Sábado de Sol. Dia 12 de Outubro de 2013. Dia das Crianças. Dia de Nossa Senhora Aparecida. Oxum.
No dia anterior o cardápio foi planejado, mentalizado. Galetos devidamente temperados, acondicionados e prontos para a viagem. Na manhã, antes de partir, saio às compras do restante dos ingredientes. Tudo pronto, metrô para a Central do Brasil e trem ramal Japeri, parador, para Nilópolis. Desta vez não será em Mesquita. Assim como há dois anos, a casa de minha Tia avó servirá de base. Neste dia da manutenção de uma tradição de outra Tia avó, já falecida e sobre a qual já falei aqui neste
blog, um encontro em família
Este é o primeiro dos contentamentos daquele Sábado. Família. É certo que poucos membros, uma vez que nada foi combinado para aumentar as proporções do encontro. Mas valeu. Como devem saber (se não sabem, que fiquem sabendo agora), eu gosto muito de cozinhar. Algumas vezes tenho sucesso, outras vezes não. Dessa vez eu fui feliz. Os galetos temperados de véspera ficaram muito bons e melhor ainda fui a satisfação de minha família, que elogiou o prato. O salpicão de frango defumado e salsão também agradou bastante.
A tradição sobre a qual falei é a distribuição de doces no Dia das Crianças. Uma tradição que a cada ano tem sido enfraquecida pelo preconceito e ignorância que muitas Igrejas têm instigado nas pessoas. É com grande tristeza que percebo que instituições que deveriam propagar coisas boas estão sendo usadas para difundir visões deturpadas, preconceituosas, limitadas, desagregadoras e até amorais entre as pessoas. O mais cruel é que boa parte dessas pessoas são crianças, que desde cedo começam a olhar o mundo através de um véu tecido pelos preconceitos e ignorâncias de instituições ditas religiosas. Instituições essas que são auxiliadas pelo poder público. Precisamos de um novo Iluminismo.
Mas o foco aqui é contentamento. E, apesar de enfraquecida pela ignorância, a tradição de minha querida Tia Perpétua foi mantida. Sua benção minha Tia. E obrigado!
O segundo contentamento daquele dia foi descobrir que a criminosa e desrespeitosa empresa de ônibus Trans1000 finalmente foi impedida de circular e substituída. Pode parecer algo simples, mas só quem conheceu o desserviço prestado por essa organização criminosa travestida de empresa de ônibus pode saber o que significa isso. É certo que o DETRO demorou até demais em fazer seu serviço, mas não deixo de ficar feliz em saber que a população de Nilópolis e Mesquita (parece que ainda operam uma linha lá) não precisarão mais ficar a mercê das armadilhas em forma de veículos operadas pela Trans1000.
O terceiro contentamento, que na verdade foi o cronologicamente primeiro, foi saber que ainda podemos contar com o profissionalismo dos oficiais da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.
Primeiramente saibam que não sou da turma que julga o todo pela parte. Desses que se acham cidadãos conscientes e engajados e esclarecidos e ficam bradando que a PM é isso, a PM é aquilo, julgando (e condenando) a instituição a partir de atos criminosos de alguns de seus membros.
Voltando ao caso específico… Central do Brasil. Japeri parador, partindo às 10 da manhã. Transporte de massa. Um bem público, operado sob o regime de concessão, mas um bem público. Deve ser preservado e conservado. E culpar a concessionária por todas as mazelas é algo típico de pessoas ignorantes, oportunistas e aproveitadoras. Muitos dos usuários contribuem para o que vemos no dia a dia. Composições sujas, pichadas, quebradas. Viagens que se tornam mais difíceis e desconfortáveis pela atitude e postura e comportamento de pessoas que, ali, acham que seus direitos (ou melhor, suas vontades) se sobrepõem à lei vigente. Acham que seus direitos (ou suas vontades e manias) são maiores que seus deveres enquanto cidadãos e mais importantes e justas que os direitos dos demais cidadãos.
Sempre me bate uma incompreensão ao ver usuários de transportes públicos não zelarem pela conservação daquele meio de transporte. É algo como cuspir no prato que comem. É se boicotar. Ao entrar vi um desses cidadãos com o pé apoiado confortavelmente sobre um banco. Ao sentar, longe dele, me deparo com duas outras cidadãs, ambas como se estivessem no conforto de suas salas, com suas pernas ocupando cada uma três lugares.
Eis que entram dois policiais militares, uniformizados, a serviço, cumprindo suas obrigações constitucionais, fazendo o que se espera que façam, fazendo o que são pagos (por mim, por você brasileiro, por aquelas duas cidadãs) para fazer. Um deles, educadamente, profissionalmente, aborda as cidadãs e pede que retirem os pés dos bancos. Nesse momento as infratoras (cidadãs ainda, mas pegas em flagrante numa infração ao bem público) tomam os policiais como inimigos. Para elas aquilo era um absurdo, era um desrespeito, um excesso (aliás, agora parece que virou a palavra da moda… fora os casos certos e claros onde houve excesso, algumas pessoas acham que cumprir a lei, defender o patrimônio público, zelar pela segurança, virou… excesso). Ambas resistiram e, ao contrário do policial que fez a abordagem, de forma grosseira e desrespeitosa. Mas, apesar da pirraça, elas obedeceram.
Inevitável lembrar a comparação do policial ao questionar se aquela cidadã se comportaria daquela maneira no metrô. É interessante como o trem se tornou terra de ninguém para alguns, local onde podem fazer cada um a sua própria regra. Não pode ser assim e conto com o aparato de segurança do Estado para que tais absurdos não se repitam.
A pirraça e as palavras grosseiras entre elas e sobre os policiais em particular e a PMERJ no geral continuaram. Agora ambas, apesar de claramente não se conhecerem, se tornaram amigas. Compreensível.
Eu, olhando aquilo tudo, fiquei contente. Tive vontade de cumprimentar ambos os policiais. De dizer obrigado.
A Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro conta, sim, com pessoal qualificado para cumprir seu papel. Com relação às frutas podres, essas que sejam devidamente extirpadas da corporação e, dentro de nosso tão importante e pouco respeitado regime democrático de direito, incorporadas ao cárcere quando este for o caso.
Esses mesmos policiais atuaram em outra infração pouco tempo depois. Quando outro cidadão, que achava que seus direitos estavam acima dos demais, acima das regras estabelecidas e acima da lei, fazia manifestação religiosa enquanto pedia dinheiro para alguma instituição que, segundo ele, cumpria um papel espiritual e cristão e social e blábláblá e não era auxiliada pelo Estado. Discurso estúpido e lamentável. Foi devidamente e profissionalmente abordado por um dos policiais que, pelo que foi dito, o reconheceu uma vez que já o havia abordado cometendo a mesma infração.
E esse foi o terceiro contentamento do dia. Como podem ver, mais uma coisa simples, o cumprimento da lei.