Divagações novelístico-sociológicas
Confesso: sou um noveleiro! Apesar da promessa básica ("usarei esse tempo para estudar") ao fim de toda novela das oito, continuo acompanhando a próxima. A bola da vez é Caminho das Índias, novela brasileira, que se passa no circuito Índia, Dubai, Barra, Lapa, com atores brasileiros, trilha sonora, em parte, de língua inglesa, assistida numa televisão de marca japonesa, comprada nas lojas Americanas e que já está precisando de um controle novo, daqueles genéricos, feitos na China. É a globalização.
Mas, voltando ao rumo... Novela também é cultura, ou tema para análises sociológicas. Hoje, por exemplo, numa das cenas do núcleo indiano, Camila (Ísis Valverde), a esposa brasileira do jovem indiano Ravi (Caio Blat), é interrompida pelo marido ao questionar o passado de Laksmi (Laura Cardoso) e Shankar (Lima Duarte). Ravi, pedindo que ela não toque no assunto dentro de casa, diz: "aquilo que não se diz e não se pensa, não existe".
Como sempre, e por falta do que fazer (embora tenha muito que estudar... concursos), minha mente divagou e fiz mais uma de minhas analogias. A frase de Ravi, vejam só, me fez pensar no discurso "arracial" (e que, muitas vezes, esconde o desejo de manutenção do status quo, da desigualdade) que diz a mesma coisa: se não falarmos em racismo, se não pensarmos em racismo, ele não existe.
Eu até tento seguir esse mantra. Abstraio, respiro fundo e não penso no "assunto". Mas, infelizmente, sempre tem alguém (de quaisquer castas) para estragar minha meditação, minha fantasia, minha "tentativa". E fazem isso me arremessando em nossa (da sociedade, da comunidade) realidade. Seguido por seguranças e funcionários no mercado, na livraria; evitado nas calçadas (mesmo à luz do dia); desacreditado ao me apresentar como responsável por alguma atividade (olhares assustados, decepcionados, desolados, interrogadores, perdidos ao se deparar com algo... inusitado); isso sem falar nos bancos, nos restaurantes, nas portarias, nos elevadores...
Desse modo meu mantra é quebrado. Meu momento de felicidade transcendental é atirado no poço da complexidade das relações sociais definidas pela cor da pele. Mesmo sem falar, mesmo sem pensar, eu sofro. E não posso entender e combater e eliminar algo sobre o qual não reflito, algo sobre o qual não me pronuncio. Então, mudo e mentalmente bloqueado, sofro. Mas como pode algo que não se fala e não se pensa, causar sofrimento. Já sei. É simples. Isso existe!
Baguan Kelie!!
Confesso: sou um noveleiro! Apesar da promessa básica ("usarei esse tempo para estudar") ao fim de toda novela das oito, continuo acompanhando a próxima. A bola da vez é Caminho das Índias, novela brasileira, que se passa no circuito Índia, Dubai, Barra, Lapa, com atores brasileiros, trilha sonora, em parte, de língua inglesa, assistida numa televisão de marca japonesa, comprada nas lojas Americanas e que já está precisando de um controle novo, daqueles genéricos, feitos na China. É a globalização.
Mas, voltando ao rumo... Novela também é cultura, ou tema para análises sociológicas. Hoje, por exemplo, numa das cenas do núcleo indiano, Camila (Ísis Valverde), a esposa brasileira do jovem indiano Ravi (Caio Blat), é interrompida pelo marido ao questionar o passado de Laksmi (Laura Cardoso) e Shankar (Lima Duarte). Ravi, pedindo que ela não toque no assunto dentro de casa, diz: "aquilo que não se diz e não se pensa, não existe".
Como sempre, e por falta do que fazer (embora tenha muito que estudar... concursos), minha mente divagou e fiz mais uma de minhas analogias. A frase de Ravi, vejam só, me fez pensar no discurso "arracial" (e que, muitas vezes, esconde o desejo de manutenção do status quo, da desigualdade) que diz a mesma coisa: se não falarmos em racismo, se não pensarmos em racismo, ele não existe.
Eu até tento seguir esse mantra. Abstraio, respiro fundo e não penso no "assunto". Mas, infelizmente, sempre tem alguém (de quaisquer castas) para estragar minha meditação, minha fantasia, minha "tentativa". E fazem isso me arremessando em nossa (da sociedade, da comunidade) realidade. Seguido por seguranças e funcionários no mercado, na livraria; evitado nas calçadas (mesmo à luz do dia); desacreditado ao me apresentar como responsável por alguma atividade (olhares assustados, decepcionados, desolados, interrogadores, perdidos ao se deparar com algo... inusitado); isso sem falar nos bancos, nos restaurantes, nas portarias, nos elevadores...
Desse modo meu mantra é quebrado. Meu momento de felicidade transcendental é atirado no poço da complexidade das relações sociais definidas pela cor da pele. Mesmo sem falar, mesmo sem pensar, eu sofro. E não posso entender e combater e eliminar algo sobre o qual não reflito, algo sobre o qual não me pronuncio. Então, mudo e mentalmente bloqueado, sofro. Mas como pode algo que não se fala e não se pensa, causar sofrimento. Já sei. É simples. Isso existe!
Baguan Kelie!!
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