"Eu os amava, meus compatriotas.
Eu os amava sem pensar na linhagem de seus pais.
Eu amava o Quênia. Mas olhem o que este país fez em mim:
sodomizou meu senso de humanidade e meu orgulho".
Simiyu Barasa
Após ler um texto de Benedicto Ferri de Barros, intitulado “Poder e tragédia no Quênia”, publicado na versão on-line do Diário do Comércio, fui à busca de dois textos que ele cita. O primeiro deles foi publicado na Veja de 20/02/2008, por Roberto Pompeu de Toledo, no qual o autor faz referência ao segundo texto, este do queniano Simiyu Barasa e com o título "O obituário de Simiyu Barasa".
O texto deveria ser lido na ONU. Deveria ser veiculado pelo governo queniano. Deveria estar disponível a todos aqueles que habitam o país palco de um dos episódios mais tristes da história recente. Triste e irracional. Não análise acadêmico-jornalística, é um relato, cheio de sentimento, emoção.
Barasa, jovem de vinte e poucos anos, é um escritor, roteirista de TV e cineasta queniano. Mas acima de tudo é um africanista, um pensador, um crítico. Em seu obituário em vida ele fala dos acontecimentos recentes, dos sentimentos de medo, amor, indignação. Da incompreensão dos motivos, insignificantes e banais, que levam seres humanos a matarem seres humanos, de forma fria e cruel. Não se trata de um comentário de um telejornal que reproduz algo que foi visto por uns e publicados por outros. É, em última instância, um relato de um queniano que vive a situação.
Mesmo após décadas de independência, o território que o mapa mostra como Quênia, e que Barasa acreditava ser sua pátria, continua fragmentado.
"Toda sua história pregressa se caracteriza por relações frágeis
e pouco amistosas, quando não declaradamente hostis.
Assim, o Quênia não regrediu para a tribalização.
Apenas não chegou à união nacional de sua população".
Benedicto Ferri de Barros
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