Declarações polêmicas
Ontem (terça-feira, 27) eu li uma matéria no Globo On-line e enviei a uma amiga com o seguinte comentário:
“Faz-se idéia de como a declaração será recebida. O Globo On-line já estampou e amanhã provavelmente haverá destaque maior no (jornal) impresso. Eu sou contra algumas posições ditas "radicais" que até já presenciei, por isso penso que tudo (antes de ser declarado) tem de ser pensado a nível mais amplo, ainda mais em se tratando de uma questão dessas, tão delicada, e discutida por uma pessoa naquela posição (a Ministra Matilde Ribeiro, do SEPPIR). Entendo perfeitamente a essência do que era para ser exposto pela Ministra como resposta a pergunta (da repórter da BBC), mas tenho quase certeza que a parte “…embora eu não esteja incitando isso.” “Não acho que seja uma coisa boa” não será levada em consideração. Prato cheio para a mídia e para discursos contrários a uma política tão importante.”
O comentário, apesar do que parece, não tem o propósito de defender a Ministra. Muito pelo contrário. O cargo exige que certas responsabilidades sejam assumidas, inclusive nas declarações.
Pois bem. A declaração polêmica foi amplamente divulgada, como não poderia deixar de ser, e minha previsão quanto às partes que não seriam valorizadas se confirmou. Mas isso é imprensa, faz parte. O leitor é que deve ter um olhar crítico e atento. Segundo a assessoria da Ministra, devido à polêmica gerada, não deverá haver comentários sobre o assunto.
Hoje outra figura de importância no Governo ousou fazer outra declaração, tentando talvez, defender a Ministra. Não deu certo e, penso, gera tanta polêmica quanto a declaração de ontem. Trata-se de nosso Vice-presidente, José Alencar. Muitos irão concordar com o diretor-presidente da Coteminas, pois declarações como essa eu já ouvi em sala de aula. Em suma, o racismo que existe (sim) no Brasil, foi substituído por “muitos preconceitos”. A declaração desse, que é um dos maiores industriais do Brasil, segundo o site G1 foi:
“Há alguns preconceitos ainda no país, mas o racismo realmente não existe” e “Temos que compreender que o Brasil é uma raça miscigenada. Nós temos que valorizar a raça miscigenada e temos que eliminar a idéia de que no Brasil haja preconceito. Mesmo que ainda haja”
Além de, defendendo a Ministra... “Ela mesma confessa que não quis dizer daquela forma. Eu conheço bem a Matilde e sei que ela é consciente. O que ela quis dizer não tem nada contra, naturalmente, os brancos”,
Que bom saber disso! No Brasil não há racismo. Então tudo que vejo, sinto, percebo, vivencio, é fruto de minha imaginação. E pelo visto milhares sofrem disso, uma imaginação coletiva. Todas as pesquisas e análises feitas por órgãos do próprio governo também são fantasiosas. As desigualdades e a exclusão são frutos de nossa imaginação. E a posição do negro na sociedade brasileira é uma escolha, pura e simples, do próprio negro. Os negros não querem participar de programas de televisão e comerciais. Também se recusam terminantemente a seguir nos estudos e, quando o fazem e se formam, tendo a mesma preparação de um não-negro, optam por ceder a vaga no mercado. Que coisa! Então eu estava totalmente errado?
Senhor Vice-presidente, o primeiro passo para mudar determinada situação e assumi-la. O SEPPIR foi e é secretaria de sua importância nesse sentido, pois mostra que o governo (o Estado) está assumindo determinada situação na sociedade e decidiu trabalhar para revertê-la, ou pelo menos tentar. A declaração da Ministra, em minha opinião, não ajudou muito nessa luta (pois é uma luta). E gostaria que ela refletisse mais antes de expor suas idéias. Mas sua declaração tira toda a importância da SEPPIR (a não ser que se torne um órgão para cuidar dos “muitos preconceitos”), além de contribuir para a manutenção de uma política de Estado e uma postura social encobridora de uma realidade que perdura há muito tempo no Brasil.
Obs.: Para àqueles com discurso intelectualizado de que “já está provado que o conceito de raça é falho”; “a biologia diz que raça é só uma” e “todos somos da raça humana”, estou ciente de tais pesquisas e de tais conceitos, porém, quando digo que existe racismo estou usando o conceito sociológico do termo.
Ontem (terça-feira, 27) eu li uma matéria no Globo On-line e enviei a uma amiga com o seguinte comentário:
“Faz-se idéia de como a declaração será recebida. O Globo On-line já estampou e amanhã provavelmente haverá destaque maior no (jornal) impresso. Eu sou contra algumas posições ditas "radicais" que até já presenciei, por isso penso que tudo (antes de ser declarado) tem de ser pensado a nível mais amplo, ainda mais em se tratando de uma questão dessas, tão delicada, e discutida por uma pessoa naquela posição (a Ministra Matilde Ribeiro, do SEPPIR). Entendo perfeitamente a essência do que era para ser exposto pela Ministra como resposta a pergunta (da repórter da BBC), mas tenho quase certeza que a parte “…embora eu não esteja incitando isso.” “Não acho que seja uma coisa boa” não será levada em consideração. Prato cheio para a mídia e para discursos contrários a uma política tão importante.”
O comentário, apesar do que parece, não tem o propósito de defender a Ministra. Muito pelo contrário. O cargo exige que certas responsabilidades sejam assumidas, inclusive nas declarações.
Pois bem. A declaração polêmica foi amplamente divulgada, como não poderia deixar de ser, e minha previsão quanto às partes que não seriam valorizadas se confirmou. Mas isso é imprensa, faz parte. O leitor é que deve ter um olhar crítico e atento. Segundo a assessoria da Ministra, devido à polêmica gerada, não deverá haver comentários sobre o assunto.
Hoje outra figura de importância no Governo ousou fazer outra declaração, tentando talvez, defender a Ministra. Não deu certo e, penso, gera tanta polêmica quanto a declaração de ontem. Trata-se de nosso Vice-presidente, José Alencar. Muitos irão concordar com o diretor-presidente da Coteminas, pois declarações como essa eu já ouvi em sala de aula. Em suma, o racismo que existe (sim) no Brasil, foi substituído por “muitos preconceitos”. A declaração desse, que é um dos maiores industriais do Brasil, segundo o site G1 foi:
“Há alguns preconceitos ainda no país, mas o racismo realmente não existe” e “Temos que compreender que o Brasil é uma raça miscigenada. Nós temos que valorizar a raça miscigenada e temos que eliminar a idéia de que no Brasil haja preconceito. Mesmo que ainda haja”
Além de, defendendo a Ministra... “Ela mesma confessa que não quis dizer daquela forma. Eu conheço bem a Matilde e sei que ela é consciente. O que ela quis dizer não tem nada contra, naturalmente, os brancos”,
Que bom saber disso! No Brasil não há racismo. Então tudo que vejo, sinto, percebo, vivencio, é fruto de minha imaginação. E pelo visto milhares sofrem disso, uma imaginação coletiva. Todas as pesquisas e análises feitas por órgãos do próprio governo também são fantasiosas. As desigualdades e a exclusão são frutos de nossa imaginação. E a posição do negro na sociedade brasileira é uma escolha, pura e simples, do próprio negro. Os negros não querem participar de programas de televisão e comerciais. Também se recusam terminantemente a seguir nos estudos e, quando o fazem e se formam, tendo a mesma preparação de um não-negro, optam por ceder a vaga no mercado. Que coisa! Então eu estava totalmente errado?
Senhor Vice-presidente, o primeiro passo para mudar determinada situação e assumi-la. O SEPPIR foi e é secretaria de sua importância nesse sentido, pois mostra que o governo (o Estado) está assumindo determinada situação na sociedade e decidiu trabalhar para revertê-la, ou pelo menos tentar. A declaração da Ministra, em minha opinião, não ajudou muito nessa luta (pois é uma luta). E gostaria que ela refletisse mais antes de expor suas idéias. Mas sua declaração tira toda a importância da SEPPIR (a não ser que se torne um órgão para cuidar dos “muitos preconceitos”), além de contribuir para a manutenção de uma política de Estado e uma postura social encobridora de uma realidade que perdura há muito tempo no Brasil.
Obs.: Para àqueles com discurso intelectualizado de que “já está provado que o conceito de raça é falho”; “a biologia diz que raça é só uma” e “todos somos da raça humana”, estou ciente de tais pesquisas e de tais conceitos, porém, quando digo que existe racismo estou usando o conceito sociológico do termo.
Isso não é uma queda-de-braço!
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