Mais uma vez a Câmara dos Deputados debocha dos brasileiros. Protegidos
pelo execrável voto secreto, os deputados inocentaram um bandido. O criminoso
foi condenado pela Justiça e seus colegas deputados "disseram": a
Justiça não importa nesta casa!
Nenhum sistema é perfeito. E não seria diferente com a Democracia. Isso
mesmo, ela não é perfeita. Mas é coerente.
Isto é. Consideremos que entre nós, brasileiros, existem não apenas
cidadãos inocentes e éticos, mas também culpados e corruptos. Consideremos que num
sistema democrático pressupõem-se direitos iguais. Consideremos que um desses
direitos é o de se candidatar a cargos públicos. Logo, seria coerente corrêssemos
o risco de termos determinadas figuras indesejadas como nossos representantes.
Algo muito prezado em nossa imperfeita democracia é o direito de livre
manifestação. E quando penso nos eventos recentes que ocorrem por todo o país,
não posso deixar de fazer um paralelo com a recente vergonha a que os deputados
nos sujeitaram quando cuspiram na cara da Justiça e da Ética.
Tenho criticado bastante a covardia de alguns ditos manifestantes
(aliás, a imprensa deveria parar de chamar criminoso de manifestante... vândalo
é criminoso!) quando escondem o rosto para, aproveitando-se de um ato de
protesto por um Brasil melhor, depredam o patrimônio público e privado;
cerceiam nosso direito de ir e vir; sujam as ruas espalhando lixo, ateando fogo;
desacatam oficiais da segurança pública; vandalizam nossa cidade, vandalizam
nossa cidadania e, mais que isso, vandalizam nossa já imperfeita democracia.
Dizem que esses marginais “protestam”, dentre outras coisas, contra a
corrupção na política (como se ser corrupto fosse uma "doença" que
acometesse somente quem ocupa cargo público). Pergunto: qual a diferença entre
esses e aqueles sobre os quais falei acima? Se existe, são poucas. Vamos às
similaridades.
O vândalo se esconde atrás de máscaras, cobram o rosto com camisas, lenços,
etc.
Os políticos se escondem atrás do voto secreto.
O vândalo, quando os agentes de segurança pública conseguem prendê-los,
pouco tempo ficam numa delegacia. Seus iguais se manifestam. Advogados
aparecem.
Os políticos... idem.
O vândalo se acha no direito de fazer o que faz, justifica suas ações
pelo bem da sociedade, se isola numa ética totalmente própria que obedece a
seus interesses.
Os políticos... idem.
Então, vamos mantendo essa tal coerência em nossa imperfeita
democracia, com as máscaras e o voto secreto, assim como aqueles que os usam
como escudo, os vândalos e os políticos. Dois seres tão antagônicos e ao mesmo
tempo tão parecidos, tão próximos em sua "maneira de ver o mundo".