quinta-feira, janeiro 31, 2008

Quênia Кения ケニア 케냐 Quénia
Kenia Kenya Κενυα 肯尼亚 肯尼亞 كينيا
Democracia 民主 Democratie Démocratie
Demokratie δημοκρατια Democrazia 民主主義
민주주의 демократия La democracia الديمقراطيه

As cenas que se repetem na mídia (Internet, televisão, jornais...) são tristes, revoltantes, monstruosas, desumanas, violentas e, fundamentalmente, irracionais. Assassinar pessoas, independente de gênero ou idade, não é ato justificado. Atear fogo numa igreja lotada, inclusive com crianças, é abominável. E a contagem não pára. Mortes aos montes, multidões que fogem de seus lares para suportarem outros sofrimentos que, possivelmente e como mostra a história mais que recente, levarão a mais mortes.

A notícia crua é que, após eleições contestadas pela oposição, a revolta se alastrou num país africano até então estável. Diferenças políticas reavivaram conflitos étnicos. Centenas de mortos. Violência nas ruas. Luta tribal. Tenta-se chegar a um acordo de paz, colocando oposição e situação para conversar.

Mas nada é tão simples. É preciso recorrer à história, analisar o processo democrático, indo um pouco além.

Invasão, guerra, exploração, dominação... Em 1885, na Conferência de Berlin, o que se chama de Quênia foi dado à Inglaterra. Não vou me aprofundar aqui, mas quando falo "o que se chama de Quênia" faço referência às fronteiras estabelecidas politicamente. Também já comentei aqui no blog sobre a política de separar para dominar. É favorecer uma tribo ou etnia, como aconteceu em Ruanda. No Quênia, a favorecida foi a Kikuyu, do presidente "reeleito" Mwai Kibaki. Exemplo: Rift Valley, onde hoje a violência impera, era tradicionalmente território dos Kalenjin e dos Masai, mas a grande parte foi usada pelos britânicos para plantação e, depois, dado aos Kikuyu. Isso é fato histórico e, como tal, não pode ser deixado de lado ao tentar compreender a atualidade.

O Quênia alcançou grande nível de desenvolvimento econômico, principalmente com o turismo. O presidente Kibaki fez coisas boas na educação, porém, pecou por favorecer seu grupo étnico. Vê-se aí que o processo democrático não acompanhou o desenvolvimento econômico. Isso ficou claro nas eleições do ano passado. O candidato da oposição, Raila Odinga, de etnia Luo, direcionou sua campanha para uma coalizão entre as tribos/etnias desfavorecidas no governo Kibaki. Ganhou força assim. E tudo leva a crer que foi o real vencedor das eleições. Prova do descontentamento do povo é o fato de parlamentares governistas não terem sido reeleitos, indicando um enfraquecimento claro dos partidários de Kibaki.

A tragédia já estava sendo anunciada. Lembro de ter visto na TV e lido na internet que observadores internacionais indicavam "problemas" no processo. Exemplos: numa localidade, onde existiam n eleitores, contabilizou-se n+60000 votos (60 mil em Kibaki); eleitores chegando para votar e não encontrando seus nomes; quantidade de votos anunciadas e depois retificadas, para mais, em prol de Kibaki; demora na abertura, demora na apuração. Foi um roubo, com conivência do organismo responsável pelas eleições.

"Deixem Raila e Kibaki lutarem!
Eles são presidentes; e nós
somos apenas pessoas comuns!"
Grita um homem da etinia Luo.

Tudo que se vê demonstra como são frágeis as instituições democráticas em alguns países. E o desenrolar disso, além das muitas mortes noticiadas, ainda está por vir. O Quênia tem posição estratégica na entrada de mercadorias no continente pelo Índico. Suas estradas levam abastecimento a outros países, inclusive combustível. Os pacotes turísticos que visam o Quênia e suas belezas naturais também incluem outros países. Tudo isso leva a um impacto indireto a seus vizinhos. Não espero solução mágica. O Quênia nesses dias regride em décadas e leva consigo outros países. É rezar para um desfecho com o mínimo de sofrimento.

Existem alguns textos e reportagens que gostaria de indicar. Mas antes, um vídeo, um curta chamado Coming of Age que mostra, pelos olhos e uma menina e depois mulher, os períodos pós-independência com Kenyatta, ditatorial com Moi e multipartidário com Kibaki; quando surge certa dúvida quanto à realidade dessa democracia. Um filme produzido no projeto "Why Democracy?".


Os textos são:
No Country for Old Hatreds no qual Binyavanga Wainaina comenta o período de nacionalismo, onde tentou-se abolir as diferenças tribais criando o que se chama de Queniano. Pensava-se em democratizar a participação das tribos, criando um equilíbrio. Equilíbrio esse que foi perdido com o favorecimento de Kikuyus por Kibaki.

Observe Early and Often de Edward P. Joseph propõe uma fiscalização diferente do processo eleitoral. Hoje, nem todo o processo é aberto, criando brechas que permitiram, por exemplo, o que se viu nas eleições do Quênia.

E, finalmente, Kenya Isn’t Rwanda, de Josh Ruxin, da Universidade de Columbia, que discorre exatamente sobre o processo democrático estabelecendo uma diferenciação entre os acontecimentos de 1994 em Ruanda e o que se vê hoje no Quênia. A fraqueza das instituições democráticas ofuscada pela euforia de um crescimento economico. Democracia ou desenvolvimento? Um texto excelente.

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Lá se vão 60 anos
Tenha sempre bons pensamentos...
porque os seus pensamentos se transformam em suas palavras
Tenha boas palavras...
porque as suas palavras se transformam em suas ações
Tenha boas ações...
porque as suas ações se transformam em seus hábitos
Tenha bons hábitos...
porque os seus hábitos se transformam em seus valores
Tenha bons valores...
porque os seu valores se transformam no seu próprio destino.

Mohandas Karamchand Gandhi
(Mahatma Gandhi)
2/10/1869 - 30/01/1948

terça-feira, janeiro 29, 2008

Cartão vermelho

A ministra do SEPPIR, Matilde Ribeiro, parece não ter se dado conta do cargo que ocupa. Primeiro foi a declaração infeliz, que por sua vez gerou interpretações mais infelizes ainda. Agora o absurdo, o crime. A desculpa de que a utilização do cartão corporativo num freeshop foi um engano, não cola. Invente outra, ministra. A partir do momento em que uma pessoa assume uma pasta do governo, como a SEPPIR ou qualquer outro ministério ou secretaria, deve agir e falar de acordo, com ética, com responsabilidade. Não há espaço para enganos, declarações impensadas.

Quando ouvi a notícia ontem confesso que fiquei triste. Agora, além da tristeza, fica certa indignação. Quando se fala em igualdade racial, racismo, as críticas são tantas, com discussões acaloradas. Se conseguimos progredir no assunto, pelo menos assumindo que existe algo errado, uma parcela da sociedade de indigna. "Não existe racismo no Brasil"; "Vocês deveriam parar de viver no passado"; e por aí vai. Então cria-se a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, com objetivos postos e desafios mais que conhecidos, embora pouco reconhecidos. Só que a pessoa que comanda tal secretaria parece não ter se dado conta da importância de suas ações. Deveria pensar em exercer outra atividade.

segunda-feira, janeiro 28, 2008

Quando ser rico é pior que ser pobre

Vou colar aqui um texto de Ferreira Fernandes, publicado no seção opinião do jornal português Diário de Notícias.

Encontraram Heath Ledger (o actor do filme O Segredo de Brokeback Mountain) inanimado no seu apartamento, em Nova Iorque. A porteira telefonou para uma amiga dele, em Los Angeles. Distância entre Nova Iorque e Los Angeles: 4 mil kms. A actriz, por sua vez, telefonou para uns seguranças de Nova Iorque. Já vamos em 8 mil kms. Eu sei que os telefonemas atravessam quilómetros rapidamente, mas entre esses telefonemas algum tempo se perdeu: a ambulância do 911 (o correspondente americano do nosso 112) chegou depois dos seguranças. O que levou estes a terem aviso antecipado, em detrimento da saúde de um homem em agonia, encerra um drama que não é das pessoas comuns. Mas é das pessoas famosas. Elas, ao lado de badalados privilégios, têm este contra: para lutar contra a curiosidade que os cerca, esquece-se, por vezes, o essencial. Qualquer pobre diabo seria mais rapidamente socorrido que o famoso actor. Há aqui uma qualquer lição que me escapa, mas há.
Generalidades

1) O presidente venezuelano mostra mais uma vez que não ficará quieto. Está propondo a criação de um exército latino-americano para enfrentar possíveis ameaças dos EUA. Bem, grande ameaça para a Venezuela seria se os EUA resolvessem parar de comprar o precioso petróleo bolivariano! E tem gente que o defende calorosamente.

2) Estive rapidamente no Fórum Social Mundial, que este ano ocorreu em dezenas de cidades no mundo inteiro, incluindo o Rio de Janeiro, onde as atividades se concentraram no Aterro do Flamengo. Interessante. Muita gente, várias atividades, comércio de comidas e artesanatos. Como não cheguei a prometer que não implicaria, aqui vai: tinha muita gente com tênis Nike e celular último modelo gritando palavras de ordem contra o capitalismo, contra a globalização. Mas também pude ver alguns projetos interessantes, sem o pieguismo de alguns rebeldes sem causa. Ah, já ia esquecendo. Tinha patrocínio da Petrobras e o palco principal operava com geradores a diesel. Achei esse detalhe interessante…

3) Alguns parlamentares estão presos. Foi algo natural. Eles se meteram numa fria e deu no que deu. Infelizmente não estou falando da aplicação da justiça, pois esta esbarra no foro privilegiado que acaba por livrá-los da cadeia. Falo de uma expedição de alguns parlamentares à Antártida. Devido ao mau tempo, treze deles estão "ilhados" desde sexta-feira.

sábado, janeiro 26, 2008

Bon Bagay... Haiti por haitianos

A expressão "bon bagay" é uma das primeiras aprendidas pelos estrangeiros que chegam ao Haiti. Significa "gente boa" em creoule. É usada por haitianos para classificar com gratidão pessoas que os ajudam. Após as Nações Unidas ocuparem as favelas de Porto Príncipe, também é com um "bon bagay" que moradores saúdam os soldados brasileiros. Tornou-se símbolo da relação alegre de quem está neste país, haitianos ou estrangeiros, com aquilo em que confia.

O Haiti foi primeira república negra das Américas após uma rebelião comandada por escravos. Tem mais de 200 anos de independência, mas sua história recente foi manchada por ditaduras, golpes de Estado e crises políticas. Período em que um exército de pobres e miseráveis ficou refém do autoritarismo. Nos últimos 15 anos, cinco missões da ONU foram enviadas ao país, a última delas já está lá há três anos e meio.

Mais da metade da população vive abaixo da linha d extrema pobreza, ganhando apenas US$ 1 ao dia por pessoa. A maioria dos 8,5 milhões de haitianos tem menos de anos. Não há hospitais e escolas para todos. Entre esses índices, a favela de Cité Soleil é uma das mais pobres e até pouco tempo era também a mais violenta. Bon Bagay Haiti Mostra três pequenos depoimentos sobre o cotidianos da favela, onde a segurança melhora e a pobreza persiste.



sexta-feira, janeiro 25, 2008

O QI do lobo

Um texto no The Economist, publicado ontem e intitulado, Wolf pack (matilha; cambada de lobos) - The survival of patronage politics (A sobrevivência do patronato político) fala sobre o feudalismo político que reina no Brasil. A matéria pega como exemplo disso o recém indicado ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. Sem conhecimento algum sobre o setor (o texto cita comentário recente de Lobão de que estaria começando a ler sobre o assunto) Lobão passa a comandar uma pasta de suma importância e num período crítico, com possibilidades de apagão caso não chova no lugar certo na hora certa, além da questão do gás.

O apadrinhado de Sarney, como cita a matéria, antes de seguir a carreira política (caminho mais fácil de ascensão social, segundo o texto) era jornalista. Escreveu artigos amigáveis sobre os generais da ditadura, conseguiu seu lugar ao sol. Eis o famoso QI (Quem Indica).

Sarney, a família, também é destacada como símbolo de dinastia política no estado do Maranhão, onde manda e desmanda, possui o principal jornal, controla televisão e estações de rádio. Assim como o finado ACM atuava na Bahia.

Parece que nada muda.
Pensem, imaginem, raciocinem

Pensem bem sobre as acusações que pesam sobre as pessoas presas ontem em mais uma operação da polícia. Foi aqui no Rio de Janeiro, em cidades do interior, região metropolitana, baixada e outras. Leia aqui, aqui, ou aqui. Operação Uniforme Fantasma, da DRACO (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas) e Coordenadoria de Combate à Sonegação Fiscal, do Ministério Público. Desvio de dinheiro público, licitações fraudulentas, compras superfaturas.

Agora imaginem. Uma pessoa, um cidadão dessas cidades, pobre, necessita de exames específicos para diagnosticar uma doença. Os hospitais não contam com a aparelhagem. Ou os equipamentos estão danificados, sem manutenção. Ou são equipamentos de baixa qualidade, como se comenta nas reportagens sobre o assunto, adquiridos conscientemente. Ou mesmo não há operador, ou estrutura para que tal equipamento funcione. Essa pessoa não consegue realizar tal exame. O tratamento fica comprometido. O estado dela se agrava…

Imaginem também que outro cidadão não consiga atendimento por falta de médicos. É comum quadro reduzido em certas cidades ou falta de especialista em áreas críticas (cardiologia, ortopedia, neurologia, etc.). Ou quem sabe a ausência de atendimento tem por motivo uma greve, paralisação, um grito de profissionais que não suportam mais condições abomináveis de exercer sua profissão. Falta ou atraso no pagamento, salários baixos, carência de materiais e medicamentos básicos. Sem atendimento especializado, a saúde desse cidadão se agrava…

Agora imaginem também uma criança que não tem aula por motivos semelhantes. Professores em greve, carência de profissionais de educação, de materiais de ensino, de instrumentos pedagógicos. Estrutura da escola comprometida. Falta de merenda. Essa criança tem seu desenvolvimento prejudicado. Está aberta a influências negativas que muitas vezes rondam sua vizinhança, sua escola, sua vida. Essa criança começa a olhar para outro lado, seguir um caminho diferente daquele que poderia se o seu direito à educação não estivesse sendo extirpado.

Essa criança, esse cidadão, muitas vezes vive em logradouros onde a coleta de lixo é irregular, quando existe. O saneamento básico é somente uma expressão difícil dos noticiários. Enchentes, esgoto, doenças. O asfalto é uma promessa a ser feita para as próximas eleições. A iluminação pública é algo que consta apenas em sua conta de luz; essa, regular. A segurança é algo somente almejado.

O que é de direito, básico, se torna necessidade, urgência. A sociedade se degrada, as crianças têm seu futuro abreviado. Falta educação, falta saúde, a baixa-estima impera, as cidades morrem, as pessoas padecem, quando não, falecem.

Considerem tudo isso. Raciocinem. Certas pessoas cometem atos, de forma consciente ou por negligência, que promovem o caos, as mazelas descritas acima. Tais atos (com suas conseqüências tão óbvias) caracterizam ou não crime hediondo?

A reportagem num telejornal mostrou parte do material acumulado nos 10 meses de investigações que culminaram nas prisões. Há uma gravação de um empresário negociando a venda de um tomógrafo, com um assessor ou coisa parecida. O empresário fala “Ele quer R$ 140 mil, ele quer ganhar 40% do dinheiro. Tem que ser um negócio bom para todo mundo, até porque é um dinheiro público, não tem dono, né?”

Meu caro empresário corrupto, criminoso, o dinheiro público tem dono sim, e muitos. Como aquele cidadão que teve seu tratamento prejudicado no hospital e teve seu quadro clínico agravado, por carências das mais diversas. Ele é um dos donos. Ah, aquela criança que tem seu futuro comprometido também é dona desse dinheiro. São tantos…

Agora, você empresário corrupto, prefeito corrupto, assessor corrupto, secretário corrupto, vereador corrupto, funcionário público corrupto, ONGs corruptas, vocês são um bando de…

quarta-feira, janeiro 23, 2008

A mutabilidade do ser

Hoje o Globo publicou uma análise muito interessante sobre a política brasileira e de outros países, mas fundamentalmente sobre a brasileira. Com o título "Distorcendo Raul: Brasil, o país onde a política é uma metamorfose ambulante", Marcelo Alvez, citando versos da música do Maluco Beleza relacionando-os fatos, comentários e análises dos cientistas políticos Otaciano Nogueira (UnB) e Fernanda Maquiaveli (Tendências Consultoria). Discorre sobre a inconstância de postura política no Brasil. Exemplos como o do novo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão e do ministro de Assuntos Estratégicos, Roberto Mangabeira Unger (Ministério do Futuro) são citados, assim como o do próprio presidente Luiz da Silva, para demonstrar que o interesse "se sobrepõe à convicção" política.

O que é hoje, talvez realmente não seja e muito provavelmente, dependendo do interesse do momento, não permaneça amanhã. O que era para ser, o que era esperado que fosse, então, não é. Confuso talvez, mais um fenômeno observado em outros lugares.

O mesmo jornal, por exemplo, traz matéria sobre policiais saqueando um caminhão de cerveja. Vejam só a que pondo a mutabilidade chega. O que é polícia se torna bandido, fora da lei. A bandidagem é aplaudida (a matéria diz que, logo após os policiais saírem, moradores locais continuaram o saque).

Dá certo medo ao constatar tais coisas. Fica difícil. Bate uma desesperança. Mas, no futuro, gostaria de dizer aqui o oposto do que tenha dito antes, gostaria de desdizer tudo isso que lhes estou escrevendo agora. Só tem uma coisa: isso são fatos. Imutáveis.

terça-feira, janeiro 22, 2008

Fotos, Web 2.0, Tags, Flickr, LoC... coisas assim

Arquivisticamente falando... Faz tempo que não escrevo algo que vá de encontro à minha área de estudos. Pois bem, este post é para tirar o atraso (SEM duplo sentido, por favor).

Em arquivologia estuda-se, dentre outros arquivos especiais, os fotográficos. Começamos estudando a história da fotografia, desde seu nascimento (em várias etapas ou momentos, em várias regiões) até as novas tecnologias digitais que muitas vezes tornam a fotografia algo banal. Também estudamos descrição, procedimento adotado na elaboração de um instrumento de pesquisa. Este último para tornar as fotos acessíveis. Imagine tentar achar a foto desejada entre milhares (ou milhões) sem ter meios para uma pesquisa que o leve diretamente à foto desejada ou, pelo menos, restrinja o universo de pesquisa, facilitando a busca?

Agora vamos às palavras esquisitas: web 2.0, metadados, tags, Flickr, crowdsourcing... Chega! Vamos por partes. Web 2.0 seria uma evolução da antiga Web. Nada mais que uma internet mais colaborativa, com mais integração entre usuários, principalmente no que se refere a geração de conteúdo. Alguns acham que é o começo do fim. Metadados são dados sobre dados; dados capazes de descrever outros dados. É mais ou menos a mesma coisa que Tag. Tags são termos associados a uma informação, para descrevê-la. Lembre das palavras-chave, normalmente usadas em artigos e trabalhos científicos. Crowdsourcing é como uma terceirização, só que esse terceiro é um montão de gente (definição pobre, né?). Um exemplo de crowdsourcing seria o Wikimedia Commons, do qual faz parte a enciclopédia on-line Wikipedia. Flickr, é um serviço de armazenamento, organização, disponilização de fotos, e pertence a Yahoo Company.

Bem, com essa introdução acho que posso finalmente "trocar umas idéias", ou melhor, seria dizer expor minhas idéias? Os comentários são tão raros que os posts virão simples ambientes de exposição. Mas tudo bem. Continuarei escrevendo e o nome do blog não mudará, meus caros três leitores esporádicos. Notaram o desabafo?

Agora sim. A Biblioteca do Congresso, The Library of Congress (LoC), dos EUA iniciou este ano um projeto piloto com a Flickr para disponibilização de cerca de 3000 fotos de seu acervo (de mais de 14 milhões). Fotos sem restrição de publicação ou distribuição (copyright). No Flickr, o usuário poderá atribuir tags de modo a aumentar o potencial de descrição e, por tabela, localização dessas fotos digitalizadas. O usuário fazendo a descrição. Talvez seja o terror de todo arquivista.

Com certeza o projeto, envolvendo uma detentora de um acervo tão expressivo, não pode passar despercebido. E nem deve. É excelente a idéia de democratizar, de forma definitiva, o acesso a um acervo.

Mas qual seria o lado negativo disso tudo? Talvez o terror citado anteriormente. Hoje sabemos que muitas das informações do Wikipedia, por exemplo, não são muito confiáveis. É certo que passam por revisões regularmente, uma vez que essa é uma das possibilidades do crowdsourcing da Wikimedia Commons. É democrático criar, mas da mesma forma é democrático corrigir. E com o projeto da Flickr-LoC não será diferente. Não ficou claro que a democratização inclui exclusão de certas Tags. E sabe-se que a muitas fotos estão sendo atribuídas tags totalmente erradas ou no mínimo desnecessárias para descrever a imagem.

Fico imaginando algo desse tipo sendo aplicado aqui no Brasil, em coleções de instituições como o Museu da Imagem e do Som, Instituto Moreira Salles, Casa de Rui, Biblioteca Nacional. Seria interessante. Quais seriam as tags para a seguinte foto?

Democracia; falsidade; vitória; derrota; início; fim; Brasil

segunda-feira, janeiro 21, 2008

A febre do momento

Hoje recebi um e-mail com um texto do nefrologista Pedro Saraiva (UFRJ). O médico tece comentários sobre a forma como a grande mídia está cobrindo um dos problemas de saúde pública do Brasil: a febre amarela.

O texto se torna interessante e importante à medida que Saraiva apresenta dados do Ministério da Saúde que nos fazem (pelo menos me levou a) concluir ou, no mínimo, desconfiar que existe um espetáculo midiático em torno da doença.

Com certeza a febre amarela é assunto grave e deve ser tratado como tal. Mas, se levarmos em conta o número de casos que são apresentados nos jornais relacionando-os com os dados do Ministério da Saúde sobre a doença, uma pergunta surge: por que só agora?

Muitas reportagens demonstram irresponsabilidade. Causam, sim, pânico na população. Não esclarecem, quando deveriam. Desinformam, quando deveriam fazer o contrário. E, é claro, as instâncias do poder público que não querem ficar mal na fita, agem de forma igualmente irresponsável e, eu diria, covarde. Aproveitam tudo para aparecer. E aparecem bem, em grandes cidades, onde o problema é outro. Exemplo disso, vemos na TV. Regiões que mais carecem de recursos (vacinas) para febre amarela, por serem realmente áreas de risco, com filas quilométricas. E grandes cidades, como o Rio, sendo abastecida pela vacina. Cidades onde a vacina é dada simplesmente solicitando, sem checagem de fato. Digo isso pois estive num posto e vi pessoas que solicitavam a vacina, sem ao menos apresentar algum comprovante de estarem indo para áreas endêmicas. A propósito, não fui para e não me aproveitei da situação para me vacinar. Além disso, tamanha é a desinformação, que pessoas já foram internadas por superdosagem da vacina (pensaram que, quanto mais vacina na veia, mais protegidas estariam). Pura loucura, paranóia, onde a imprensa tem papel crucial.

O texto de que trata este post, de autoria de Pedro Saraiva, foi publicado no blog Vi o Mundo, do jornalista Luiz Carlos Azenha. Para ler o texto, clique aqui.

Algumas referências citadas no texto são:

Texto de Eliane Cantanhede, na Folha On-line
Gráfico de evolução da febre amarela de 1980 a 2005 (MS)

Além disso...

Blog Vi o Mundo de Luiz Carlos Azenha, clique aqui
Outros textos da jornalista Eliane Cantanhede, clique aqui
Pedro Saraiva Pinheiro no cadastro SIGMA UFRJ, clique aqui

quinta-feira, janeiro 17, 2008

Crianças Invisíveis

É comum usarmos termos pejorativos quando se fala de produções americanas. Como "mais um enlatado". A quantidade de besteirol é realmente grande. Mas se produzem coisas boas e ruins em todos os lugares. Este post é para falar de uma das boas "coisas" produzidas por estadunidenses. Trata-se de um documentário que começa como uma espécie de caçada, uma aventura a ser trilhada por três jovens.

Eles queriam uma história e foram atrás desse objetivo na África. Propositadamente ou não, é nítida a mudança de percepção desses jovens que, de forma gradativa, transferem todo o foco para quem mais precisa, as crianças. E, saindo de cena, nos deixam a sós com essa terrível e avassaladora verdade. E as crianças surgem, clamando por existência. "Somos seres humanos como vocês", uma delas fala. Numa das cenas mais fortes que já vi, uma das crianças, Jacob, diz que seria melhor se o matassem. Então, contrariando a percepção inicial dos autores, ele chora. Àquelas crianças não é permitido chorar.

Essa é a história, verídica, assustadora, triste, das crianças que tentam escapar de serem raptadas e transformadas em soldados entre seus 8 ou 12 anos. Numa tragédia que já dura mais 20 anos, em Uganda. Crianças que são obrigadas a matar. Crianças que não podem dormir em suas casa. Medo.

É inevitável agradecer não apenas aos três jovens estadunidenses, mas também á Pedro Espindola pela legenda em português, de modo a tornar o documentário mais acessível. Documentário que descobri, numa busca por material em vídeo sobre África e que divulgo aqui no blog. É uma tentativa de acabar com a invisibilidade dessas crianças, desses seres humanos.

Assista abaixo, Invisible Children


terça-feira, janeiro 15, 2008

The Israel Lobby

It seems like a fiction novel. I could be an argument for a thriller. Action, conspiracy, government relations, money, organizations, power... But it isn’t. An article published by John Mearsheimer (University of Chicago) and Steve Walt (Harvard) entitled 'The Israel Lobby and US foreign policy'. It was 2006. In fact, the article was written four years before, and was rejected by The Atlantic Monthly.

The subject (pro-Israeli lobby in the US political scene) is not the kind anyone wants to talk out there. Why the US keeps on defending Israel above all things? Why the US gives so much money to Israel? The per capita income of Israel is almost the same as in Spain. 26,800 and 27,400 respectively. Defense? I don’t think so. Israel has a nuclear weapon.

Talking about that could be dangerous. As you can see in The Israel Lobby, a documentary produced by Dutch public broadcasting company VPRO.

Description

Is one allowed to question that reality, or is the pro-Israel lobby so strong, financially and politically, that the relationship with Israel is taboo and therefore unmentionable? And what

happens to those who dare expose the unmentionable? In March 2006 the American political scientists John Mearsheimer (University of Chicago) and Steve Walt (Harvard) published the controversial article 'The Israel Lobby and US foreign policy'. In it they state that it is not, or no longer, expedient for the US to support and protect present-day Israel. Together with the power shifts in Congress and the increasing doubts about the current Middle-East policy, this could become the fuse in the powder keg. Backlight talks to the people concerned in this 'new realism' debate. The documentary sheds light on both parties involved in the discussion: those who wish to maintain the strong tie between the US and Israel (Neocon Richard Perle, theLebanese Christian Brigitte Gabriel and evangelist John Hagee, the lobby club AIPAC), and those who were critical of it and not infrequently became 'victims' of the lobby. Member of Congress Earl Hilliard from Alabama advocated a rapprochement with the Arab world and was promptly ousted by a political adversary who had the support of Aipac money.

The historian Tony Judt, who tried to maintain that Israel was becoming a belligerent and intolerant ethno-state, driven by religion, found a lecture canceled at the last minute. And the Human Rights Watch Director Kenneth Roth was personally attacked after he had criticized the violence Israel had used in the mini-war against Lebanon last summer. Finally the question arises in how far the pro-Israel lobby ultimately determines the military and political importance of Israel itself. Colonel Lawrence Wilkerson (Colin Powell's ex chief-of-staff) explains in how far the lobby's influence affects the decision-making structure in the White House. Member of Congress and Democratic presidential candidate Dennis Kucinich is asked in how far today's politicians can stay out of reach of the long arm of the pro-Israel lobby. The lobby, Congress, the White House and Israel itself seem to have ended up in a suffocating embrace: will it ever change and how could it?


O lobby pró-Israel
e as maracutaias da política estadunidense

Essa semana eu assisti, na web, a um documentário intitulado The Israel Lobby. Produzido por uma emissora pública da Holanda, VPRO, o documentário foi exibido no programa Backlight e foi disponibilizado na internet.

A base é um artigo, já publicado como livro, cujo título é "The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy" de autoria dos cientistas políticos John Mearsheimer (da Universidade de Chicago) e Steve Walt (de Harvard). É realmente um assunto polêmico não só no meio político americano, mas também no acadêmico e na imprensa. Tanto é que o artigo foi recusado em 2002 no The Atlantic Monthly, somente ganhando notoriedade com sua publicação no London Review of Books em 2006, logo após ser publicado como texto na página do Kennedy School.

Parece história de ficção ao melhor estilo Robert Ludlum. Temos o cenário, o tema intrigante, as organizações intimamente ligadas ao governo, as estratégias político-militares, o dinheiro, o poder... Só não tem um herói definido.

Já tinha lido alguma coisa sobre essa estranha relação EUA x Israel, a influência de alguns judeus americanos dentro da Casa Branca. Mas nada comparado a todas informações que o documentário traz. É real. E dá um certo medo. E não tem ligação alguma com os dois partidos políticos americanos, Democratas e Republicanos. Qualquer um que entra, dança conforme a música. Podemos ver, por exemplo, Obama e Clinton e Bush e os seus, todos com o mesmo discurso.

Por que tanto dinheiro é dado a Israel pelos EUA? Um país com certo grau de desenvolvimento, com tanta tecnologia, com uma renda per capita quase igual a da Espanha. E são bilhões de dólares por ano em ajuda americana. Alguns vão dizer: "É para auxiliar na defesa daquele país". Será? Sabia, você que pensa assim, que Israel é uma das infelizes nações na face da Terra que possuem a bomba atômica? Defesa eu descartaria

Um detalhe interessante é a questão religiosa envolvida. E não falo do judaísmo. Muitos seguem a fio a tese de que a formação de Israel cumpre uma profecia bíblica. Logo, podemos ver a forte influência de cristãos evangélicos. A extrema-direita estadunidense, de mãos dadas com Bush.

Logo, independente do partido, independente da religião, o negócio é o mesmo. Defender Israel acima de qualquer coisa. Os que ousam criticar tal postura, esbarram na "desculpa do holocausto" e, assim, sofrem a pressão da opinião pública ignorante, dos políticos imbecis e comprometidos, da imprensa burra. Artigos e livros criticam essa política lobista. Como "The Holocaust Industry" de Norman Finkelstein. A propósito, ele é judeu.

Bem, infelizmente o documentário não está em português. Mas o tema e as informações estão dados para aqueles que quiserem se aprofundar. É só pesquisar no Google. Para os que conseguem entender inglês, aproveitem. É um filme ótimo. A descrição está na parte acima, em inglês.




Referências / References

Matéria na Revista Época
Texto de Emir Sader
The Israel Lobby on Wikipedia
AIPAC
THE ISRAEL LOBBY AND U.S. FOREIGN POLICY
Mearsheimer, John J. and Stephen M. Walt. "The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy." Working Paper RWP06-011, Cambridge, Mass.: John F. Kennedy School of Government, Harvard University, March 13, 2006.
Mearsheimer, John J. and Stephen M. Walt. "The Israel Lobby and U.S. Foreign Policy." Middle East Policy XIII 3 (Fall 2006): 29-87.
A Conversation with Professor Norman Finkelstein
Freedocumentaries.org

segunda-feira, janeiro 14, 2008

Um domingo interessante

A prova

Acorda-se cedo. É dia de concurso público. Emprego bom, aparentemente estável. Ao contrário da vida, pura instabilidade. Incoerência, pois somente se trabalha estando vivo (que me perdoem os espíritas). São sempre muito semelhantes as provas de concurso público, seja para emprego ou vestibular. Pessoas preocupadas, camelôs bem informados sobre o uso de caneta esferográfica de tinta preta, mães rezando terço à espera do término da avaliação. É uma aposta, um investimento, um vislumbre de um futuro melhor. Para o camelô, para os familiares, para o concursando.

Na sala, mesmo com ar ligado, suor, incomodo. Desconforto. Sorrisos nervosos. Pessoas novas e não tão novas. Apostas. Algo está em jogo. Alguns acabam cedo. Cedo demais. Desistência. Derrota? Alguns falam sozinhos. Perguntam a hora. Como se o relógio de suas vidas estivesse programado para despertar em quatro horas. Cabeças abaixadas, como em penitência. Acertos, erros, arrependimentos, suposições, expectativas, conseqüências. O resultado virá. É torcer.

A passarela

É carnaval. Os ensaios do grupo especial se tornam, assim como os blocos, a maneira mais democrática de curtir a festa popular. Uma multidão caminha em direção às arquibancadas. Acessos e lugares concorridos. Hoje é livre. É apenas um ensaio, mas todos levam à sério. Sambódromo lotado. Uma visão única. Um momento extraordinário: a bateria sai do recuo e passa em frente. Lindo. O surdo marca, a escola passa, é mais um samba, é Carnaval.

sexta-feira, janeiro 11, 2008

FARC. Insurgentes?

Criminosos com certeza. Aproximadamente 700 pessoas continuam seqüestradas, apesar da libertação das duas reféns com intermediação do presidente Venezuelano, Hugo Chaves. Homens, mulheres e crianças vivendo como prisioneiros no meio da selva.

Dentre os reféns ainda presos, contam que existem muitos Venezuelanos. O que me faz pensar o motivo que levou Hugo Chaves a se dedicar tanto (num ato louvável, seja qual for o motivo) em libertar Colombianos e não Venezuelanos. Quem sabe um dia isso fique mais claro.

Agora, pelo que li, ele pede que as FARC não mais sejam consideradas como um grupo terrorista. Vejam só! Pede que sejam considerados como forças insurgentes da Colômbia. Insurgentes?! Eu, ignorante que sou, fui consultar o Aurélio. Insurgente: "que ou quem se insurge". Insurgir: "rebelar-se, insubordinar-se". Insubordinação? Rebeldia? Qual a causa dessa rebeldia? Que causa justifica manter pessoas em cativeiro durante anos, mesmo crianças? Que causa justifica se aliar ao narcotráfico?

Talvez a mesma causa que justifica invadir um país. A mesma que justifica a existência de Guantánamo. A mesma que justifica assassinatos em massa por organizações terroristas como Al-Qaeda ou o Governo Bush. A mesma que justificaria o Ato 5. Então, todo absurdo se justifica. As FARC são apenas insurgentes, assim como a Al-Qaeda, o Comando Vermelho, o PCC. É tudo rebeldia.

Vamos relevar?

quarta-feira, janeiro 09, 2008

Ideotas de Cabral

Quando começou ele disse que daria um "choque" de gestão na Saúde Pública do Estado (lê-se: capital do Estado do Rio de Janeiro sob os holofotes da imprensa). Como até luz falta nos hospitais, isso comprometeu os planos do governador e mui amigo de Luiz da Silva. Mas ele deve ter ficado satisfeito, pois o principal objetivo parece ter sido atingido: aparecer.

Esse ano ele repetiu o ato do início de mandato. Talvez se torne tradição. Apareceu nos hospitais. Comprovou pessoalmente o que todos já sabem: continua tudo na mesma, isto é, caótico. Pediu desculpas, deu uma de humilde, reconhecendo que é preciso fazer mais. Eu diria que é preciso o básico.

Além da saúde temos a questão da insegurança pública. Muitas mortes, aumento no número de assaltos. A solução a ser considerada: acabar com o carona nas motos. Usa o exemplo da Colômbia (lá parece ter dito um impacto positivo) para, novamente, aparecer. A OAB já entrou na discussão, uma vez que seria uma lei inconstitucional.

Fácil né? Saída de mestre! Por que pensar a fundo e agir com competência, investindo num aparelhamento da polícia (não só em armas, mas nos seres humanos que vestem a farda)? Por que mandar a PM patrulhar as ruas regularmente? Por que parar de briguinhas com o colega César e fazer com que a GM e a PM atuem em conjunto? Parece muito difícil. É melhor inventar ou importar ideotas mirabolantes para... aparecer.

Em tempo: Foi ótima a operação no morro da Mangueira. Bandidos presos, armas e drogas apreendidas... e fortaleza do crime. Mas o tal muro não foi novidade. A polícia, pelo que li, já tinha conhecimento. E por falar em "já sabia", o mesmo com certeza se pode afirmar sobre os consumidores (aqueles de alto poder aquisitivo que financiam o tráfico) e os moradores que, com passividade, contribuem para manter tudo aquilo. Alguns devem pensar "falar é fácil para você que não vive em tal comunidade". Eu perguntaria: será que todos lá são observados 24 horas por dia (lá e fora de lá) de modo que não podem efetuar ligação simples para o Disque-denúncia (2253 1177)? Será? Acho difícil. Será que as muitas ONGs que lá atuam não seriam complacentes com tudo isso? É triste. Um colega uma vez me contou que chegou a dar aulas num pré-vestibular comunitário no morro da Mangueira. Parou, pois acho demais ter de atuar traficantes andando livremente fortemente armados. Uma dica óbvia: sem o envolvimento de fato da população (moradores locais, principalmente) é impossível acabar com a criminalidade nessas comunidades. Não adianta somente criticar o Estado.

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Resultado histórico

A mais recente tragédia que acontece na África não surge com o resultado das eleições, que reelege de maneira fraudulenta o presidente queniano. Foi somente um item de algo mais complexo, mais cruel. Não é possível dissociar o que vemos hoje nos jornais do que podemos ler nos livros de história sobre a política de separar para dominar, sobre as fronteiras artificiais. Táticas que tiveram como resultado o surgimento de partidos étnico-políticos.

Com isso, divergências políticas (geradas por interesses particulares) se tornam conflitos étnicos, que são maximizados por campanhas que acentuam tais "diferenças", instigam violência e nos entristecem com cenas como a da Igreja incendiada, lotada de pessoas, grande parte crianças.

Quando vejo na TV aquelas pessoas armadas com foices e facões, lembro do que li e assisti sobre outro país africano, Ruanda. Só espero que não se repita o resultado dessa mesma história.

quinta-feira, janeiro 03, 2008

O troféu, os porcos e o farelo de sempre

Num passado nem tão distante era comum a Igreja Católica receber doações, mesmo em forma de bens (imóveis, por exemplo) como forma de gratidão. Temos hoje a Santa Casa de Misericórdia com prédios residenciais em áreas nobres da cidade, para citar um exemplo. Não sei como isso se dava, mas é fato.

Há poucos anos outra instituição "religiosa" se destacou na mídia pela forma como treinava seus funcionários e colaboradores para que incentivassem a doação. Vídeos foram divulgados exibindo o "treinamento", o deboche, a falta de respeito, o crime que ninguém considera crime. Foi a mesma instituição que, em seu programa na TV, mostrou um de seus pastores chutando a imagem de uma santa católica, numa demonstração de que intolerância religiosa não é algo que ocorre somente em outros países. Isso sem falar no mau uso de um meio de comunicação tão importante. Essa mesma instituição religiosa, a exemplo da Igreja Católica, também recebe doações de seus fiéis.

Outra instituição religiosa, a Igreja Renascer, fez fortuna com essa prática. Seus líderes estão em prisão domiciliar, mas continuam comandando sua empresa de forma muito competente. Viva a tecnologia, sempre ajudando os negócios. A doação mais recente, que mais tem um valor simbólico, foi ofertada pelo seu seguidor mais ilustre. O melhor jogador de futebol do mundo: Kaká. Exemplo para tantos jovens apresenta, ao contrário de muitos outros craques, um comportamento exemplar. Um bom menino, diriam.

Me lembrei de um ditado antigo que dizia "quem com porcos se mistura, farelos come". Espero que Kaká continue dando bons exemplos, e tome cuidade num envolvimento tão direto com criminosos. Achei aquela uma imagem triste.

E a história se repete.

A menina no mercado

Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...