sexta-feira, julho 06, 2007

Medo!

Sempre comento com amigos que, há alguns anos, eu saía muito à noite. Freqüentava o famoso baile charme do viaduto Negrão de Lima, em Madureira, ia aos sambas no Clube Renascença, no Andaraí, sem falar das farras pelo Centro e Lapa. Morando então em Mesquita, terra santa, e com o último ônibus (a porcaria do 005) saindo da Praça Mauá às 23:30, invariavelmente me restava – quando a noitada não era em Madureira, Marechal, etc. – a opção de voltar para casa via Central do Brasil, com ônibus e ambiente irregulares. Ou, como eu mais fazia, seguir para Madureira ou Cascadura onde haviam ônibus ininterruptos para Nova Iguaçu, passando por Mesquita. Além, é claro, de ônibus pirata e de Kombi. Saltava então na esquina de casa (e as benditas paredes que me acompanhavam até o portão). Hoje estou medroso.

Dizem que, quem não deve não teme. Isso é passado! O caso que ocupa a primeira página do Jornal Extra de hoje, por si só já serve para rebater o velho dito popular. E não é a primeira vez que isso acontece. Um inocente é morto por, dentre outros motivos injustificáveis, não se curvar aos esculachos proporcionados por aqueles que deveriam nos proteger. Tapas na cara, xingamentos, tiros de esculacho, ameaças, extorsões, abusos. Basta um olhar reprovador ou digno (a dignidade não é bem vista), para incitar e iniciar os “procedimentos” de alguns desses funcionários públicos na área de segurança.

E digo que não é a primeira vez, pois, nesse caso, lá estava uma das tão famosas câmeras de segurança. Apesar de cada vez mais freqüentes em estabelecimentos comerciais, elas ainda são raras em muitos outros, principalmente na Baixada Fluminense. E tais “procedimentos” ocorrem, tenho certeza, em muitos outros lugares onde o Estado só aparece para tais atos. Ah, é claro, em tempos de eleições também. É de dar medo!

Apesar de teorizar, eu não sei qual seria minha reação ao receber um tapa de um sujeito desses. O que contribui para aumentar meu medo. A cena mostra um despreparo total de alguns integrantes da nossa PM. Ficará difícil para alguns rebater as críticas quanto às ações no Complexo do Alemão. Mais difícil ainda criticar os relatórios da Anistia Internacional sobre a questão de segurança pública no Rio de Janeiro. Isso sem falar na família de Rubineu Nobre, de 29 anos (minha idade), vigia, executado num posto de gasolina na Baixada Fluminense.

Um comentário:

marinaide disse...

Alex,
vc não foi elogiado pela Jussara só pq ela te ama, não senhor.
vc escreve bem, tem idéias simples e sofisticadas, além de expressar com ternura a sua visão de mundo, mesmo diante de coisas tão desumanas.
abs
Marinaide

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