quarta-feira, novembro 14, 2007

Atenção nunca é demais

Em 2003, a revista Super Interessante trouxe como matéria de capa a reportagem “Como Hitler pôde acontecer?” Um cara baixinho, com um bigode exótico, cuja aparência, em seu conjunto, fugia daquilo que pregava ser característica de raça superior. Fazia aquele penteado esquisitão, comportava-se de maneira mais esquisita ainda e, como ninguém é perfeito, ainda tinha algumas idéias bem escrotas. Mas ele “aconteceu” e deixa seu rastro podre até hoje.

A reportagem fazia um histórico do surgimento à decadência dessa figura. E a primeira conclusão, talvez óbvia, é que esse tipo de gente não surge do nada. São eventos, atitudes, palavras, acontecimento que se sucedem e… lá está ele. Será que foi tão discreto ao galgar os degraus que o levaram até o poder? Não. Não houve discrição. Ele vai mostrando a que veio para aqueles que querem ver. Alguns, descrentes, o ignoram. Outros ficam mais atentos. Mas o fato é que o bigode chegou onde queria.

Mas de quem seria a responsabilidade em perceber que algo acontece? A quem interessa? E será que haverá, digamos, sensibilidade para sacar que alguma coisa está para acontecer? Será que os acontecimentos serão analisados de forma objetiva, com isenção e abrangência suficientes, além de critério que permita prever algum evento?

Parece que esse tipo de análise só é levado em consideração décadas depois dos ditos eventos. Revirando os arquivos, sacudindo a poeira dos papéis, tendo acesso e meios para uso e análise de certas informações, acontecimentos do passado (que ainda ardem no presente) são revistos.

Hoje, a edição eletrônica do Guardian Unlimited traz um texto de Sir Ian Kershaw, professor de história moderna Alemã, da Universidade de Sheffield, intitulado Blind optimism, em que comenta o livro A mirror of Nazism: British opinion and the emergence of Hitler, 1929-1933, de Brigitte Granzow. No artigo, o professor que publicou uma biografia de Hitler (em dois volumes: Hitler, 1889-1936 Hubris e Hitler, 1936-1945 Nemesis), obra monumental – somam mais de 2000 páginas - que lhe rendeu varias premiações, analisa a “cobertura” que os jornais The Guardian e Observer deram a Adolf Hitler de 1930 a 1933. Alguns links levam a reproduções digitais desses jornais, onde podem ser lidas as matérias originais.

Reportagens que traziam distorções e interpretações equivocadas acabaram por minimizar a ascensão do líder nazista. Diziam que era apenas uma figura "dramática", um carinha cheio de "verborragias revolucionárias" e "sem verdadeiramente ser um líder revolucionário". Um "charlatão" de "postura moderada" que, talvez viesse a ser tornar um homem de Estado. E era "definitivamente cristão em seus ideais", que iam "de encontro aos da Igreja Católica Alemã". Essas são algumas das percepções que foram veiculadas à época em jornais importantes da Inglaterra.

Parece que menosprezaram as verborragias de um pseudo-revolucionário charlatão. Deu no que deu. Mas fica a lição.

3 comentários:

Gwyddyon disse...

Olá...

Olhando na comuniade do Blogger no Orkut, encontrei seu blog. Eu também sou fã de história/filosofia e algo mais xD.

"Mas de quem seria a responsabilidade em perceber que algo acontece? A quem interessa? E será que haverá, digamos, sensibilidade para sacar que alguma coisa está para acontecer? Será que os acontecimentos serão analisados de forma objetiva, com isenção e abrangência suficientes, além de critério que permita prever algum evento?"

Maquiavel dizia nque se vc oprimisse um povo por muito tempo, em algum momento eles iriam, se revoltar. É o medo de todo tirando. Conquistar o poder mas saber ele é efêmero. No caso do Hitler e, particularmente, da Alemanha pós-guerra, poderíamos dizer que foi culpa, em parte, pelo tratado de Versalhes?

Acho que só podemos analisar esses fatos a posteriori pq quando eles estãoa contecendos acbamos por acreditar na nossa "supremacia", e substimamos os desejos alheios.

Parece que ainda não aprendemos a lição. Como forma de punir outros países, governantes e o que for acabamos por fazer o povo do país em questão passar fome. Humilhamos cada cidadão como fazíamos na década de 20.

Isso quando não estendemos a mão amiga a quem, mais tarde, a decepará. Os talibãs não foram financiados pelos E.U.A?

Nossa... podia ficar discutindo horas sobre isso, mas receio tê-lo deixado entediado.

Au revoir e parabéns pelo blog. Já tá nos favoritos ^^

Denise Arlindo Moraes disse...

Oi...
Vc fez uma pergunta na Comunidade RACISMO NÃO já há algum tempo sobre metodologias e práticas pedagógicas que nos insiram no contexto da lei 10.639
Estou tb em busca do assunto, e encontrei uma coleção com 4 volumes que se chama COLEÇÃO AFRO BRASILEIRA. Ache bem legal.
A propósito, vc saiu da comunidade?
Abraços fraternos
Denise A Moraes

Alex Amaral disse...

Olá Denise,

Obrigado pela indicação. Fique atenta aos eventos que ocorrem. Muitos são pouco divulgados, quando são.
Realmente saí, mas do Orkut. Motivos pessoais. Meu e-mail, para contato direto, é amaral.alexandro@gmail.com

Grande abraço,
Alex

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