sábado, novembro 01, 2008

SEPPIR, aí complica!

Hoje li uma “matéria” (entre aspas, em protesto pelo tom usado no referido texto de O Globo) sobre a proposta de criação de uma delegacia especial de crimes étnico-raciais pela SEPPIR. Assim como o autor do texto no jornal, eu não concordo com esse projeto da secretaria. Aliás, uma secretaria assim como outras desse governo (e herdadas de governo anterior), que tem se mostrado inútil.

Polêmica já se esperava de um órgão público criado para lidar com uma questão que a maioria finge que não existe. Mas tais polêmicas poderiam ser minimizadas com foco em ações que realmente impactassem a sociedade, de forma positiva, não resolvendo o “problema” (também entre aspas, pois, para uma parcela da população, não configura problema), mas contribuindo para diminuir seus sintomas.

Pelo que li no site da instituição, uma das justificativas para a criação da tal delegacia seria a falta de preparo das atuais delegacias em lidar com queixas por racismo. É óbvio que o atual modelo de delegacia (e atual modelo de policiais) teriam “dificuldades” nesses casos. Ora, como lidar com algo que não se entende, não se reconhece, não se aceita, não quer ver nem ouvir? É difícil mesmo. Mas esse atual modelo que falo não está despreparado somente para questões raciais. A polícia está despreparada para questões humanas.

Como o próprio site e a “matéria” fazem, é inevitável a comparação com a delegacia das mulheres. Uma comparação que torna a proposta ainda mais, digamos, complicada. E reducionista, como a maioria das políticas. Ainda mais em se tratando da instituição Polícia, cuja história de formação (e atuação) está diretamente ligada ao binômio preto-pobre.

A polícia continuará desacreditada. Ações violentas continuarão acontecendo. Sou a favor de uma mudança institucional. Formação continuada dos policiais. Uma formação humanística de fato, de forma que se conscientizem que seu dever maior é respeitar o ser humano, promovendo a segurança. É aí que o SEPPIR deveria atuar.

Infelizmente, mais uma vez a politicagem toma conta de instituição pública. A cegueira e a falta de bom senso inundam instituições de suma importância para o país. Quem está lá quer aparecer. Afinal, o que chama mais atenção, um trabalho inteligente dentro das instituições ou uma bela construção (em algum ponto de destaque, podem ter certeza) com a inscrição na faixada “Delegacia contra Crimes Étnico-Raciais”?

Estão jogando anos de luta na lata do lixo.

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