domingo, abril 01, 2007

É Veríssimo!

Sempre digo que as polêmicas geradas em torno da declaração da Ministra do SEPPIR, Matilde Ribeiro, do vice-presidente, José Alencar, e os acontecimentos recentes na UnB, foram positivos, acima de tudo. Considero positivo pois permitiram e permitem reflexão, análises, discussões, manifestações. As pessoas pensam e falam (e escrevem) sobre um assunto muitas vezes considerado tabu, ou mesmo fantasia.

Poderíamos considerar como uma dessas manifestações, a coluna do Veríssimo hoje (01/04/2007) no O Globo, "Racismos". Para quem não teve oportunidade de ler o Jornal, eu o reproduzo abaixo.

Racismos

VERISSIMO

Preconceito racial e discriminação racial são duas coisas diferentes.

O preconceito é um sentimento, fruto de um condicionamento cultural ou de uma deformação mental, mas sempre uma coisa pessoal, quase sempre incorrigível. Não se legisla sobre sentimentos, não se muda um hábito de pensamento ou uma convicção herdada por decreto.

Já a discriminação racial é o preconceito determinando atitudes, políticas, oportunidades e direitos, o convívio social e o econômico. Não se pode coagir ninguém a gostar de quem não gosta, mas qualquer sociedade democrática, para não desmentir o nome, deve combater a discriminação por todos os meios — inclusive a coação.

Não concordo com quem diz que uma política de cotas para negros no estudo superior é discriminação ao contrário, ou uma forma de paternalismo condescendente tão aviltante quanto a discriminação.

É coação, certo, mas para tentar corrigir um dos desequilíbrios que persistem na sociedade brasileira, o que reflete na educação a desigualdade de oportunidades de brancos e negros em todos os setores, mal disfarçada pela velha conversa da harmonia racial tão nossa. As cotas seriam irrealistas? Melhor igualdade artificial do que igualdade nenhuma.

Agora mesmo caíram em cima de quem disse — numa frase obviamente arrancada do contexto — que racismo de negro contra branco é justificável.

Nenhum racismo é justificável, mas o ressentimento dos negros é. Construiu-se durante todos os anos em que a última nação do mundo a acabar com a escravatura continuou na prática o que tinha abolido no papel. Não se esperava que o preconceito acabasse com o decreto da abolição, mas mais de 100 anos deveriam ter sido mais do que suficientes para que a discriminação diminuísse.

Não diminuiu.

Igualar racismo de negro com racismo de branco não resiste a um teste elementar. O negro pode dizer — distinguindo com nitidez preconceito de discriminação — “Não precisa me amar, só me dê meus direitos”.Qual a frase mais próxima disto que um branco poderia dizer, sem provocar risos? “Não precisa me amar, só tenha paciência?” “Me ame, apesar de tudo?” Pouco convincente.

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