sexta-feira, julho 27, 2007

Falar de quê?

Nos últimos dias fiquem sem assunto. Talvez pela quantidade de coisas que acontecem todos os dias e merecem um comentário, mesmo que somente uma exclamação de horror, susto, incredulidade, indignação, ou até mesmo de humor. Acabo ficando perdido.

O bom desempenho do Brasil nos jogos Pan-americanos, com atletas apresentando um verdadeiro espetáculo. O clima de aparente calmaria que vemos no Rio de Janeiro durante os jogos… ou talvez alguns acontecimentos não estejam merecendo a devida cobertura da imprensa, em detrimento do evento maior, o PAN2007. Risos com a espontaneidade da platéia ao responder do “hoy” na abertura dos jogos. Mesma ocasião e, embora alguns não acreditem, mesma espontaneidade com que a mesma platéia ofereceu suas vaias a um bem assistido presidente.

Ainda tem os atletas cubanos que aproveitaram os jogos para “desertar”. Um deles, talvez o primeiro, disse algo sobre “melhores oportunidades” (?). Gostaria de ouvir os outros. Cuba: amada e odiada, ou simplesmente mal compreendida? Eis a questão.

O acidente com o avião da TAM em Congonhas foi algo de assustador. Já tive oportunidade de viajar de avião, utilizando aquele aeroporto e os serviços da TAM. Nas viagens, independente da companhia aérea, eu me sinto incomodado com um fato: peso 70 quilos e mal consigo pular e essa coisa que me leva tem várias toneladas e voa. As leis da física e aerodinâmica não me convenceram ainda!

Congonhas. A melhor definição que ouvi foi: “é um porta-aviões cercado por mar de casas”. Acho que foi do Alexandre Garcia, não sei. De qualquer forma que penso que, fatalidade à parte, foi tragédia anunciada. Culpados? Sim, existem. Os que, por um motivo ou outro, ignoraram sinais óbvios, deixaram de investir o que era para ser investido, não respeitaram a vida. Uma reportagem do JB comenta que o montante que deveria ser investido na infra-estrutura aeroportuária foi “anexado” a conta do governo, aumentando, assim, o famoso superávit. Viva à economia, ou melhor, viva à imagem econômica na nação perante investidores estrangeiros. Viva alguma coisa, pois outros choram a morte de 200 pessoas.

A cobertura da imprensa foi intensa, algumas vezes até extrapolando o que penso ser adequado. Outras, despeitando um momento de dor, como quando eram anunciados os nomes dos passageiros. Mas, a maioria das vezes, fez seu papel. Pressionando a quem de direito por informações a que temos direito. Investimentos anunciados, ministro da defesa trocado… aguardemos resultados.

Ah, invadiram a fazenda do Renan. Disso que achei graça. Não pude deixar de rir. O MST fez algo de bom.

Os problemas climáticos na Europa também chamam atenção. Centenas morrendo de calor, milhares desabrigados por enchentes. Na América do Sul temos o frio e neve na Argentina. A natureza também prega susto na Ásia, com o terremoto no Japão, que levanta a preocupação quanto à segurança das usinas nucleares, uma vez que houve vazamento.

São tantos assuntos e amplamente cobertos pela imprensa nacional que acabo por deslocar o foco para outros. São assuntos que também julgo importantes e não os vejo nos telejornais ou na mídia impressa. A internet ajuda muito, uma vez que temos acesso aos jornais e revistas do mundo inteiro. Então, navego em busca de assuntos que também envolvem seres humanos.

Falo de seres humanos da África, Ásia, Oriente Médio. Desta última região, temos certa cobertura da imprensa. Atentados, carros e homens-bomba, sofrimento, dor. Conflitos religiosos agravados por questões de ordem financeira e especulatória, por petróleo ou assuntos estratégicos, estão presentes no dia-a-dia dos jornais. Infelizmente não se chega a uma solução para essa agonia. Fico pensando se os que se dizem defensores da paz realmente querem uma solução que não seja para seus próprios problemas e interesses.

Na África temos as velhas questões, que contribuem para tornar o nome do continente num adjetivo pejorativo. Temos também interesses econômicos suplantando questões de ordem mais humanitária. Darfur. Aproximadamente 200 mil mortos (muitos elevam a cifra para 400 mil). Aproximadamente 2 milhões de refugiados nas fronteiras do país, Sudão. Os governantes negam genocídio. Dizem que existe paz. Que as pessoas estão vivendo normalmente suas vidas.

A razão para o discurso: a imagem negativa afastaria investimentos no setor financeiro e energético (Petróleo) em franca expansão no país. A intervenção é mais que necessária, mas questões que não entendo atrasam a salvação dos milhões de seres humanos que padecem naquela região. Ainda na África temo uma situação que a cada dia se agrava, no Zimbábue. Da mesma forma têm-se refugiados, seres humanos que buscam nada menos do que a própria sobrevivência, fugindo de sua terra natal. Fugindo das políticas de outros seres humanos, políticas nada humanas. Já escrevi aqui no Blog sobre a questão de Darfur, no Sudão, e pretendo desenvolver mais sobre o que ocorre em Zimbábue.

Recentemente tomei conhecimento de outra crise humanitária. Mais uma. Ásia. O país, pouco conhecido, é Burma. Na imprensa internacional é tido como “a crise esquecida”. Tendo como países fronteiriços o Laos, Índia, Bangladesh e Tailândia, este país vive há mais de uma década sob um forte regime repressor, que mantêm uma máquina de guerra composta por meio milhão de militares, mesmo sem ter (ainda) inimigos externos. Regime esse que institucionalizou o trabalho forçado, a prisão política, os assassinados e massacres, o estupro. Regime que usa, segundo relatos, crianças como soldados. Um regime que investe metade da riqueza no setor militar em detrimento da educação e saúde de sua população. População que chegou a ter uma taxa de mortalidade infantil, na região leste, estimada em 221 mortes por 1000 nascidos, segundo reportagem do britânico The Independent. Um regime que deveria estar recebendo sansões internacionais, mas questões mercadológicas são postas em primeiro lugar. Na verdade alguns países já adotam as sanções, mas multinacionais não querem perder o mercado.

Como bem diz o título do artigo de John Bercow para o The Independent de ontem, “A plight we can ignore no longer” [Uma situação que não podemos mais ignorar]. É, vejo que tem muita coisa a ser dita, escrita, exposta, divulgada. E feita.

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