impões sua vontade. A inércia de muitos intensifica a ação de “alguns”.

domingo, agosto 28, 2011

Antes que eu me esqueça... novamente

Ontem (e hoje na madrugada) estive no Back2Black Festival, na Leopoldina, Rio de Janeiro. Há dois anos estive na primeira versão e minha opinião não mudou pelo que eu vi ontem/hoje. Logo, a essência do que postei em 2009 ainda vale (leia aqui). Isto é, o evento nasceu deturpado. E, como venho dizendo, agora é só a farra pela farra.

Como nada mudou, a intenção de hoje é provocar. Gostaria de provocar os hipócritas, tanto os conscientes como os ignorantes. Posso até me incluir, num ou noutro caso.

Primeiramente começarei com uma de minhas analogias esdrúxulas e baratas. Vamos lá. Imaginem que promoverei uma festa. Aluguei um salão ou um sítio isolado. Contratei uma atração musical, fiz uma decoração bem legal no espaço, convidei um montão de gente. É claro, cerveja não falta. Mas cobro, para cobrir os gastos. E, devido a proporção que o “evento” toma e seguindo o que manda alguma lei municipal, busco as devidas autorizações. Eu estou promovendo a festa, eu assino, eu sou responsável.

Considerem agora alguns crimes, tais como o consumo e a venda de drogas. Não vale aqui falar sobre a discussão de sempre sobre a descriminalização do uso a maconha, por exemplo. Falo da legislação vigente. Quando for liberado, tudo bem.

Continuando... Na festa que eu promovo (eu patrocino, eu dou meu nome, eu organizo, etc) algumas pessoas estão fumando maconha. Não tenho como saber se esse consumidores levaram o produto consumido ou se, dentre os convidados, existe um vendedor do produto, um traficante. São tantas as pessoas que não tenho como saber tudo sobre todas. E nem sei se realmente quero saber. O importante é o evento e os frutos que trará.

Pergunto: no caso acima, existe alguma diferença considerável entre mim (o patrocinador, o organizador da festa onde “algumas” pessoas estão consumindo drogas) para algum outro sujeito que promova, por exemplo, um baile funk num comunidade carente, num morro, numa favela, onde alguns aproveitam para consumir drogas? Atente para a possibilidade quase evidente de, tendo demanda para um produto que está sendo consumido, existirem fornecedores locais para tal produto.

Eu tenho uma resposta para essa minha pergunta. Não. Não existe diferença alguma. Ah, claro, as camadas sociais envolvidas podem ser consideradas um fator de maior ou menor interesse por parte dos órgãos de segurança (ou da imprensa), que deveriam coibir o que é ilegal onde quer que seja. Já que o crime não pode ser relativizado. O que é ilegal, deve ser considerado ilegal seja no Leblon, seja em Mesquita.

Considerando o exposto acima, termino a postagem com duas frases (na primeira eu afirmo , na segunda eu proponho) e algumas amenidades informacionais.

- O consumo de maconha no Back2Black Festival foi ostensivo!

- Acessem o site do festival e, caso queiram, vejam quem apoia e patrocina o evento.


Para.... terminar a festa...
a) A decoração mais uma vez surpreendeu. Os vagões pintados, bolas gigantes no teto...
b) O som estava muito melhor do que na primeira versão
c) Oumou Sangare foi brilhante!
d) Chaka Khan foi … estridente!
e) Até a terceira ou quarta música Jorge Ben Jor não convenceu. Fui embora aí. Parece que animou depois, pelo que vi nos jornais.
f) Parece a Budweiser está tentando nova inserção no mercado brasileiro (nos anos 90 era comum). Foi a cerveja do evento.
Um charmoso que mata por R$ 0,60

Sempre gostei do Bondinho de Santa Teresa. Me remete ao passado, num tempo áureo da vida cultura, social e boêmia de um Rio de Janeiro que não conheci. Complicado isso. Sentir saudades de um tempo que não vivi.

A primeira vez que passeei de bonde foi no final dos anos 90. Frequentava muito Santa Teresa. Me idealizei morando lá, usando o bondinho em meu cotidiano. Lembro também que levei minha família para um primeiro passeio naquele lindo bairro, cheio de encanto, de beleza, de peculiaridades.

Por isso recebi com muita tristeza mais uma notícia trágica envolvendo o Bondinho . E, embora não seja um frequentador assíduo do bairro com seu veículo sob trilhos, posso afirmar que a tragédia vem sendo anunciada há muito tempo.

O Governo do Estado do Rio de Janeiro e a Prefeitura Municipal da Cidade do Rio de Janeiro devem ser responsabilizados!

O Bondinho de Santa Teresa, apesar de ser considerado uma atração turística, é, em primeiro lugar, um meio de transporte público. E, considerando a topologia do bairro de Santa Teresa, o bonde é uma das melhores opções para o local.

A prefeitura da cidade o apresenta na página de Secretaria de Turismo (Riotur), se referindo ao meio de transporte como “charmosos veículos” e “famoso bonde amarelinho”. É charmoso, é famoso, mas, antes disso, é um meio de transporte. Como tal, deveria receber a atenção necessária dos órgãos competentes (sic).

O ônibus de dois andares que circula em Londres também é conhecido internacionamente, mas atua como o que realmente é, um meio de transporte. Em Lisboa e Porto também circulam bondes e, da mesma maneira, atuam como meio de transporte. Possuem caráter turístico, são charmosos, são famosos, mas não deixaram (pelo menos ainda) de serem o que são: meios de transporte.

A falta de manutenção é evidente. Os profissionais mais parecem astros num palco, se exibindo para turistas de todas as partes do mundo. Manobras bruscas são uma constante. A superlotação é quase uma regra. Ainda mais em feriados e fins de semana. A tarifa, de R$ 0,60, não sofre reajuste há aproximadamente uma década. Reafirmando o caráter de “ferramenta” turística subsidiada. Repito: O BONDE DEVE SER CONSIDERADO UM MEIO DE TRANSPORTE E NÃO UMA ATRAÇÃO TURÍSTICA! E, mesmo que fosse uma atração turística, o Estado/Município deveria fazer o trabalho que lhe cabe.


domingo, agosto 21, 2011

Revolução da Informação

Assisti ao vídeo recentemente num curso sobre linguagens documentárias. A autoria é do professor de Antropologia Cultural da Universidade Estadual do Kansas, no EUA, Michael Welch. A versão a seguir foi traduzida pela Knowtec, que atua na área de Inteligência Competitiva. A versão original (com melhor resolução) pode ser vista aqui.

É muito interessante, pois da informação e do fenômeno informacional com as novas tecnologias numa dinâmica moderna, criativa e acessível.

sábado, agosto 20, 2011

World Paper Free Day

What can you do to reduce paper use in your organization? Get some tips and participate in World Paper Free Day.

domingo, agosto 07, 2011

Livros abertos, livros ligados

Dia desses estava eu no ônibus da empresa e abri um livro. Ao me lado sentou um senhor e ligou o seu. Dispensável dizer que o objetivo de ambos era o mesmo: aproveitar o tempo de deslocamento para a leitura. Mas não deixa de ser visualmente impactante a maneira como o objetivo de ambos era atingido.

Meu livro, o de abrir, não era velho. Comprei há uns 15 anos talvez, quando assinava a Reader’s Digest e sempre adquiria as coletâneas de quatro livros em um. A baixa qualidade do papel, somada a falta de cuidado técnico para sua conservação, deu ao livro um aspecto muito antigo.

Já o do colega ao lado, o livro de ligar, emanava novidade, modernidade. O brilho da tela, as letras bem definidas, o design futurístico. Detalhes notados num olhar indireto; tão visível e destacado era aquele aparelho que parecia ter sido tirado de um filme de ficção.

A cena ficava ainda mais interessante ao ser analisada em seu conjunto, pois a idade dos leitores era inversamente proporcional à idade da mídia que cada um lia.

Os livros em formato digital já existem há algum tempo. Muito antes dos chamados e-Readers, ou dos computadores em formato de prancheta, os Tablets, os livros já podiam ser lidos na tela dos computadores pessoais. Sejam as páginas digitalizadas, sejam livros digitais com programas para “simular” algumas características do livro em papel, tanto para exibição, como para o ato de ler.

Tenho certa resistência a essas novidades. Lembro que o primeiro livro que “baixei” foi Drácula, de Bram Stoker. Cheguei a iniciar uma leitura, mas ficou por aí. Talvez pelo fascínio que a Biblioteca tradicional (será que de agora em diante teremos de classificar a biblioteca?) me desperta, talvez por ser antiquado, continuo sendo amante e usuário de livros à maneira antiga.

Como ser humano, sou caracterizado, dentre outras coisas, pela inconstância. Característica essa (cultural, social, biológica, psicológica, antropológica, etc.) que pode transparecer ao longo dos dias, meses, anos, décadas… séculos, milênios. Logo, talvez daqui a algum tempo eu adira aos livros de ligar.

Da mesma forma existe certa inconstância na “vida” dos materiais. Logo, não podemos precisar quando os livros de abrir não mais poderão ser abertos. E quando os livros de ligar não mais poderão ser ligados.

Até lá, haverá pessoas que se abrirão aos livros de ligar, e pessoas que continuarão ligadas nos livros de abrir. E a leitura continuará ligando as pessoas e abrindo as mentes.

quinta-feira, agosto 04, 2011

O Nelson, o Tonho, a Crítica e a Honra
Comparações e definições

Comparações algumas vezes são difíceis. Por vezes até inadequadas. Mas outras vezes permitem relacionar questões a princípio sem relação aparente de modo a podermos enxergar, e expressar, nossa opinião, tecer comentários, analisar de forma mais ampla, olhar por outro ângulo... Tal como uma licença poética usada para outro fim que não a poesia e a rima.

Nelson Jobim, acaba de deixar o Ministério da Defesa. Entregou sua carta de demissão (ou foi demitido) por conta de suas declarações. As mais recentes tiveram como “alvo” as ministras-chefe da Casa Civil e da Secretaria de Relações Institucionais. Antes, já havia entrado em polêmica ao declarar não ter votado na atual presidente.

Vê-se que a crítica não é e nunca foi bem vista no atual governo. E no anterior também. Aceite, concorde, cumpra... ou cale-se... ou caia fora. Quardadas as devidas proporções, imaginem se todo funcionário do serviço público federal tivesse sua posse (ou manutenção de seus postos) condicionada a sua opinião/expressão política nas urnas. Quem não é dos nossos é contra nós! É inimigo! Deve ser afastado, excluído! Essas são características de governos totalitários. A semelhança com Chaves e Castros Brothers não é mera coincidência.

Não analiso aqui o caráter construtivo ou não das críticas recentes. Foram críticas e ponto. Com relação ao incomodo causado pela declaração do voto, bem... Presidente(a), não votei em vossa excelência, assim como não votei no seu antecessor (em ambos os mandatos). Trabalho numa empresa estatal (com capital da União). Também serei demitido?

Tonho Crocco, músico gaúcho, autor de uma música veiculada na internet na qual tece críticas ao aumento de 73% nos salários que os deputados estaduais gaúchos se concederam em 2010. Ele está sendo processado pelo Ministério Público. O autor da ação, deputado federal Giovani Cherini (PDT-RS), segundo informações recentes, pretende desistir. Porém, o que chama atenção aqui, assim como no exemplo anterior, é a fobia de crítica que parece acometer os políticos e gestores. Tonho foi processado porque ousou criticar, ousou se indignar e expressar essa indignação numa linguagem universal, a música, e num ambiente de ampla visibilidade, a Internet.

“A assessoria do deputado informou que a decisão de Cherini se deu “como presidente da Casa, em defesa à honra dos legisladores em conjunto”...” Honra?! Esse aumento passou de R$ 11.564,76 para R$ 20.042,34 o salário do ilustres deputados. Isso é uma afronta, um descaso, um desrespeito total com a população. E os cretinos (será que serie processado também?) ainda falam em honra?

Eles deturpam o “princípio que leva alguém a ter uma conduta proba, virtuosa, corajosa, e que lhe permite gozar de bom conceito junto à sociedade”. A honra.

Eles não suportam, não respeitam e não aceitam a “arte, capacidade e habilidade de julgar, de criticar”. A crítica.

Eles “agem desonestamente, em benefício próprio e/ou dos seus, especialmente nas instituições públicas, lesando a nação, o patrimônio público”, e se acham acima do bem e do mal, sua ética e sua moral (ou a falta de ambas) é relativa, funcionando de acordo com interesses bem próprios. Para eles, a justiça é ferramenta que deve lhes servir, e só. Para eles a lei é algo que escrevem e reescrevem, e que apagam e usam e desusam quando bem entendem, quando lhes convêm. Eles são corruptos.

quarta-feira, julho 06, 2011

Em guarda!

Eu, a academia, e os três sujeitos do Arquivo.

Em minha vida acadêmica (sic) participei de pouquíssimos eventos. E após ter terminado a graduação (que considero uma de muitas etapas de minha formação) tento, sempre que possível, me fazer presente em certos acontecimentos. Além, é claro, de leituras e reflexões.

Recentemente participei do 7° Seminário Internacional Arquivos de Tradição Ibérica. O seminário, organizado pelo Arquivo Nacional brasileiro e pela Associação Latino-Americana de Arquivos (ALA), teve como tema as Funções Arquivísticas e a Preservação Documental.

Além da oportunidade de participar do evento em si – de caráter internacional – a ocasião me possibilitou rever colegas e professores da universidade. Além de me atualizar com relação às novidades do setor, tanto no mercado de trabalho, como também no desenvolvimento acadêmico.

O distanciamento pós-graduação, que se deu por motivos que não vou relatar aqui, fizeram com que eu me sentisse ao mesmo tempo deslumbrado e bastante crítico no decorrer das apresentações. O deslumbre, talvez com um misto de admiração e reverência, se dá por ver o quão interessante é o campo de atuação do profissional da informação, em especial para o Arquivista (e nesse ponto confesso um sentimento quase de perda). A visão crítica é bem provável que se relacione com a confortável posição de quem não está envolvido diretamente. É o olhar de fora.

Mas penso que esse olhar crítico deve ser considerado e respeitado. Recentemente, para desenvolver um trabalho na empresa, solicitei a participação de alguém de fora, por considerar estar tendo uma visão talvez muito próxima, talvez muito preconceituosa, talvez viciada do ambiente em que deveria atuar. O distanciamento, nesse caso, se faz necessário.

A primeira coisa que me chamou atenção no evento foi a baixa participação dos graduandos. Sei que muitos trabalham e/ou estagiam* durante o dia, estudando à noite. Mas se considerarmos todos os alunos de todos os cursos da área na região, tenho certeza que a participação foi muito aquém do possível.

(*) A questão do estágio em Arquivologia (e talvez outros cursos) merece um destaque. É lamentável que o estagiário, com o conhecimento (e a inação) da instituição de ensino esteja sendo usado como mão-de-obra barata. E em condições onde não lhe é proporcionado, como deveria, participar de manifestações acadêmicas complementares a sua formação. É claro que não serei ingênuo o suficiente para não considerar o fator humano e social uma vez que existe, sim, o desinteresse e a necessidade de renda.

E, ainda relacionado com os estudantes, talvez seja preciso maior conscientização de que a participação em eventos acadêmicos não deve ser encarada como meramente protocolar, para constar em currículo. E não apenas de estudantes. Parece que profissionais já inseridos no mercado, acadêmicos ou não, também se portam de maneira um tanto inadequada nessas ocasiões. Ou talvez eu esteja ficando sisudo e rabugento demais. Mas o fato é que valorizo o momento, respeito e acabo por esperar que outros também o façam. É. Esse sou eu. Fazer o quê? Ao contrário do que aconselha o soneto, minhas ilusões da vida ainda não amadureceram.

Pude também notar que muitos profissionais, apesar do discurso, ainda possuem uma visão deturpada sobre o trinômio “acesso-preservação-usuário”. Como ficou claro no – talvez – ato falho ouvido durante uma apresentação, onde a palestrante falou em “proteção contra o manuseio”. Isso no mesmo evento onde, para efeito de análise e crítica, foi dado exemplo de um pesquisador que foi impedido de consultar uma publicação numa biblioteca ou arquivo sob alegação similar de proteção contra o manuseio. Isso me lembra a velha máxima do técnico de informática segundo a qual tudo ficaria bem se não fossem os usuários.

Preservação impedindo acesso é algo um tanto bizarro.

Alguns palestrantes lançaram questões simples e ao mesmo tempo interessantes e profundas acerca da preservação documental. Preservar para quem? Preservar para quando? Preservar para quê?

Pareceu-me algumas vezes que a ação de preservar assumia um significado de guarda diferente daquele que também garantiria, ou deveria garantir, o acesso. Essa guarda seria mais ao estilo dos mosqueteiros da informação, que bradariam um sonoro “em guarda!” a mínima aproximação do usuário-consulente.

Para dar alguma coerência ao título desta postagem, faço aqui uma reflexão de que precisamos considerar os sujeitos da informação. E tais sujeitos poderiam ser divididos em três categorias. Os primeiros seriam os ditos profissionais da informação, que englobaria os arquivistas, mas não apenas estes, desde os já atuantes no mundo acadêmico ou no mercado empresarial, mas também os estudantes, graduandos, pós-graduandos… Um segundo sujeito seria aquele que hoje demanda a informação para suas atividades, por mais diversas que sejam. O usuário do arquivo, o pesquisador, o funcionário de uma empresa que faz uso de uma informação registrada em diferentes suportes para que possa desempenhar suas tarefas, para que possa tomar decisões, para que possa comprovar uma ação… Um terceiro sujeito, apesar de ser considerado no presente, não faz hoje uso do arquivo. Não demanda no momento as informações registradas e, quando demandar, os suportes poderão ser bem diferentes dos existentes. Seria o sujeito do amanhã. Aquele para o qual hoje pensamos na preservação de longo prazo. Obviamente esse sujeito pode ser uma pessoa física, uma instituição, uma entidade pública, uma comunidade em busca de sua história.

Em minha monografia de conclusão de curso dediquei algumas linhas numa reflexão sobre o sujeito. Compartilho com vocês. Cliquem aqui ou aqui.


PLC 41 e o perigo da inação

Não poderia deixar de destacar também a excelente palestra do Ouvidor Geral da Controladoria Geral da União (CGU), José Eduardo Romão, que discursou de forma clara, objetiva e realista sobre o Projeto de Lei da Câmara (PLC) n° 41 de 2010, conhecida como a Lei Geral de Acesso à Informação.

O Projeto de Lei que hoje tramita no Senado, visa regular “o acesso a informações previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal”. As observações feitas por José Romão mostraram que, embora a regulamentação seja imprescindível para consolidação de um Estado Democrático de Direito, o texto que tende a ser aprovado traz alguns aspectos de ordem prática (de aplicação efetiva, de cumprimento da lei, do dia-a-dia) que fogem a nossa realidade. Espero que o Arquivo Nacional, através de seu atual (e de longa data) presidente, se posicione dentro de sua prerrogativa para que a lei seja exeqüível e pare de se preocupar em treinar seu portunhol em público (ponto no mínimo incômodo do seminário). Assim também espero que os professores presentes (e alunos, por que não?) discutam o tema, uma vez que é essencial a participação dos arquivistas nessa questão.

A passividade limita a transparência e contribui com a opacidade.

sábado, junho 25, 2011

Se os eleitos fossem craques...

Essa semana li uma notícia sobre a reação de torcedores do Flamengo ao comportamento "agitado" de um de seus jogadores. Não sei se é o melhor de fato, mas é certo que é o mais caro e o mais financeiramente valioso. A notícia dizia que um torcedor engajado, e por sinal criativo, criou uma versão do disque-denúncia específica para o craque.

Considerando que o a vida noturna do jogador pode estar afetando seu rendimento (não a sua renda) em campo, o canal de denúncia foi criado como uma tentativa de coibir tais excessos.

Achei muito interessante a iniciativa. O compromisso do jogador não se resume ao cumprimento de um contrato com o clube ou seus patrocinadores. A torcida espera e exige que sua atuação em campo seja, no mínimo, profissional. É preciso que o jogador não apenas cumpra seu contrato, mas atue a contento, acertando as jogadas, marcando gols, levando o time (jogador + clube + torcida + patrocinadores) à vitória.

Pois bem, as pessoas que me conhecem sabem que não sou um apaixonado por uma das paixões nacionais que é o futebol. Embora me agradem as atuações brilhantes, pelo menos da seleção. E não preciso entender de futebol (não entendo mesmo) para vibrar com jogadas, me aborrecer com atuações medíocres, e comemorar gols, vitórias. E, como todo assunto traz uma essência filosófica mais ou menos evidente, permitindo – aos que se predispõe a isso – uma análise crítica, comparativa, associativa... Bem, eu não pude deixar de comparar o mundo futebolístico com o mundo político.

E essa comparação foi relativamente simples. Imaginei um ambiente onde os políticos recebessem a mesma atenção de seus eleitores-torcedores. E os meios existem. A política de transparência já existe em muitas instituições públicas, como o Congresso Nacional, por exemplo. Mas, infelizmente, não ganha tanta atenção quanto uma noitada de um craque.

Nossos eleitos fazem mais do que noitadas. E tais noitadas não têm como resultado uma atuação duvidosa em 90 minutos de uma partida de futebol. Essas noitadas, que bancamos (somos os patrocinadores e os diretores do clube, não apenas torcida), tem como resultado os péssimos índices na educação, o caos na saúde, a falta de uma política de segurança que nos dê... segurança. Isso para citar apenas alguns dos possíveis resultados dessa partida que dura, no mínimo, 2.102.400 minutos!

Imaginem um mundo onde os eleitos fossem craques e os eleitores realmente amassem o time e respeitassem e vestissem a camisa.

sábado, junho 18, 2011

Elizabeth Napari

She's a 12-year-old beautiful girl from Ghana. And she has a dream.

"I want to be a doctor because there is no hospital or doctor in this village" (...) "I will have money to buy a car so that if any sick person is referred to another hospital for treatment, they will use my car to transport the patient"



Elizabeth, I wish you all the best. You're a great person, and exemple for all of us. Thank you for being... you.

Produced by UNICEF and the Public Affairs Media Group.

sábado, maio 21, 2011

Freedom Riders

The story behind a courageous band of civil rights activists called the Freedom Riders who in 1961 creatively challenged segregation in the American South.





Watch the full episode

sábado, maio 14, 2011

A BN e Eu

Hoje parece que resolvi relembrar escritos passados. A exemplo da postagem abaixo sobre o "dia seguinte" ao 13 de maio, ao ler notícia sobre os 200 anos da Biblioteca Nacional não pude deixar de recordar um texto que escrevi há dois anos sobre o que considerei (e considero) barreiras de acesso à informação (e a cultura, e ao saber, e ao conhecimento...). Leia aqui.

Há alguns meses, fuçando no Google Street View, eu passeei pela Quinta Avenida, em Nova Iorque. Como estava de bobeira, parei em frente ao número 455 e fiquei olhando para a Biblioteca Pública daquela cidade. Foi inevitável pensar numa outra biblioteca, a Nacional. Esta fica num outro número, o 219, de uma outra avenida, a Rio Branco. De uma outra cidade, de um outro país. Não fica tão longe, embora distante como exponho em minha crítica.

Me chamou a atenção o movimento em frente a biblioteca de NY. Pessoas e mais pessoas, vida. Fiz uma rápida pesquisa para conhecer melhor e fiquei impressionado ao ler numa matéria no Estadão que, em 2009, aquela biblioteca pública havia recebido cerca de 40 milhões de visitas!

Não faço ideia do número de pessoas que visitam a Biblioteca Nacional no Rio de Janeiro. E são muitas as variáveis que poderiam desmistificar a imagem de ambas as instituições expostas no Google no que se refere ao "movimento" de pessoas. Uma delas poderia ser o dia da semana, ou mesmo o horário em que o registro foi feito. Porém, não posso deixar de pensar na política de acesso e, por que não dizer, no fortalecimento de uma "cultura de biblioteca" tanto na Cidade Maravilhosa como na The Big Apple.

Há poucos dias, durante um passeio cultural pelo Centro do Rio de Janeiro, estávamos na Cinelândia. Ali, cercados de belas obras arquitetônicas, vemos uma turma de formandos com suas indumentárias posando para a "foto de formatura" (aliás, a palavra formatura denota algo tão conclusivo, quando deveria designar apenas mais um passo). Bem, o grupo, após posar nas escadarias do Theatro Municipal, atravessou a rua para aproveitar outro pano de fundo, as escadarias da Biblioteca Nacional.

Venenoso como sempre, não contive o comentário: "olhe, talvez seja a primeira e única vez que todos ali, ou a maioria, estiveram naquela biblioteca". Falei outros absurdos (?), mas lhes pouparei.





Simbolicamente, aquele pequeno muro ao subir as escadarias da "nossa" biblioteca dizem sobre a questão do acesso. Veem algum na "deles"?


O dia seguinte

Há alguns anos escrevi um texto sobre esta data. Leia aqui. O quatorze de maio, de 1888 e anos seguintes... até hoje, mais um quatorze de maio.

Lembrei hoje de ter visto uma foto antiga que exibia uma celebração (?) no Paço Imperial. Veja abaixo



Ao ver esse registro eu fico imaginando se foi feito algum do dia seguinte. É certo que, considerando as dificuldades na difusão da informação em 1888, o acontecimento tenha levado algumas semanas (ou meses) para percorrer todo um país de dimensões continentais.

As vezes tenho a impressão de que tal informação ainda não foi absorvida por todos. Talvez, assim como tantas outras leis, aquela cuja assinatura foi tão festejada, "não pegou".

Obs.: A quem interessar possa, a PEC-00438/2001 ainda está correndo de mão em mão na Câmara dos ilustres deputados. Ela "estabelece a pena de perdimento da gleba onde for constatada a exploração de trabalho escravo (expropriação de terras), revertendo a área ao assentamento dos colonos que já trabalhavam na respectiva gleba."

segunda-feira, maio 09, 2011

Mesquita e o desrespeito à Saúde


Neste domingo (09/05/2011), minha mãe se sentiu mal durante a madrugada. Eram aproximadamente 3 horas da manhã do Dias das Mães. Recorreu a UNIDADE DE SAÚDE DE URGÊNCIA E EMERGÊNCIA DR. MÁRIO BENTO na Rua Barão do Rio Branco, do bairro Jacutinga, município de Mesquita/RJ (clique aqui). Minha mãe é moradora do bairro, praticamente vizinha da Unidade de Saúde.

Chegando lá, foi recebida por um atendente confortavelmente instalado numa cadeira e com as pernas em cima de uma mesa. Este diligente funcionário de uma instituição pública de saúde informou não haver médico ou qualquer profissional do atendimento. Minha mãe foi embora após alguns minutos. Felizmente está bem agora, mas poderia ter sido diferente.

No mesmo dia fui visitá-la. Saindo de sua casa após o almoço, por volta das 13h30min. Enquanto aguardava a Kombi (infelizmente o necessário transporte complementar da cidade), vejo uma mulher se dirigindo ao mesmo posto em busca de atendimento, talvez para um de seus filhos (três crianças de idades diferentes). Mais uma mãe. Retorna logo depois reclamando e ouço bem quanto lamenta, revoltada, terem um posto sem profissionais de saúde, apenas um prédio (recém inaugurado por sinal). Pelos comentários, de ambas as mães, o descaso não é novidade.

Resolvo conferir. Afinal, já são duas homenageadas do dia se queixando do mesmo problema. Quantas outras? Vou até o posto. Logo no portão, um senhor conversa animado com uma mulher e brinca com uma criança. Percebo tratar-se de uma família. Pacientes em busca de atendimento? Acompanhantes aguardando paciente? Não. O homem, pelo que vi, trabalha no posto. A mulher e a criança, provavelmente mulher e filho(a), ou conhecidos, não sei.

Entro. Dirijo-me ao balcão de atendimento onde três homens (um uniformizado, usando um terno escuro, e outros dois com roupas casuais) assistem, muito animados, algum dos detestáveis programas dominicais num aparelho de televisão ali instalado. Além deles, mais ninguém no posto.

Começo minhas perguntas:
1) Existe algum médico atendendo? NÃO
2) Em nenhuma especialidade? NÃO
3) Alguma previsão para que alguém atenda? NÃO.

Agradeço e saio. Se verificarem no site da prefeitura de Mesquita (clique aqui) verão que a tal unidade de saúde deveria operar "Todos os dias com atendimento de urgência 24 horas". Mas como eu e as mães - e sabe-se lá quantas outras mães e outras pessoas em busca de atendimento - puderam comprovar, não é o que acontece. Reitero que a unidade passou por reforma e "reinaugurou" recentemente. Para quê? Talvez para oferecer aos moradores momentos de decepção, de desamparo. Talvez para deixar disponível a todos mais um canal de descaso com a saúde, de desrespeito com o ser humano. E, claro, para empregar pessoas animadas e descansadas e descontraídas, que gostam de assistir televisão numa tarde de domingo no dia das Mães.

Observações:
a) Enviei texto similar para a Ouvidoria do Município. Requerimento número 03372. Feito hoje e como autônomo. Mas, como podem ver, público aqui no TUIST onde posso ser identificado. Nada a esconder, muito para falar.
b) Também encaminhei para o canal Eu-repórter, do O Globo Online. Quem sabe um pouco de publicidade serve para, pelo menos, incomodar certo prefeito enquanto este curte seu segundo mandato, certo secretário de saúde, certa subsecretária de saúde e outros servidores que simplesmente não servem.
c) Segundo informações do Portal Transparência (algo louvável num município administrativamente tão caótico), a secretaria de saúde conta com 69 médicos, sendo 68 no quadro permanente em diferentes faixas salarias. Clique na imagem para ampliar.


d) Segundo informações obtidas no mesmo Portal, a Unidade de Saúde objeto desta postagem conta com 4 médicos no quadro permanente recebendo salário base de R$ 6.996,00. Pelo visto eles estão fazendo bom uso do salário (fico pensando se possuem matrícula em outros órgãos, ou se são tão diligentes caso atuem em estabelecimentos particulares). Esses 4, pelo visto não são tão permanentes assim. Clique na imagem para ampliar.



Viva às Mães!
Cadeia para os gestores da Saúde em Mesquita!!

quinta-feira, maio 05, 2011

The Mothers Index

Being a new mom is rewarding and challenging. But what extra burdens do mothers in poor and rural communities face?



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A menina no mercado

Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...