sexta-feira, fevereiro 16, 2007

É Carnaval. O Rio de Janeiro já vive esse momento tão aguardado. Alguns blocos já saíram, outros aguardam ansiosos. Camelôs a postos com suas barraquinhas e suas caixas de isopor (haja caixa). A Ambev deve estar rindo à toa. As fantasias já foram definidas, os improvisos aguardam aquele momento de inspiração dos foliões. Quem é de sambar já está por aí, quem não é já pôs o pé na estrada ou está tramando alguma programação off-folia. É tempo de festa, e, mesmo com tantas coisas para lamentar, iremos sorrir, brincar, dançar, cantar, beber, pular (não necessariamente nessa ordem).

O Bola Preta sai amanhã, o Carmelitas sai hoje, o Escravos saiu ontem. São tantos! Vamos aos trabalhos. Ficou a promessa da prefeitura em criar uma infraestrutura que suporte tanta festa. Segurança e banheiros químicos são essenciais. Veremos o que será oferecido.

É mais um Carnaval e, em tempos de discussão sobre a lei 10.639, valorização da cultura afrobrasileira e africana, minha Beija-Flor traz um enredo que se insere bem nisso tudo. Áfricas: do Berço Real à Corte Brasiliana. Fica a esperança de mais um título, sempre merecido e algumas vezes negado.

Mas acima de tudo fica a esperança de um Carnaval de paz e alegria, a todos!




Um minuto de silêncio: isso não é novidade

Como não poderia deixar de ser, esse post está relacionado à atrocidade cometida a uma criança aqui no Rio de Janeiro. O fato ocorreu há pouco mais de uma semana e ocupa a imprensa nacional que exibe detalhes, manifestações, análises, repercussões, etc. Não me focarei no caso em particular, essa não é minha intenção como podem ver no título. Gostaria apenas de lembrar alguns dos crimes hediondos que ocorreram nos últimos anos, com repercussões similares às suscitadas pelo que ocorreu a essa criança.

Antes, porém, cito uma explicação do psquiatra José Outeiral sobre banalização que vi numa reportagem sobre Ética e indiferença, do Fantástico. “O que é a banalização? Se um de nós se deitar hoje à noite, ouve o tic tac do relógio durante poucos segundos. Num determinado momento, desapareceu o tic tac. Sempre que alguém é exposto a um estímulo repetido, semelhante, banaliza, não se percebe mais”. Parece-me que o crime, o desrespeito a vida, está banalizado.

O primeiro que cito é o caso da jovem atriz Daniela Perez, assinada em 1992 pelo seu “colega de trabalho”, de forma fria, violenta, bárbara. As manifestações chegaram até a cúpula do poder político brasileiro. O resultado mais marcante, pelo menos em minha opinião: o assassino está solto, vivendo sua vida normalmente, trabalhando, estudando, casando, como um cidadão comum. Importante citar que a partir daí, “o homicídio qualificado (praticado por motivo torpe ou fútil ou cometido com crueldade) passou a ser incluído na Lei dos Crimes Hediondos, que não permite pagamento de fianças e impõe que a pena deva ser cumprida integralmente em regime fechado”. Mas parece que a impunidade continuou.

Em 1997, alguns jovens de “boa família” atearam fogo em Galdino Jesus dos Santos, índio Pataxó, enquanto este dormia em um ponto de ônibus em Brasília. A pressão popular foi essencial para houvesse um julgamento, isso porque os assassinos tinham (têm) parentes bem posicionados. Um menor estava envolvido e, pelo que li, já estaria solto há bastante tempo.

A menina Gabriela Prado Maia Ribeiro foi morta durante um assalto numa estação de metrô em 2003. Ela tinha 14 anos.

Em Dezembro de 2006, o empresário Jonas Eduardo Santos de Souza, foi morto por um segurança dentro de uma agência do Banco Itaú, no Centro do Rio. Crime banal e possivelmente com motivações raciais.

Bem, são alguns casos que tiveram, em maior ou menor grau, alguma repercussão na imprensa. Mas todos geraram algum tipo de discussão que parece ter esmaecido com o tempo. Silêncio.

Esse ano foi com o menino João Hélio de 6 anos, vítima mais recente da banalização da vida. Numa matéria de Alexandre Garcia, ele diz uma coisa muito interessante, o “fundo do poço já está muito acima de nós”.

É preciso dar continuidade à luta contra a criminalidade (que não passa pela simples diminuição da maioridade) e é preciso acabar com a impunidade de quem comete o crime. Um minuto de silêncio, no intervalo duma partida de futebol, num desfile de escola da samba, num plenário, etc. não bastará para devolver o sentido de humanidade e respeito à vida a nossa sociedade.

Algumas das “possíveis” soluções para isso esbarram em interesses de pessoas que fazem muito barulho para receberem nosso voto, silenciando a sociedade através de uma política de ignorância, desigualdade e desrespeito.

Mas como dizem… é Carnaval!

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Conhecendo para mudar: Trabalho escravo.

"Art. 1º: É declarada extincta desde a data desta lei a escravidão no Brazil."
"Art. 2°: Revogam-se as disposições em contrário."


Em 13 de maio de 1888 foi assina a lei que extinguiria o trabalho escravo no Brasil. Muitos foram contra. Muitos a favor. É certo que, pelo que estudei, naquele momento a maioria dos escravos já haviam sido “liberta”, mas o regime ainda persistia. E considero que, com os recursos da época, era muito difícil uma fiscalização efetiva em todo o território nacional então ocupado, no sentido de coibir esse tipo de exploração.

Depois de quase 120 anos ainda persistem as dificuldades para fiscalizar essa prática que não teve fim. Parece que mais uma lei não pegou, devido talvez ao interesse econômico, uma pitada de inércia de Estado, uma porção de impunidade, além de maucaratismo, desrespeito, desinformação (como disse num post há algum, a ignorância parece ser política de Estado), enfim o coronelismo e outras mazelas da sociedade, a gosto.

Há três anos, auditores fiscais foram assassinados ao investigarem denúncia de trabalho escravo em Unaí, Minas Gerais. Até o momento não houve justiça como diz a matéria no jornal Brasil de Fato. Impunidade!

Ironia. Falamos de reforma agrária tendo em nosso governo central (e locais) alguns dos maiores latifundiários do Brasil. O coronelismo ainda é uma realidade, contemporânea, e não um fenômeno isolado observado no século passado. No caso de Unaí, e outras cidades onde o trabalho escravo acontece, é visível a atuação desses coronéis latifundiários, com suas famílias tradicionais, seus postos políticos, dominando diversos setores da economia, política, segurança, e justiça local.

Deslocar auditores fiscais para enfrentar criminosos dessa estirpe é ingênuo e até mesmo cruel com esses servidores. A gravidade do crime pede que o Estado haja de forma mais enérgica. Fiscalizações desse tipo deviam ficar a cargo da Polícia Federal e/ou do Exército. E o crime deve ser julgado em instância superior, longe da região onde esses “coronéis” atuam, de modo a diminuir (eliminar eu acho difícil) a possibilidade de intimidação e influência.

A dificuldade nisso tudo não é logística e sim moral e ética. A legislação brasileira é branda com esse tipo de crime, contribui para a impunidade e mesmo a falta de denúncia. Leiam matéria do Repórter Brasil . Como eu disse acima, alguns legisladores (políticos) são os mesmos que concentram renda e terra, ou têm fortes ligações com quem o faz, submetendo ainda seu trabalhador a condições análogas a de escravos.

Todas as iniciativas, infelizmente, têm sido insuficientes. E a escravidão continua!

Mais informações sobre o tema podem ser obtidas em:

Organização Internacional do Trabalho – Brasil
Comissão Pastoral da Terra - Secretaria Nacional

Ministério do Trabalho e Emprego

Cartilha Erradicação do Trabalho Escravo no Maranhãomuito boa!

Documentário “Correntes” produzido pela ONG Repórter Brasil (o link traz o trailer e a sinopse do documentário)

Revista Observatório Social nº 6 de Junho de 2004

Artigo “TRABALHO ESCRAVO - algumas reflexões” de Adriana Mourão Romero e Márcia Anita Sprandel no número 22 da Revista CEJ – Centro de Estudos Judiciários, do CJF – Conselho de Justiça Federal

terça-feira, fevereiro 06, 2007

U g a n d a


Recentemente assisti ao “O Último rei da Escócia”, filme sobre as experiências de um médico escocês na Uganda governada pelo ditador Idi Amin. É um filme forte, que mostra a África sob o ponto de vista de um escocês de classe média alta, médico, jovem inexperiente em busca de aventura. Exibe, sem retoques, a sujeição e sofrimento de um povo com os caprichos de um ditador que inicialmente se mostra populista e democrático, mas aos poucos manifesta toda sua brutalidade e intolerância. Vê-se covardia e coragem, ética e corrupção, miséria e ostentação, vida e, principalmente, morte. Leia crítica de Pedro Vilaça no Cinema em Cena.

Algo que pode passar despercebido aos olhos de muitos é o que chamo de construção do fenômeno. Como pôde surgir um ditador como Idi Amin? Não por acaso, com certeza. Como pôde haver tanto sofrimento e morte sem que o mundo agisse? Pergunto isso, pois a intervenção com o propósito de salvar um povo e garantir a democracia de um país é algo bastante comum, parece moda. Por que não em Uganda com seus 300.000 mortos? Por que não em Ruanda, com aproximadamente um milhão de mortos em 12 semanas? Sobre este último eu espero escrever em breve.

Mas voltando ao filme. Como disse, para alguns fica a impressão da ditadura pela ditadura, pois conflitos na África são um tanto banalizados hoje em dia, assim como atentados suicidas no Oriente Médio, talvez mais, pois este último possui maior espaço na mídia e maior notoriedade internacional… Petróleo! A África (a negra ou subsaariana, para ser mais específico) parece esquecida. Assistam ao filme, mas não deixem de refletir. Busquem conhecer mais para ter uma visão crítica.

Também gostaria de indicar a matéria de Antonio Luiz Monteiro Coelho da Costa na revista Carta Capital, intitulada “A África volta ao mapa”. Nessa matéria ele aborda a recente atuação da China no continente africano, com investimentos e interesses necessários ao crescimento chinês, mas que também tendem a propiciar crescimento local. Faz um paralelo com a atuação dos EUA e do Banco Mundial e suas políticas intervencionistas. E, igualmente interessante, traça um panorama histórico-político de tais intervenções e suas conseqüências desastrosas (algumas bem recentes) e da relação entre África e o resto do Mundo após a Guerra Fria. Clique aqui. Caso não esteja mais disponível, me mandem um e-mail que lhes encaminho.


"Pela primeira vez na história, temos o dinheiro e o know-how
tecnológico necessários para resolver os problemas da África.
Mas será que temos a vontade?"
- Paul David Hewson (mais conhecido com Bono Vox)

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Alguém, o menino, o bandido...
...o povo, o sentimento...
...a realidade, o resultado, o ciclo

Já tiveram vontade de surrar, socar, quebrar, chutar, destruir algo ou alguém como forma de externar um sentimento de raiva, de revolta? E dar um basta em determinada situação a base da porrada? Eu já. Acredito que muitos também e penso que é algo inerente ao ser humano comum, com toda sua perfeita imperfeição. Até mesmo a incompreensão suscita tais pensamentos, quando não materializados em atos. Cólera, ira, ódio, vingança! Afinal, quem nunca cometeu um dos sete? Eu excluiria o Gandhi, pois este pregou a não-violência.

Não sou expert em animais, mas dizem que cachorros em geral ficam violentos por conta do dono. Já vi um cara chutando seu pitt-bull de estimação. Isso me lembra um filme dos anos 80 chamado “Cão Branco”. Triste!

Então, o resultado desse “tratamento” é um cão que ataca sem motivos, ou com motivos irracionais aos nossos olhos. Com isso cria-se uma espécie de ciclo vicioso: o homem odeia o cão que odeia o homem que odeia o cão…

Esse ciclo vicioso, ou uma variação sutil dele, pode ser percebido em nosso dia a dia, na sociedade. Eu conheci a idéia de ciclo ou círculo vicioso num contexto social através do livro do professor Hélio Santos (A Busca de um Caminho para o Brasil – A Trilha do Círculo Vicioso, Editora Senac - 2001 - 465 páginas).

Não gosto de chegar ao banco e encontrar “aqueles meninos” na porta pedindo “um trocado na saída”. Aliás, detesto aquela cena. Mas tenho consciência que aquilo é um reflexo de algo que vem sendo alimentado há muito tempo. É o ciclo vivo, para quem quiser ver (há os que nem olham).

Depois de toda essa volta, meus pouquíssimos, porém fiéis (sic) leitores devem estar se perguntando “onde o Alex tá querendo chegar dessa vez?”, além daqueles que já estão me taxando de maluco. Compreensível.

Pois, bem. O motivo é simples e ao mesmo tempo complicado e complexo, mas espero que vocês associem.

Essa semana eu vi de dentro do ônibus, quando estava indo para casa, algumas pessoas correndo atrás de alguém. Pelo que ficou claro naquele breve momento, alguém havia assaltado uma dessas pessoas na Avenida Rio Branco. Essas pessoas, então, corriam atrás de alguém. Conseguiram abordá-lo de encontro ao ônibus em que eu estava entre o sinal e o ponto de ônibus, num desses dias comuns de engarrafamento infernal. As pessoas então externaram toda sua raiva, indignação, incompreensão, angústia, ódio, revolta, em alguém. A sociedade dando um basta na violência, na barbárie. Os cidadãos, trabalhadores, se insurgindo contra o que não suportam mais. Era preciso bater em alguém para aplacar todo aquele sentimento. Vingança!

Como disse no início, como ser humano, também sou portador desse sentimento. Mas tenho me esforçado. Principalmente tendo a consciência dos resultados. Não quero contribuir mais para a manutenção desse status quo, desse ciclo. É preciso e quero rompê-lo!

Alguém cometeu um ato errado e, segundo nossas regras sociais (regidas por leis racionais, democráticas e justas… para alguns), merece ser penalizado. Alguém chorava, pedia, gritava. Alguém não parecia ter chegado aos 15 anos… talvez alguém não chegue. Brasil!
Uma maçã podre pode estragar todo o cesto


Ontem (31/01) aconteceu, como já era de se esperar, um protesto contra o fim do cheque-cidadão. Segundo reportagem do O Dia, cerca de 300 pessoas fizeram a manifestação em frente ao Palácio Guanabara. Uma manifestação democrática e bem organizada, que suscitou uma pergunta interessante do novo governador fez uma pergunta interessante: “Queria saber quem pagou os ônibus"?

Não sou contra o auxílio para as pessoas que precisam. Ainda mais numa sociedade assolada pela corrupção, com canalhas “trabalhando” de forma a manter boa parcela da população como está: pobre e sem perspectiva.

Mas, assim como existem tais canalhas, existem também os que se aproveitam de uma política de distribuição de renda ou inclusão social (o que essa não é) para ganharem um dinheirinho extra. Pessoais que se inscrevem nesses programas não porque precisam naquele momento, como muitos realmente precisam, mas para aumentar sua renda em R$ 100, podendo assim investir seu dinheiro em outras prioridades (DVD, TV, cerveja, festas, etc.). Não se enganem, pois isso acontece bastante.

Enquanto isso, juntando falhas no programa (mais especificamente na questão das inscrições/cadastro) e a má fé de alguns, um número bastante alto de brasileiros não têm o que comer. E isso sem contar aqueles que estão fora das estatísticas.

Uma maçã podre (os canalhas e aproveitadores) estragando todo o cesto (o programa e sua importância para a vida de muitos). Mas isso não deve ser motivo para tirar o “peixe” da rede daqueles que precisam, até porque à maioria não foi ensinado o ofício da pesca e, mais freqüente, não foi dada a oportunidade de pescar.

Pelo que me informei, o cancelamento do programa Cheque-cidadão se dá juntamente com uma revisão do cadastro de beneficiários (de 94 mil, 10% estão sob suspeita, segundo reportagem do jornal Tribuna da Imprensa relatando “análise feita nos últimos 30 dias pela Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos do Estado, comandada pela ex-governadora e ex-ministra da Assistência e Proteção Social Benedita da Silva”) e a incorporação dessas pessoas num programa similar, mas federal, o Bolsa Família. Isso, a meu ver é coerente, uma vez que elimina (?) a possibilidade de uma pessoa se beneficiar de dois programas, o que também acontece.

Pelo que pude perceber, os programas sociais implantados no Rio trouxeram algo de bom e imediato: pessoas tendo possibilidade de adquirirem seu alimento (?); mas também cria algo de ruim, como um presente de grego, uma vez que retirou recursos da saúde. Com isso, o atendimento a essa mesma população ficou extremamente comprometido.

Tudo seria fácil se não fossem as dificuldades” – Barão de Itararé

A menina no mercado

Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...