Questão de existência
A intenção desta postagem é fazer uma indicação. E com fins lucrativos, que fique bem claro; porém, não monetariamente falando. O lucro virá em forma de informação difundida e acessível, de quebra de paradigmas impostos ao longo da história, de conhecimento e de reconhecimento. Mas antes penso ser adequada esta introdução.
Os que leram algumas de minhas postagens e informações pessoais que já publiquei aqui, devem saber que minha área de estudo é a Arquivologia, a Informação, a Memória. Não há como dissociar a arquivística de outras áreas do conhecimento, como por exemplo, da Antropologia, das Ciências Sociais e Humanas, da Psicologia, da História, dentre outras. Por vezes também deixo claro meu interesse por questões ligadas à história, mais especificamente sobre a História da África e do Afro-descendente. Com isso, passo por questões ligadas ao racismo (conceito sociológico), escravidão, ações afirmativas, cultura afro-brasileira e africana, política, relações internacionais e atualidades.
Memória e informação, muitas vezes podem ser uma construção não somente social, mas sobretudo política. Informação e Memória são questões que se relacionam com dominação, de um grupo ou classe sobre outro. Quem sabe mais, quem possui informação, se sobrepõe. É claro, desde que o uso de tal informação se dê favoravelmente a esse processo. Mas a memória (e a informação) também está ligada ao fortalecimento do indivíduo, de uma empresa, de um grupo, de um povo. Já devem ter ouvido frases do tipo “um povo sem memória é um povo sem futuro”. Quando estudamos a questão da informação e memória, não ficamos apenas no âmbito da dominação política, econômica, ideológica, mas lidamos também com a questão da identidade. Assim como precisamos de documentos de identificação para tomar parte na sociedade civil, com nossos direitos e deveres, necessitamos também de identidade cultural e histórica de modo a termos nossa auto-estima elevada, nossos laços fortalecidos. Poderemos assim integrar a sociedade de maneira mais segura, pois saberemos quem somos e o que representamos, cultural, social e historicamente.
Com relação à cultura e história africana e afro-descendente verificamos questões políticas envolvidas, uma vez que não são contempladas no que é “ensinado” nas escolas. O resultado é o enfraquecimento social de boa parcela da população, que desconhece sua história, que vive como “um povo sem memória”, estigmatizado com o preconceito (seu e de outros) com sua própria cultura. Pessoas que existem sem existir. Uma oportunidade para mudar esse quadro é a aplicação da Lei 10.639, sobre a qual já postei aqui. E ferramentas para sua aplicação começam a surgir, seguindo ou não a onda editorial trazida com a regulamentação da lei.
Enfim, chego à indicação propriamente dita. Mas espero que não tenham pulado a introdução. Trata-se de um livro de poucas páginas (126) e inúmeras possibilidades. O autor é mais conhecido como sambista, e dos bons. Além de músicas como “No tempo de Dondom”, “Goiabada Cascão” e “Baile no Elite” soma-se à sua obra livros que já se tornaram referência como “Novo Dicionário Banto do Brasil”, “O Negro no Rio de Janeiro e Sua Tradição Musical”. O curioso é que ele tem mais livros que CDs publicados. Grande Nei Lopes! E é blogueiro também, veja só.
O que li mais recentemente, Histórias do Tio Jimbo, saiu este ano pela Mazza Edições. Um livro de linguagem acessível, que me surpreendeu do começo ao fim com histórias sobre a História que parece ter sido vetada. Olaudah Equiano, O Almirante Negro, As Candaces, Tunka Manin, Sundiata, Abu Bacar, Richard Allen, Maria Firmina dos Reis, Licutan, Juliano Moreira... são tantos e tantas. [Neste seu novo livro, Nei Lopes revela, pela fala “malandra” e intelectual do velho e esperto “Tio Jimbo”, muito do que os currículos escolares e os veículos de comunicação ainda estão por assimilar e difundir].
Por essas e outras eu indico
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