quinta-feira, maio 24, 2007

USP - sobre a ocupação da reitoria

Fazendo referência a um editorial da Envolverde, eu elogiei aqui no blog o protesto dos estudantes da USP, que ocupam desde o inicio do mês a reitoria daquela universidade. Neste período de ocupação também lemos notícias de greve de professores e funcionários. As reivindicações são variadas, em ambos os movimentos. E, é claro, penso que devem ser ouvidas e analisadas à luz da realidade da instituição e considerando sempre o estado de direito em que vivemos.

Mantenho o elogio aos movimentos e manifestações que reivindicam a melhoria e democratização da educação, do ensino. Tenho certeza de que muito do que hoje temos em termos de ensino, mesmo que ainda seja insuficiente, deve-se ao engajamento de alguns que lutaram por isso no passado.

Mas penso que a questão da USP deve ser analisada sem esse romantismo ou saudosismo que surge quando falamos sobre o movimento estudantil. E podemos estender tal análise para outros movimentos em outras instituições.

1º - A lei existe, apesar de pouco praticada, e já determinou a reintegração de posse da reitoria da universidade. Logo, já deveria estar desocupada. Mas dizem que a lei não é para todos. Eu não concordo. Se assim fosse, eu passaria a apoiar a falta de punição dos parlamentares que desviam dinheiro público.

2º - Os manifestantes representam o pensamento da maioria? Sinceramente não sei. Tenho lido muitas declarações de estudantes da USP contrários à greve, nas quais relatam o que a imprensa talvez desconheça, talvez ignore. Tanto na questão da greve, como também na ocupação da reitoria existem os que apóiam, os que ficam neutros e vão vivendo suas vidas, e os que repudiam. Seria interessante quantificar isso, pois com certeza muitos estão sendo prejudicados pela paralisação de atividades acadêmicas e administrativas na universidade. Li que são mais de 80 mil alunos matriculados e aproximadamente 5 mil professores e 15 mil funcionários.

3º - Quando reivindicamos maiores investimento na educação, parece que esquecemos o que podemos fazer para não “piorar” o pouco que temos, conservando o ambiente de ensino e, fundamentalmente, estudando. No blog oficial da ocupação, eu vi um vídeo onde um professor, para exercer sua função (a docência) tentava em vão desfazer o monte de carteiras que os manifestantes (discentes) haviam empilhado. A cena também mostra que, ao mesmo tempo em que o professor as tirava, os alunos refaziam a pilha. Isso é um dos fatos, documentados pelos próprios manifestantes, mesmo que de forma não intencional. Nos relatos que li dos alunos e professores que são contra a ocupação e greve, também constam informações sobre intimidações e ameaças, pichação, dentre outros.
Logo, vemos a democracia tão defendida indo pra o buraco, uma vez que encaram os neutros e contrários como ameaça, mesmo que maioria. E também vemos a depredação do patrimônio público. Notando que uma das reivindicações diz respeito à construção de novos prédios e “manutenção” dos existentes.

4º - De onde parte o movimento? Pelo que li ficou claro que a maioria não está sendo ali representada. Até onde as associações de classe atuantes na USP (de professores e funcionários) têm ingerência nesses atos? Tem origem ou influencia partidária? Esta manifestação tem ou não certo grau de manipulação? São perguntas para as quais ainda não tenho resposta. Talvez nunca as tenha.
São mais de 20 dias de ocupação e me parece que a essência se perdeu. Se é que existiu.

Só espero que não acabe em pizza, assim como outros eventos país a fora. Essa manifestação na USP é uma oportunidade para discutir e rever diversos aspectos da sociedade, não apenas referentes ao ensino.

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