domingo, junho 24, 2007

Quais serão os frutos de mais uma reunião?

Nesta segunda-feira, 25 de Junho, acontece em Paris uma conferência cujo tema será a crise humanitária em Darfur, Sudão. Já comentei aqui no blog sobre mais essa calamidade que ocorre desde 2003. Assim como no Holocausto, ou em Ruanda, ou no Timor Leste, a postura internacional com relação aos acontecimentos é apática. Recusou-se, durante muito tempo, em reconhecer que naquela região ocorre um genocídio, condição sine qua non para uma “possível” atitude. Vemos a importância que têm a palavras, meras palavras.

Palavras muito bem empregas por Jan Egeland, chefe de Assuntos Humanitários da ONU que em palestra de 2006 no conselho de segurança, tentou chamar atenção dos poderosos do mundo, dizendo “a melhor forma de explicar aos que tem poderes para influenciar seria reunir todos para negociações num dos campos [de refugiados]. Eles trariam suas famílias, suas esposas, suas crianças. Então veriam como é. Como é dormir com medo. Ter milícias ou homens armados de quaisquer grupos incluindo bandidos, infiltrarem-se nos acampamentos e matar, e abusar, e estuprar. Penso que seria um grande incentivo para o progresso [de tais negociações]”. A declaração faz parte de uma apresentação disponível no site do Council on Foreign Relations. Clique aqui para assistir (em inglês). Ele inicia dizendo que esteve lá em 2004 e haviam 1 milhão de necessitados, voltou em 2005 e haviam 2 milhões, retornou na primavera seguinte e encontrou 3 milhões de necessitados, e naquele momento [2006] haviam 4 milhões. Os necessitados seriam os refugiados do massacre que, somados às centenas de milhares de mortos, ajudam a criar o quadro de uma das mais recentes vergonhas da humanidade.

What is happening in Darfur today is a scandal.
It’s not a problem, it is a scandal.”
(Toni Blair – Janeiro/2007)

Espero que a reunião desta segunda-feira (que não será num dos campos de refugiados) não seja simplesmente… mais uma reunião de poderosos.
...
Gostaria de indicar o artigo de Luiz Leitão na coluna Opinião da edição de 22 de junho do jornal Tribuna Catarinense, intitulado “Enquanto Darfur espera”. Clique aqui.


Um comentário:

Luiz Leitão da Cunha disse...

Caro Alex,

A respeito de Darfur,cujo predidente Al-Bashir "resolveu" aceitar a intervenção - o que pode ser apenas uma manobra- o novo presidente da França fez esta declaração, bastante eloqüente, e espero que não ecoe no vazio, embora a notícia diga algo sugestivo "os ausentes à reunião foram a União Africana e governo sudanês":

PARIS - O presidente francês, Nicolas Sarkozy, pediu nesta segunda-feira, 25, que a comunidade internacional atue "rápido" e seja "firme" para solucionar o conflito em Darfur.

"O silêncio mata. Queremos mobilizar a comunidade internacional para dizer: basta", afirmou Sarkozy a representantes de 18 países e de várias organizações internacionais, incluindo a ONU, reunidas em Paris.

Altos representantes de 18 países e de organizações internacionais estão reunidos para tentar promover uma solução para o conflito de Darfur e discutir a situação humanitária e a reconstrução dessa província sudanesa.

Os grandes ausentes na reunião são a União Africana e o governo do Sudão, que, após meses de bloqueio, aceitou recentemente o futuro envio de uma força conjunta da ONU e da UA a Darfur.

Por outro lado, destaca-se a participação da China, país que compra dois terços do petróleo sudanês e é um aliado do regime de Omar Hassan Ahmad al-Bashir.

Em uma velada alusão à China, a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, disse no sábado à noite em Paris que é preciso "assegurar que todos tenham o mesmo objetivo e desejem ir na mesma direção". "A China tem responsabilidades no Conselho de Segurança da ONU - do qual é um de seus cinco membros permanentes - e boas relações na África", afirmou.

"Espero que intensifiquem sua atitude" em favor da pacificação de Darfur e da ajuda humanitária aos afetados pela crise, acrescentou Rice em entrevista coletiva com o ministro de Relações Exteriores francês, Bernard Kouchner.

Calcula-se que o conflito de Darfur, que começou em 2003, já causou a morte de mais de 200 mil pessoas e o deslocamento de cerca de 2,5 milhões, além de afetar o Chade e a República Centro-Africana, os países vizinhos.


´Pressa´
O chefe de Estado francês insistiu na necessidade de "atuar, e atuar depressa", porque "seres humanos morrem em dezenas de milhares nesse lugar do mundo", e "não podemos deixar a situação como está".

Segundo Sarkozy, a conferência internacional de Paris deve "mobilizar a comunidade internacional" e fixar "um mapa de rota claro para cada um dos atores".

O ministro da Defesa francês, Hervé Morin, expressou a esperança de que a força conjunta de paz da ONU e da UA possa ser posicionada em Darfur "o mais tarde no início do ano".

Após lembrar na emissora France Inter que a França já instalou uma ponte aérea humanitária para os refugiados de Darfur e deslocados no leste do Chade, Morin disse que a futura força terá uma ampla participação de soldados franceses.

Antes do início da conferência, está previsto que os participantes se reúnam no Palácio do Eliseu com o presidente francês, Nicolas Sarkozy, para quem a reunião deve dar "um novo impulso" à mobilização internacional a favor de Darfur.

Além dos Estados Unidos e da França, os outros países representados em nível ministerial em Paris são Alemanha - que preside a União Européia este semestre -, Holanda, Canadá, Noruega, Itália, Suécia, Dinamarca e Portugal.

Os outros oito países participantes estão representados por vice-ministros ou secretários de Estado.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, o alto representante da UE para a Política Externa e de Segurança, Javier Solana, e o comissário de Cooperaçãoda UE, Louis Michel, também estarão presentes na conferência, assim como responsáveis da Liga Árabe e do Banco Africano de Desenvolvimento. ***

Um abraço,

Luiz Leitão

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