Quênia Кения ケニア 케냐 Quénia
Kenia Kenya Κενυα 肯尼亚 肯尼亞 كينيا
Democracia 民主 Democratie Démocratie
Demokratie δημοκρατια Democrazia 民主主義
민주주의 демократия La democracia الديمقراطيه
Democracia 民主 Democratie Démocratie
Demokratie δημοκρατια Democrazia 民主主義
민주주의 демократия La democracia الديمقراطيه
As cenas que se repetem na mídia (Internet, televisão, jornais...) são tristes, revoltantes, monstruosas, desumanas, violentas e, fundamentalmente, irracionais. Assassinar pessoas, independente de gênero ou idade, não é ato justificado. Atear fogo numa igreja lotada, inclusive com crianças, é abominável. E a contagem não pára. Mortes aos montes, multidões que fogem de seus lares para suportarem outros sofrimentos que, possivelmente e como mostra a história mais que recente, levarão a mais mortes.
A notícia crua é que, após eleições contestadas pela oposição, a revolta se alastrou num país africano até então estável. Diferenças políticas reavivaram conflitos étnicos. Centenas de mortos. Violência nas ruas. Luta tribal. Tenta-se chegar a um acordo de paz, colocando oposição e situação para conversar.
Mas nada é tão simples. É preciso recorrer à história, analisar o processo democrático, indo um pouco além.
Invasão, guerra, exploração, dominação... Em 1885, na Conferência de Berlin, o que se chama de Quênia foi dado à Inglaterra. Não vou me aprofundar aqui, mas quando falo "o que se chama de Quênia" faço referência às fronteiras estabelecidas politicamente. Também já comentei aqui no blog sobre a política de separar para dominar. É favorecer uma tribo ou etnia, como aconteceu em Ruanda. No Quênia, a favorecida foi a Kikuyu, do presidente "reeleito" Mwai Kibaki. Exemplo: Rift Valley, onde hoje a violência impera, era tradicionalmente território dos Kalenjin e dos Masai, mas a grande parte foi usada pelos britânicos para plantação e, depois, dado aos Kikuyu. Isso é fato histórico e, como tal, não pode ser deixado de lado ao tentar compreender a atualidade.
O Quênia alcançou grande nível de desenvolvimento econômico, principalmente com o turismo. O presidente Kibaki fez coisas boas na educação, porém, pecou por favorecer seu grupo étnico. Vê-se aí que o processo democrático não acompanhou o desenvolvimento econômico. Isso ficou claro nas eleições do ano passado. O candidato da oposição, Raila Odinga, de etnia Luo, direcionou sua campanha para uma coalizão entre as tribos/etnias desfavorecidas no governo Kibaki. Ganhou força assim. E tudo leva a crer que foi o real vencedor das eleições. Prova do descontentamento do povo é o fato de parlamentares governistas não terem sido reeleitos, indicando um enfraquecimento claro dos partidários de Kibaki.
A tragédia já estava sendo anunciada. Lembro de ter visto na TV e lido na internet que observadores internacionais indicavam "problemas" no processo. Exemplos: numa localidade, onde existiam n eleitores, contabilizou-se n+60000 votos (60 mil em Kibaki); eleitores chegando para votar e não encontrando seus nomes; quantidade de votos anunciadas e depois retificadas, para mais, em prol de Kibaki; demora na abertura, demora na apuração. Foi um roubo, com conivência do organismo responsável pelas eleições.
"Deixem Raila e Kibaki lutarem!
Eles são presidentes; e nós
somos apenas pessoas comuns!"
Grita um homem da etinia Luo.
Tudo que se vê demonstra como são frágeis as instituições democráticas em alguns países. E o desenrolar disso, além das muitas mortes noticiadas, ainda está por vir. O Quênia tem posição estratégica na entrada de mercadorias no continente pelo Índico. Suas estradas levam abastecimento a outros países, inclusive combustível. Os pacotes turísticos que visam o Quênia e suas belezas naturais também incluem outros países. Tudo isso leva a um impacto indireto a seus vizinhos. Não espero solução mágica. O Quênia nesses dias regride em décadas e leva consigo outros países. É rezar para um desfecho com o mínimo de sofrimento.
Existem alguns textos e reportagens que gostaria de indicar. Mas antes, um vídeo, um curta chamado Coming of Age que mostra, pelos olhos e uma menina e depois mulher, os períodos pós-independência com Kenyatta, ditatorial com Moi e multipartidário com Kibaki; quando surge certa dúvida quanto à realidade dessa democracia. Um filme produzido no projeto "Why Democracy?".
Os textos são:
No Country for Old Hatreds no qual Binyavanga Wainaina comenta o período de nacionalismo, onde tentou-se abolir as diferenças tribais criando o que se chama de Queniano. Pensava-se em democratizar a participação das tribos, criando um equilíbrio. Equilíbrio esse que foi perdido com o favorecimento de Kikuyus por Kibaki.
Observe Early and Often de Edward P. Joseph propõe uma fiscalização diferente do processo eleitoral. Hoje, nem todo o processo é aberto, criando brechas que permitiram, por exemplo, o que se viu nas eleições do Quênia.
E, finalmente, Kenya Isn’t Rwanda, de Josh Ruxin, da Universidade de Columbia, que discorre exatamente sobre o processo democrático estabelecendo uma diferenciação entre os acontecimentos de 1994 em Ruanda e o que se vê hoje no Quênia. A fraqueza das instituições democráticas ofuscada pela euforia de um crescimento economico. Democracia ou desenvolvimento? Um texto excelente.
Observe Early and Often de Edward P. Joseph propõe uma fiscalização diferente do processo eleitoral. Hoje, nem todo o processo é aberto, criando brechas que permitiram, por exemplo, o que se viu nas eleições do Quênia.
E, finalmente, Kenya Isn’t Rwanda, de Josh Ruxin, da Universidade de Columbia, que discorre exatamente sobre o processo democrático estabelecendo uma diferenciação entre os acontecimentos de 1994 em Ruanda e o que se vê hoje no Quênia. A fraqueza das instituições democráticas ofuscada pela euforia de um crescimento economico. Democracia ou desenvolvimento? Um texto excelente.