quinta-feira, junho 18, 2009

Pessoas comuns

Tenho lido poucas notícias e assistido pouco os telejornais. Rádio? Raramente. Na maioria das vezes para tomar conhecimento, muito superficialmente, de notícias locais. A cobertura do acidente aéreo com o avião da Air France foi desgastante. As maracutaias parlamentares continuam me enojando. Estão ficando repetitivas as discussões sobre as questões raciais (oops, raça não existe; e nem adianta argumentar em termos sociológicos)... questões, então, digamos... hum... de cor da pele?, de origem?, de afro-descendência?, bem, essas questões surgidas (?) quando se fala de cotas em universidades (pode ser impressão ou implicância minha, mas O Globo tem deixado bem evidente sua sintonia com o diretor-executivo de jornalismo da Rede Globo). Já estou cansado também (mudo de canal, desligo o rádio, etc.) de ver um tal Luiz da Silva dizer o que bem entende e ser aclamado como um baluarte da palavra. Trinta e um anos e já estou de saco cheio de tanta coisa! Preciso espairecer. Isso é certo.

Parte desse meu distanciamento das notícias se deve, também, ao ritmo de trabalho. E o cansaço com tanto blablablá em jornais, rádio e televisão, é ampliado pelo desgaste físico, emocional e psicológico do trabalho. Sou uma pessoa comum, com um emprego comum e fraquezas comuns. Um ser humano autêntico, como alguns diriam.

Sendo uma pessoa comum, eu estou sujeito aos mesmos acontecimentos, ações e consequências que toda pessoa comum. Tenho direito e deveres. Erro e acerto. Critico e sou criticado. Falo e escuto. Como uma pessoa comum, e reconhecendo que muitas pessoas comuns não têm o mesmo privilégio, eu, como disse anteriormente, tendo um emprego comum. E, como deveria ser comum, para continuar nesse emprego, mantenho um acordo formal e tácito com meu empregador: eu exerço uma atividade laboral e sou remunerado por isso. E, nesse acordo, está igualmente formalizado e implícito, além de ser exigido, com ou sem vigilância direta, que eu seja honesto, que zele pelo patrimônio da empresa, que respeite aqueles para quem trabalho, façam eles parte de minha atividade-meio (chefe, gerente e demais superiores hierárquicos, colegas de igual nível hierárquico de mesmo setor ou não, funcionários e colaboradores nas atividades de suporte, limpeza, e outros) ou da atividade-fim da empresa (público alvo, consumidor, sociedade...). Como pessoa comum que sou, também posso ser alvo de sanções no nível empresarial, ou mesmo da sociedade, caso, em benefício próprio ou de outrem, cometa ações que desrespeitem o acordo com a empresa e ou extrapole meus direitos e/ou deveres enquanto pessoa comum.

Sendo uma pessoa comum eu também sinto fome, sede, calor, frio, durmo, tenho insonia, envelheço... E sou mortal. Pelo menos espero que seja, pois a finitude e a mortalidade (ou, pelo menos, a consciência de tal) é, digamos, tranquilizante.

Mas existem pessoas bem diferentes. Parecem estar acima do bem e do mal. Pessoas para as quais erros e acertos são conceitos filosóficos não aplicáveis a si. Pessoas para as quais direitos e deveres são moldados a seu bel prazer, e de maneira a garantir que a primeira opção seja a única aplicada e aplicável a si e aos seus. Pessoas que falam unilateralmente. Pessoas envolvidas numa redoma que deve ser respeitada e nunca maculada com críticas. Essas pessoas também conseguem empregos, porém, o acordo com o empregador esmaece na entrevista para o posto, desaparecendo pouco depois da investidura. Ocupam tal posto como que fazendo um favor ao empregador. O respeito é demonstrado - em forma de complacência, conivência, negociatas, acordões e maracutaias mil – com parte daqueles integrantes e congêneres das atividades-meio. Já os formadores, o público que deveria ser beneficiado pela atividade-fim, é tido como mero empecilho. Honestidade, para essas pessoas, é algo que destoa totalmente daquilo que se espera de uma pessoa comum. Além disso, essas pessoas parecem ser imortais, pois parecem renascer das cinzas quando pensamos, ou até esperamos, que já tenham desaparecido. Essas, meus caros, são as pessoas fora do comum.

Uma dessas pessoas, como bem apontou Luiz da Silva em-quem-não-votei, atualmente ocupa a presidência do Senado Federal. Trata-se de José do Maranhão (na verdade o Maranhão parece ser desse José... e dos seus), aquele que não sabe e que não viu (assim como Luiz da Silva) e, mesmo sabendo e vendo, nada tem com isso. É imune e segundo Luiz da Silva, “tem história no Brasil suficiente para que não seja tratado como se fosse uma pessoa comum”. Com isso, seria uma injustiça e um desrespeito se eu, uma pessoa comum, criticasse ou apontasse ou denunciasse os erros, crimes, desvios, dessa pessoa fora do comum que é José do Maranhão.

Eu continuo aqui, sendo uma pessoa comum, agora irei tomar um banho como uma pessoa comum, e assistir a novela, como algumas pessoas comuns (ou não). E, já de saco cheio de tudo, como disse anteriormente, mantenho a esperança, fico na expectativa, como uma pessoa comum, de que essas tais pessoas fora do comum se tornem... mais comuns. Finitos. E bem depressa!

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