De uma das janelas da empresa onde trabalho é possível ver a Igreja da Candelária, no Centro do Rio. A parte de traz da igreja, próximo à Avenida Rio Branco, é palco de diversas manifestações de todo o tipo.
Ali naquela calçada, onde tantas pessoas se reúnem, uma pichação já gasta pelo tempo, pela chuva, pelos pés de quem ali passa, chama minha atenção. E sempre me faz refletir sobre a posição “política” de algumas pessoas (e a minha também) e os atos e posturas dessas mesmas pessoas (me incluo).
Morte ao capital
Capital aí entendido como patrimônio, riqueza, bem econômico. O mesmo capital usado para produção e aquisição da tinta usada naquela inscrição. O mesmo capital utilizado para custear o deslocamento do autor da inscrição de sua casa até aquele local, para comprar sua roupa, seu calçado, talvez seu relógio, celular… A lista parece infinda.
Há poucos dias caminhava na praia quando notei a tatuagem num rapaz que. Tatuagem grande, no braço. Era uma foice e um martelo cruzados. O símbolo do comunismo gravado na pele contrastava com as “roupas de marca” e a sandália havaiana.
Prestem atenção nos detalhes, nas características dos participantes das manifestações com viés dito comunista. Lembro de uma expressão engraçada: “meio-intelectual, meio-esquerda”.
Quase 10 anos depois de terminar o ensino médio (então segundo grau), o caminho que encontrei para ingressar na universidade foi me preparar (pois podia pagar) num pré-vestibular. Algo que marcou esse período de quase um ano de estudos foram as aulas das disciplinas de ciências humanas. Destaco história e geografia.
Eu era um dos mais velhos na sala, na mesma faixa-etária dos professores. Procurei tirar proveito daqueles momentos, me atentando para o que realmente me interessava, isto é, me preparar para as provas. Mas não deixo de me lembrar do lado negativo, até pernicioso. As aulas de história e, principalmente, de geografia, eram completamente doutrinárias e com viés esquerdista bem agressivo. O deslumbre exercido por aquelas “aulas” leva muitos a escolherem, ali, cursar aquelas disciplinas. Parecia uma igreja.
Já na faculdade, mais situações, digamos, interessantes, envolvendo essas mesmas figuras que querem igualdade mas se consideram diferentes, especiais. Desprezam o capital, mas não dispensam a cerveja e outras bebidas fabricadas por grandes empresas com presença mundial. Idolatram Cuba, mas não viveriam naquela realidade, a não ser por razões “acadêmicas”, devidamente financiadas e por período determinado.
Figuras que só conseguem “encarar” uma foice e um machado assim, numa tatuagem, numa imagem, num imaginário, numa indumentária. Assim como carregam, financiam e promovem outros símbolos bacanas, legais, da moda... como a Swoosh. Arrisco dizer que entendem mais desse último.
3 comentários:
Capital não é algo bem específico e não pode ser confundido com riqueza, dinheiro, produtos, consumo.
Capital é uma maneira específica de produzir mercadorias e explorar o trabalho.
Nós comunistas não somos contra a riqueza, pelo contrário somos contra aqueles que roubam a riqueza de quem realmente produziu, o trabalhador.
Mas concordo que tem muito "comunista" com aspas, fanfarrão, por aí.
Entre discursos contraditórios, hoje eu vi um vídeo e nele estava o Mano Brow e ele estava com a blusa da nike. Sei lá, mas acho que não combinou com a "crítica social" que ouvi dele desde a minha adolescência.
Coincidência. Acabei de postar um pequeno texto sobre um comunista, amigo dos meus sogros, que se suicidou ontem. Resolvi andar no blog quase esquecido e vejo novidades no seu! Concordo com o Rodrigo, Alex. Não existe ser nesse mundo globalizado, comunista ou não, que consiga viver sem os objetos de consumo. Se a camisa ou o tênis não for da Nike, será da Hering, ou da Diesel, ou da Rainha, não importa. O alimento vai ter marca, o remédio vai ter marca. Sugiro que se você não tenha visto ainda, assista "The Corporation". É o mundo em que vivemos. O que difere no comunista é que ele enxerga quem deveria realmente usufruir de toda a riqueza produzida. Quem produz. Para esses, sobra o salário minguado, as filas do INSS, a alimentação deficiente, a educação de péssima qualidade. E o tênis de marca, falsificado.
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