sexta-feira, fevereiro 01, 2008

Palavras, (pré)conceitos, erros

Como já esperado, a ministra pediu demissão. Tal pedido poderia ser mais digno se não viesse acompanhado das palavras que contribuirão para que sua imagem (na verdade não apenas a imagem dela) fique mais prejudicada. Li no O Globo Online e destaquei duas frases da coletiva em que anunciou sua saída.

- Se eu tivesse sido alertada do erro, eu teria corrigido antes, mas só fui alertada no momento atual.
- O país ainda é um país que enfrenta o preconceito e o racismo. E isso se denota em atitudes cotidianas. Eu não tenho mais nada a dizer sobre isso.

Com relação a primeira, um repórter perguntou se a ex-ministra "não tinha discernimento para saber o que é certo e o que é errado". A ótima pergunta ficou sem resposta. Usar um cartão de crédito corporativo (um bem público) para efetuar compras particulares em freeshop é errado, é um crime, que não pode ser atribuído a ninguém além de quem o cometeu. Assim como alugar um carro claramente para fins particulares. Será que se o funcionário a orientasse a rasgar o próprio dinheiro ela também seguiria essa orientação? É lamentável.

A segunda talvez tenha sido a frase mais dispensável que ela pronunciou. O preconceito e o racismo no Brasil são fatos. A situação de desvantagem do negro também. O próprio Estado (IBGE) comprova isso. Preconceito eu sinto quando ando nas ruas e as pessoas mudam de calçada e/ou seguram fortemente suas bolsas, ato que poderia ser cômico se não fosse triste, se não ferisse tanto. Ou quando se recusam a compartilhar o elevador comigo. Quando o atendimento que me é dispensado em estabelecimentos comerciais diversos é nitidamente inferior ao de uma pessoa de pele clara. Já deixei de freqüentar lojas, pois sempre era seguido por seguranças nada discretos. Isso, sim, pelo simples fato de ser negro. Poderia listar aqui situações das mais diversas que acontecem cotidianamente. Mas não se pode confundir isso com o que ocorre com a ministra. Ela cometeu um erro, um crime. Repito: ela usou um bem público para fins particulares. E merece, sim, se afastada.

Li num blog que a ministra está sendo usada como boi de piranha. Se não levarmos em conta a cor da pele, imaginando que todos sejam azuis, sem nuances de azul, eu concordo que a ministra está mesmo servindo de bode expiatório. Quantos cometeram crimes envolvendo quantias bem maiores e ainda estão por ali? E os milhões que foram sacados em dinheiro sem possibilidade de estarem indicados e discriminados (como o aluguel de carro e a compra no freeshop) no portal Transparência? Será que o ministro do Esporte e o da Pesca (sic) também cairão? Será que os que sacaram milhões em dinheiro vivo responderão? São perguntas para as quais aguardo resposta. Mas não acredito em erro relativo. Os erros de outros não diminuem o erro de um.

Mas há algo que espero mais que as respostas para as indagações acima. Espero que as iniciativas e os projetos, que visão promover igualdade e proteção dos direitos do indivíduo, não se tornem piada como ocorre com a ex-ministra.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Alex, tudo bem?? Aqui quem escreve é um chará seu, sou ator e meu nome artistico também é Alex Amaral. Sou brasileiro e moro na España, olha o meu site: www.alexamaral.com

Bom, agora que a gente ja comparte um nome pelo menos que não percamos pista un do outro.

Um abração.
Alex Amaral.

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