A velha questão
Costumo fazer compras num supermercado frequentado pela classe média alta do bairro onde moro. Na grande maioria das vezes, ao olhar para os lados, os únicos negros naquele estabelecimento somos eu e alguns funcionários. Mesmo comprando, muitas vezes o que se vê são empregadas domésticas a serviço de seus patrões. Opa! Não estaria eu tendo um olhar preconceituoso ao taxar de empregada doméstica uma negra comprando naquele estabelecimento? Não. Até porque nesses casos parece haver uma caracterização (implícita ou explícita), seja por uniforme, seja pela visível posição de acompanhante da “patroa”, empregadora que faz questão de deixar clara tal hierarquização.
Não preciso dizer que, sendo minoria naquele lugar, minha presença não é, digamos, esperada. Quando não, é estranha ao recinto. E tal estranheza, por alguém quase exótico (por vezes essa é a impressão), acaba por causar reações naqueles para os quais o fato extraordinário é... bem, não quero ser mais redundante. As reações as quais me refiro variam desde a “confusão” básica quando me tomam por funcionário do local, independente do que eu esteja trajando (os funcionários usam uniformes bem característicos), olhares de espanto, sobressalto, susto e até mesmo... pasmem... admiração! Admiração, uma forma de preconceito? Deixa pra lá!
Ah, não posso deixar de citar, enquadrando como sobressalto, as atenções que frequentemente desperto nos seguranças. Sempre tão próximos e preparados para oferecer seus prestimosos serviços. Será que sou tão atraente assim? Não sei se já comentei aqui no TUIST, mas deixei de frequentar alguns lugares por conta disso. É isso mesmo, o negão aqui confessa: não tenho muita maturidade, sangue-frio, serenidade, presença de espirito ou seja lá o que for para lidar com essas situações. Sucumbo, entristeço, congelo emocional e fisicamente. Espero que esse exemplo negativo seja usado de forma positiva, por alguém.
Perceberam? Cá estou novamente abordando a velha questão. E por que seria? Simples: vivo isso no meu cotidiano e preciso desabafar! Porém a razão para isso traz um componente, ou notícia, mais atual, veiculada na grande mídia essa semana. Trata-se do caso de Januário Alves de Santana, vigia da Universidade de São Paulo que foi agredido, hostilizado, humilhado por conta da velha questão.
Costumo fazer compras num supermercado frequentado pela classe média alta do bairro onde moro. Na grande maioria das vezes, ao olhar para os lados, os únicos negros naquele estabelecimento somos eu e alguns funcionários. Mesmo comprando, muitas vezes o que se vê são empregadas domésticas a serviço de seus patrões. Opa! Não estaria eu tendo um olhar preconceituoso ao taxar de empregada doméstica uma negra comprando naquele estabelecimento? Não. Até porque nesses casos parece haver uma caracterização (implícita ou explícita), seja por uniforme, seja pela visível posição de acompanhante da “patroa”, empregadora que faz questão de deixar clara tal hierarquização.
Não preciso dizer que, sendo minoria naquele lugar, minha presença não é, digamos, esperada. Quando não, é estranha ao recinto. E tal estranheza, por alguém quase exótico (por vezes essa é a impressão), acaba por causar reações naqueles para os quais o fato extraordinário é... bem, não quero ser mais redundante. As reações as quais me refiro variam desde a “confusão” básica quando me tomam por funcionário do local, independente do que eu esteja trajando (os funcionários usam uniformes bem característicos), olhares de espanto, sobressalto, susto e até mesmo... pasmem... admiração! Admiração, uma forma de preconceito? Deixa pra lá!
Ah, não posso deixar de citar, enquadrando como sobressalto, as atenções que frequentemente desperto nos seguranças. Sempre tão próximos e preparados para oferecer seus prestimosos serviços. Será que sou tão atraente assim? Não sei se já comentei aqui no TUIST, mas deixei de frequentar alguns lugares por conta disso. É isso mesmo, o negão aqui confessa: não tenho muita maturidade, sangue-frio, serenidade, presença de espirito ou seja lá o que for para lidar com essas situações. Sucumbo, entristeço, congelo emocional e fisicamente. Espero que esse exemplo negativo seja usado de forma positiva, por alguém.
Perceberam? Cá estou novamente abordando a velha questão. E por que seria? Simples: vivo isso no meu cotidiano e preciso desabafar! Porém a razão para isso traz um componente, ou notícia, mais atual, veiculada na grande mídia essa semana. Trata-se do caso de Januário Alves de Santana, vigia da Universidade de São Paulo que foi agredido, hostilizado, humilhado por conta da velha questão.
Eu não sei dirigir. E, em minha condição financeira atual, ficaria complicado (não impossível, considerando benefícios com os convênios pela empresa, parcelamentos, financiamentos...) adquirir um veículo de aproximadamente R$ 30 mil. Contudo, fico imaginando quais seriam as situação pelas quais passaria se eu tivesse um, digamos, Ford EcoSport. E não me refiro a situações de risco, tais como acidentes, extorsões de oficiais e oficiosos, roubos, trânsito... Me refiro àquela velha questão.
Para algumas pessoas, o fato de uma parcela da população conseguir certas coisas é estranho, inesperado, suspeito, anormal, e até mesmo admirável. Talvez confundam ou associem conseguir com concessão, e não conquista. Talvez o fato de Januário ter conseguido (alcançado, obtido sucesso, conquistado) condições de comprar um carro daqueles não tenha sido considerado pelos policiais e seguranças do supermercado; para esses e outros, a Januário – por suas características físicas, por seu fenótipo, por sua etnia, pela cor de sua pele – não foi concedido o “direito”, a capacidade, as condições de possuir um bem daquele.
É a velha questão.
Um comentário:
olá!!
vou te contar a minha história: não sei exatamente qual é a minha cor; pra uns, sou branca, pra outros sou morena... sei lá... namoro um homem negro, marron. Quando vamos ao pagode - onde a maioria é negra - sou vista com certa curiosidade pelos homens e com certa raiva pelas mulheres. Quando vamos a um bar onde rola solto o rock, ele é visto com certa curiosidade pelos homens e estes me olham com estranheza... Quando vi o meu namorado pela primeira vez, a sua cor não foi a coisa que me chamou a atenção em primeiro lugar e sim o sorriso lindo que ele tem... depois o olhar... depois o cheiro... a sua cor foi uma coisa meio diluida em meio a todas as outras coisas... não conseguia entender as questões raciais até eu própria começar a sofrer com o racismo por conta de estar namorando um negro! Mas, ao contrário do que imaginava, sofro mais racismo por parte dos negros do que por parte dos brancos! Uma mulher, no pagode, fez um comentário com outra de maneira que eu escutasse como se fosse um recado pra mim: " essa daí podia escolher qualquer um! tinha que escolher um preto? já tem pouco homem pra gente e vem essas brancas e tomam!" fiquei estarrecida... há quem diga que estou com um negro pra me fazer de "a boazinha que não tem preconceito"...E tantas outras histórinhas... E, eu, pura e simplesmente, me apaixonei por um homem...
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