quarta-feira, fevereiro 13, 2008

Estética educacional

Havia uma linha estética. Não se mobilia uma casa de qualquer maneira. Tem linhas de estética para poder ter um conjunto harmonioso”. Está foi a declaração do Magnífico Reitor da Universidade de Brasília, Timothy Mulholland, sobre a decoração de um apartamento funcional no valor aproximado de R$ 500 mil. Para não fugir da linha estética foi preciso a aquisição de uma lixeira de cerca de R$ 1000.

Veja a lista dos nada básicos itens da decoração do apartamento. Com meus comentários, é claro:

Cadeiras, poltronas, mesa de centro, cabeceira da cama e banco - R$ 69.566
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Tirando algumas poucas salas que já vi e que parecem subsidiadas (direito na UERJ, por exemplo) essa grana daria para comprar carteiras que favorecessem o bem-estar do aluno.
Refrigerador, freezer, fogão, lava-louças, adega etc - R$ 31.150
- Adega?
Taças de vinho e copos de uísque - R$ 4.590
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Bem, é bom relaxar um pouco depois de um dia de trabalho árduo em prol da educação. E também justifica o lance da adega.
Dois faqueiros - R$ 3.998
- Coisa de primeira. Facas boas para cortar o bem público.
Home cinema - R$ 36.603
- Filmes educacionais e documentários são sempre importantes na graduação.
Tapetes, persianas e colchões - R$ 37.668
Telas artísticas - R$ 21.600
Palha para revestimento, xales de seda, tapetes e almofadas - R$ 20.562
Instalação de ar-condicionado nos quartos - R$ 11.470
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Chique! Ambiente requintado e acolhedor
Plantio de 16 vasos com plantas - R$ 7.264
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O preço do combate ao aquecimento global?
Instalação de luminárias - R$ 9.845
- Quantas vezes a aula foi transferida de sala por um motivo simples: lâmpada queimada.

Não seria bom se fossem tão cuidadosos com os prédios universitários? Imaginem uma universidade onde as carteiras fossem confortáveis para os alunos. Não precisa ser nada de luxo. Basta não escolher algo no catálogo ou mesmo às cegas como parece ser feito. Imaginem se os banheiros contassem, todos, com lixeiras. Mil reais dariam para abastecer todos os banheiros com lixeiras de boa qualidade, além do tão raro papel higiênico e, se não for muito luxo, um pouco de sabonete líquido para uma higiene mais completa. A mão a gente seca na roupa mesmo, para economizar a escassa verba. Isso faria com que o conjunto de banheiros de uma universidade ficasse, digamos, harmonioso. Obedecendo, assim, a linha de estética conhecida como “basicão”.

Das coisas lamentáveis que vemos na política, na educação, na segurança, algumas simplesmente extrapolam. Foi o caso da UnB. Ontem as reportagens mostraram as condições da universidade. Mais uma vez pergunto: por que construir mais universidades se não conseguem dar conta das atuais? Se não há verba ou competência administrativa para dar condições de estudo (e trabalho aos professores e técnicos) nas universidades que aí estão, se não há dinheiro para laboratórios decentes, para papel higiênico, por que construir outro prédio que, continuando assim, se deteriorará rapidamente? Dizem que a razão é um déficit de vagas. Bem, gostaria que visitassem certas universidades para checar quantas carteiras estão vazias. Com certeza o número atual de universidades não comporta todos que poderiam (ou deveriam) estar cursando um ensino superior (sic), mas primeiro penso que deveria ter um aproveitamento do que já existe. Claro, se houver interesse em criar condições para isso. Como já disse aqui, e repito, a ignorância é uma política de Estado. Por falar em interesse, o que é novo interessa aos políticos e ilude uma camada da população. Esse não é um fenômeno exclusivo da educação. Quantos hospitais abandonados já foram tema de reportagens? A promessa que dura até a próxima eleição. O mesmo ocorre com o setor de infra-estrutura. Asfaltos incompletos, pontes ligando nada a lugar nenhum.

Bem, na reportagem de ontem do Jornal Nacional (e tenho certeza que outras emissoras também cobriram) apareceu, além de um representante dos alunos, uma representante da Associação dos Docentes da UnB. Leia o comunicado da ADUnB sobre o referido caso. Ficou claro que já aguardavam um desfecho ruim para imagem da universidade, pois já vinham alertando sobre o mau uso da verba pública e as atuações desvirtuosas de organismos que deveriam primar por atividades de caráter universitário, educacional, dentro das três funções básicas: ensino, pesquisa e extensão. Lembro que ela ainda citou a preocupação com o favorecimento de alguns docentes em detrimento de outros. A famosa panelinha que tanto me enoja.

Isso tudo foi desencadeado após a compra de artigos pessoas num freeshop feita pela ex-Ministra do SEPPIR usando um cartão corporativo do governo (quer dizer, do povo). O pavio foi aceso. Resta saber até onde e quando as bombas continuarão a explodir. E se Matilde terá sido a única baixa.

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