O trote, a esmola e o alcoolismo
Época de início das atividades acadêmicas. Calouros e veteranos se encontram. O processo de iniciação pede o famoso trote. É uma experiência única e de suma importância, com impacto no decorrer da graduação (e da vida). Permite, ou deveria permitir a integração do aluno ingressante com os que lá estão. Conhecimento do ambiente universitário e suas possibilidades, tais como xerox, biblioteca, laboratórios, secretarias, departamentos, diretório acadêmico... Enfim, onde e como conseguir o quê.
Mas o que se vê são trotes repetitivos e já esperados, com alunos pintados nas ruas passando pela experiência de pedir dinheiro. A esmola que muitas vezes é negada aos pedintes originais, de Janeiro à Dezembro, é dada (ou negada, mas com risos amistosos), à elite do país (*) duas vezes ao ano, no primeiro e segundo semestres.
(*) Ser universitário num país onde existem tantos analfabetos, tantos que passam fome, é para poucos.
Passei pelo trote. Porém, no dia da saída para pedir dinheiro eu não estava presente. Motivos particulares. Mas fui pintado, participei de brincadeiras, algumas até legais. Depois, o que todos aguardavam: bar. Eu, como já gostava (e gosto) fui de bom grado. Cerveja gelada, novos colegas, bate-papo, uma perspectiva pela frente, animação. Ótimo.
Eu observava atentamente alguns desses colegas. Eu, um "velho" se comparado a média da turma, olhava aqueles novatos em algo que já conhecia há tempos. O álcool. Fiquei impressionado como embarcavam naquilo. Lembrei de minha primeira cerveja, na padaria do Seu Mô, como o chamávamos. Lá em Mesquita com a turma (a melhor turma, infelizmente hoje dispersa) do antigo segundo-grau no Colégio Estadual Brasil. Formandos de 1995. Um ambiente diferente do que senti, cerca de 10 anos mais tarde, na universidade. Antes era mais amigo (minha percepção). Não estou justificando, só lembrando e comparando. Ah, antes disso, mais novo ainda, já havia provado Malzbier. Engraçado, não me deram um Machado de Assis ou um Monteiro Lobato para ler, mas me ofereceram Malzbier e me deixavam assistir Xuxa. Que início!
Mas, seguindo. Não sou nenhum puritano em termos de bebida. Cerveja, chopp, uísque, vinho, cachaça (produto nacional, promovido até por nosso presidente). Procuro não exagerar, apesar de alguns lapsos, não tantos quanto pensam. E também leio Bukowski. E ali estava eu, vendo aquele pessoal novo, que tomava o primeiro gole como se fosse parte indispensável do trote. Li casos em que os calouros se disseram obrigados (um até com desfecho trágico), mas esse não era o caso ali. Estavam fazendo uma opção e a questão da inserção no grupo era usada como desculpa.
Penso agora nas campanhas do Ministério da Saúde e outras instituições para tentar combater o alcoolismo. São alertas da maior importância, em face às tragédias de vida que se repetem cotidianamente, onde o álcool é a ferramenta. Proíbem a venda de bebidas alcoólicas nas rodovias federais e lançam mão de outros artifícios. Até implicam com o Zeca. Mas não me lembro de nada sendo feito naquele ambiente, no trote. Não digo proibir. Chega disso, não adianta. Digo conscientizar, ou pelo menos tentar. São jovens que como sabemos, na maioria das vezes, não têm necessidade de contribuírem com as despesas de casa e, como muitos conseguem estágios já nos primeiros períodos (fora a mesada para os mais abonados) sobram recursos para usar nas eternas choppadas e encontros nos bares sempre próximos ao ambiente acadêmico, para facilitar. São o que eu chamo de consumidores de alto poder aquisitivo.
Repito e até peço, se puderem, não me taxem de puritano ou hipócrita, por favor. Eu era um dos grandes consumidores de cerveja vendida nas cercanias da universidade. Isso fora os bares (alguns dentro do campus) a caminho do ponto de ônibus. Como muitos dizem "eu não presto". Mas me preocupo com essa juventude. Não sou alienado quantos aos riscos. E também não quero que eu nem "os meus" sejam vítimas da inconseqüência reinante.
Época de início das atividades acadêmicas. Calouros e veteranos se encontram. O processo de iniciação pede o famoso trote. É uma experiência única e de suma importância, com impacto no decorrer da graduação (e da vida). Permite, ou deveria permitir a integração do aluno ingressante com os que lá estão. Conhecimento do ambiente universitário e suas possibilidades, tais como xerox, biblioteca, laboratórios, secretarias, departamentos, diretório acadêmico... Enfim, onde e como conseguir o quê.
Mas o que se vê são trotes repetitivos e já esperados, com alunos pintados nas ruas passando pela experiência de pedir dinheiro. A esmola que muitas vezes é negada aos pedintes originais, de Janeiro à Dezembro, é dada (ou negada, mas com risos amistosos), à elite do país (*) duas vezes ao ano, no primeiro e segundo semestres.
(*) Ser universitário num país onde existem tantos analfabetos, tantos que passam fome, é para poucos.
Passei pelo trote. Porém, no dia da saída para pedir dinheiro eu não estava presente. Motivos particulares. Mas fui pintado, participei de brincadeiras, algumas até legais. Depois, o que todos aguardavam: bar. Eu, como já gostava (e gosto) fui de bom grado. Cerveja gelada, novos colegas, bate-papo, uma perspectiva pela frente, animação. Ótimo.
Eu observava atentamente alguns desses colegas. Eu, um "velho" se comparado a média da turma, olhava aqueles novatos em algo que já conhecia há tempos. O álcool. Fiquei impressionado como embarcavam naquilo. Lembrei de minha primeira cerveja, na padaria do Seu Mô, como o chamávamos. Lá em Mesquita com a turma (a melhor turma, infelizmente hoje dispersa) do antigo segundo-grau no Colégio Estadual Brasil. Formandos de 1995. Um ambiente diferente do que senti, cerca de 10 anos mais tarde, na universidade. Antes era mais amigo (minha percepção). Não estou justificando, só lembrando e comparando. Ah, antes disso, mais novo ainda, já havia provado Malzbier. Engraçado, não me deram um Machado de Assis ou um Monteiro Lobato para ler, mas me ofereceram Malzbier e me deixavam assistir Xuxa. Que início!
Mas, seguindo. Não sou nenhum puritano em termos de bebida. Cerveja, chopp, uísque, vinho, cachaça (produto nacional, promovido até por nosso presidente). Procuro não exagerar, apesar de alguns lapsos, não tantos quanto pensam. E também leio Bukowski. E ali estava eu, vendo aquele pessoal novo, que tomava o primeiro gole como se fosse parte indispensável do trote. Li casos em que os calouros se disseram obrigados (um até com desfecho trágico), mas esse não era o caso ali. Estavam fazendo uma opção e a questão da inserção no grupo era usada como desculpa.
Penso agora nas campanhas do Ministério da Saúde e outras instituições para tentar combater o alcoolismo. São alertas da maior importância, em face às tragédias de vida que se repetem cotidianamente, onde o álcool é a ferramenta. Proíbem a venda de bebidas alcoólicas nas rodovias federais e lançam mão de outros artifícios. Até implicam com o Zeca. Mas não me lembro de nada sendo feito naquele ambiente, no trote. Não digo proibir. Chega disso, não adianta. Digo conscientizar, ou pelo menos tentar. São jovens que como sabemos, na maioria das vezes, não têm necessidade de contribuírem com as despesas de casa e, como muitos conseguem estágios já nos primeiros períodos (fora a mesada para os mais abonados) sobram recursos para usar nas eternas choppadas e encontros nos bares sempre próximos ao ambiente acadêmico, para facilitar. São o que eu chamo de consumidores de alto poder aquisitivo.
Repito e até peço, se puderem, não me taxem de puritano ou hipócrita, por favor. Eu era um dos grandes consumidores de cerveja vendida nas cercanias da universidade. Isso fora os bares (alguns dentro do campus) a caminho do ponto de ônibus. Como muitos dizem "eu não presto". Mas me preocupo com essa juventude. Não sou alienado quantos aos riscos. E também não quero que eu nem "os meus" sejam vítimas da inconseqüência reinante.
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