Explora-se a ignorância, mantém-se a ignorância
A Pfizer realizou em 1996 testes com o então novo antibiótico Trovan, durante um surto de meningite no norte da Nigéria. O medicamento, sem autorização segundo o governo nigeriano, foi ministrado em aproximadamente 200 crianças, das quais 50 morreram, embora a farmacêutica americana reconheça “somente” 11 mortes.
Muito se fala sobre os testes e pesquisas com animais em laboratório. Mas pouco se comenta sobre os testes com seres humanos. O que aconteceu na Nigéria, apesar da defesa da farmacêutica, e considerando o relato de pais e crianças sobreviventes, foi a exploração do desconhecimento, da ignorância de pessoas que, pensando estar recebendo tratamento de fato, serviram como cobaias. Mais um ato desumano em prol do lucro. A farmacêutica declarou que obteve “consentimento verbal” dos pais das crianças. Essa é boa! Imagino a cena.
Além das mortes comprovadas, sejam 5 ou 20 por cento, muitas crianças desenvolveram deformidades físicas e mentais. “The American doctors took advantage of our illiteracy and cheated us and our children. We thought they were helping us,” declara Hassan Sani, pai de Hajara de 14 anos, sobrevivente que, após receber o “tratamento” começou a demonstrar apatia e incapacidade de falar.
Se já não bastasse todo sofrimento causado, digo que a fatídica exploração da ignorância gerou mais ignorância, pois muitos se recusaram a participar da campanha de imunização em massa contra pólio, organizada pela OMS uma década depois. Trauma, fruto da desconfiança. Felizmente o programa continuou, mas a marca permanece, principalmente nas famílias das vítimas.
Existe um processo contra a farmacêutica, que vem levando a melhor.