Anistia e Vaticano
Ontem o inglês The Independent trouxe em sua capa uma matéria sobre a campanha da Anistia Internacional que se mostra favorável ao aborto. O foco da reportagem, na verdade, foi o conflito que tal posição suscita entre a instituição e a Igreja Católica. “Anistia desafia Igreja Católica pelos direitos das vítimas de estupro”. O Cardeal Renato Martino, presidente do Pontifício Conselho por Justiça e Paz, declarou que a menos que essa política da Anistia [Internacional] se reverta, o Vaticano irá convocar os católicos de todo o mundo a boicotar a organização. Posição um tanto ríspida a meu ver, mas é preciso lembrar que a Anistia, instituição criada em 1961, está lidando com outra com dois milênios de história.
Não tenho uma opinião formada com relação ao aborto. Se é crime ou direito. Se é pecado. Se é certo ou errado. Até mesmo porque as variáveis ou “razões” para a prática do aborto não se limitam ao simples desejo de ter ou não filhos. Muito menos se restringe ao planejamento familiar. E mesmo se considerarmos apenas a questão religiosa, mas especificamente católica, é preciso lembrar que a porcentagem de católicos no mundo é de 17,20% de acordo com o site Rádio Vaticano.
Pelo que li o posicionamento da Anistia Internacional leva muito em consideração questões como as que ocorrem em Darfur, no Sudão. Naquela região o estupro é arma de guerra, de imposição genético-étnica e de dominação. Segundo relatório da organização feito em visita à região há três anos, é espantoso o número de casos de estupro. As vítimas são mulheres e crianças de até nove anos. Além da humilhação, da violência, do terror psicológico, e do ostracismo social a que as vítimas são submetidas, surgem as doenças que acabam por trazer mais mortes. Sendo as mortes e estupros causados pela milícia pró-árabe Janjawid, apoiada pelo governo sudanês, a dominação se dá pelo extermínio de não árabes e, com os estupros, o nascimentos de crianças de sangue árabe. Estupro usado como arma de guerra com o propósito de mudar o panorama étnico de um país. No caso de Darfur, seria a arabização da próxima geração. É estúpido, ignorante, irracional, eu sei muito bem. Mas é a infeliz realidade.
O Vaticano argumenta que a Anistia estaria indo contra sua própria missão. Diz que a organização ao mesmo tempo em que luta contra a pena de morte estaria condenando a morte uma criança antes que nasça. O que acaba por levantar, mais uma vez, a questão de quando a vida começa.
A secretária geral Anistia, Kate Gilmore, nega que a organização tenha se tornado “pró-aborto” insistindo que a organização segue imperativos legais e não teológicos. O que levanta outra questão interessante. O Estado laico.
Laico até que ponto? Existe a mesma reverência a um líder muçulmano, protestante, ou hindu, como vemos com relação ao Papa? Quando ouvimos na televisão algo do tipo “a igreja se pronunciou…” de qual igreja se fala?
O Estado não é nada laico. A questão do aborto, defendida “em alguns casos” pela Anistia Internacional, esbarra de uma maneira ou de outra nos dogmas católicos intrínsecos à sociedade, às leis, ao Estado.
Espero que não se perca de vista uma coisa: a mulher.
Ontem o inglês The Independent trouxe em sua capa uma matéria sobre a campanha da Anistia Internacional que se mostra favorável ao aborto. O foco da reportagem, na verdade, foi o conflito que tal posição suscita entre a instituição e a Igreja Católica. “Anistia desafia Igreja Católica pelos direitos das vítimas de estupro”. O Cardeal Renato Martino, presidente do Pontifício Conselho por Justiça e Paz, declarou que a menos que essa política da Anistia [Internacional] se reverta, o Vaticano irá convocar os católicos de todo o mundo a boicotar a organização. Posição um tanto ríspida a meu ver, mas é preciso lembrar que a Anistia, instituição criada em 1961, está lidando com outra com dois milênios de história.
Não tenho uma opinião formada com relação ao aborto. Se é crime ou direito. Se é pecado. Se é certo ou errado. Até mesmo porque as variáveis ou “razões” para a prática do aborto não se limitam ao simples desejo de ter ou não filhos. Muito menos se restringe ao planejamento familiar. E mesmo se considerarmos apenas a questão religiosa, mas especificamente católica, é preciso lembrar que a porcentagem de católicos no mundo é de 17,20% de acordo com o site Rádio Vaticano.
Pelo que li o posicionamento da Anistia Internacional leva muito em consideração questões como as que ocorrem em Darfur, no Sudão. Naquela região o estupro é arma de guerra, de imposição genético-étnica e de dominação. Segundo relatório da organização feito em visita à região há três anos, é espantoso o número de casos de estupro. As vítimas são mulheres e crianças de até nove anos. Além da humilhação, da violência, do terror psicológico, e do ostracismo social a que as vítimas são submetidas, surgem as doenças que acabam por trazer mais mortes. Sendo as mortes e estupros causados pela milícia pró-árabe Janjawid, apoiada pelo governo sudanês, a dominação se dá pelo extermínio de não árabes e, com os estupros, o nascimentos de crianças de sangue árabe. Estupro usado como arma de guerra com o propósito de mudar o panorama étnico de um país. No caso de Darfur, seria a arabização da próxima geração. É estúpido, ignorante, irracional, eu sei muito bem. Mas é a infeliz realidade.
O Vaticano argumenta que a Anistia estaria indo contra sua própria missão. Diz que a organização ao mesmo tempo em que luta contra a pena de morte estaria condenando a morte uma criança antes que nasça. O que acaba por levantar, mais uma vez, a questão de quando a vida começa.
A secretária geral Anistia, Kate Gilmore, nega que a organização tenha se tornado “pró-aborto” insistindo que a organização segue imperativos legais e não teológicos. O que levanta outra questão interessante. O Estado laico.
Laico até que ponto? Existe a mesma reverência a um líder muçulmano, protestante, ou hindu, como vemos com relação ao Papa? Quando ouvimos na televisão algo do tipo “a igreja se pronunciou…” de qual igreja se fala?
O Estado não é nada laico. A questão do aborto, defendida “em alguns casos” pela Anistia Internacional, esbarra de uma maneira ou de outra nos dogmas católicos intrínsecos à sociedade, às leis, ao Estado.
Espero que não se perca de vista uma coisa: a mulher.
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