sexta-feira, novembro 20, 2009

Nós, os outros

Ontem, sentado no ônibus voltando do trabalho para casa, ao olhar pela janela vi duas meninas sentadas no último banco do coletivo ao lado. Elas se beijavam. Com sorrisos nervosos, tentando se esconderem de quaisquer olhares, tentando refrear o impulso que as empurrava uma para outra. Como se estivessem a cometer um crime ou uma travessura, elas tentavam, também, ocultar aquele ato de afeto.

Tenho muitos preconceitos. E reconheço que o primeiro pensamento ao ver a demonstração de carinho e desejo entre dois seres humanos do mesmo sexo não foi dos mais nobres.

Nessa mesma semana, estava conversando com uma amiga sobre a estranheza que nos toma conta diante de uma situação que deveria ser simples e natural. Temos amigos e amigas gays – que prezamos e respeitamos – e, mesmo assim, não conseguimos agir com naturalidade diante do que é natural para tais amigos e amigas. E, mais ainda, quando o natural se manifesta em desconhecidos.

Durante essa conversa eu disse algo que irei repetir aqui, talvez como forma de um exercício a ser praticado não apenas por mim. Eu disse: “Sou heterossexual e manifesto minha sexualidade, minha orientação sexual, dentre outras formas simples e naturais, beijando minha mulher, andando de mãos dadas com ela, abraçando-a… Como seria se não me fosse permitido expressar essa sexualidade em público?

É como o enredo do filme A cor da fúria, estrelado por John Travolta e Harry Belafonte. Para quem não sabe, o filme é de 1995 e se passa numa sociedade estadunidense onde a questão racial (de cor da pele) é invertida. Os negros ocupam as camadas mais altas da pirâmide social, com todos os benefícios e privilégios, e os brancos são relegados às bases, sofrendo todo tipo de preconceito e discriminação. Uma paralaxe conceitual interessante. Faz refletir. Trazendo para o caso aqui abordado, ao invés da questão da cor da pele (e das questões sociais inerentes), imagine se inversão estivesse na orientação sexual.

Estaria eu levantando a bandeira GLBT ou algo do tipo? Não necessariamente. Levanto a bandeira da humanidade, do respeito, da tolerância e da coerência. Para mim e para todos.

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