Na semana passada aconteceu uma das polêmicas geradas pelo PAN 2007. Isso mesmo, não foi apenas uma. O caso específico envolveu Kevin Neuendorf, funcionário do Comitê Olímpico dos Estados Unidos. O estadunidense escreveu num dos quadros da sala de operações de imprensa dos EUA, no Complexo do Riocentro, a seguinte frase: “Welcome to the Congo” (Bem-vindo ao Congo). Pronto. Bastou. Foi o suficiente. Neuendorf sendo demitido, Comitê Olímpico que o trouxe para o evento pedindo desculpas. Notícias, comentários, declarações, indignações, indagações, revoltas, amenizações, retratações… e os jogos continuam. Ainda bem.
A desculpa do demitido foi alegar que fez uma comparação, pura e simples, devido ao grande calor que fazia. Não considerou o tempo em sua tão limpa e desenvolvida terrinha. Mas tudo bem. EUA é um país grande e as diferenças, de temperatura ou sociais (sabem a quantas andam os atingidos pelo Katrina? Depois escrevo.), são desconhecidas por muitos. Mas tudo bem, novamente.
Volto, então, a comparação em si. Congo. Não sei a que Congo ele se referiu. Será que foi ao Congo ex-colônia francesa – a República do Congo –, também conhecida como Congo-Brazzaville em referência à sua capital (opa! Aí pode estar toda confusão: Brazzaville, Brazil… Brasil)? Ou terá ele se referido à República Democrática do Congo, por vezes chamada de Congo Belga, por ser ex-colônia do país europeu (Bélgica), conhecido ainda como Congo-Kinshasa também em referência à capital do país? Se pudesse eu perguntaria. Talvez, esclarecendo o texto, pudesse recuperar o emprego. Considerando-se que ele o perdeu realmente.
Além da curiosidade (sic) que tenho em saber sobre qual dos Congos ele se referiu, existe certa tristeza quando penso na essência da “polêmica”: um (ou dois, sei lá) país africano tem seu nome usado como adjetivo pejorativo. A comparação torna-se ofensiva, como estampa o título de uma das matérias sobre o caso: “Comitê americano demite funcionário por ofensa ao Brasil” (grifo meu) no Estadão. Outras matérias falam de polêmica, preconceito, gafe, ironia, ignorância.
Alguns devem se lembrar de nosso querido presidente Luiz da Silva quando, em novembro de 2003, durante visita a Windhoek, capital da Namíbia, declarou “Estou muito surpreso, porque quem chega a Windhoek não parece que está num país africano. Acho que poucas cidades do mundo são tão limpas e bonitas arquitetonicamente quanto esta cidade”. Como não poderia deixar de ser, muitos reproduziram a declaração, em forma reduzida; como, por exemplo: “Nossa! É tão limpa que nem parece África” (e entre aspas!). Não estou defendendo o Luiz, até porque a declaração original já ilustra certa desinformação sobre o continente africano, além da inadequação do comentário. Ainda mais partindo da figura de um chefe de Estado. Desinformação que contribui para gerar preconceito. É ignorância que nasce da ignorância.
Quando alguém chega ao Rio e segue, por exemplo, do Santos Dumont ao Leblon ou Gávea ou Lagoa, vê coisas (como o Aterro do Flamengo, os prédios, casas, os carros, lojas de grife) que realmente não verão na Baixada Fluminense, por exemplo. Ou mesmo em alguns pontos da própria Zona Sul. É só ter um pouco de atenção. Algumas pessoas vêem somente o que querem. Este semestre eu estudei alguns textos que falam sobre a criação da história. Como algo que pode ser moldado para se tornar simbólico, imortal… diferente da realidade. Ou sobrepondo uma realidade. Como uma toalha de linho impecavelmente branco sobre uma mesa de metal encardido, sujo, enferrujado, esburacado. Muitos que olharem pensarão que por debaixo daquele pano tem um mármore da melhor qualidade.
Realmente, por algumas fotos que vi da capital da Namíbia, a cidade é muito bonita. São belas construções, em estilo europeu, e muita limpeza, como disse nosso presidente. Mesmo tratando-se de um país onde a taxa de mortalidade infantil é de aproximadamente 47 mortes /1000 nascidos vivos e a expectativa de vida média é de 43 anos (Fonte: CIA The World Factbook). Incoerências. Já no Congo-Kinshasa os valores são 65.52 mortes/1000 nascidos vivos, com expectativa de 57.2 anos e no Congo-Brazzaville 83.26 mortos/1000 com expectativa de 53.29. No Brasil está em torno de 27/1000 e 72, respectivamente, segundo a mesma fonte. Fazendo uma média (com trocadilhos)!
Pode parecer que sou um mestre em história e geografia africana. Ledo engano. Também sou um ignorante em África. Porém, tento reverte esse quadro lendo, pesquisando, aprendendo, me importando. Tenho sorte de não ocupar nenhum cargo diplomático! Quem sabe no futuro…
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