terça-feira, agosto 28, 2012

A droga da incoerência midiática

É notório que a Rede Globo e muitos dos chamados Globais – o grupo, claro, é bem mais amplo - estão engajados numa campanha voltada para mudança na política de combate às drogas. Minha percepção é que tal campanha critica basicamente a repressão. O consumidor de drogas ilícitas não poderia ser tratado como um criminoso (que é). A campanha trás histórias bem tristes, de injustiças, de imperícia e morosidade judicial, para sensibilizar a opinião pública, colocando a questão das drogas sob a ótica somente do dito consumidor eventual. Aquele consumidor que, segundo eles, não faz mal a ninguém “cheirando seu pó ou fumando sua maconha, na boa, na social…”. Tudo balela!



A reportagem recente sobre o consumo e a venda de drogas na Lapa (algo conhecido de todos andam nas ruas) não enfatizou apenas o absurdo que é o tráfico e o consumo de drogas numa área de lazer tanto para cariocas como para turistas de todo o mundo. A reportagem focou bastante na ação (ou melhor, na inação) do poder público, ali representado pelos policiais e guardas municipais. Estes foram mostrados como os criminosos da história. Não são! Na verdade, agentes da lei poderiam mesmo ser considerados, em alguns casos, uma das vítimas.

Explico com uma de minhas analogias esdrúxulas… Imaginem um escritor para o qual é dado papel e caneta. A função do escritor, que é pago para executá-la, é… escrever. Só que o papel não pode ser tocado. Assim, vemos lá o escritor olhando para o papel, para a paisagem, para a caneta…

Conseguem perceber? Estão cobrando a polícia para que reprima o consumo e o tráfico de drogas. Ótimo! Eu também cobro, exijo… e espero que assim seja feito. Mas, ao mesmo tempo, pregam, através de campanhas bem elaboradas e bem financiadas, que o consumo seja… vamos falar francamente… liberado. E que o consumidor seja blindado, seja tratado como um especial. E, como o consumidor é especial, bonitinho, na maioria das vezes filhinho de pai, inocente, frágil… bem, para este “ator” dessa peça absurda e triste, ficam garantidos todos os direitos de cidadão. Então o jeito é voltar-se para (ou contra) a polícia que, vejam vocês, parece ser o lado mais fraco nessa briga.

Eis a incoerência!

Que fique claro:
1) Sou contra qualquer tipo de violência. Seja da polícia ou do bandido. Logo, não estou defendendo aqui que a polícia use de violência no cumprimento de seu dever.
2) Sou a favor de uma discussão sobre a questão das drogas. Mas que seja séria e coerente com as leis vigentes.
3) Se a lei atual não atende, temos ferramentas e instituições para adaptá-las, modificá-las ou até mesmo anulá-las. Até lá, temos o dever de obedecê-las.
4) Na reportagem, a ação tanto da Guarda Municipal como da Polícia Militar foi errada. Assim como o consumo. Assim como a venda. Assim a defesa desse erro por parte da mídia.
5) Pontos conhecidos de consumo (e talvez de venda): além da Lapa (não apenas nas ruas, mas também em alguns estabelecimentos); vários pontos do Aterro do Flamengo; Glória (próximo a SEARJ e a rua do Russel – pertinho da Rádio Globo); Praia do Flamengo assim como o famoso e bem frequentado e badalado Posto 9, em Ipanema… E tantos outros lugares, bem conhecidos, turísticos até, onde o poder público assim como o poder midiático, ambos representados por seus agentes, se fazem presentes. 

Nenhum comentário:

A menina no mercado

Havia uma menina no mercado. Devia ter uns 12 anos. Talvez menos. Estava atrás de mim no caixa. Tinha dois pacotes de macarrão instantâneo n...