Muitas vezes as incursões da força policial em comunidades tem como conseqüência a morte de pessoas que, a principio, nada têm a ver com o crime. Entram para as estatísticas de morte por bala perdida. Embora agora percebe-se uma mudança, mesmo que tímida, as ditas operações policiais parecem ser as únicas vezes em que o Estado se faz presente nas favelas, nos morros. As imagens que passam na televisão mostram policiais atirando para cima. Algumas vezes até noto que, ao atirar, viram o rosto para o lado, como que não querendo ver o resultado. Atiram para onde acham que parte os tiros dos bandidos, razão de sua presença. Apontam para determinada direção e puxam o gatilho. Os bandidos, creio eu, fazem o mesmo. Apontam para baixo e puxam o gatilho de suas armas, muitas vezes, mais modernas e poderosas que a dos policiais. Mas têm uma vantagem: seus alvos usam uniformes e carros oficiais com a sirene no topo. É fácil identificar.
Ontem essa guerra fez mais uma vítima. Uma menina de 11 anos, na Rocinha, Rio de Janeiro. Parentes e vizinhos dizem que o tiro partiu da polícia. A polícia, por sua vez, nega dizendo que a operação se concentrou na parte baixa, sem possibilidade de os tiros atingirem o local onde a criança foi morta. Pode seu que sim, pode ser que não. Em toda minha ignorância belicista, me perguntei qual seria a distância que um projétil é capaz de atingir, com força suficiente para matar. Também pensei se aqueles policiais que atiravam para cima conseguiriam descrever seu alvo. Era uma pessoa ou um ponto (casa, janela, telhado, etc) onde essa pessoa, esse bandido, estaria? Era homem? Negro, branco, usava máscara? Estava com ou sem camisa? E de quê cor era sua roupa? Escura, clara? Estava num telhado, numa das vielas, numa janela?
É claro que, como sempre nos é exposto, foi uma operação planejada e cuidadosamente executada. Pode ser que sim, por ser que não.
Quero deixar claro que isso não é uma defesa da criminalidade. Também não afirmo que o tiro partiu do mocinho ou do bandido. Todo criminoso deve ser detido e fatalidades... bem, são fatalidades. O que defendo aqui é a preservação da vida de pessoas honestas, inocentes. E para que isso aconteça, o Estado, ali representado por uma força policial, deve planejar melhor sua forma de atuação em prol da sociedade.
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