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Houve um tempo em que meu interesse pelo Carnaval, além de assistir os desfiles pela televisão, me fazia gravar as letras da maioria dos sambas-enredos. Trazia na mente pelo menos o refrão, coisa hoje rara até mesmo em se tratando de sambas do carnaval de um ano atrás. Em 1992, um desses sambas, levado à avenida pela G.R.E.S. Tradição, então no grupo especial, trazia o seguinte refrão:
Odoyá, Yemanjá
Trago oferendas para lhe presentear
Abençoe o meu sonho mais sonhado
E minhas flores para o seu lindo reinado
Até hoje, praticamente 17 anos depois, o refrão não sai de minha cabeça. Pela beleza, simplicidade, fé e força em poucas palavras. É certo que a Tradição não foi bem sucedida naquele carnaval, mas isso não tira o brilho desses versos.
Hoje, 2 de fevereiro, é dia de Yemanjá. Com homenagens em diversas partes do país, talvez seja o orixá africano mais conhecido. Muito lembrada nas festas de fim de ano nas praias, onde pessoas de vários credos levam suas oferendas e fazem suas preces para um ano melhor, a Rainha do Mar, com também é conhecida, é sincretizada com duas santas católicas: Nossa Senhora dos Navegantes, que também tem seu dia em dois de Fevereiro, e Nossa Senhora da Conceição, festejada em 8 de Dezembro.
Há poucos anos eu participei de uma procissão em homenagem ao orixá mãe. Este episódio ficou marcado por uma gafe minha. Ao falar ao telefone, explicando onde me encontrava, saiu a seguinte pérola: “estou no bloco de Yemanjá”. A parte toda vergonha ao ser repreendido por uma amiga, aquele evento religioso serviu como aprendizado. A homenagem era cheia de alegria, brilho, cor. E fé. Mesmo percebendo que alguns ali estavam simplesmente pela festa, como acontece em festividades de outras crenças, o que conduzia aquelas pessoas era a religiosidade, a fé.
Uma expressão de fé que, por ser de matriz africana e praticada majoritariamente por negros, é alvo de preconceitos diversos. E, por se exprimir de maneira tão típica (um aglomerado de pessoas dançando, cantando, batucando…) acaba por despertar interpretações diversas, tais como a minha em chamar a procissão de bloco. Dessa minha expressão de ignorância, eu já me perdoei... depois de algum tempo.
Hoje continuo compreendendo pouco, mas esse pouco é mais que ontem. Tenho consciência da importância, do significado, do impacto dessa expressão cultural, religiosa. Consigo hoje ver como é bela essa manifestação de fé.
Odoyá, Yemanjá
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