Hoje, no ônibus indo para o
trabalho, li um texto (Deveríamos queimar o rabo do Tio Sam?) do Bukowski no livro “Pedaços de um caderno manchado de vinho” (L&PM Pocket) e, vejo que o velho Hank sempre me surpreende pela sua atualizade. Ainda mais
num texto que me parece tão atual.
"O
grande esforço de suas mentes não deve ser como destruir um governo, mas sim
como criar um governo melhor..."
Meu ponto é que já ouvi gritaria
similar a essa que agora toma as ruas antes, e tudo isso não deu em nada. Houve
traições e viradas em abundância. As pessoas tinham comida em suas barridas. As
pessoas tinham feito dinheiro na guerra. A Rússia aliada passou a ser a Rússia
inimiga. Joe Stalin, agora que o mundo tinha sido salvo, dava uma de Hitler com
seu povo. Mais uma vez – como sempre – os intelectuais tinham sido enganados. A
realidade superou a teoria. A ganância e a mesquinhez humanas se tornaram
história. A proclamada bondade do homem revelou-se um belo golpe. Traição.
Documentos. Conversa para boi dormir. (…) A Direita estava de volta. Mas como?
Não tinham sido destruídos na Segunda Guerra? Cada homem era suspeito. “Vocês
nunca participaram do Partido Comunista? Não éramos a maioria de nós?” Mas
ninguém nunca disse isso. (…)
Agora mais uma vez os
intelectuais gritam “Revolução”. Um banco é incendiado. A IBM sobre um
atentado, um companhia telefônica também, e outros lugares… Policiais são
apedrejados; seus carros queimados; policiais são mortos, policiais matam –
sempre acontece. (…) Garantiu a eles mais um dia. Bem, vocês podem e perguntar,
qual é o meu PROPÓSITO? Bem, sou um fotógrafo da vida, não um ativista. Mas
antes de se decidir por uma Revolução tenham certeza de que vocês têm uma voa
chance de vencer – com isso, me refiro a uma vitória pela violência. Antes de
isso acontecer vocês precisão promover alguma revolução dentro dos ranques da
Guarda Nacional e da força policial. Isto não acontecerá em nenhum grau. Então
é preciso fazer isso através dos votos. (…)
A essa altura já há muitas pessoas
temendo por seus empregos, há muitas pessoas comprando carros, aparelhos de
tevê, casas, créditos estudantis. Crédito e propriedade e um trabalho de oito
horas são grandes amigos do Establishment. Se vocês precisaram comprar coisas,
usem apenas dinheiro, e só comprem aquilo que tenham real valor – nada de
bugigangas ou engenhocas. Tudo o que vocês possuem deve caber dentro de uma
mala; só então suas mentes poderão estar livres. E antes que vocês enfrentem as
tropas nas ruas, DECIDAM e SAIBAM o que estão fazendo, quem colocarão no lugar
dos que ao estão e por quê. Slogans românticos não farão o serviço. Tenham um
programa definido, com palavras charas, pois se vocês VENCEREM terão um forma de
governar decente e adequada. Pois tenham em mente que em todos os movimentos há
oportunistas, gente ávida de poder, lobos sob vestes Revolucionárias. São esses
os homens que derrubam uma Causa.
Estou do lado dos que querem um mundo melhor,
para minha filha, para mim mesmo, para vocês, mas é preciso ter cuidado. Uma
mudança no poder não significa uma cura. Entregar o poder às pessoas não é uma
cura. O poder não é uma cura. O grande esforço de suas mentes não deve ser como
destruir um governo, mas sim como criar um governo melhor. Não sejam mais uma
vez enganados e aprisionados. E se vocês vencerem, tenham cuidado com o governo
que seja mais Autoritário e que acabe por deixá-los numa situação mais
opressiva do que a anterior. Não sou exatamente um patriota, mas apesar de
todas as enormes e fodidas injustiças ainda se pode expressar uma opinião e
protestar e agir num amplo espectro social. Digam-me, poderia eu escrever um
texto contra o governo DEPOIS que vocês assumirem? Poderia ficar nas ruas e
parque e dizer a vocês o que eu penso? Espero que sim. Mas sejam cuidadosos se
for para perdermos esse direito em nome da Justiça. Peço que me apresentem seu
programa para que possa escolher entre o de vocês e o deles, entre a Revolução
e o governo existente. Será que não me colocarão para cortar cana? Isso me
deixaria bastante chateado. Por acaso a construirão novas fábricas. Teriam meus
escritos, minha música, minhas pinturas que leva em conta o bem-estar do
Estado? Deixariam que eu ficasse largado em parques e cubículos bebendo vinho,
sonhando, me sentindo bem e tranquilo? (…)
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