domingo, março 29, 2009

O que Dumas deixou, e ficou

Há algumas semanas li uma matéria no caderno Prosa&Verso, do jornal O Globo (publicado em 07/03/2009), sobre o lançamento do livro O Cavaleiro de Sainte-Hermine, de Alexandre Dumas. O texto conta um pouco do trabalho do pesquisador Claude Schopp que permitiu a publicação de um livro inédito, embora inacabado, de um escritor morto em 1870. Da descoberta de uma carta num arquivo francês, o despertar da curiosidade, à pesquisa com solicitação de microfilmes de jornais do ano de 1869, tudo culminando numa publicação robusta (são mais de 1000 páginas) que chega às livrarias brasileiras esse ano – na França e EUA foi em 2005 (ô atraso!).

Como arquivista de formação, o que me chamou atenção neste caso, me fazendo refletir, foi a preservação. Se a tal carta não tivesse sido conservada, não haveria livro. Isso nos leva a pensar nas novas tecnologias.

Imaginem um escritor importante nos dias atuais. Ele faz suas anotações no computador e se corresponde através do e-mail. Nada de papel. Apesar das discussões em torno da preservação de longo termo de informação em meio digital, não consigo imaginar um e-mail escrito/enviado hoje, ser conservado por 130 anos.

O lançamento do livro de Dumas com certeza pode ser usado como exemplo da importância da preservação. Muita riqueza está sendo perdida com a volatilidade e obsolescência dos meios de armazenamento atuais e também com a banalização da informação (desde sua criação, passando pelo acumulo sem critério, até a eliminação sem avaliação). Se em meados do século passado vivemos uma explosão documental, hoje ocorre o boom informacional. No passado foram apresentadas as soluções – seguidas ou não – para amenizar a situação. Hoje as discussões parecem se restringir ao meio acadêmico e as práticas de base (nas empresas, nas instituições, em nossas casas) não sinalizam mudança. A cada ano nos são apresentados novos recursos de armazenamento (CD, DVD, Blue-ray, vários tipos de cartões de memória, até bases de dados externas/virtuais), mas nada que nos “agrade” (queremos sempre mais, menores e com mais capacidade de armazenamento) e, por tanto, nada que vá ficar.

Tudo leva a perceber que, atualmente, a solução mais acertada seria a migração contínua da informação, seja para novos formatos ou novas mídias. E o papel sobrevive.

Se Dumas hoje vivesse, com certeza muito nos deixaria. Mas provavelmente pouco ou nada ficaria.

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