Quero conversar, expor, externar, bater um papo, levar um lero, trocar uma ideia. Com quem? Com você, com ninguém, com o divino, com o profano, com o justo, com o injusto, com o tudo e com o nada, comigo mesmo. Como? Com palavras, com imagens, com sons, com silêncios, com conhecimento, com ignorância, com paixão ou neutralidade, com amor ou ódio, com alegria ou tristeza, como eu quiser ou puder. Quando? Talvez agora, ou daqui a pouco, ou nunca, ou sempre. Sobre o quê? Sobre nada... ou TUDO!
quinta-feira, dezembro 05, 2013
quarta-feira, novembro 20, 2013
Segregação continua de outros modos
Injustiça sofrida por negros ainda incomoda muitos brancos. Comentário de Mario Sérgio Cortella
Um "dia" que incomoda muita gente
Uma busca simples por "Dia da Consciência Negra" no Twitter e é possível ter noção de como o ser humano pode ser pequeno e limitado. A ignorância e a estupidez são tão ou mais arraigadas que o preconceito, e com certeza bem menos veladas que o racismo (ainda mais em tempos de internet).
sábado, novembro 16, 2013
A hibernação da CCJC, os crimes hediondos e a nossa atenção
Em 2009 um menino com seus 10 anos, foi violentado e assassinado. Um crime bárbaro contra um ser humano, contra uma criança. Um crime hediondo. O monstro foi preso.
Naquele mesmo ano o Deputado Federal Valtenir Pereira (PSB/MT), apresentou uma Proposta de Emenda à Constituição (a PEC 364/2009). A proposta previa o cumprimento de pena em regime integralmente fechado ao autor de crime hediondo, alterando o XLIII, do artigo 5° da Constituição Federal. Leiam aqui o inteiro teor da proposta, para um entendimento do que se espera com essa PEC.
A proposta foi apresentada em plenário no dia 14/05/2009, aproximadamente um mês após o crime.
Em 20/08/2009, o relator, o então Deputado Federal Ciro Nogueira (PP/PI), da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), apresentou parecer pela admissibilidade da proposta. Leiam o parecer aqui.
Achou rápido? Eu também.
Porém, e parece sempre existir um porém... Durante mais de 520 dias todos parecem ter esquecido. Uma inércia de aproximadamente um anos e meio.
Até que, em 31/01/2011, com o fim da legislatura e com base no artigo 105 do Regimento Interno da casa, a proposta foi arquivada.
Quinze dias depois o autor da proposta requisitou o desarquivamento, solicitação atendida em 17/02/2011.
Um novo relator foi designado em 11/11/2011. Deputado Edson Silva (PSB/CE), da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC).
Desta vez a hibernação foi de quase dois anos. Mais de 720 dias.
Vale registrar que o Deputado Edson Silva se licenciou por dois períodos nesta legislatura. Está em sua biografia no site da Câmara. "Licenciou-se do mandato de Deputado Federal, na Legislatura 2011-2015, em Licença Conjunta Consecutiva por 130 dias, de 21 de março de 2012 a 28 de julho de 2012, e em Licença Conjunta Consecutiva por 128 dias, a partir de 16 de setembro de 2013." No momento, ele não exerce a atividade parlamentar, estando licenciado. Se o primeiro período de licença teve início em 21/03/2012, o relator nada fez durante aproximadamente três meses.
Em 07/11/2013 a proposta foi devolvida "sem manifestação". A inércia da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados foi espantosa.
Dois anos para designar outro relator, o Deputado Felipe Maia (DEM/RN). Veremos.
Os holofotes da mídia e o clamor popular parecer colaborar e muito para acelerar a atuação de nossos parlamentares. Mas o silêncio e falta de cobrança, o esquecimento mudo, parece colaborar para um ambiente de hibernação de nossos representantes.
De:
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; (...)
Para:
XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis, insuscetíveis de graça ou anistia, devendo a pena ser cumprida em regime integralmente fechado, a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; (...)
Em memória de Kaytto Guilherme.
segunda-feira, outubro 28, 2013
Uma década de bolsa
O programa Bolsa Família completa 10 anos. O benefício cresceu, e sem controle. Quando penso no objetivo do programa, sinceramente, não me coloco contra. Uma "transferência direta de renda que beneficia famílias em situação de pobreza e de extrema pobreza em todo o país"... Um país tão rico e ainda possui cidadãos em condição de extrema pobreza! É preciso fazer algo, e urgente.
Mas esse imediatismo natural numa situação tão grave, tão crítica, tão triste, não nos pode cegar, não pode turvar nossa visão para o que é óbvio.
Existem pessoas na minha família que são beneficiárias do Bolsa Família. Não posso dizer que é algo que me faz ter orgulho. Já vivi situações difíceis e sei o quão pode ser significante esse benefício para algumas famílias.
Mas também sei o quanto algo aparentemente tão bom pode ser deturpado. Acomodação. Apatia. Ignorância sobre o real significado de um programa como este. Uso impróprio (acreditem ou não, mas existem casos de uso de parte do benefício para o dízimo de algumas Igrejas!).
A bolsa, em muitos casos, parece que se integrou de tal maneira a vida das pessoas, e de maneira tão perniciosa que nos faz refletir sobre até que ponto o auxílio vira uma armadilha.
Quando se discute o fato de pessoas estarem a tantos anos "presas", "dependentes" do benefício, o governo parece minimizar. E aí começam com a velha ladainha de que quem crítica está contra os pobres, contra o país, blábláblá. Pura estupidez, pura idiotice. Mas, infelizmente, ganha crédito.
Eu uso as ferramentas de transparência. Pesquiso e reflito sobre os dados e as informações que consigo em diferentes fontes. E recentemente pesquisei sobre o Bolsa Família em Mesquita.
Alguns dados:
Em 2010, a população de Mesquita era de 168376 pessoas, segundo o IBGE. Neste mesmo ano, segundo informações do Portal Transparência, o número de beneficiários do Bolsa Família foi de 10208.
Em 2013, a população estimada para Mesquita é de 170185 pessoas, também segundo o IBGE. E segundo o Portal Transparência, o número de beneficiários do Bolsa Família é de 11976.
A primeira coisa que se observa é que tanto a população como o número de beneficiários do programa aumentou. Mas...
De 2010 para 2013, a cidade de Mesquita ganhou 1809 habitantes. Um aumento de aproximadamente 1%.
No mesmo período, o número de beneficiários do Bolsa Família aumentou em 1768. Um aumento de aproximadamente 17,3%.
Esses são os números. Alguns deles.
sábado, outubro 26, 2013
Financiamento (à revelia) de campanha eleitoral
Muito se discute, mas ainda não foi implantado – pelo menos em lei – o financiamento público de campanha eleitoral. Ainda tramita no Senado Federal PROJETO DE LEI Nº 268/2011.
A [falta de] qualidade de boa parte de nossos políticos me faz duvidar da eficácia de uma lei como essa. Mas não tenho uma opinião totalmente formada a respeito.
E como eleitores, nós também devemos aprimorar nossas escolhas. Como cidadãos, devemos aprender a utilizar as ferramentas existentes para controle e acompanhamento do que é nosso. Devemos fortalecer nossos direitos e também nossos deveres. Se é certo que tenho direito a uma cidade limpa, é igualmente certo que tenho o dever de manter essa cidade limpa!
Fala-se muito em corrupção do ente político, no atacado, mas se minimiza ou se ignora por completo a corrupção daquele que escolhe o mesmo ente político (o cidadão, o eleitor), no varejo.
Mas voltando ao financiamento público de campanha eleitoral...
Esse financiamento já ocorre e muitos nem se dão conta. Fica mais evidente nos meses que antecedem as eleições. Nossos representantes (eleitos democraticamente) usam verbas de gabinete para estreitar o contato com sua base eleitoral. Quem paga isso? O partido? A coligação? Não. Sou eu, é você. É dinheiro público! Apesar de alocado como uma rubrica bem distinta e específica (discutível, claro), é o mesmo dinheiro que poderia (deveria) ser usado para levar saneamento e consequente saúde e qualidade de vida àquele que é obrigado por lei a exercer seu dever de cidadão, em períodos de dois em dois anos. E que, por ironia, pode ter contribuído para eleger (democraticamente) o mesmo representante que usa a verba de gabinete para estreitar o contato com sua base eleitoral. É um ciclo. É causa e efeito.
Podemos comprovar o financiamento público de campanha de forma mais evidente ainda, eu diria até escandalosa, no modo como a Presidente da República Federativa do Brasil tem usado a mídia e os recursos e as ferramentas de Estado (pelo menos deveriam ser de Estado, e não de Governo, ou do Partido) para fazer sua campanha antecipada.
Cresceu o número de entrevistas em rádio, o número de aparições, os pronunciamentos, os anúncios, as propagandas... O leilão (?) do Campo de Libra foi um exemplo. Aquela aparição em rede nacional foi campanha antecipada. E não foi das mais sutis.
E quem financia isso tudo. O ParTido? O cartel político que forma a base aliada (a propósito, aliada a quê? aliada para quê?)? Hummm, eu acho que não.
Se já não fosse grave estarmos financiando uma campanha eleitoral velada (ou explícita) com vistas a 2014, ainda financiamos uma campanha de governo, política e partidária. À revelia.
terça-feira, outubro 15, 2013
DECIDAM e SAIBAM o que estão fazendo
Hoje, no ônibus indo para o
trabalho, li um texto (Deveríamos queimar o rabo do Tio Sam?) do Bukowski no livro “Pedaços de um caderno manchado de vinho” (L&PM Pocket) e, vejo que o velho Hank sempre me surpreende pela sua atualizade. Ainda mais
num texto que me parece tão atual.
"O
grande esforço de suas mentes não deve ser como destruir um governo, mas sim
como criar um governo melhor..."
Meu ponto é que já ouvi gritaria
similar a essa que agora toma as ruas antes, e tudo isso não deu em nada. Houve
traições e viradas em abundância. As pessoas tinham comida em suas barridas. As
pessoas tinham feito dinheiro na guerra. A Rússia aliada passou a ser a Rússia
inimiga. Joe Stalin, agora que o mundo tinha sido salvo, dava uma de Hitler com
seu povo. Mais uma vez – como sempre – os intelectuais tinham sido enganados. A
realidade superou a teoria. A ganância e a mesquinhez humanas se tornaram
história. A proclamada bondade do homem revelou-se um belo golpe. Traição.
Documentos. Conversa para boi dormir. (…) A Direita estava de volta. Mas como?
Não tinham sido destruídos na Segunda Guerra? Cada homem era suspeito. “Vocês
nunca participaram do Partido Comunista? Não éramos a maioria de nós?” Mas
ninguém nunca disse isso. (…)
Agora mais uma vez os
intelectuais gritam “Revolução”. Um banco é incendiado. A IBM sobre um
atentado, um companhia telefônica também, e outros lugares… Policiais são
apedrejados; seus carros queimados; policiais são mortos, policiais matam –
sempre acontece. (…) Garantiu a eles mais um dia. Bem, vocês podem e perguntar,
qual é o meu PROPÓSITO? Bem, sou um fotógrafo da vida, não um ativista. Mas
antes de se decidir por uma Revolução tenham certeza de que vocês têm uma voa
chance de vencer – com isso, me refiro a uma vitória pela violência. Antes de
isso acontecer vocês precisão promover alguma revolução dentro dos ranques da
Guarda Nacional e da força policial. Isto não acontecerá em nenhum grau. Então
é preciso fazer isso através dos votos. (…)
A essa altura já há muitas pessoas
temendo por seus empregos, há muitas pessoas comprando carros, aparelhos de
tevê, casas, créditos estudantis. Crédito e propriedade e um trabalho de oito
horas são grandes amigos do Establishment. Se vocês precisaram comprar coisas,
usem apenas dinheiro, e só comprem aquilo que tenham real valor – nada de
bugigangas ou engenhocas. Tudo o que vocês possuem deve caber dentro de uma
mala; só então suas mentes poderão estar livres. E antes que vocês enfrentem as
tropas nas ruas, DECIDAM e SAIBAM o que estão fazendo, quem colocarão no lugar
dos que ao estão e por quê. Slogans românticos não farão o serviço. Tenham um
programa definido, com palavras charas, pois se vocês VENCEREM terão um forma de
governar decente e adequada. Pois tenham em mente que em todos os movimentos há
oportunistas, gente ávida de poder, lobos sob vestes Revolucionárias. São esses
os homens que derrubam uma Causa.
Estou do lado dos que querem um mundo melhor,
para minha filha, para mim mesmo, para vocês, mas é preciso ter cuidado. Uma
mudança no poder não significa uma cura. Entregar o poder às pessoas não é uma
cura. O poder não é uma cura. O grande esforço de suas mentes não deve ser como
destruir um governo, mas sim como criar um governo melhor. Não sejam mais uma
vez enganados e aprisionados. E se vocês vencerem, tenham cuidado com o governo
que seja mais Autoritário e que acabe por deixá-los numa situação mais
opressiva do que a anterior. Não sou exatamente um patriota, mas apesar de
todas as enormes e fodidas injustiças ainda se pode expressar uma opinião e
protestar e agir num amplo espectro social. Digam-me, poderia eu escrever um
texto contra o governo DEPOIS que vocês assumirem? Poderia ficar nas ruas e
parque e dizer a vocês o que eu penso? Espero que sim. Mas sejam cuidadosos se
for para perdermos esse direito em nome da Justiça. Peço que me apresentem seu
programa para que possa escolher entre o de vocês e o deles, entre a Revolução
e o governo existente. Será que não me colocarão para cortar cana? Isso me
deixaria bastante chateado. Por acaso a construirão novas fábricas. Teriam meus
escritos, minha música, minhas pinturas que leva em conta o bem-estar do
Estado? Deixariam que eu ficasse largado em parques e cubículos bebendo vinho,
sonhando, me sentindo bem e tranquilo? (…)
segunda-feira, outubro 14, 2013
Um equívoco que se espalha fácil
Recentemente o PROCON-RJ fez algumas operações, bastante divulgadas na
mídia, em supermercados e outros estabelecimentos comerciais. O foco: alimentos. Achei ótimo. É realmente revoltante ver produtos fora da validade
sendo vendidos ou estocados, pondo em risco a saúde (e a vida) das pessoas. Não
sei lhes dizer se tais operações renderam multas ou a merecida cadeia para os donos e
gerentes desses estabelecimentos, espero que sim.
Mas, apesar do elogio ao PROCON, aproveitarei este espaço para chamar a
atenção desse órgão e de alguns veículos de comunicação, quanto à importância
de se pesquisar (minimamente que seja) informações divulgadas e que podem ser
tomadas como verdadeiras.
Este fim de semana, lendo uma matéria no portal do jornal O Dia (clique
aqui) me deparei com a citação de uma lei. Raramente leio uma matéria que cita
uma lei sem ir buscar a tal lei, com quem conhece mais ou, claro, na internet.
Foi o que fiz. Não encontrei citação de uma lei, e sim de um projeto de lei.
O projeto de lei, pelo que descobri, ficou só no… projeto.
Foi arquivado. E por inconstitucionalidade, segundo parecer do relator.
Antes de ser citada naquele jornal, a mesma “lei” foi divulgada no site
do PROCON-RJ, numa matéria (clique aqui) que ainda destaca o que saiu na mídia
sobre as operações.
A lei estadual Nº 2637/2009, na verdade foi um projeto de Lei (mesmo
número) que, como disse, e pode ser conferido aqui, foi arquivado por inconstitucionalidade.
O Dia, O Globo, G1 e outros, seguiram o PROCON-RJ e usaram a informação
errada. Ninguém, pelo visto, pesquisou.
O parecer do relator cita a “Instrução Normativa n° 83, de 21 de
novembro de 2003, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que
dispõe acerca dos “Regulamentos Técnicos de Identidade e Qualidade de Carne
Bovina em Conserva (Corned Beef) e Carne Moída de Bovino”.” Mas também existe
aqui no Estado do Rio, um Decreto (pelo visto ainda em vigor) que, em seu
artigo 117 diz que “Nos estabelecimentos que comercializam carnes, será
facultada a venda de carne fresca moída, sendo feita esta operação,
obrigatoriamente, em presença do comprador, ficando, porém, proibida mantê-la
estocada, nesse estado.” O que bastaria.
domingo, outubro 13, 2013
Três contentamos e muitos pensamentos
Sábado de Sol. Dia 12 de Outubro de 2013. Dia das Crianças. Dia de Nossa Senhora Aparecida. Oxum.
No dia anterior o cardápio foi planejado, mentalizado. Galetos devidamente temperados, acondicionados e prontos para a viagem. Na manhã, antes de partir, saio às compras do restante dos ingredientes. Tudo pronto, metrô para a Central do Brasil e trem ramal Japeri, parador, para Nilópolis. Desta vez não será em Mesquita. Assim como há dois anos, a casa de minha Tia avó servirá de base. Neste dia da manutenção de uma tradição de outra Tia avó, já falecida e sobre a qual já falei aqui neste blog, um encontro em família
Este é o primeiro dos contentamentos daquele Sábado. Família. É certo que poucos membros, uma vez que nada foi combinado para aumentar as proporções do encontro. Mas valeu. Como devem saber (se não sabem, que fiquem sabendo agora), eu gosto muito de cozinhar. Algumas vezes tenho sucesso, outras vezes não. Dessa vez eu fui feliz. Os galetos temperados de véspera ficaram muito bons e melhor ainda fui a satisfação de minha família, que elogiou o prato. O salpicão de frango defumado e salsão também agradou bastante.
A tradição sobre a qual falei é a distribuição de doces no Dia das Crianças. Uma tradição que a cada ano tem sido enfraquecida pelo preconceito e ignorância que muitas Igrejas têm instigado nas pessoas. É com grande tristeza que percebo que instituições que deveriam propagar coisas boas estão sendo usadas para difundir visões deturpadas, preconceituosas, limitadas, desagregadoras e até amorais entre as pessoas. O mais cruel é que boa parte dessas pessoas são crianças, que desde cedo começam a olhar o mundo através de um véu tecido pelos preconceitos e ignorâncias de instituições ditas religiosas. Instituições essas que são auxiliadas pelo poder público. Precisamos de um novo Iluminismo.
Mas o foco aqui é contentamento. E, apesar de enfraquecida pela ignorância, a tradição de minha querida Tia Perpétua foi mantida. Sua benção minha Tia. E obrigado!
O segundo contentamento daquele dia foi descobrir que a criminosa e desrespeitosa empresa de ônibus Trans1000 finalmente foi impedida de circular e substituída. Pode parecer algo simples, mas só quem conheceu o desserviço prestado por essa organização criminosa travestida de empresa de ônibus pode saber o que significa isso. É certo que o DETRO demorou até demais em fazer seu serviço, mas não deixo de ficar feliz em saber que a população de Nilópolis e Mesquita (parece que ainda operam uma linha lá) não precisarão mais ficar a mercê das armadilhas em forma de veículos operadas pela Trans1000.
O terceiro contentamento, que na verdade foi o cronologicamente primeiro, foi saber que ainda podemos contar com o profissionalismo dos oficiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
Primeiramente saibam que não sou da turma que julga o todo pela parte. Desses que se acham cidadãos conscientes e engajados e esclarecidos e ficam bradando que a PM é isso, a PM é aquilo, julgando (e condenando) a instituição a partir de atos criminosos de alguns de seus membros.
Voltando ao caso específico… Central do Brasil. Japeri parador, partindo às 10 da manhã. Transporte de massa. Um bem público, operado sob o regime de concessão, mas um bem público. Deve ser preservado e conservado. E culpar a concessionária por todas as mazelas é algo típico de pessoas ignorantes, oportunistas e aproveitadoras. Muitos dos usuários contribuem para o que vemos no dia a dia. Composições sujas, pichadas, quebradas. Viagens que se tornam mais difíceis e desconfortáveis pela atitude e postura e comportamento de pessoas que, ali, acham que seus direitos (ou melhor, suas vontades) se sobrepõem à lei vigente. Acham que seus direitos (ou suas vontades e manias) são maiores que seus deveres enquanto cidadãos e mais importantes e justas que os direitos dos demais cidadãos.
Sempre me bate uma incompreensão ao ver usuários de transportes públicos não zelarem pela conservação daquele meio de transporte. É algo como cuspir no prato que comem. É se boicotar. Ao entrar vi um desses cidadãos com o pé apoiado confortavelmente sobre um banco. Ao sentar, longe dele, me deparo com duas outras cidadãs, ambas como se estivessem no conforto de suas salas, com suas pernas ocupando cada uma três lugares.
Eis que entram dois policiais militares, uniformizados, a serviço, cumprindo suas obrigações constitucionais, fazendo o que se espera que façam, fazendo o que são pagos (por mim, por você brasileiro, por aquelas duas cidadãs) para fazer. Um deles, educadamente, profissionalmente, aborda as cidadãs e pede que retirem os pés dos bancos. Nesse momento as infratoras (cidadãs ainda, mas pegas em flagrante numa infração ao bem público) tomam os policiais como inimigos. Para elas aquilo era um absurdo, era um desrespeito, um excesso (aliás, agora parece que virou a palavra da moda… fora os casos certos e claros onde houve excesso, algumas pessoas acham que cumprir a lei, defender o patrimônio público, zelar pela segurança, virou… excesso). Ambas resistiram e, ao contrário do policial que fez a abordagem, de forma grosseira e desrespeitosa. Mas, apesar da pirraça, elas obedeceram.
Inevitável lembrar a comparação do policial ao questionar se aquela cidadã se comportaria daquela maneira no metrô. É interessante como o trem se tornou terra de ninguém para alguns, local onde podem fazer cada um a sua própria regra. Não pode ser assim e conto com o aparato de segurança do Estado para que tais absurdos não se repitam.
A pirraça e as palavras grosseiras entre elas e sobre os policiais em particular e a PMERJ no geral continuaram. Agora ambas, apesar de claramente não se conhecerem, se tornaram amigas. Compreensível.
Eu, olhando aquilo tudo, fiquei contente. Tive vontade de cumprimentar ambos os policiais. De dizer obrigado.
A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro conta, sim, com pessoal qualificado para cumprir seu papel. Com relação às frutas podres, essas que sejam devidamente extirpadas da corporação e, dentro de nosso tão importante e pouco respeitado regime democrático de direito, incorporadas ao cárcere quando este for o caso.
Esses mesmos policiais atuaram em outra infração pouco tempo depois. Quando outro cidadão, que achava que seus direitos estavam acima dos demais, acima das regras estabelecidas e acima da lei, fazia manifestação religiosa enquanto pedia dinheiro para alguma instituição que, segundo ele, cumpria um papel espiritual e cristão e social e blábláblá e não era auxiliada pelo Estado. Discurso estúpido e lamentável. Foi devidamente e profissionalmente abordado por um dos policiais que, pelo que foi dito, o reconheceu uma vez que já o havia abordado cometendo a mesma infração.
E esse foi o terceiro contentamento do dia. Como podem ver, mais uma coisa simples, o cumprimento da lei.
terça-feira, outubro 08, 2013
quinta-feira, setembro 12, 2013
quinta-feira, agosto 29, 2013
Vandalismo político
Mais uma vez a Câmara dos Deputados debocha dos brasileiros. Protegidos
pelo execrável voto secreto, os deputados inocentaram um bandido. O criminoso
foi condenado pela Justiça e seus colegas deputados "disseram": a
Justiça não importa nesta casa!
Nenhum sistema é perfeito. E não seria diferente com a Democracia. Isso
mesmo, ela não é perfeita. Mas é coerente.
Isto é. Consideremos que entre nós, brasileiros, existem não apenas
cidadãos inocentes e éticos, mas também culpados e corruptos. Consideremos que num
sistema democrático pressupõem-se direitos iguais. Consideremos que um desses
direitos é o de se candidatar a cargos públicos. Logo, seria coerente corrêssemos
o risco de termos determinadas figuras indesejadas como nossos representantes.
Algo muito prezado em nossa imperfeita democracia é o direito de livre
manifestação. E quando penso nos eventos recentes que ocorrem por todo o país,
não posso deixar de fazer um paralelo com a recente vergonha a que os deputados
nos sujeitaram quando cuspiram na cara da Justiça e da Ética.
Tenho criticado bastante a covardia de alguns ditos manifestantes
(aliás, a imprensa deveria parar de chamar criminoso de manifestante... vândalo
é criminoso!) quando escondem o rosto para, aproveitando-se de um ato de
protesto por um Brasil melhor, depredam o patrimônio público e privado;
cerceiam nosso direito de ir e vir; sujam as ruas espalhando lixo, ateando fogo;
desacatam oficiais da segurança pública; vandalizam nossa cidade, vandalizam
nossa cidadania e, mais que isso, vandalizam nossa já imperfeita democracia.
Dizem que esses marginais “protestam”, dentre outras coisas, contra a
corrupção na política (como se ser corrupto fosse uma "doença" que
acometesse somente quem ocupa cargo público). Pergunto: qual a diferença entre
esses e aqueles sobre os quais falei acima? Se existe, são poucas. Vamos às
similaridades.
O vândalo se esconde atrás de máscaras, cobram o rosto com camisas, lenços,
etc.
Os políticos se escondem atrás do voto secreto.
O vândalo, quando os agentes de segurança pública conseguem prendê-los,
pouco tempo ficam numa delegacia. Seus iguais se manifestam. Advogados
aparecem.
Os políticos... idem.
O vândalo se acha no direito de fazer o que faz, justifica suas ações
pelo bem da sociedade, se isola numa ética totalmente própria que obedece a
seus interesses.
Os políticos... idem.
Então, vamos mantendo essa tal coerência em nossa imperfeita
democracia, com as máscaras e o voto secreto, assim como aqueles que os usam
como escudo, os vândalos e os políticos. Dois seres tão antagônicos e ao mesmo
tempo tão parecidos, tão próximos em sua "maneira de ver o mundo".
quarta-feira, agosto 28, 2013
O atendimento tá brabo
As vezes me recrimino por evitar algumas lojas. Mas é só entrar numa que me lembro a razão. O atendimento está cada vez pior. Se é que podemos dizer que ainda existe atendimento ao cliente "presencial". Horrível, né? Mas por vezes vejo ser necessário diferenciar. Posso ter tido um ou outro problema ao comprar via internet. Mas tais problemas não são "de atendimento". Acho que os ditos atendentes que trabalham nas lojas deveriam aprender e ter sempre em mente que estão ali para... atender ao cliente. Estão ali para prestar um serviço de atendimento.... ao cliente. Devem (ou pelo menos eu, inocente e bobo, penso que deveriam) fazê-lo com profissionalismo. E que tal com simpatia, educação, diligência, presteza. Não quero puxa-saco me importunando na loja, mas exijo que alguém tenha a capacidade de tirar duvidas simples.
Hoje, por exemplo, caí na besteira de entrar na Casa&Vídeo da Rua Uruguaiana. Percorri todo o primeiro piso e não encontrei ninguém que me ajudasse. Ninguém! Resolvi abordar os atendentes exclusivos para os celulares (sabendo disso, que fique claro). Nada! Não sabiam se existia alguém disponível na loja que cuidasse (atendesse) a área de eletro-eletrônicos.
Resolvi abordar um segurança que mal sabia articular as frases e me olhou como um inimigo (não um em potencial, mas 'o inimigo'). Me indicou um rapaz que estava muito apressado para fazer o que lhe competia (atender) e acabei desistindo. Ao sair, comentei para mim mesmo sobre a falta de atendimento e, ao ouvir, o tal segurança falou algo muito certo: "É, o atendimento aqui tá brabo merrmo, tá brabo!".
Lojas virtuais podem ser mais humanas e sociáveis que muitas lojas convencionais.
Tá brabo!
terça-feira, agosto 20, 2013
Os mitos da felicidade
Na semana passada a "Palavra do Dia", serviço oferecido pelo Aulete Digital, teve como tema "Os mitos da
felicidade". Achei bastante interessante e resolvi compartilhar aqui no TUIST. Em conversa recente sobre "isso" eu comentei que o conceito de felicidade é algo bem pessoal. Cada um é feliz a sua maneira, no seu momento, na sua intensidade. Pessoalmente não creio que a condição "feliz" seja algo permanente. O ser humano, por natureza, é inconstante. E essa inconstância penso que se reflete nos seus sentimentos. Nessa mesma conversa comentei que fiquei feliz ontem quando, indo para casa, olhei para o céu e vi a Lua, cheia, linda. Os atos de gentileza, os sorrisos, as boas conversas. Coisas simples...
Mito
Um mito é uma crença
popular ou tradição que se desenvolvem em torno de algo ou alguém. Em “Os mitos
da felicidade”, a autora, Sonja Lyubomirsky, trata de desconstruir as crenças
de que determinadas conquistas da vida adulta, como o casamento, ou o emprego
dos sonhos, por exemplo, nos deixarão felizes para sempre. A autora também desmistifica
a crença de que certos fracassos, como problemas de saúde ou financeiros, nos
deixarão infelizes para sempre. Dentre os mitos desmistificados pela escritora
estão a noção de que “eu serei feliz quando...” e “não poderei ser feliz
se...”.
Hedonismo
De acordo com a
psicologia, o hedonismo é uma teoria segundo a qual o comportamento humano
seria motivado pela busca do prazer e a tentativa de evitar o desprazer. Em “Os
mitos da felicidade”, a autora aborda um conceito científico conhecido
como ‘adaptação hedonista’, ou seja, a capacidade que os seres humanos têm de
se acostumar com a maioria das mudanças da vida. Esse conceito também explica
por que a alegria da vitória e a tristeza das derrotas diminuem com o tempo.
Expectativa
A expectativa é uma
espera ansiosa de algum acontecimento promissor. Em seu livro, “Os mitos da
felicidade”, a autora convida o leitor a entender se suas expectativas são
realistas ou se ele está sendo exigente demais no casamento ou na sua atuação
como pai ou mãe, por exemplo. A autora explica ainda que, conforme o ser humano
se acostuma com as mudanças positivas do seu dia a dia, suas expectativas
tendem a aumentar e muitas vezes se tornam excessivas. Assim, ela mostra a
importância de se avaliar os objetivos e sonhos de maneira realista e otimista,
de forma a aprender com as dificuldades.
Cognição
A cognição é o
conjunto dos processos da mente envolvidos na percepção, na representação, no
pensamento, nas associações e nas lembranças. Em “Os mitos da
felicidade”, a autora apresenta a psicologia cognitiva, que estuda o que
há por trás de cada comportamento. Os psicólogos cognitivos usam o termo ‘rede
semântica’ para se referir às ligações que há entre nossas memórias e pensamentos.
Assim, a autora aborda a forma como alguns estados, como a desilusão no
casamento, por exemplo, podem estar interligados a uma rede de memórias
negativas e suposições pessimistas. A psicologia cognitiva trabalha de forma a
infundir na rede semântica emoções positivas que enfraquecerão as conexões
entre as memórias e os pensamentos negativos.
Prognóstico
Um prognóstico é
uma suposição sobre processos ou resultados futuros baseada nas condições
vigentes e em um esperado desempenho dos fatores atuantes. Em “Os mitos da
felicidade”, a autora sugere que nós reexaminemos os prognósticos sobre o que
pode acontecer no nosso emprego atual, de forma a aprendermos a repensar e
contestar os prognósticos negativos. Assim, a autora nos convida a pensar
positivamente sobre o futuro, pois só assim saberemos se nossa experiência no
emprego atual é verdadeiramente desprezível ou razoável.
Intuição
A intuição é uma
forma de conhecimento imediato, independente de qualquer processo de
raciocínio. Assim, de acordo com a autora de “Os mitos da felicidade”, nosso
sistema intuitivo se vale, normalmente, de atalhos mentais rápidos e
superficiais ou de regras gerais. Equivocadamente, os julgamentos intuitivos
são interpretados como premissas ou fatos consumados, pois parecem emergir de
maneira espontânea. Portanto, as reações iniciais aos momentos críticos estão
contaminadas por nossa parcialidade intuitiva.
sábado, agosto 17, 2013
Esperança
Recentemente enviei um poema de Augusto dos Anjos para uma amiga. O soneto Versos Íntimos começa assim
Enterro de tua última quimera.
Não pensem que foi algo para ofendê-la. Vivemos numa implicância mútua. Nesse dia eu comecei a expor minhas desesperanças. E terminei por lembrar de alguns versos bem ácidos que mostravam como estava me sentindo. Augusto dos Anjos, Bukowski...
A resposta dela, consciente ou não, veio alguns poucos dias depois daquelas implicâncias. E na forma de um clipe do Playing for Change com a música What a Wonderful World.
Valeu QC!
Que saudades que...
Tenho ou sinto? Saudades. Penso que por vezes a tenho, por vezes a sinto. E me dou conta de que isso não é tão absurdo assim. Se refletirmos, veremos que muitas coisas que temos (ou achamos que temos) nem sempre as sentimos. Por outro lado, sentimos tantas coisas que, a bem da verdade, não temos. E assim vivemos. De posse de nossos sentimentos. Sentindo ou tentando sentir o que possuímos, ou pensamos possuir.
Mas a "saudade" que me traz de volta ao depois de tanto tempo sem escrever para o TUIST é justamente... do tempo em a inspiração e a a disposição para a escrita eram maiores.
Talvez já tenha comentado aqui o quanto a leitura e a escrita me são importantes. A primeira, mais antiga, foi minha salvação quando tudo a minha volta favorecia coisas negativas. Os livros me proporcionaram os necessários momentos de isolamento daquele mundo hostil. Uma ilha de calmaria rodeada de mar bravio.
Mais tarde, a escrita, neste blog, me proporcionou momentos de reflexão, momentos de introspecção. Além de foco e disciplina.
Eu li. Eu escrevi. Infelizmente não li tanto... e também não escrevi o bastante.
Mas desanimei bastantes. Principalmente nos últimos meses. Talvez sejam coisas que tenho, ou penso que tenho, ou que já não tenha. Talvez sejam coisas que sinto.
Mas, como costumo brincar, o pulso ainda pulsa.
quinta-feira, julho 25, 2013
#JMJ
Nos últimos dias presenciei cenas muito bonitas, muito
emocionantes e, acima de tudo, muito humanas no melhor sentido da palavra. Pessoas
de diversas nacionalidades; jovens em sua maioria, muito jovens. Em grupo,
percorrendo as ruas da cidade, muitas cantando, portando bandeiras de seus
respectivos países, alegres, animadas, felizes. Quando se encontravam, os
grupos se cumprimentavam, trocavam bandeiras, camisetas, quebravam a barreira
do idioma e se comunicavam como se conhecessem uns aos outros e estivessem se
reencontrando após um longo tempo.
Em tempos onde na maioria das vezes as pessoas se ignoram,
se escondem em seus mundos, se isolam e se afastam, as cenas foram
particularmente importantes no sentido que me fez perceber que ainda podemos
nos comportar com humanidade. Esperança.
A Jornada Mundial da Juventude é um dos eventos mais
impactantes, mais belos que já vi. E, com certeza, repleto de significado.
Importante também, ainda num desabafo bem pessoal, pois tudo
isso ocorre num momento de extremo desanimo.
domingo, maio 05, 2013
Concursos nossos de certos domingos
Já reparam como são bonitos os dias de concurso público? Quase
sempre tendo uma noite anterior enluarada e quente, com várias propostas de
cerveja e outras tentações que terminam tarde da noite, ou pela manhã, levando
suas forças e sua disposição e, no lugar, deixando um dor de cabeça
persistente, e sono, muito sono. Geralmente são dias de sol, de céu azul… Bem
convidativos para uma praia, uma caminhada, um churrasco… um chopp. Sabe como é…
uma coisa leva a outra. Tudo, menos ficar uma manhã ou, algumas vezes uma manhã
e uma tarde, numa sala com pessoas que (verdade seja dita e pelo menos naquele
momento) não querem o sucesso uma das outras. Além disso, mais que candidato,
você é suspeito. Por isso mesmo, será atentamente observado, seus movimentos
serão acompanhados de perto por várias pessoas.
Hoje foi um desses domingos. Com certeza deu praia. Como me
preservei na noite anterior, eu acordei cedo e fui concorrer a uma vaga, ou melhor,
a uma possível vaga (o malicioso cadastro de reserva) numa empresa pública.
Se no mundo “normal” as pessoas encontram amigos num dia de
sol, seja na praia, no parque, na rua, num bar, no mundo dos concursos não é
diferente. É comum ouvir “só assim nos encontramos…”. Pessoas que não se veem
desde os tempos da faculdade se esbarram nos corredores das instituições onde
ocorrem as provas. Aí é uma festa, claro. Momento para descontrair, fazer
piada, saber da vida um dos outro, fofocar, saber do mercado, das expectativas,
das perspectivas, das novidades.
Outra pergunta bem típica nessas ocasiões é “e aí, você
estudou?”, geralmente seguida de respostas como “estudei nada!” ou “só dei uma
lida” ou “pô, trabalhando direto, só vim porque paguei”.
São comuns também as brincadeiras ácidas, como quando um
colega deseja que você “passe mal durante a prova”, ou outro que coloca o pé na
sua frente (claro, de modo que você veja) e te olhe rindo e pergunta “diminuindo
a concorrência, né?”. Ou ainda aquele cumprimento afável “que pena te ver por
aqui”.
É um dia interessante. Peculiar.
Hoje não foi diferente. E, ao me deparar com situações tão
comuns nesses dias, não pude deixar de recordar os concursos idos.
Falarei um pouco sobre as situações. E foram tantas
situações…
É sempre bom ter algo para comer durante a prova. Comer e
beber. Afinal, a maioria das provas tem duração de quatro horas, talvez mais. E
o preparo físico faz parte da prova. É eliminatório. Eu costumo levar uma
fruta, mas é raro. Tenho o péssimo hábito de não comer entre o café da manhã e
o almoço. Hoje, por exemplo, não levei nada. Comprei água pouco antes de entrar
no local. Opa, um parêntese… No momento da compra eu ouço “água se traz de casa”.
Grata surpresa. Uma colega de faculdade. Os minutos seguintes foram de
atualizações.
Mas voltando aos comes e bebes… Muitas pessoas levam
biscoitos, refrigerantes, e outras guloseimas. Toda bebida, claro, representa
um risco imediato. Molhar o cartão resposta não é algo que se almeja. Não para
si, hehehe. Mas o biscoito é uma arma (guardem essa palavra), talvez, ainda
mais perversa. Ter o silêncio sepulcral da sala maculado pelo som da destruição
de substância alimentícia ao ser esmagada por “uma estrutura dura, saliente e
esbranquiçada composta por polpa, dentina e esmalte” é algo que abala os nervos
e compromete o raciocínio (ou divagações) durante a prova. Hoje um colega me
proporcionou um desses momentos. Ponto pra ele.
“O inferno são os outros”. Talvez Sartre tenha feito alguma
prova de concurso público. Assim como a alimentação alheia, naquele momento,
pode significar seu fracasso (hoje eu tô dramático), o movimento alheio também pode
ter esse efeito.
Se existe algo que me apavora nessas provas é a proximidade
das carteiras e o tráfego indiscriminado de meus arqui-inimigos momentâneos, “os
outros”. O nervosismo deveria se expressar por sono profundo, desistência pura
e simples ou mesmo paralisia momentânea (além de dramático, cruel). Mas o que
se vê são espasmos musculares, mudanças abruptas de posição, sessões de percussão
onde pés, mãos, canetas viram instrumentos musicais desritmados. Além, é claro,
do funcionamento indisciplinado do sistema urinário.
Nesses momentos, cuidado! Esses “outros” passarão bem
próximo de você, esbarrarão em você com o intuito inconsciente (ou não… lembrem:
eles são “os outros”) de derramar aquela garrafa d’água que você, imprudentemente,
deixou em cima da carteira. Ou, mais comumente, essa colisão ocorrerá no exato
momento em que a ponta de sua caneta esferográfica de tinta preta e de material
transparente estiver em contato com a superfície do documento único e
insubstituível onde você deve marcar as respostas. Isso já ocorreu comigo.
Os outros. Já reparam como algumas pessoas “acabam” a prova
em tão pouco tempo? Hoje, por exemplo, uma menina que chegou esbaforida, em cima
da hora, e falando com alguém sobre ter ido de bicicleta (imprudente gasto
energético pré-prova), entregou a prova menos de uma hora após o início. Não dá
tempo! É quase impossível! Mas, o irracional, tão presente, nos diz “Tá vendo? Ela
já acabou! E você, seu lerdo, nem chegou à segunda página! Anda logo com isso,
seu bocó!”. Logo, hoje desenvolvi uma teoria esdrúxula: essas pessoas
irritantes são contratadas por algum dos “outros” para desequilibrar mental e
emocionalmente os demais.
Bem, eu posso não ler o edital (aliás, isso é raro, se é que
li por completo alguma vez), mas existem instruções básicas para a realização
de uma prova. E a mais básica é: caneta esferográfica de tinta preta e de
material transparente. E pode apostar, sempre haverá alguém que, já na sala,
reagirá com surpresa a esse detalhe. E hoje não foi diferente. O “outro”, uma
menina, não esqueceu o creme com que lambrecou displicentemente as pernas
(preparo para a prova?), mas ficou espantada com a observação da “caneta esferográfica
de tinta preta e de material transparente”.
Aliás, essa exigência me faz lembrar a sagacidade de nossos
vendedores ambulantes. São mais bem informados que muitos concurseiros. Já nos
acessos ao local das provas sempre haverá um alertando sobre a “caneta esferográfica
de tinta preta e de material transparente” e, claro, ofertando a mercadoria.
Esse fenômeno também pode ser observado naqueles dias que não parece que vai
chover (e você está desprevenido, claro) e cai aquele toró. Logo haverá alguém
vendendo “familhão” por 10 reais. Ou, durante o carnaval, caso queiram saber
onde será o bloco, siga o camelô empurrando um carrinho de cerveja. Mesmo
princípio.
Mas, continuando…
Os “outros” podem estar armados. Cuidado!! É isso mesmo.
Armas. E não falo de biscoitos crocantes dessa vez. Numa prova recente, num
domingo de sol, lá pelas bandas do Méier, me surpreendi (rindo, incrédulo) com
a pergunta da fiscal de sala para a turma, durante os avisos iniciais: “Pessoal,
alguém está portando arma?”. A formalidade foi esquecida nesse momento e
perguntei sobre aquele questionamento, novidade para mim. Ela sentou e, como
havia tempo para o início, contou a história inusitada. Disse que, durante um concurso
organizado por aquela instituição, um homem foi surpreendido durante a revista na
saída do banheiro (para quem não sabe, o uso de detector de metais é regra)
com… pasmem… três (isso mesmo, 3) armas. Devidamente presas em coldres espalhados
pelo corpo, inclusive um na canela. Detalhe: ele não era policial. Mais detalhe:
justificou-se dizendo que era para se proteger, pois era uma área de risco e
coisa e tal.
Bem, o único risco ali (além dele, claro) era ser reprovado.
Um risco ao qual, obviamente, ele sucumbiu. Devidamente desarmado, ao ser
expulso do local.
Continuemos…
Os rituais. Ah, essa é outra parte interessante desses
domingos de sol. Cromoterapia pura e aplicada (o amarelo ajuda) é um exemplo. Leituras
antes da prova são frequentes. Eu, no caminho, estava lendo um romance. Algumas
pessoas levam apostilas e resumos, que só guardam no último segundo.
Alongamentos, exercícios respiratórios… Preces são comuns. Afinal, entre a
bibliografia proposta mais o catatau de legislação exigida… bem, apelar ao
divino parece ser mais rápido. Por falar no divino, um dos momentos mais marcantes
desses anos de concurso público foi durante o vestibular. Acho que foi numa
prova da UFF. O local eu lembro bem, Colégio Zaccaria, no Catete. Estava
sentado próximo à janela, senti um cheiro diferente, mas só me virei para
conferir quando houve um zum zum zum e o fiscal da sala se aproximou para
advertir um rapaz. Razão: um sujeito, meio bicho-grilo, havia fixado e acendido
um incenso na carteira a sua frente e estava em posição de lótus meditando. Acreditem.
Isso ocorreu. Eu estava lá. Quem deve se lembrar bem é a menina da carteira
onde o incenso foi fixado. Eu não esqueço a expressão de incredulidade e ódio
dela cheirando próprio cabelo (cabelos longos!), claro, devidamente defumado.
Não preciso dizer que esse “evento” desconcertou boa parte da turma (a menina,
principalmente).
Não sucumbi ao ataque desse “outro” zen. Passei para a UFF!
É. Esses são os concursos nossos de cada domingo. Domingos
de Sol. Nossos e, claro, dos “outros”.
quarta-feira, maio 01, 2013
Ubuntu - EU preciso de VOCÊ para ser EU
Ubuntu. Filosofia ou Ideologia africana. Há tempos ouço falar e até li, embora pouco, algo sobre o que vem a ser ubuntu. Gostaria de, neste momento, estar no clima para escrever mais e melhor sobre o assunto. Mas, de qualquer forma, resolvo arriscar, mesmo que em poucas linhas.
A razão principal foi uma declaração que li por ocasião da visita do presidente da África do Sul a um ex-presidente daquele mesmo país. O "tal" ex-presidente é um dos cidadãos mais importantes do mundo. O mundo precisou dele. E ele não falhou. Por isso, minha gratidão, pelo que foi, pelo que é, pelo que fez, pelo que continua fazendo, pelo que representa. Obrigado Madiba!
Pois, bem. O atual presidente sofreu críticas por uma suposta exploração política da imagem de Nelson Mandela. Foi durante uma visita ao ex-presidente, que já em casa se recupera após um período internado num hospital. Sua saúde é frágil. São mais de noventa anos de luta. O tempo, a natureza e o corpo. Um trio inexorável.
A imagem de um Mandela muito debilitado "recebendo" a tal visita correu o mundo e teve seu impacto. Minha primeira impressão não foi alterada (e, por isso, este pequeno texto de desabafo). Foi sim exploração política. Foi desrespeitoso. E não fui o único a pensar dessa forma. Vejam aqui (analisem a foto).
Com as críticas, veio a justificativa. E aí que temos a deturpação de algo bom. O partido do presidente declarou, através de um porta-voz, que a visita estava de acordo com os valores ubuntu.
Não! Pelo pouco que entendo, não faz parte do que é ubuntu a exploração da imagem de um ser humano mais velho e debilitado para fins de promoção política.
Encontrei um vídeo na internet onde Mandela e Tutu aparecem falando sobre Ubuntu. Espero um dia escrever mais e melhor sobre ubuntu, a essência do me define como ser humano. Ubuntu - eu sou eu através de você. EU preciso de VOCÊ para ser EU.
segunda-feira, abril 22, 2013
Mais um aninho
Parabéns Velhinho!
No registro são 513 aninhos, mas tu já aprontava bem antes daquele 1500 quando Pedrinho te achou. Não ignoramos mais isso.
Espero que seus bons frutos possam suplantar as tantas mazelas causadas por essa "meia dúzia" ervas daninhas que nasceram ou surgiram em teu solo. Espero que seus filhos, naturais e adotados (e são tantos) sejam felizes, e te honrem, e te protejam, e te conservem, e te respeitem (e uns aos outros). Espero que a diversidade que tu representas seja aquela que nos enche de orgulho e não aquela que nos envergonha e nos entristece.
Hoje e sempre te desejo saúde e paz. Feliz aniversário BRASIL!!
sexta-feira, março 15, 2013
Certificação AIIM ECMp
Essa vale um post!
Acabo de ser aprovado no exame para obtenção da Certificação ECM Practitioner da AIIM (Association for Information and Image Management).
Acabo de ser aprovado no exame para obtenção da Certificação ECM Practitioner da AIIM (Association for Information and Image Management).
sexta-feira, março 08, 2013
A denúncia foi feita...
... e até agora, nada.
No início da semana apresentei a seguinte denúncia (?)... não, foi mais um pedido, um alerta... ao Corpo de Bombeiro do Estado do Rio de Janeiro. Além disso, o mesmo texto foi registrado famoso serviço 1746 da Prefeitura do Rio de Janeiro. E, claro, no twitter da Defesa Civil e da Prefeitura. E, como disse, até agora, nada. Reproduzo aqui, como forma de registro.
"Peço urgentemente que verifiquem a galeria comercial do nº 26 da rua Almirante Tamandaré, no Flamengo, Rio de Janeiro. Próximo ao Largo do Machado e próximo da Praça São Salvador, onde fica quartel do CBMERJ. Ontem houve curto-circuito que, embora externo (na lâmpada florescente que fica para a rua) demonstra a fragilidade das instalações. Se adentrarem na galeria, poderão perceber alguns extintores nas áreas comuns instalados acima de 2 metros de altura (não sou técnico, porém é visível que haverá dificuldade para retirá-los em caso de urgência). Além disso, a dúvida se impõe quanto a manutenção periódica de tais instrumentos. Outro fator agravante é o grande número de lojas de reparo e salões que utilizam equipamentos que geram calor e faísca, além de sobrecarregarem a rede elétrica que, possivelmente, não foi adaptada para tal tipo de consumo. As mesmas lojas que produzem calor e vapor (inclusive de solda) não possuem sistema de exaustão. A exaustão existente é interna, isto é, da loja para a área comum da galeria, onde circulam pessoas de todas as idades. A galeria também serve de armazenamento visivelmente inadequado de materiais utilizados pelos ambulantes. A galeria possui depósito de bebidas com equipamentos de refrigeração visivelmente sem manutenção. Muitos materiais, em determinadas ocasiões, ficam armazenados de modo a prejudicarem o tráfego de pessoas. Equipamentos das lojas, especialmente aqueles de refrigeração, ficam ligados ininterruptamente e a galeria não possui sistema automático de detecção e extinção de incêndio. Acima da galeria existem dois prédios residenciais que ficam sujeitos aos riscos citados acima. Tudo que foi informado pode ser verificado de forma simples, com o profissionalismo, conhecimento e boa vontades dos senhores."
Bem, é basicamente isso. Como podem ver, existem situações de risco facilmente evitáveis. Cabe as autoridades não fecharem os olhos. Nesse caso, até o momento, parece que minha mensagem foi escrita com tinta invisível. Denunciem!
Assinar:
Postagens (Atom)
A menina no mercado
Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...
-
Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...