quinta-feira, agosto 04, 2011

O Nelson, o Tonho, a Crítica e a Honra
Comparações e definições

Comparações algumas vezes são difíceis. Por vezes até inadequadas. Mas outras vezes permitem relacionar questões a princípio sem relação aparente de modo a podermos enxergar, e expressar, nossa opinião, tecer comentários, analisar de forma mais ampla, olhar por outro ângulo... Tal como uma licença poética usada para outro fim que não a poesia e a rima.

Nelson Jobim, acaba de deixar o Ministério da Defesa. Entregou sua carta de demissão (ou foi demitido) por conta de suas declarações. As mais recentes tiveram como “alvo” as ministras-chefe da Casa Civil e da Secretaria de Relações Institucionais. Antes, já havia entrado em polêmica ao declarar não ter votado na atual presidente.

Vê-se que a crítica não é e nunca foi bem vista no atual governo. E no anterior também. Aceite, concorde, cumpra... ou cale-se... ou caia fora. Quardadas as devidas proporções, imaginem se todo funcionário do serviço público federal tivesse sua posse (ou manutenção de seus postos) condicionada a sua opinião/expressão política nas urnas. Quem não é dos nossos é contra nós! É inimigo! Deve ser afastado, excluído! Essas são características de governos totalitários. A semelhança com Chaves e Castros Brothers não é mera coincidência.

Não analiso aqui o caráter construtivo ou não das críticas recentes. Foram críticas e ponto. Com relação ao incomodo causado pela declaração do voto, bem... Presidente(a), não votei em vossa excelência, assim como não votei no seu antecessor (em ambos os mandatos). Trabalho numa empresa estatal (com capital da União). Também serei demitido?

Tonho Crocco, músico gaúcho, autor de uma música veiculada na internet na qual tece críticas ao aumento de 73% nos salários que os deputados estaduais gaúchos se concederam em 2010. Ele está sendo processado pelo Ministério Público. O autor da ação, deputado federal Giovani Cherini (PDT-RS), segundo informações recentes, pretende desistir. Porém, o que chama atenção aqui, assim como no exemplo anterior, é a fobia de crítica que parece acometer os políticos e gestores. Tonho foi processado porque ousou criticar, ousou se indignar e expressar essa indignação numa linguagem universal, a música, e num ambiente de ampla visibilidade, a Internet.

“A assessoria do deputado informou que a decisão de Cherini se deu “como presidente da Casa, em defesa à honra dos legisladores em conjunto”...” Honra?! Esse aumento passou de R$ 11.564,76 para R$ 20.042,34 o salário do ilustres deputados. Isso é uma afronta, um descaso, um desrespeito total com a população. E os cretinos (será que serie processado também?) ainda falam em honra?

Eles deturpam o “princípio que leva alguém a ter uma conduta proba, virtuosa, corajosa, e que lhe permite gozar de bom conceito junto à sociedade”. A honra.

Eles não suportam, não respeitam e não aceitam a “arte, capacidade e habilidade de julgar, de criticar”. A crítica.

Eles “agem desonestamente, em benefício próprio e/ou dos seus, especialmente nas instituições públicas, lesando a nação, o patrimônio público”, e se acham acima do bem e do mal, sua ética e sua moral (ou a falta de ambas) é relativa, funcionando de acordo com interesses bem próprios. Para eles, a justiça é ferramenta que deve lhes servir, e só. Para eles a lei é algo que escrevem e reescrevem, e que apagam e usam e desusam quando bem entendem, quando lhes convêm. Eles são corruptos.

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