Exemplo a não ser seguidoTirando a questão do esporte propriamente dito, que realmente pode influenciar positivamente uma criança ou um adolescente, é de assustar quando certos jogadores da atualidade (e mesmo alguns que já não atuam nas quatro linhas) são tidos como exemplos para essas crianças e adolescentes. Antes de discordarem, acho interessante analisarem imagens, declarações, posturas, ações dentro e fora de campo, entrevistas com os jogadores. Notem que não estou generalizando. E, a propósito, também tenho meus preconceitos.
Alguns dizem que são crianças em corpos adultos, jovens infantilizados ou mesmo profissionais que, pela pouca idade em que ganharam projeção nacional ou internacional – sendo tratados como mercadoria de luxo e com salários milionários – não tiveram tempo de amadurecer. Como que oferecendo ou buscando uma desculpa, a sociedade, e os fãs, relevam suas travessuras, suas irresponsabilidades e, algumas vezes, até mesmo seus crimes. Eu mesmo já me posicionei segundo essa teoria do despreparo para a vida adulta, com essa espécie de amadurecimento inacabado de certos atletas. Mas creio que a postura não é justa, já que almejam serem levados à sério. Então, tratemo-los com seriedade.
A recente polêmica envolvendo jogadores do time paulista Santos, nos mostra muito da personalidade desses atores do futebol. Os jornais noticiam que, durante uma ação beneficente do clube, que iria distribuir ovos de páscoa a uma entidade que cuida de vítimas de paralisia cerebral, alguns jogadores se recusaram a adentrar a instituição para distribuir os doces. Até aí tudo bem, ninguém é obrigado a fazer caridade ou mostrar simpatia a quem precisa. Não é crime. O que gerou polêmica foi o motivo alegado pelos jogadores: basicamente, questão religiosa. Tratava-se de uma entidade Espírita.
Abaixo, a declaração de Robinho, atacante do Santos em entrevista à TV Bandeirantes. A propósito, tem um
vídeo no site da Band, onde os jogadores se desculpam e se justificam… e são rebatidos por um jornalista. Gravado ao vivo.
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Só ao chegar soubemos que se tratava de um ambiente espírita. Cada jogador tomou a atitude que achou conveniente, e acho que a religião de cada um precisa ser respeitada. Ninguém orientou a gente para que tomássemos essa atitude. Ela foi movida pela religiosidade de cada um. Isso não tem que virar polêmica"
Isso mesmo Robinho, como você bem diz: “
isso não tem que virar polêmica”. Mas vamos lá, farei uma de minhas analogias para tentar explicar a razão de o considerar (lhe usarei como exemplo, mas vale para todos os jogadores que não saíram do ônibus), nesse momento, um mau exemplo. Primeiramente, ratifico minha posição de que preconceitos, de quaisquer espécies, constituem uma das formas mais primitivas da estupidez humana. Einstein já dizia “
É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito.”
É simples. Substituam a questão da religiosidade pela cor da pele. Um determinado time de futebol vai fazer uma ação beneficente numa dada instituição. Alguns jogadores, cuja pele é azul, se recusam a entrar na instituição formada por um grupo de pessoas de pele laranja. A instituição não selecione quem irá atender segundo a cor da pele. Os jogadores pensam (sic), lá dentro acontecem coisas típicas de pessoas de cor laranja e só entramos em lugares onde acontecem coisas típicas de pessoas de cor azul, como a nossa.
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Graças a Deus nunca sofri nenhuma ofensa racista, até porque aqui no Brasil não tem tanto”, foi uma declaração de Robinho, em
2005, quando virou moda o uso, por alguns jogadores, de pulseiras anti-racismo.
Bem, usando as palavras de Robinho, a posição dos de pele azul deve ser respeitada. O fato de pessoas de pele azul optarem por não ficar no mesmo ambiente de pessoas de pele laranja não deve virar polêmica.
A analogia é esdrúxula, como sempre faço, mas se pensarmos que muitos jogadores (e seus fãs, crianças e adolescente) foram ou são vítimas de preconceito seja dentro de seu ambiente (no campo, numa escola) ou fora dele (na rua, na imprensa)… é de amargar que estejam reproduzindo algo tão danoso.