três vidas, dois nós, uma mão
ele estava lá, parado, aguardando seu ônibus. elas vieram. a mais velha, de máscara, aparência frágil, convalescente, puxava um carrinho de feira. mas ela não tinha ido às compras. no lugar de legumes, frutas e verduras... latas amassadas. muitas latas. algumas caíram. as companias, mais novas, suas filhas (?), muito parecidas, talvez gêmeas, cabelos desfeitos, roupas sujas, ar cansado. tarefa difícil para crianças. teriam ido à escola naquele dia? teriam brincado? teriam sido crianças? não tinham 10 anos, por certo, talvez 7, um pouco mais, um pouco menos. a mulher precisava da ajuda, daquelas quatro pequeninas mãos. era uma tarefa para cinco mãos. isso. a mulher tinha apenas um braço. uma cena difícil. ele refletiu sobre o que considerava dificuldades de vida. as quatro pequeninas mãos recolheram as latas tão amassadas quanto suas vidas, quanto a vida de tantos. as latas deveriam ficar num saco dentro do carrinho. a mãe pediu que elas dessem um nó e, em vista da dificuldade, juntou sua única mão a tarefa. ele observava. resolveu ajudar naquela tarefa. de repente viu que podia fazer algo, simples. fácil. um covarde? não, um impulso, um reflexo, tão natural! mais duas mãos. um nó. mais um, ele perguntou. sim, a mãe respondeu. naqueles segundos a mãe informou que algumas tarefas eram difíceis para um único braço, que as latas seriam vendidas para comprar comida para a dupla de lindas meninas. em nenhum momento pediu. e mesmo expondo suas dificuldades não expressou rancor com a vida. o que era aquilo?! quem era aquela mulher?! o que era aquela mulher?! ele olhou para as meninas. as três seguiram seus caminhos. ele olhou e em instantes não as via. angústia. o que era aquilo. o ônibus. ele entrou, pagou, sentou. olhou pela janela em busca de três seres humanos, em busca de cinco braços, em busca de duas meninas, uma mãe, dois nós. nó na garganta, soco no estômago. o ônibus segue, a vida segue, as lágrimas se manifestam. reflexão. que força! que mundo! que merda!
ele estava lá, parado, aguardando seu ônibus. elas vieram. a mais velha, de máscara, aparência frágil, convalescente, puxava um carrinho de feira. mas ela não tinha ido às compras. no lugar de legumes, frutas e verduras... latas amassadas. muitas latas. algumas caíram. as companias, mais novas, suas filhas (?), muito parecidas, talvez gêmeas, cabelos desfeitos, roupas sujas, ar cansado. tarefa difícil para crianças. teriam ido à escola naquele dia? teriam brincado? teriam sido crianças? não tinham 10 anos, por certo, talvez 7, um pouco mais, um pouco menos. a mulher precisava da ajuda, daquelas quatro pequeninas mãos. era uma tarefa para cinco mãos. isso. a mulher tinha apenas um braço. uma cena difícil. ele refletiu sobre o que considerava dificuldades de vida. as quatro pequeninas mãos recolheram as latas tão amassadas quanto suas vidas, quanto a vida de tantos. as latas deveriam ficar num saco dentro do carrinho. a mãe pediu que elas dessem um nó e, em vista da dificuldade, juntou sua única mão a tarefa. ele observava. resolveu ajudar naquela tarefa. de repente viu que podia fazer algo, simples. fácil. um covarde? não, um impulso, um reflexo, tão natural! mais duas mãos. um nó. mais um, ele perguntou. sim, a mãe respondeu. naqueles segundos a mãe informou que algumas tarefas eram difíceis para um único braço, que as latas seriam vendidas para comprar comida para a dupla de lindas meninas. em nenhum momento pediu. e mesmo expondo suas dificuldades não expressou rancor com a vida. o que era aquilo?! quem era aquela mulher?! o que era aquela mulher?! ele olhou para as meninas. as três seguiram seus caminhos. ele olhou e em instantes não as via. angústia. o que era aquilo. o ônibus. ele entrou, pagou, sentou. olhou pela janela em busca de três seres humanos, em busca de cinco braços, em busca de duas meninas, uma mãe, dois nós. nó na garganta, soco no estômago. o ônibus segue, a vida segue, as lágrimas se manifestam. reflexão. que força! que mundo! que merda!
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