60 bilhões de dólares para a África.
Li hoje pela manhã uma notícia sobre o comprometimento (mais uma vez) do G7 + 1 em adotar um pacote de 60 bilhões de dólares para o combate a AIDS e outras doenças que assolam o continente Africano. Como quase sempre, fui ler os comentários a essa notícia. Sempre instrutivos, ilustram o pensamento de muitos em relação não só a notícia, mas também sobre determinado aspecto da mesma, neste caso, a África. Um dos comentários me chamou atenção, primeiramente pelo caráter denunciativo (mesmo que o autor aparentemente não tenha se dado conta) e depois pelo desfecho preconceituoso e até desrespeitoso com os africanos.
A denuncia – sendo o autor um funcionário de uma embaixada em Roma e tendo contato com diplomatas de diversos países, ele se diz “escandalizado” como desperdício de dinheiro que fazem os diplomatas africanos. Exemplifica citando o caso de um embaixador de um país “miserável” da África que comprou recentemente um automóvel Mercedes avaliado em 95 mil euros.
Com certeza esse não é um caso isolado. Qualquer pessoa que procure se inteirar sobre os aspectos sociais do continente africano saberá que existem muitos que se usam de posições políticas privilegiadas em benefício próprio, mesmo que a razão de ser de tais cargos seja o desenvolvimento de uma maioria. Maioria que padece. É interessante como somos (Brasil e África) parecidos nesse aspecto.
O preconceito – o autor do comentário termina com a seguinte declaração “Riqueza a africa tem e muita o que não tem assim como nós e vergonha na cara” (texto exato; grifo meu). Não sei a origem do autor. Questionei, também postando um comentário, quem seriam “nós”. Gostaria de saber quem é esse povo tão melhor que os africanos, com “vergonha na cara”. Também fiquei escandalizado, mas pelo vazio de comentários como esse. Lembrei também de minhas aulas de Teoria da História (ou Introdução aos Estudos Históricos) quando discutimos os obstáculos epistemológicos. Um deles era justamente o uso de generalizações indevidas. No caso do comentário em questão, a generalização atinge um continente inteiro, que o autor considera como não tendo “vergonha na cara”.
Procuro postar sobre a África em diversos aspectos políticos, culturais, sociais. Meu conhecimento é mínimo, mas me permito tecer comentários objetivando a quebra de paradigmas, aumento do conhecimento sobre o continente africano, análises comparativas do que acontece aqui e lá, posicionamento crítico de determinadas informações que lemos nos jornais e revistas, etc. Eu tento. Comentários como o que li hoje no O Globo On-line, me fazem pensar que ainda há muito que fazer. A ignorância gera preconceito. Isso é um fato!
Links relacionados:
BBC News (inglês)
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